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quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

O autor confessa - Percival Puggina

A quem interessar possa, confesso que sou portador de um pacote de anomalias que me fazem ser a favor da instituição familiar e contra os que a depreciam, a favor da liberdade e contra arreganhos totalitários, a favor da sociedade e contra a bandidagem. Podem me olhar de cara feia, mas é assim que sou.

Também sou pobre de mimcontra a miséria e, por isso, a favor do desenvolvimento econômico. Podem me chamar de porco capitalista, mas me sinto mal ao ver um miserável papeleiro fazendo tração animal, puxando carroça, porque o município não lhe proporciona outro modo de recolher papéis pela cidade, tendo preferindo zelar pelo cavalo e não pelo papeleiro. [um pequeno adendo: muitos dos que usavam animais para puxar carroças, maltratavam em demasia os animais e grande parte t economizava na manutenção do animal, reduzindo a comida. Sem contar os espancamentos para forçar os animais famintos, doentes, alguns já no final da vida, a puxarem com rapidez uma  carroça sobrecarregada em longas jornadas.

Pior é se ver em plena Capital da República, seres humanos - filhos de DEUS - revidando latas e sacos de lixo para colher alimentos estragados para se alimentar e aos seus familiares.]  Podem me chamar de direitista – não de fascista porque, como se sabe, fascista é a mãe de quem chama –,  no entanto, não consigo discutir sobre política com quem vive no mundo da lua.

A propósito, outro dia, disse-me alguém que a discussão entre esquerda e direita não define rigorosamente o quadro político brasileiro porque existe uma esquerda democrática e uma direita democrática e as duas posições são igualmente legítimas.  Aí já comecei a vislumbrar o cidadão sentado à borda de uma cratera lunar, balançando os pés e olhando a Terra azul. No mundo real, disse a ele, não existe esquerda e direita ideal. Existe uma direita real e uma esquerda real. Esta última, a que existe no Brasil, a que vai às urnas, a que faz voto e disputa o poder, é representada por dois ou três partidos que se definem como adversários da democracia liberal, representativa, que chamam “burguesa”, e querem promover mudanças para a, assim dita, “democracia popular”. Com esse mesmo rótulo, aliás, foram comercializados os regimes totalitários no leste da Europa e da Ásia, durante décadas, a partir de 1948.

Em toda democracia, mas de modo muito especial numa sociedade pluralista e de escassos consensos como a nossa, é preciso, sim, haver uma esquerda e uma direita democráticas. Acontece que a esquerda que governou o Brasil fez o que se sabe e o que se sabe é apenas parte do que fez. Por todos os modos tentou criar sua “democracia popular”, aparelhou toda a máquina pública com seus sovietes (conselhos), tomou conta das universidades, semeou discórdia onde havia união etc., etc., etc.. Não fez diferente no Rio Grande do Sul nas duas ocasiões em que governou o Estado causando catástrofes econômicas, fiscais e sociais.

Tenho 76 anos e nem um único minuto desse tempo todo estive em cima do muro.  Não me parece sensato instalar-me sobre  ele, como se a política fosse um jogo em que eu, neutro como uma biruta de aeroporto, me movimentaria segundo o vento das circunstâncias. Sou culpado? Quem sabe? Nesta terra, disparate é a sensatez. E vice-versa.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.


segunda-feira, 20 de julho de 2020

OS PODERES E OS MILITARES, OU AS PEGADAS DA CENSURA - Percival Puggina

 “Isso não pode ser fato gerador de crise absolutamente nenhuma. Porque, no dia em que o Judiciário não puder cassar ato do Executivo e não puder declarar inconstitucionalidade da lei, tem que entregar a chave do Judiciário e fechar a corte”. 
(Ministro Luiz Fux em conferência na Expert XP)

Em princípio não há qualquer controvérsia em relação ao dito pelo ministro na epígrafe acima. Em 10 de setembro, é bom lembrar, ele substituirá Dias Toffoli na presidência do Supremo Tribunal Federal. A controvérsia ganha forma e vida quando um ministro cruza a linha amarela, cruza a linha vermelha e mete o pé na porta do chefe do Poder Executivo para impedi-lo de nomear o diretor-geral da Polícia Federal, ou de extinguir onerosos conselhos que são verdadeiros sovietes encrustados na administração. Atribuir mauvaise intention ao presidente da República é quase uma declaração de guerra que, como tantos outros atos destes últimos meses, encontrou do outro lado da praça alguém decidido a cumprir a regra do jogo mesmo quando for o único a fazê-lo e mesmo sendo acusado de aspirações autoritárias que, sem muito esforço, se identificam em outras instalações e agências do poder.

E os militares? Por que tantos militares? 
Na instabilidade política de um país dividido, os militares representam, para o governo, a necessária segurança da cadeia de comando. Há quem, sem qualquer indício do que afirma, evoque fantasmas que criaram em suas “narrativas” históricas e fazem questão de manter no balcão de apostas da Praça dos Três PoderesPondere, então, esta outra situação. Há bem poucos dias, o ministro Gilmar Mendes, palpitando publicamente sobre o Ministério da Saúde, criticou a presença de militares na pasta e afirmou que o Exército estava se “associando a esse genocídio”. 
Ninguém se surpreenderia ao ler algo assim, tão politicamente alinhado, num site de esquerda. 

Mas convenhamos, pronunciado por pessoa investida de poder de Estado, é uma afronta ao Exército Brasileiro. Pois essa afronta encontrou no Ministério da Defesa uma resposta que é verdadeira lição de sobriedade e um burocrático encaminhamento à PGR do agravo sofrido. Também nossas Forças Armadas estão decididas a cumprir a regra do jogo, mesmo em circunstâncias adversas. Ainda assim, nos partidos de oposição, no Congresso Nacional, na grande mídia militante e nos quadros do STF, há quem atribua intenções golpistas ao presidente e aos militares. Nem as más notícias disponibilizadas pelos maus veículos de opinião conseguem adequar o que contam com o que as pessoas veem.
Você, cidadão, observe de quais portas se originam as pegadas da censura. Elas dizem muito sobre o jogo de cena que está sendo praticado no Brasil.

Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.