Folha de S. Paulo - O Globo
Há dois anos seria forte candidato à Presidência; hoje é uma fritura ambulante
Ministro é hoje uma fritura ambulante. Fritam-no (ou frita-se) no Planalto, no Congresso e no Judiciário
[atualizando: a matéria sobre a fritura do ministro Sérgio Moro tem como fonte principal supostos diálogos que constam da divulgação pelo site intercept = intercePTação - que continuam sendo produto de crime e sem autenticidade comprovada.
Essa atualização se torna oportuna devido as tais conversas já estarem no lixo do esquecimento.]
Moro e os procuradores da Lava-Jato repetiram a mágica. Agora queixam-se de vazamentos, e o ministro da Justiça lastimou que seus projetos “não têm tido a necessária exposição na imprensa”. O doutor não percebeu a mudança climática a que se submeteu trocando Curitiba por Brasília. Era um juiz que encarnava o combate à roubalheira e, junto com os procuradores, era também a melhor fonte de notícias.
Afinal, era preferível ouvir Moro ou Deltan Dallagnol a dar crédito às patranhas virginais de empreiteiros ou de comissários petistas. Moro, Dallagnol e os procuradores sempre souberam que seus serviços seriam avaliados nas cortes superiores de Brasília. Confiaram numa inimputabilidade que lhes seria concedida pela opinião pública, até que vieram as revelações do The Intercept Brasil e, acima de tudo, a decisão do Supremo Tribunal Federal que anulou a sentença de 11 anos de prisão imposta a Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil.
Dallagnol fez o que achava que podia fazer. Desde o aparecimento das mensagens obtidas pelo Intercept, os procuradores da Lava-Jato e Sergio Moro encastelaram-se numa defesa suicida de silêncio e negação. Danificaram a alma da Lava-Jato com a soberba do encastelamento que levou as empreiteiras e os comissários do PT à ruína e à cadeia.Para Moro, a conta do “faço-porque-posso” veio na semana passada, com a decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal.
Alberto Toron estava certo
No dia 19 de janeiro de 2018 o advogado Alberto Toron, defensor de
Aldemir Bendine, encaminhou ao então juiz Sergio Moro um pedido para que
seu cliente apresentasse seus argumentos finais depois de conhecer os
memoriais de Marcelo Odebrecht e de outros colaboradores que o acusavam
de receber propinas. Toron argumentava que eles eram réus, mas haviam se
transformado em acusadores, em situação que “se assemelha ao papel de
um assistente do Ministério Público”. Quatro dias depois, Moro negou o
pedido. Pouco custava aceitá-lo. Sua decisão foi ratificada em duas
instâncias superiores, até que na semana passada, por três votos contra
um, a Segunda Turma do STF anulou a sentença de Moro que condenou
Bendine a 11 anos de prisão, por ter cerceado sua defesa. Talvez o
resultado fosse, quatro a um, se o ministro Celso de Mello estivesse na
sessão.
Moro rebarbou o pedido de Toron no dia 23. Dois dias depois os procuradores da Lava-Jato romperam as negociações com Palocci, que começou a negociar uma colaboração com a Polícia Federal.
Uma coisa nada teve a ver com a outra, mas ambas tiveram a ver com o “faço-porque-posso”. Moro achou que podia, assim como Palocci achou que podia oferecer sua colaboração à Polícia Federal. Conseguiu, e em abril fechou seu acordo com a PF. Daí em diante, num ano eleitoral, as revelações de Palocci começaram a vazar.
Os dois “faço-porque-posso” encontraram-se no dia 1º de outubro, seis dias antes da realização do primeiro turno da eleição presidencial, quando Sergio Moro divulgou o teor de um anexo da confissão de Antonio Palocci à PF. Como logo disse uma procuradora, “o acordo é um lixo”, mas teve eficácia eleitoral. Moro fez porque podia.
Achavam, mas não podiam.
(...)
Rodrigues Alves
Bolsonaro
repete que quem manda no governo é ele. Faria bem se refletisse sobre o que
dizia o grande presidente Rodrigues Alves (1902-1906): Meus
ministros fazem tudo o que eles querem, menos o que eu não quero que eles
façam.
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