Projeto aumenta isolamento de Israel
Definição do país como ‘Estado-nação do povo judeu’ é um retrocesso na democracia porque marginaliza a população árabe-israelense
No Oriente Médio, nada é tão ruim que não possa piorar. No caso da Primavera Árabe, quase quatro anos depois apenas a pioneira Tunísia está no rumo democrático. O Egito voltou à ditadura militar, o Estado líbio se fragmentou, uma longa guerra civil destrói a Síria, provocando um êxodo de refugiados. Da maré montante de organizações islâmicas radicais, uma delas ergueu-se de forma inesperada e violenta: o Estado Islâmico (EI), que implantou um califado trevoso em amplas áreas da Síria e do Iraque em nome do fundamentalismo sunita e vem batendo todos os recordes de violência, barbárie e retrocesso civilizatório. Conflitos alimentados, no fundo, pela guerra entre sunitas e xiitas.
Nesse contexto, o embate entre Israel e palestinos, a luta destes pela constituição de um Estado, deveria receber prioridade máxima. Desatar este nó é vital para desanuviar o quadro, o que requer novas atitudes não só do Estado judeu, como dos países árabes. Mas, o que se verifica é que os dois lados cada vez mais se aferram a posições radicalizadas. Israel segue expandindo a ocupação de territórios palestinos. Estes seguem fazendo atentados sangrentos. Cansada, a comunidade internacional começa a demonstrar impaciência com Israel: a Suécia já reconheceu a Palestina, o Parlamento britânico também (medida mais simbólica) e a França poderá ser a próxima a fazê-lo.
Nas últimas semanas, a violência aumentou em Jerusalém, devido a uma disputa religiosa: ativistas judeus querem ter o direito de rezar no local chamado pelos israelenses de Monte do Templo e, pelos árabes, de Nobre Santuário — área entregue à administração religiosa islâmica e em que fica a mesquita de al-Aqsa, sagrada para os muçulmanos. [se a área está sob administração religiosa islâmica e é considerada sagrada para os muçulmanos, soa como provocação que ativistas judeus queiram exercer suas atividades religiosas em solo sagrado para outra religião.] Onze israelenses foram mortos, incluindo quatro rabinos e um policial esfaqueado e alvejado a tiros, por palestinos, em uma sinagoga da cidade. Doze palestinos também foram mortos, incluindo grande parte dos autores dos ataques.
Só contribui para radicalizar mais a situação o projeto aprovado pelo governo do premier Benjamin Netanyahu, mas ainda não pelo Parlamento, que define Israel como “o Estado-nação do povo judeu”, aprofundando uma divisão já existente entre a maioria judaica e os árabes israelenses — 20% da população de 8 milhões. O projeto foi criticado pelo próprio presidente israelense, Reuven Rivlin: “o Estado de Israel foi estabelecido sobre duas fundações sólidas: judaísmo e democracia. A remoção de um deles vai levar à queda de todo o prédio”.
Em editorial, o “New York Times” lembrou que a Declaração de Independência enfatiza que Israel foi criado como um lar para os judeus, mas garante “completa igualdade de direitos sociais e políticos a todos os seus habitantes, sem distinção de religião, raça ou sexo”. O projeto sob exame é discriminatório, antidemocrático e aumenta o isolamento de Israel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário