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domingo, 25 de setembro de 2022

Os artistas alexandrinos - Rodrigo Constantino

Gazeta do Povo - VOZES    

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, disse que o “desrespeito aos artistas, à opinião, é um desrespeito ao patrimônio cultural histórico do país”. Segundo o ministro do TSE, “esse desrespeito não será tolerado pela Justiça Eleitoral”. [com todas as vênias e apoiados na nossa ignorância  em cultura - antes éramos réus confessos só na ignorância econômica e jurídica, agora assumimos também a ignorância cultural - perguntamos: o que a Justiça Eleitoral, só existente no Brasil, tem a ver com patrimônio cultural? Preservar a democracia, que consideram estar em risco permanente, nos parece ser mais que suficiente para que evitem mais uma atribulação, ops... atribuição.]

A fala de Moraes endossou uma declaração proferida pela ministra Cármen Lúcia, que discursara pouco antes em defesa da “classe artística brasileira”, supostamente sob ataques. Os juízes participaram de uma cerimônia no TSE.

Moraes afirmou que os artistas são vítimas de “coação moral”, supostamente parte de uma “ação dessas covardes milícias digitais”. “São os corajosos virtualmente e covardes pessoalmente”, disse. “Escondem-se no anonimato.”

A primeira dúvida que fica no ar é se artistas que defendem Bolsonaro, como a atriz Regina Duarte, também serão protegidos pelo TSE, ou se somente os “artistas” ligados ao PT merecem essa blindagem. Afinal, cansamos de ver artistas sendo demonizados ao enxergar qualquer virtude que seja no atual governo, e sempre que o TSE ou o STF falam em “violência política”, nem conseguem esconder que só consideram um lado da disputa.

O outro ponto relevante é que muitos desses “artistas” não se dão ao respeito, lembrando que respeito se conquista, não se impõe. Colocar crianças pequenas para tocar em homem nu não é arte, e sim depravação, tal como fazer fila com um enfiando o rosto no ânus do outro. Mas é o tipo de coisa que a esquerda chama de arte em nosso país.

Por fim, sabemos que ministros do STF estiveram com artistas esquerdistas em atos políticos, e que o próprio STF foi transformado numa espécie de DCE por esses ministros apontados pelo PT. Cabe, então, questionar ao todo-poderoso “imperador” do Brasil: o que seria uma "coação moral" a artistas ligados ao PT?  
Podemos opinar que artista decadente que defende ladrão corrupto é um safado imoral ou um completo imbecil? 
Ou isso já dá cadeia em Alexandrina?
 
No sistema podre e carcomido, ninguém solta a mão de ninguém. Que esses artistas decadentes fiquem choramingando, pois as redes sociais furaram a bolha da velha imprensa e hoje todos ridicularizam essas figuras patéticas, isso é o de menos. 
Mas que esse mimimi encontre eco no arbítrio do ativismo judicial, aí mora o perigo!
 
A liberdade de expressão está ameaçada em nosso país. 
E a ameaça não vem do presidente “fascista”, mas justamente daqueles que assinam cartinha pela democracia e chamam toda crítica de “ataque”. Mas não vamos nos calar. Aceitem, que dói menos...
 
Rodrigo Constantino,  colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 
 

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Regina Duarte está pronta para dominar o “serpentário” que é a classe artística - Alexandre Garcia





Gazeta do Povo

A atriz Regina Duarte está aceitando o desafio da Cultura brasileira, que envolve uma estrutura gigantesca. São aquelas fundações que a gente conhece
a Agência Nacional do Cinema (ANCINE); 
o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); 
o Instituto Brasileiro de Museus; 
a Fundação Nacional das Artes (Funarte); 
a Fundação Palmares; 
a Fundação da Biblioteca Nacional; 
a Fundação Casa Rui Barbosa; a Lei Rouanet. [algumas dessas fundações nem os funcionários sabem para que servem e outras institucionalizam o mau uso do dinheiro público.]

O que se pode dizer é que aquele prêmio que o Alvim Goebbels [ex-secretário da Cultura, Roberto Alvim] estava anunciando é bom, e vai ser mantido. É um prêmio para estimular as artes de um modo geral – a literatura, a escultura, a pintura, a música, a ópera. O valor chega a R$ 20 milhões.

Conselho da Amazônia e Segurança Pública
No caso da Amazônia, o Ministério de Minas e Energia relatou ao presidente Jair Bolsonaro que não pode fazer tudo sozinho, porque tem que lidar com questões fundiárias, de produção agropecuária, que envolvem Exército, Marinha e Aeronáutica, questões de policiamento, de legislações locais, estaduais.

Criou-se esse conselho para dar prestígio e uma Polícia Nacional ambiental, que foi aprovada pelo ministro Paulo Guedes, que tem que dar os recursos para isso. Os recursos vão vir do dinheiro que a Lava Jato conseguiu trazer de volta da corrupção.
Por falar nisso, os secretários de Segurança Pública estão reunidos em Brasília e estão apresentando resultados. Quando a gente olha para o ano passado, vê que todos os números de homicídios estão caindo – até no Rio de Janeiro. [e ainda não deixaram o presidente Bolsonaro e o ministro Moro executarem, conjuntamente, os projetos que ainda estão guardados.]

Os números voltaram a 1991, quase 30 anos. Interessante que há menos policial morto e mais bandido morto. Bandido que reagiu. Ou seja, nesse faroeste, o mocinho está ganhando. Isso é um número bom não só para nos tranquilizar como brasileiros, mas para atrair turistas também para o Brasil, já que eles não têm vindo para cá por causa disso.

Regina Duarte e mulheres na política
Tenho uma pergunta a fazer no dia em que a Grécia escolheu a primeira mulher presidente, uma juíza. Ela foi escolhida pelo Parlamento. Nos EUA, a gente vê que Nancy Pelosi é a presidente da Câmara dos Deputados.

Aqui no Brasil, já tivemos uma presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) mulher (Carmén Lúcia); uma presidente da República mulher (Dilma Rousseff); mas nunca tivemos uma presidente mulher do Senado ou da Câmara dos Deputados. São 15% de mulheres lá. O que há com os nossos legisladores? Será que estão com medo ou é machismo? Que história é essa? [atualizando: duas mulheres, sendo a primeira a ministra Ellen Gracie Northfleet, também a primeira mulher a ser ministra do STF.
Quanto a carência de parlamentares femininas é que o sistema de cotas não funciona - o eleitor não segue cotas;
assim, poucas são eleitas e, lamentavelmente, a maioria nada produz e as vezes ainda pisa na bola. 
Mas, temos algumas mulheres que deram um show. E tivemos a Dilma para prejudicar, e muito, a imagem das mulheres.]

Ainda sobre a Regina Duarte: ela está com inteira liberdade, sinal verde. O presidente chegou a dizer para ela: "Quando você precisar demitir, não precisa me avisar, não". O mesmo para as nomeações. São vinte cargos, por aí, a critério de escolha dela. Ela está muito cautelosa para escolher o seu time.
Vai ser um desafio, mas ela está acostumada. Eu tenho dito que ela é do ramo. Essa área é um serpentário. A gente que trabalha nesse ramo sabe que é um verdadeiro Butantã.

Alexandre Garcia, jornalista - Vozes - Coluna Gazeta do Povo

 


terça-feira, 21 de janeiro de 2020

A namoradinha - Nas entrelinhas:

“Regina Duarte na Secretaria de Cultura pode representar o fim da ofensiva obscurantista e reacionária contra a classe artística, e não o contrário. Em miúdos, pode ser pior sem ela”

O presidente Jair Bolsonaro está em vias de transformar um limão em limonada, com a nomeação da atriz Regina Duarte para o cargo de secretária de Cultura, no lugar do neonazista enrustido Roberto Alvim. Ontem, o Palácio do Planalto confirmou que a protagonista da série Malu Mulher e das novelas Minha Doce Namorada, na qual era a jovem Patrícia, e Roque Santeiro, em que interpretou a Viúva Porcina, entre outros papéis de destaque, virá a Brasília amanhã para conhecer a Secretaria Especial da Cultura. Foi convidada por Bolsonaro para assumir o órgão. Os dois tiveram uma reunião no Rio de Janeiro, onde foi convidada. Depois da conversa, ela escreveu que está “noivando” com o governo.

[Cultura em uma definição simples, de um leigo em cultura, é um conjunto que inclui    a arte, as crenças, a lei, a moral,  o conhecimento, os costumes e demais hábitos todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem, em determinada época, local.

Assim, a classe artística, é apenas uma parte da Cultura e ser contra parte da classe artística (pelo que ela é ou pelo que produz) não implica, necessariamente, em ser contra a Cultura.]

Bolsonaro resumiu os entendimentos no Twitter: “Tivemos uma excelente conversa sobre o futuro da cultura no Brasil. Iniciamos um ‘noivado’ que possivelmente trará frutos ao país”, escreveu o presidente. Conservadora assumida, antipetista de primeira hora, Regina Duarte participou das campanhas das Diretas, Já!, de Tancredo Neves (1985) e José Serra (2002). Reconhecidamente, é uma grande atriz e tem o respeito da maioria de seus colegas, mas nunca teve unanimidade. Agora, sofrerá uma campanha de feroz oposição, porque assume o cargo em circunstâncias muito desfavoráveis, uma vez que seu antecessor desnudou um projeto reacionário de cultura, cuja inspiração estava na máquina de propaganda nazista. A questão é: fará uma inflexão nos rumos da pasta ou seguirá a mesma orientação? [esta questão só comporta uma resposta: seguirá a orientação do presidente BOLSONARO, que é o responsável maior por todas as áreas do seu Governo e que, obviamente, precisa ouvir seus assessores - detendo a palavra final.]
 
No governo Bolsonaro, a fronteira entre o conservadorismo e o reacionarismo é muito sinuosa, porém, já foi atravessada nas áreas da educação, cultura, direitos humanos e meio ambiente. Agora, o que foi barrado pela forte reação da opinião pública, do mundo artístico-cultural, da imprensa e até mesmo de setores militares no governo foi a narrativa fascista, que orienta a deriva contra a democracia de setores do governo. A crise provocada por Ricardo Alvim, ao reproduzir em vídeo trechos de um discurso de Joseph Goebbels, o ministro da Cultura e Propaganda de Adolf Hitler, levou-o à demissão, a contragosto do presidente. Pouco antes do “sincericídio”, numa live, Bolsonaro havia elogiado o seu então secretário de Cultura, que estava ao seu lado.

O episódio serviu para corroborar a narrativa dos setores da oposição que caracterizam o governo como fascista ou protofascista, ou seja, que denunciam a fascistização do país. Essa é uma discussão muito relevante por todas as suas implicações. Em todas as crises do governo, até agora, o que se viu foi um recuo de Bolsonaro diante das reações da sociedade civil e dos demais poderes da República. No caso de Ricardo Alvim, esse recuo se deu em menos de 48 horas, após os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), terem solicitado a demissão de Alvim, além das críticas do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e da opinião pública nas redes sociais, principalmente no Twitter, o principal instrumento de comunicação direta de Bolsonaro com a sociedade. Ou seja, nesses momentos, a democracia se fez mais forte do que o presidente da República.


Bonapartismo
A narrativa reacionária e chauvinista não basta para caracterizar um governo como fascista, a rigor, uma ditadura aberta, que recorre ao terror de Estado para esmagar a oposição. A expressão protofascista carrega ideia errônea de inevitabilidade da fascistização do regime político, porque proto significa primeiro ou o que antecede. Essa discussão não é nova. Historicamente, ocorreu na Alemanha da República de Weimar, às vésperas da ascensão de Hitler ao poder, quando os comunistas do KPD, herdeiros dos espartaquistas Karl Liebenik e Rosa Luxemburgo, chamavam a social-democracia alemã de social-fascista, abrindo caminho para a ascensão do Partido Nazista.


Aqui no Brasil, situação semelhante ocorreu em pleno Estado Novo, de clara inspiração fascista, mas o Brasil acabou entrando na II Guerra Mundial ao lado dos Aliados, porque, em seu interior, os americanófilos liderados por Osvaldo Aranha, Amaral Peixoto e Gustavo Capanema demoveram o ditador Getúlio Vargas e isolaram os simpatizantes do Eixo, encabeçados por Francisco Campos, Góis Monteiro e Filinto Müller. Agora, Ricardo Alvim ofendeu a memória da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que lutou nos campos da Itália contra o nazifascismo, daí a reação dos militares que integram o governo, que também pediram sua cabeça.

O governo Bolsonaro tem características bonapartistas, ou seja, preserva autonomia relativa e se coloca acima das classes sociais, embora sua política econômica esteja alinhada ao mercado financeiro.  
Ao confundir alhos com bugalhos, a oposição unifica o governo e acaba, ela sim, se isolando
De certa forma, a presença de Regina Duarte na Secretaria de Cultura pode representar o fim da ofensiva obscurantista e reacionária contra a classe artística, e não o contrário. Trocando em miúdos, pode ser pior sem ela.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense