Levados no embrulho da crise, a pior que um governo do PT já enfrentou
em quase 13 anos de poder, Dilma e Lula jantaram juntos no Alvorada na
noite desta terça-feira.
Além da refeição, compartilharam a avaliação
segundo a qual os desdobramentos da Lava Jato e a estagnação econômica
retiraram o impeachment do freezer. A presidente recorreu ao seu mentor
para tentar, na definição de um auxiliar, “esfriar” a conjuntura que põe
em risco a continuidade do seu mandato.
Além de Dilma e Lula,
participaram do repasto no Alvorada outros três caciques do PT: o
governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, e os ministros palacianos
Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Coordenação Política).
Lula programou-se para permanecer em Brasília nesta quarta-feira. Sua
prioridade é “segurar” o PMDB no governo, fazendo o que for necessário
para evitar que o pedaço anti-Dilma da legenda se torne majoritário.
O
partido do vice-presidente Michel Temer, substituto constitucional de
Dilma, realiza no sábado sua convenção nacional. Será compelido a
discutir um tema que se tornou incontornável: a proposta de rompimento
com o governo. Pelo menos dez diretórios estaduais defendem o
desembarque: RS, SC, PR, ES, PE, MS, BA, AC, RR e RO. Negocia-se uma
saída intermediária: a legenda migraria para uma posição de
“independência”.
Na manhã desta quarta, Lula deve tomar café com a
caciquia do PMDB do Senado, à frente o presidente da Casa, Renan
Calheiros. Investigado em seis inquéritos da Lava Jato, Renan vem sendo
tratado por Dilma como uma espécie de herói da resistência. Nas últimas
semanas, reaproximou-se de Michel Temer, algo que inquietou os
operadores políticos de Dilma. Daí a decisão de Lula de sentir-lhe o
pulso.
Pragmático a mais não poder, Renan tenta farejar a direção
dos ventos. Depois de iniciar o dia tomando café com Lula, o senador
fechará a noite desta quarta num jantar na casa do senador tucano Tasso
Jereissati (CE). A exemplo de Lula, o tucanato também deseja saber que
armas o PMDB pretende empunhar na batalha do impeachment. Afora o
anfitrião Tasso e os convidados peemedebistas, devem participar do
jantar pelo lado dos tucanos: Aécio Neves, José Serra, Cássio Cunha Lima
e Aloysio Nunes.
A movimentação em torno do impeachment contrasta
com a letargia do governo. Nesta terça-feira, após participar de
reunião com o ministro Berzoini, um líder de partido governista comparou
o governo a uma pessoa que sofre de “sonambulismo” —caminha durante o
sono, repetindo movimentos adquiridos pelo hábito. O próprio pedido de
socorro a Lula decorre desse hábito do governo de reagir às crises de
maneira automática e convencional.
O problema é que aquele Lula
mitológico que elegeu Dilma e ajudou na reeleição é uma construção
política do passado. O Lula atual, de carne e osso, é um político
tradicional, suspeito de tudo o que se costuma suspeitar nos personagens
dessa fauna. Hierarca da degeneração moral do petismo, Lula já não
enxerga em Dilma sua única prioridade. A Jararaca agora precisa
administrar sua morofobia.
Há mais: Lula, Dilma e os
operadores petistas lidam com um fenômeno que foge ao controle do
governo e da superestrutura partidária. A Lava Jato tornou-se uma usina
de surpresas tóxicas. Em poucos dias, prendeu João Santana, marqueteiro
das campanhas petistas; cavou a delação em que o ex-líder do governo
Delcídio Amaral atira em Lula e Dilma; arrancou um depoimento de Lula
sob coerção e condenou Marcelo Odebrecht a 19 anos e 4 meses de cadeia,
mostrando-lhe as vantagens da delação premiada.
Há pior: o alegado
talento gerencial de Dilma decresce na proporção direta do crescimento
dos desafios. Em privado, Lula não economiza críticas à sua criatura.
Disseminou-se entre os aliados do governo a impressão de que a
presidente reúne três debilidades: é fraca, indecisa e inepta. Juntas,
suas fragilidades a tornam menor do que a crise que ela ajudou a criar. É
tão diminuto o talento de Dilma que muitos enxergam nela a própria
crise.
Fonte: Blog do Josias de Souza
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