Acabo
de chegar ao Brasil para a semana de lançamento do meu novo livro Como
Matar a Borboleta Azul: Uma Crônica da Era Dilma. Acabo de chegar ao
Brasil depois de passar uma semana lendo diferentes opiniões sobre a
controvertida PEC do Teto, a PEC 241, que prevê a limitação para o
crescimento das despesas primárias do governo. Pelo que senti desde que
cheguei, parece que o assunto está muito longe de se esgotar.
Tenho
visto diversas posições favoráveis e contrárias à PEC. Algumas têm
embasamento, outras não. Para refletir sobre a PEC com algum grau de
seriedade e sem deixar-se levar pelas paixões, é preciso, primeiramente,
avaliar os diferentes diagnósticos. Discussão sobre a PEC sem que se
saiba qual o diagnóstico da pessoa que a defende ou ataca é como aceitar
de bom grado tratamento invasivo sem que o médico tenha lhe dito qual
doença lhe aflige. Vamos, pois, aos diagnósticos.
Há quem seja
contra a PEC por ter um diagnóstico muito diferente de quem a ela é
favorável. O que mais ouvi e li é o diagnóstico honesto de pessoas que
acham que foi a queda da arrecadação que levou à dramática situação
fiscal brasileira, queda iniciada nos anos Dilma, com as desonerações
atabalhoadas para diferentes setores e aprofundada pela recessão
dramática que atravessamos.
Segundo essa linha de raciocínio, o
problema não está nos gastos do governo, mas sim em ineficiências de
arrecadação, políticas equivocadas e falta de crescimento. Entendo que
quem pense assim ache que enfocar a despesa, quando o problema é
receita, insista que a PEC ataca o problema errado. Respeito essa
opinião, mas não concordo com ela. E, supondo que esse diagnóstico
fosse correto, qual a solução? Esperar o crescimento voltar? Aumentar o
gasto por meio do investimento público, a dívida pública por tabela,
para forçar o crescimento? Como ficariam as contas públicas, então?
O
diagnóstico de quem é favorável ao controle dos gastos – me incluo
nesse grupo de economistas – é que o problema principal não é a receita,
mas o próprio gasto. Isso, entretanto, não desqualifica os pontos
levantados por quem tem o outro diagnóstico: as desonerações foram
ruins, a arrecadação realmente caiu. A gestão Dilma, como descrevo em
meu livro, contribuiu para esses descalabros, ao promover verdadeira
destruição institucional, arrombando a Lei de Responsabilidade Fiscal, o
regime de metas de inflação, e demais pilares de nossa política
macroeconômica.
As pedaladas, o descumprimento de metas fiscais, o
descaso com o arcabouço que tantos anos levamos para construir, além
das ingerências no funcionamento do mercado e a farra do crédito
público, desarrumaram a economia brasileira de forma inédita em pouco
tempo. Foram cinco anos para irmos de situação relativamente sólida para
as entranhas do buraco negro que ainda suga as famílias, as empresas, o
governo.
Mas a destrutiva gestão Dilma exacerbou problema
antigo. Antes mesmo do desmonte promovido pela Nova Matriz Econômica, já
tínhamos grave problema com o crescimento do gasto, que superava em
muito o aumento do PIB. Foi possível levar essa situação enquanto o
mundo nos favoreceu – as commodities em alta, a China turbinada. Porém, o
quadro auspicioso se reverteu justamente no início da gestão Dilma,
como mostro em minha Borboleta. É por esses motivos que a PEC do Teto
passou a ser tratamento invasivo necessário.
A PEC é a melhor do
mundo, tem o melhor desenho do mundo, é isenta de problemas e outras
dificuldades? É evidente que não. Qualquer tentativa de consertar o
tamanho do estrago brasileiro não teria como ser ideal, perfeita. Isso
só existe no mundo de realismo mágico, ou de realismo trágico, como foi o
de Dilma Rousseff. O debate para aprimorar a PEC é saudável e
deve continuar. Não deve encerrar-se com a aprovação da emenda, pois
como já observou o próprio presidente Michel Temer, é provável que tenha
de ser repensada em alguns anos. Para os contrários à PEC, mas que querem, como todos nós, o resgate do crescimento, deixo a epígrafe de meu livro:
O segredo é não correr atrás das borboletas. É cuidar do jardim para venham até você. (Mario Quintana).
Fonte: Monica de Bolle - O Estado de São Paulo
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