Os brucutus da ditadura gostavam de posar
de civis. Agora,
civis eleitos democraticamente posam de brucutus
Na terça-feira, dia 16,
um homem fardado, com insígnias e condecorações [legitimamente eleito pelo voto de eleitores livres] presidiu os trabalhos da Câmara dos Deputados, em Brasília, por quase duas
horas. Era o
deputado Capitão Augusto (PR-SP), para quem o golpe de Estado de
1964 não foi um crime, mas uma “revolução
democrática”.
A fotografia do parlamentar paramentado
de policial militar comandando o Poder Legislativo ganhou destaque em
jornais e nas redes sociais. Não era para menos. Ali está um retrato do nosso
tempo, um tempo cinza-escuro, como a farda
da PM que ele envergava, um tempo sombrio, plúmbeo,
em que as forças mais reacionárias e
obscurantistas pisoteiam com seu coturno estulto os símbolos da democracia
e da liberdade. [podem
até pisotear e só encontram espaço para este possível pisoteio, devido o fato
dos malditos esquerdistas eleitos, também pelo povo, passarem o tempo a
assaltar os cofres públicos.]
Que a indumentária da repressão policial
tome assento na presidência da Câmara é uma agressão simbólica chocante. [o uniforme utilizado pelo capitão Augusto preenche TODOS OS
REQUISITOS adequados ao uso por qualquer
parlamentar frequente todas as dependências da Câmara e exerça as atribuições
que lhe forem conferidas.
Nada impede que um sacerdote use a
batina para desempenhar nas dependências da Câmara o seu mandato.]
Até mesmo os militares golpistas
que tomaram o poder de assalto em 1964 tinham o cuidado de tirar o quepe do
Exército e vestir um terno civil enquanto usurpavam a Presidência da República.
Não tinham boa formação moral e cívica, mas pelo menos tinham senso de
ridículo. Queriam disfarçar um pouco a agressão que perpetraram contra a nação.
Em traje “passeio completo”, tentavam
desanuviar a carranca. Como não tinham sido eleitos como civis, e sabiam disso
muito bem, posavam como se fossem civis. Eram brucutus fantasiados de gente
civilizada.
Agora, seus adoradores anacrônicos, para quem o golpe [contragolpe] “livrou o Brasil do comunismo”, são eleitos como gente
civilizada e adoram posar de brucutus. Talvez não incorram em falta de decoro,
mas certamente abusam da falta de educação. O pior é que isso rende voto e
popularidade. Não nos esqueçamos de que, vira e mexe, uns tipos vão às ruas pedir
“intervenção
militar”, numa escancarada apologia do crime. [intervenção militar
constitucional tem amparo na Constituição Federal, assim não é crime. Crime é
assaltar os cofres da República, se locupletas com a coisa pública – nisso os
petistas, toda a maldita esquerda e seus apoiadores são mestres.] O discurso autoritário anda em alta e surfa na onda cor de chumbo. Não se trata apenas de
conservadorismo, mas de reacionarismo bestificante, um reacionarismo que está
presente não apenas na política, mas em praticamente todos os campos da vida
social.
No campo dos costumes, por exemplo,
as falanges reacionárias nunca estiveram tão “saidinhas”. Dias antes de
um casacão da PM presidir a sessão da Câmara, outro
grupo de parlamentares, na mesma instituição, desfraldou faixas e cartazes para protestar contra a Parada Gay e a
Marcha da Maconha. A primeira é muito famosa.
Uma vez por ano, reúne milhões de manifestantes para defender os direitos dos
homossexuais. A Marcha da Maconha não
tem a mesma visibilidade. [o que
obriga as PESSOAS DE BEM a aceitar que
um bando de bichas e lésbicas defendam o homossexualismo e, pior
ainda, queiram impor seus costumes
repugnantes? O que impede que as PESSOAS DE BEM sejam contrárias à liberação
das drogas?] É um
protesto ainda desconhecido que pleiteia a descriminalização da droga que lhe
dá nome. Pois bem, aquele grupo de deputados
federais sisudos não gosta disso e quer deixar bem claro que não gosta nada
disso.
Empertigados como espantalhos no milharal, eles se perfilaram e posaram para os
fotógrafos como se fossem salvar o
Brasil, agora não mais do comunismo, mas da devassidão. [o comunismo traz a devassidão
e uma das diretrizes básicas do Foro de São Paulo prega a
extinção da FAMÍLIA, da RELIGIÃO, da MORAL, dos BONS COSTUMES, querem o ABORTO, o CASAMENTO GAY, a LIBERAÇÃO TOTAL DAS DROGAS e de todas as
IMUNDÍCIES que a esquerda
precisa chafurdar para sobreviver.] Fizeram suas melhores (ou piores) caras de indignação para denunciar a
existência de dinheiro público dando suporte à Parada Gay, como se
isso fosse um disparate. [claro que
é um disparate, um roubo e uma pouca vergonha; dinheiro público é para ser
usado na EDUCAÇÃO, na SAÚDE, na SEGURANÇA, no TRANSPORTE PÚBLICO – jamais pode
ser usado para defender veado e sapatona.] Na opinião deles, pelo que deram
a entender, o dinheiro público é um dinheiro exclusivamente heterossexual.
A partir do estranho axioma, os deputados sexualmente indignados não se vexaram
de, sendo assalariados pelo dinheiro público e ocupando o plenário financiado
pelo dinheiro público, usar seu tempo de trabalho, evidentemente pago pelo
dinheiro público, para discriminar os gays, que, por serem gays e por quererem
se afirmar gays, não teriam direito, segundo os nobres deputados, de ter acesso
a serviços públicos pagos também pelo dinheiro público. Segundo a bancada espada, o dinheiro público pode
financiar manifestações de heterossexuais severos e austeros, mas não pode
emprestar segurança pública e outros serviços públicos às passeatas de
homossexuais sorridentes.
Isso não é só conservadorismo. É reacionarismo abrutalhado, quer suprimir a liberdade não
apenas da vida pública, mas principalmente da vida íntima. [vida íntima? A maior parte dos portadores do homossexualismo, querem
realizar suas práticas ofensivas ao pudor nas vias públicas.] O reacionarismo não admite que cada um busque o
prazer do modo que bem desejar. Quer tiranizar a vontade individual, quer
castrar o desejo, quer aplainar as diferenças. O reacionarismo quer que todo
mundo seja igual exatamente naquilo em que temos o direito de ser diferentes –
e quer que todos continuem diferentes naquilo em que deveríamos ser iguais: não
quer que tenhamos o direito de ser iguais perante a lei e o Estado.
O reacionarismo é cinza-escuro, embora não resista à tentação gozosa de se
emperiquitar, todo espetadinho de broches aos quais prefere dar o nome de
medalhas.
Fonte: Revista Época -
Eugênio Bucci