"ABRIRAM A CAIXA DE PANDORA"
Nunca se viu um início de governo – e dá
para tratar assim, já que a presidente foi reconduzida ao posto – tão
com cara de fim de feira. Pipocam problemas por todos os lados. É como
se a Caixa de Pandora tivesse sido aberta e de lá começassem a sair
caudalosas histórias de podres sem-fim. De cara o País ficou sabendo que
o governo escamoteou sim, enquanto duravam as eleições, números
negativos sobre o aumento da miséria e do desmatamento. Nem bem
confirmou a vitória, Dilma Rousseff deu sinal verde para o aumento de
combustíveis, dos juros e de outras taxas represadas cujos reajustes vêm
a caminho, engordando a inflação.
De caso pensado, mobilizou sua base
para fazer passar no Congresso uma manipulação fiscal vergonhosa capaz
de tingir artificialmente de azul as contas públicas. A manobra, que
tenta via maquiagem contábil driblar o princípio legal de gastos
controlados, choca pelo descaramento com que é defendida entre aliados
como a salvação da lavoura. É isso ou o caos, na alegação desses
senhores. E na verdade, por não cumprirem as metas, estão buscando
desmoralizar de vez o orçamento público, conseguindo salvo-conduto para
despesas sem limite. Com o seu, com o nosso dinheiro. É o vale-tudo!
O escracho administrativo assume proporções
ainda mais dantescas com as revelações do maior escândalo jamais
registrado na República. São escabrosos os casos de desvio flagrados em
profusão pela Polícia Federal, demonstrando que ao longo dos últimos 12
anos as gestões petistas adotaram a corrupção como “modus operandi” para
bancar seu projeto de poder. Do mensalão ao assalto bilionário à
Petrobras e a outras estatais, aliados do governo montaram um sistema de
financiamento ilegal que irrigou partidos da base. Ao aparelharem
órgãos e empresas públicas, com indicações políticas para postos
estratégicos, conseguiram saquear o Estado de maneira profunda e
metódica.
O loteamento partidário segue a pleno vapor por esses dias na
formação do segundo mandato de Dilma, ignorando quadros técnicos, e não
há sinais de que a prática esteja próxima do fim. Pelo contrário, cresce
na exata medida do aumento de apetite e das exigências dos que dão
sustentação à presidente eleita.
Enquanto isso, no lamaçal das denúncias, a
Polícia está chegando à conclusão de que boa parte do dinheiro dos
crimes seguiu direto para os caixas de campanha. A investigação fechou
os elos da cadeia e o PT, talvez antecipando novas dores de cabeça,
decidiu questionar a escolha do ministro Gilmar Mendes para relator das
contas da campanha presidencial. Caso se comprove que o dinheiro do
petrolão alimentou a reeleição de Dilma, ela pode ter a diplomação
impedida dentro de um processo que seguiria em paralelo à apuração sobre
eventual crime de responsabilidade, por tomar conhecimento e nada ter
feito para eliminar o funcionamento do esquema. A quebra do sigilo
fiscal, telefônico e bancário do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, já
autorizada, deve trazer novas revelações nesse sentido.
É de surpreender, diante da contundência
das acusações, a apatia que tomou conta do Planalto. O governo parece
paralisado, inerte, desarticulado. Consumido pelo escândalo, hesita na
tomada de decisões, nem sequer adota medidas para afastar os maus
elementos. Fechada em seu mundo palaciano, cercada de assessores que lhe
fazem a corte, a presidente reeleita isola-se e dá sinais de acreditar
que tudo se resolverá de maneira divina a seu favor. Milhões de
eleitores devem estar agora se perguntando onde depositar suas
esperanças. Muitos se sentem enganados.
O grave na postura dos que comandam
atualmente o País é a aceitação tácita da corrupção como forma de fazer
política. Para eles, não se constrói maioria na busca do consenso.
Constrói-se maioria comprando apoio. Isso é que espanta, está na
essência da indignação de boa parte dos brasileiros. Corrupção sempre
houve no regime capitalista. É inerente a ele. Mas usá-la de forma
endêmica, como ocorre agora, é devastador para o futuro de uma nação.
Fonte: Editorial - Isto É
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