Por
mais que São Paulo seja a vitrine eleitoral do País, a vitória em
primeiro turno do PSDB e o fato de o prefeito Fernando Haddad não ter
conseguido ir ao segundo turno, além de ter obtido a mais baixa votação
da história petista na cidade, são o menor dos problemas do partido no
enorme cardápio de pratos indigestos que a Executiva Nacional terá à sua
frente na reunião.
Geraldo Alckmin tampouco
foi à final quando concorreu a prefeito em 2008, com Gilberto Kassab
(eleito) e Marta Suplicy. Nem por isso deixou de se eleger governador e
de agora ser apontado como o grande vitorioso de 2016. Na política o
fundo do poço tem mola, é o que se diz no meio. A coisa, no entanto,
complica na proporção direta da profundidade e amplitude do referido
poço. E o buraco do PT, como se sabe, é de dimensões amazônicas.
Perdeu
praticamente dois terços das prefeituras conquistadas em 2012, ficou
por ora (ainda disputa em sete capitais no segundo turno) na décima
posição entre a infinidade de legendas – a maior parte sem importância
política e/ou representativa – concorrentes na eleição de domingo
último. No âmbito geral, a vitória obtida em Rio Branco (AC) é
insignificante. Considerados todos os noves fora, o PT é hoje uma
agremiação sem votos. Isso pela ótica que os petistas costumam avaliar
adversários menos afortunados.
O partido foi dormir no dia 1.º
de outubro ainda mais ou menos cheio de razão e acordou 24 horas depois
sem a menor razão para seguir na toada arrogante da vítima de um golpe,
da conspiração das elites, das injustiças do Ministério Público, da
Justiça, da Polícia Federal, da imprensa “nojenta”, dos deuses e dos
astronautas. O desastre era esperado, mas o tamanho assustou. Na
noite de domingo, antes mesmo do término da apuração, o clima entre
petistas era de desconcerto. E, por incrível que possa parecer diante
das evidências das perdas sucessivas ao longo dos últimos dois anos e do
efeito disso na opinião do público, o PT não tem um diagnóstico
realista dos males que o acometem nem obviamente soluções para o
tratamento, vale dizer, estratégia para a recuperação ou tentativa de.
O
partido não é homogêneo nessa questão. Há os que ainda consideram que a
culpa é dos outros, há os que não “realizaram” a enormidade dos erros e
há os de bom senso, partidários da autocrítica profunda seguida de
revisão de procedimentos tão ampla quanto. Estes defendem essa tese
desde o mensalão sem que tenham conseguido ser ouvidos e, não raro,
tratados como inconfidentes ou moderados no mau sentido; em linguagem
antiga, pequenos (e equivocados) burgueses.
Por essas e várias
outras é que o grupo dos sensatos não acredita que a reunião da
Executiva marcada para hoje produza avanços. Há um sentimento de que,
embora a fábula do partido perseguido tenha sido desfeita pela
realidade, a tendência seria prevalecer a insistência na versão tão
criativa quanto falsa da história. Assim como falaciosa é a história de
que o ex-presidente Luiz Inácio da Silva recusa a ideia de assumir a
presidência do partido por ser favorável a uma renovação de lideranças.
Daria
até para acreditar e deixar de lado a contumaz interdição de Lula ao
debate e à rotatividade de líderes, não fosse a reação do próprio diante
da débâcle: “Quanto mais ódio se estimula, mais amor se cria (em torno
dele). Só há um jeito de me pararem: evitar que eu ande pelo Brasil”. É
o Lula de sempre. Que já fez muito bem, mas hoje faz muito mal ao PT.
Cresce no partido essa certeza, mas ninguém tem coragem de dizer.
Guardadas as proporções, é o mal que Leonel Brizola fez ao PDT. O
prejuízo causado pela ação de caudilhos em desconexão com a marcha da
democracia, cujo pressuposto é a alternância, a renovação, o dia de
amanhã.
Fonte: Dora Kramer - O Estadão
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