Quer
uma entrevista com a Dilma, leitor? Ligue lá no Palácio. Ela concede. Ela está doida pra
falar. É a orientação que deve ter recebido de sua assessoria de comunicação.
Ontem, sem previsão na agenda — de surpresa, é mais gostoso! —,
ela concedeu uma entrevista ao Jornal do SBT. Houve muitos momentos de humor
involuntário. Os vídeos estão no YouTube. Mas há um que merece transcrição
para, como se diz, entrar nos anais…
As falas seguem em vermelho. Comento em azul.
ENTREVISTADOR – O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, votou, em
regime de urgência, contas de outros governos que estavam paradas havia 20
anos. Claramente, está abrindo caminho para tentar analisar as contas da
senhora do ano passado. Já deixou correr prazo para pedidos de abertura de
processo de impeachment. Na semana passada, na quarta-feira, quando se votou
uma Proposta de Emenda Constitucional, 445 votaram a favor. Até o PT não votou
com o governo. Para se abrir um eventual processo de impeachment, é preciso o
apoio de dois terços dos 513 deputados, 342. Para evitar, precisa de um terço,
171 deputados. O governo tem força hoje, presidente, caso prospere essa manobra
do Eduardo Cunha, para barrar uma votação de um eventual processo de
impeachment contra a senhora?
DILMA
– Olha, você faz vinte perguntas numa só…
ENTREVISTADOR – E peço para a senhora responder
rapidinho…
DILMA
– Ah, é… E pede pra mim responder rapidinho. Desigual isso…
O
erro de matemática
Vamos
começar corrigindo a matemática. De fato, para que se aceite a denúncia contra
a presidente — ainda não é o processo de impeachment, o que é votado pelo
Senado —, são necessários dois terços dos 513 deputados: 342 votos. Mas
está errada a informação de que bastam 171 para barrá-lo. Obtidos os dois
terços de “sim”, ainda que todos os outros 171 digam “não”, a presidente
será afastada. O número seguro para Dilma é de 172 para cima.
O
erro factual
Pode-se
gostar ou não de Cunha, mas não houve manobra nenhuma para votar o que quer que
seja. Houve apenas cumprimento do Regimento. De resto, é notório que ele segue
a pauta definida pelo Colégio de Líderes. Adiante.
O
erro de gramática
“Pedir
pra mim responder” é, assim, um português um tanto bárbaro. Mas tudo bem. A
partir de agora, nada mais vai fazer sentido mesmo. Vamos ver o que respondeu
Dilma.
DILMA – Eu queria te dizer o seguinte: olha, se você olhar
para o Congresso, tá?, sempre tem algumas pautas extremamente atraentes. E é
compreensível porque o Congresso representa a sociedade…
NESSE PONTO, HÁ UM CORTE NA EDIÇÃO. E VOLTA O ENTREVISTADOR
REPÓRTER – Ou seja: a senhora tem força para abarrar o
processo de impeachment?
É
um diálogo de surdos. É provável que Dilma estivesse tentando dizer que a
“pauta atraente” é aquela que concede aumentos de salário pra galera. Dado o
contexto, no entanto, ficou parecendo que a governanta considera que atraente é
o impeachment. O que veio depois, sabe-se lá… A resposta deve ter sido de tal
sorte incompreensível ou atrapalhada que foi cortada. A pedido de quem? Também
é mistério.
O
fato é que, quando o entrevistador retoma, a sua fala não se encaixa no
diálogo: “Ou seja: a senhora tem força para barrar o processo de impeachment?”.
De onde terá tirado tal conclusão? Não dá para entender. A gente emprega um “ou
seja” quando vai dizer de outro modo algo que já foi dito, para tornar a
expressão mais clara. Releiam a resposta de Dilma… A ilação que faz o seu
interlocutor é um absoluto despropósito, dada a omissão de parte da resposta.
Adiante.
DILMA
– Não! Eu não vou responder isso [se tem ou não força para barrar um processo
de impeachment].
ENTREVISTADOR – Por quê?
DILMA
– Eu não vou responder isso porque, quando ocorrer, se ocorrer, a gente
conversa sobre. Eu não antecipo situações.
Encerro
É isso aí. Não era para fazer sentido mesmo. O negócio é ocupar espaço na imprensa, especialmente nas TVs, para espalhar a falsa informação de que um eventual processo de impedimento é golpe e rompimento das regras democráticas.
É isso aí. Não era para fazer sentido mesmo. O negócio é ocupar espaço na imprensa, especialmente nas TVs, para espalhar a falsa informação de que um eventual processo de impedimento é golpe e rompimento das regras democráticas.
A
quem Dilma convence? Dada a frouxidão da fala, nem a si mesma.
Ou seja…
Por: Reinaldo
Azevedo