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domingo, 13 de maio de 2018

O Dia das Mães [das assassinas] Suzane e Jatobá


É um indulto previsto em lei, por bom comportamento. Mas quem há de aceitar como justa essa saidinha de cinco dias do presídio? Impossível sentir compaixão pelas duas


Uma foi condenada a 39 anos pelo assassinato dos pais em 2002. A outra foi condenada a 26 anos e oito meses por matar a enteada em 2008. Dois crimes bárbaros ocorridos em São Paulo. O domingo materno será de festa para ambas. Ninguém esquece que Suzane von Richthofen fingiu chorar com o luto após abrir a porta de casa para que o namorado e o irmão dele matassem a marretadas seu pai e sua mãe. Ninguém esquece que Anna Carolina Jatobá foi condenada por jogar do sexto andar uma menininha de 5 anos, Isabella Nardoni, com a cumplicidade do marido e pai da garota.


Suzane e Jatobá estão em liberdade para comemorar o Dia das Mães. É um indulto previsto em lei, por bom comportamento. Mas quem há de aceitar como justa essa saidinha de cinco dias do presídio de Tremembé, até terça-feira? Impossível sentir compaixão pelas duas mulheres. É justiça ou descompasso moral soltar ambas no Dia das Mães? O benefício é justo ou deslocado? Indulto ou insulto?  Curioso o sorriso de Suzane para as câmeras quando está fora das grades. Quase como se a celebridade negativa a divertisse. Matou a mãe por motivo fútil, porque não aceitava seu namoro. Rica, tinha vida confortável. Contratou os rapazes para sujar as mãos por ela. Órfã por matricídio, vai festejar o Dia das Mães ao lado do noivo, um empresário de Angatuba (SP). Tenta cumprir o resto da pena em liberdade, mas seu pedido não foi analisado.

Anna Carolina Jatobá nunca foi de sorrir. Inventou com o marido Alexandre Nardoni, na época, uma história fantasiosa para a morte de Isabella. O casal foi desmascarado por pistas do carro à janela, embora continue a se dizer inocente. Anna Carolina Jatobá vai comemorar o domingo com os dois filhos. A mãe de Isabella, que também se chama Ana Carolina, vai comemorar com o filho de 1 ano e dez meses. Seu senso de justiça é outro. “Uma pessoa que comete um crime desses deveria ficar presa o resto da vida dela”, disse em março, dez anos após o assassinato. Ela encontrou a filha ainda viva, estirada no jardim.

Como a Justiça deve agir diante de assassinatos torpes assim? “O sistema penal e prisional é uma criação humana para substituir o desejo de vingança”, diz a juíza Andrea Pachá. A pena de prisão não deveria ser apenas punitiva, mas sim aprimorada para garantir aos condenados uma chance de ressocialização. A progressão de pena e o indulto têm essa função. Mas, sempre que a lei se dissocia dos sentimentos morais, a sensação de injustiça vem à tona.

“Como magistrada, o que me inquieta é não conseguir explicar com clareza para a sociedade a razão de ser de determinadas normas”, afirma Andrea Pachá. “Devemos nos preocupar com a aplicação da lei, mas devemos nos preocupar com a importância simbólica que a lei representa. Nesse contexto, os indultos — previsões importantes da afirmação da civilidade e da humanidade poderiam muito bem se desvincular de datas sensíveis e cheias de significado para todos nós”.

Em outras palavras, Suzane e Jatobá talvez devessem passar o Dia das Mães na cadeia, para refletir sobre o significado da maternidade. Assim, não despertariam a ira da sociedade, que as enxerga como bruxas.

Ruth de Aquino, jornalista
 



A CIA achou que Geisel dominaria a ‘tigrada’



O documento revelado ensina que na ditadura praticaram-se crimes e aquilo que pretendia ser ordem era uma enorme bagunça. [o importante é que do aqui chamado 'bagunça' saiu um Brasil melhor do que antes do Governo militar.

Cabe o velho ditado: "não se faz omelete sem quebrar os ovos".]

A História do Brasil continua a ser escrita pelos americanos. O documento da CIA que revelou o encontro do presidente Ernesto Geisel com três generais para discutir critérios para os assassinatos de dissidentes políticos avacalha os 40 anos de política de silêncio que os comandantes militares cultivam em relação às práticas da “tigrada” dirigida pelo Centro de Informações do Exército, o CIE.

O documento, mandado pelo diretor da CIA ao secretário de Estado Henry Kissinger, revelou que, duas semanas depois de sua posse, Geisel fez uma reunião com o chefe da Serviço Nacional de Informações, João Batista Figueiredo, e com os generais Milton Tavares de Souza, comandante do CIE e seu sucessor, Confúcio Avelino. Tavares de Souza, o “Miltinho”, era um asceta, radical, porém disciplinado. Confúcio, um medíocre.

Na reunião, “Miltinho” revelou que já haviam sido executadas 104 pessoas. Segundo a narrativa da CIA, a matança ficaria restrita aos “subversivos perigosos”, e cada proposta de execução deveria ser levada ao general Figueiredo, para que ele a referendasse. Esse projeto de controle do Planalto sobre o CIE ficou na teoria, ou na imaginação da CIA.
No dia 11 de abril, quando o telegrama foi transmitido a Washington, circulava no Planalto um documento desconhecido, do qual sabe-se apenas a reação do general Golbery do Couto e Silva, chefe da Casa Civil de Geisel: “Estamos sofrendo uma ditadura dos órgãos de segurança. (...) toda vez que a cousa começa a acalmar, o pessoal decide e cria troço, prende gente. Porque, você compreende, é para permanecer, para mostrar serviço. (...) A verdade é que eles fazem o que querem.”

Depois de abril, pelo menos 15 guerrilheiros do Araguaia foram mortos, e tanto Geisel como Figueiredo, “Miltinho”, Confúcio e Golbery sabiam que essa matança estava em curso desde outubro de 1973. (Executavam-se inclusive os jovens que atendiam ao convite de rendição e colaboravam com a tropa.) Em janeiro de 1974, Geisel ouviu de um oficial do CIE uma narrativa das operações no Araguaia, onde haviam sido capturados 30 guerrilheiros. Geisel perguntou: “E esses 30, o que eles fizeram, liquidaram?”. Resposta do tenente-coronel: “Alguns na própria ação. E outros presos depois. Não tem jeito não.”
Semanas depois, ao convidar o general Dale Coutinho para o ministério do Exército, ouviu dele que “o negócio melhorou muito, agora, melhorou, aqui entre nós, foi quando nós começamos a matar. Começamos a matar.” Geisel respondeu: “Esse negócio de matar é uma barbaridade, mas eu acho que tem que ser.” [´traidores da Pátria não podem ser combatidos com flores; os traidores da Pátria são piores que bandidos  e para eles vale mais ainda o velho e verdadeiro adágio: "bandido bom é bandido morto".]

A metodologia narrada pelo serviço americano foi seguida no extermínio da direção do Partido Comunista Brasileiro. Antes de 1974, os comunistas eram perseguidos ou presos, mas não eram assassinados. Em abril, três dirigentes comunistas haviam sido capturados e mortos pelo CIE. No ano seguinte, outros sete.  Com a destruição das siglas metidas em terrorismo, o CIE neutralizou a única organização esquerdista que agia na esfera política. Para isso, dispunha de pelo menos uma preciosa infiltração, e conhecem-se casos de tentativas de recrutamento, pela CIA, de capas-pretas que viviam na clandestinidade. À falta de dirigentes, em 1975 a “tigrada” continuou matando militantes em sessões de tortura. A ideia de controlar o CIE colocando-o sob a supervisão do Planalto simplesmente não funcionou.

Em 1976, depois da morte do operário Manuel Fiel Filho no DOI de São Paulo, Geisel demitiu o comandante do II Exército, general Ednardo D'Avila Mello, e defenestrou Confúcio. Mesmo assim, só restabeleceu o primado da Presidência sobre as Forças Armadas em 1977, quando mandou embora o ministro do Exército, Sylvio Frota. (No dia da demissão de Frota, doidivanas do CIE pensaram em atacar o Palácio do Planalto.)
Para as vivandeiras e napoleões de hospício de hoje, o documento da CIA ensina que na ditadura praticaram-se crimes e aquilo que pretendia ser ordem era uma enorme bagunça.

FREDERIC CHAPIN, UM GRANDE AMERICANO
Poucas coisas seriam tão nocivas ao país do que uma noção segundo a qual entre 1969 e 1977, quando tomou posse o presidente democrata Jimmy Carter, o governo americano moveu-se para conter a ditadura brasileira.  Em 1971, recebendo o presidente Médici na Casa Branca, Richard Nixon disse que “para onde for o Brasil, também irá o resto do continente latino-americano”. Bingo. Dois anos depois ditaduras militares assumiram o poder no Uruguai e no Chile. Em 1976, caiu a Argentina. Entre 1970 e 1973, a embaixada americana era comandada por William Rountree, mais tarde mostrado pelo ex-secretário de Defesa Frank Carlucci como um "adocicador da ditadura". O consulado americano em São Paulo teve mesa no DOI até 1970.

O jogo virou em São Paulo com a chegada, em 1972, do cônsul Frederic Chapin. Era um presbiteriano e ligou-se com o cardeal Paulo Evaristo Arns. Ficou cinco anos no posto e mandou pelo menos 61 mensagens a Washington narrando e denunciando torturas, assassinatos e prisões, bem como ações da censura. Morreu em 1989, aos 60 anos.

LIÇÕES DA CIA
Gina Haspel, futura diretora da Central Intelligence Agency, aguentou duas horas e meia de sabatina na Comissão de Inteligência do Senado americano. Defendeu a tortura passada e condenou o seu retorno. O depoimento da senhora está no YouTube e é uma amostra de competência, inclusive na arte de administrar silêncios.

A senhora deu duas informações triviais: com 33 anos de serviço, parte dos quais como agente em operações clandestinas, Haspel não tem contas em redes sociais.  Durante o depoimento ela tomava discretos goles de um refrigerante, bebendo na lata. Nada a ver com o copo d'água teatral de Gilmar Mendes.

(...)

Elio Gaspari, jornalista - O Globo