Lema fascista: “Tudo no Estado. Nada contra o Estado. Nada fora do Estado”. Lema lava-jatista: “Tudo na Lava Jato. Nada contra a Lava Jato. Nada fora da Lava Jato”
Deltan
Dallagnol já não disfarça: fala como político, comporta-se como
político, pensa como político. E, suponho, isso faz dele um político.
Pertença ou não a um partido.
Lá está o rapazola no “Financial Times” a tonitruar:
“Se não houver renovação na política, o grande risco para a Lava Jato virá depois da eleição”.
E ainda:
“Quando vemos os grandes
interesses e os políticos que se juntam contra a Lava Jato, a primeira
coisa que vem à cabeça é que é mera questão de tempo até que possam
manietar os investigadores, destruir as ferramentas de investigação e
acabar com as punições”.
Em suma: o
único interesse do Brasil é a Lava Jato. Tudo deve ser feito pensando
na Lava Jato. O objetivo legítimo e solitário do país é a Lava Jato.
Tudo o que não for Lava Jato é lixo. Ou ainda: “Tudo na Lava Jato. Nada contra a Lava Jato. Nada fora da Lava Jato”.
Como no lema fascista: “Tudo no Estado. Nada contra o Estado. Nada fora do Estado”.
Dallagnol é o nosso Mussolini babyface. Não sei, não… Acho que esse rapaz não está se dando conta de que os brasileiros estão ficando com o saco cheio dessa ladainha.
E não! Não estão com o saco cheio do combate à corrupção. Noto é um fastio crescente com esse espírito de missionário doidivanas, que ameaça levar o país ao abismo.
Esses
caras acham que é pouco terem conduzido o Brasil a uma situação tal que,
se a eleição fosse hoje, Lula disputaria, para vencer, o segundo turno
contra Jair Bolsonaro.
“Mas, então, não se deveria ter combatido a corrupção?” A pergunta
é coisa de gente parva. É claro que sim! E vamos mudar o tempo do
verbo: deve-se combater a corrupção. Mas é preciso fazer de acordo os
marcos legais. Ao senhor Dallagnol cumpre seguir as regras do Ministério Público Federal. E fazer política não está entre as suas atribuições.
Esse rapaz
tem de ter a coragem de disputar eleições. Vencendo, tem de mostrar
pelo exemplo como é que se faz. O que não pode é usar o Ministério
Público Federal para fazer proselitismo político. Lembro que
os balanços que se fazem sobre a operação tocam as raias do ridículo em
alguns casos. Como características positivas da investigação, listam-se
as delações, condenações, recuperação de ativos; entre as negativas, o
fato de a turma descumprir, com frequência, a lei.
Entenderam?
Uma operação que envolve o MPF e a PF, dois entes do Estado, tem por
hábito não dar bola para os limites legais. E isso é visto apenas como
um aspecto negativo… Para
encerrar: não passa de demagogia barata e ignorante a conversa de que
foram os políticos, não a forma que tomou a operação, a levar a política
ao estado de miséria em que se encontra. Não há
dúvida de que existem os maus políticos. Mas também há os bons. Não há
dúvida de que há transgressões para todos os gostos. Por isso mesmo, é
preciso que se estabeleça a devida hierarquia entre elas para que o
processo político possa ser aprimorado sem ser destruído.
A Lava
Jato, à diferença do que pensam seus fanáticos, não é uma teoria
política, uma economia política, uma filosofia política ou uma ideologia
política. Trata-se apenas de uma das expressões do necessário poder
repressivo do Estado. Por isso mesmo, o “necessário” não exorbita, e o
“poder repressivo” não ambiciona ser um fim em si mesmo. Ou, com efeito, caminha-se para um modelo fascistoide.
É uma pena
que a imprensa viva um dos piores momentos de sua história no que
concerne à formação intelectual dos jornalistas. Só por isso tantos
idiotas e tantas Marocas aceitam o papel de porta-vozes de entes da
polícia como se fossem entes da política. Precisamos das duas coisas. Mas não precisamos da polícia no lugar da política nem da política no lugar da polícia.
Blog do Reinaldo Azevedo