Vai
aumentar a instabilidade no Congresso. Brasília e Curitiba programam novas
ações, cujo desfecho deve ocorrer depois da decisão do Senado sobre Dilma
Vai aumentar, e muito, o clima de instabilidade no
Congresso. É o que preveem autoridades encarregadas dos inquéritos sobre
corrupção na Petrobras e outras empresas estatais.
Baseiam-se
no conteúdo de novas delações e de farta documentação coletada no país e,
também, recebida como resposta a 87 pedidos de cooperação enviados a 28 países.
Como
o tempo do sistema de justiça raramente coincide com o calendário da política,
mais provável é que o desfecho das ações em
planejamento em Brasília e Curitiba ocorra no fim de maio, depois da decisão do Senado sobre o destino
de Dilma Rousseff.
Sobram motivos para alguns
aliados do atual e do eventual futuro governo adormecerem preocupados com quem
vai bater à porta na manhã seguinte. Em dúvida, consulte-se
Rodrigo Janot, procurador-geral da República.
Sexta-feira
passada, em Boston, ele disse a pesquisadores das universidades de Harvard e
MIT: “O mensalão foi brincadeira
comparado à Lava-Jato. O olhar retroativo sobre os fatos de 2010 a 2012 revela
essa origem criminosa. Estou convencido, com os fatos de hoje, de que é uma operação
conjugada. O mensalão é parte do iceberg que depois veio a ser descoberto. Nem
todo. Acho que esse iceberg ainda tem partes a serem descobertas. Hoje, temos
certeza.”
A procuradoria deve encerrar
abril conduzindo 49 inquéritos contra políticos no Supremo Tribunal Federal,
onde não cabem recursos. O deputado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é o campeão em suspeitas de formação de quadrilha,
corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros crimes. Já foi denunciado duas
vezes. O Supremo decidiu processá-lo num caso e, agora, vai resolver
sobre o seu afastamento da presidência da Câmara. Será personagem em mais duas
denúncias previstas para os próximos dias.
O ambiente vai piorar, e muito,
antes de começar a melhorar. Uma boa definição para esse desastre político foi
dada pelo poeta sergipano Carlos Ayres Britto, ex-presidente do Supremo. Ele
recorreu à expressão típica do sertão para freadas bruscas como forma de
organizar a carga nos paus de arara: “O
momento é de freio de arrumação nas ideias, nos valores e nos métodos da
sociedade brasileira. E quando esse freio de arrumação é dado, historicamente,
quem não estiver com o cinto de segurança da decência, da transparência
pública, do dever cumprido, vai se machucar seriamente.”
São eloquentes as 93 sentenças do
juiz Sérgio Moro, de Curitiba. As condenações já somam 999 anos. Dos réus, 65
fizeram acordos. Desses, 51 (78% do
total) estavam em liberdade. Outros 14 preferiram delatar e voltar para casa usando
tornozeleira eletrônica. É o caso de Fernando “Baiano” Soares, coletor de propinas do PMDB de Eduardo Cunha, que
deve depor hoje na Comissão de Ética da Câmara. O
respaldo dos tribunais superiores a 96% dos procedimentos processuais tem
ajudado o bom humor dos procuradores.
Depois das inúmeras menções a Deus na votação do impeachment na Câmara, alguém
teria procurado o chefe da procuradoria:
— O senhor vai ter de investigar
Deus. É impossível que uma pessoa mencionada tantas vezes não mereça ser
investigada.
— Eu respondi — conta Janot. — Olha, não provoque. Vai que Ele resolva fazer uma colaboração
premiada. Esse Cara sabe tudo...
Fonte: José Casado – O
Globo
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