O que nos trouxe até aqui foi a economia. A luta
contra a corrupção não explica o que se passa, já que dos dois lados que
se enfrentam no plenário da Câmara há envolvidos na Lava-Jato. Não há
na lei do impeachment nada que puna a má gestão econômica, mas nenhum
governo resiste ao trio inflação alta, recessão profunda e colapso
fiscal.
Collor não caiu porque mentiu na campanha, nem pelo plano que
aprisionou as finanças das empresas e famílias, mas sim porque essa
violência extrema não entregou inflação baixa e produziu recessão
severa. As denúncias naquela época de desvio de dinheiro, inclusive para
proveito pessoal do presidente, deram o motivo final para o
impeachment.
Este domingo, em que a presidente Dilma estará sob o ataque político
de adversários e antigos aliados, começou no primeiro trimestre do
segundo mandato. O tarifaço de energia fez a inflação dar um salto, e a
popularidade despencar. Ao final de março de 2015, o percentual de ruim e
péssimo pelo CNI Ibope havia atingido 64% e já se igualava ao pior
momento do governo Sarney. Em dezembro, já havia batido o recorde de
rejeição entre todos os presidentes da era democrática, com 70%. Em
março deste ano, manteve o mesmo patamar porque o PIB continuou
afundando e impediu a recuperação.
As pedaladas aconteceram principalmente no primeiro mandato. Elas
foram um atentado à Lei de Responsabilidade Fiscal e explicam a desordem
econômica em que o país está. Dilma desrespeitou, com seu ministro da
Fazenda e secretário do Tesouro do primeiro mandato, inúmeras regras
contábeis. A crônica econômica está repleta de decisões que atentaram
contra o ordenamento monetário e fiscal do país. É justo que ela tenha
que responder pelos abusos e absurdos que cometeu. Foram tantos, que
transbordaram para o segundo mandato. Foram tantos que ameaçaram a
estabilidade.
A crise econômica produzida pela gestão de Dilma levou ao
enfraquecimento político da presidente. Ela foi inábil ao gerir esta
crise, mas no primeiro mandato já havia demonstrado a mesma inabilidade
de administrar a coalizão. O que a atingiu agora foi a soma de tudo: a
crise econômica corroeu o apoio popular ao governo, os políticos
começaram a se afastar, ela não teve sabedoria para agir. O fator
externo que acelerou a dinâmica da crise foi a Lava-Jato. Nas
investigações, não há indícios de proveito pessoal da presidente Dilma –
apesar de haver contra vários do seu grupo, inclusive o ex-presidente
Lula – mas sobram indícios de que houve dinheiro dos contratos da
Petrobras no financiamento da campanha presidencial, que, é bom lembrar,
elegeu Dilma Rousseff e Michel Temer. O fator Eduardo Cunha foi o
gatilho. Atingido diretamente pelas denúncias de corrupção, ele preferiu
atirar. Se Cunha sobreviver a tudo isso, o país estará encrencado.
O Brasil vive neste domingo um dia dramático sobre o qual será
preciso continuar pensando. Estamos no tempo da traição, o que nunca é
um espetáculo bonito de se ver, mas é fácil de explicar. Quando os
políticos começam a fugir de um líder impopular, há um momento em que o
movimento se acelera. Foi o que se viu nos últimos dias. Na época de
Collor, até seu amigo de primeira hora, Renan Calheiros, o traiu. Todos
tentam escapar do navio que afunda e mandam mensagens para as suas
bases. Ainda mais em ano de eleição municipal, quando se formam as
alianças e apoios para a renovação dos mandatos federais.
É tempo de complexidades. Nada é simples. Qualquer que seja o
resultado da votação de hoje, o preço que o país pagará será alto. Se a
presidente vencer, ela terá perdido a capacidade de governar; se o
processo for adiante, serão meses de sofrimento em que a família
brasileira permanecerá dolorosamente fraturada. [mas, no momento em que Dilma, Lula e o maldito PT forem declarados politicamente mortos, ficará mais fácil a consolidação das fraturas.]
Fonte: Coluna da Míriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo
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