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sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Barroso interpela Bolsonaro para explicar declarações - Mônica Bergamo

Folha de S. Paulo

Presidente disse que se Felipe Santa Cruz quisesse saber como o pai tinha morrido, ele poderia contar

O ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), interpelou Jair Bolsonaro para que ele esclareça "eventuais ambiguidades ou dubiedades dos termos utilizados" nesta semana, ao falar sobre a morte de Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz. O presidente tem 15 dias para responder à interpelação. [apesar do ministro ter fixado um prazo, Bolsonaro não é obrigado a responder, podendo simplesmente ignorar, conforme permissivo constante do artigo 144 do Código Penal.
Caso seja este a opção do presidente - esperada pelos seus eleitores - o interpelante poderá tentar novas ações que, tudo indica, terão o mesmo destino do material divulgado pelo intercePTação = 'o escândalo que encolheu'.]

A decisão atende a um pedido do advogado, que, de acordo com o despacho de Barroso, "se sentiu pessoalmente ofendido e entendeu que, das declarações do senhor Presidente da República, se poderia inferir a prática dos crimes de calúnia contra a memória de seu pai". Na segunda (29), Bolsonaro disse que poderia explicar a Felipe Santa Cruz como o pai dele desapareceu durante a ditadura militar (1964-1985). "Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele."

Fernando Santa Cruz desapareceu na época da ditadura militar depois de ser preso por agentes do Estado. Até hoje, sua morte é um mistério e seu corpo nunca foi encontrado. Depois de afirmar que sabia qual tinha sido o destino de Santa Cruz, Bolsonaro voltou ao assunto. Numa live enquanto cortava o cabelo, o presidente afirmou que ele foi morto por integrantes da AP, a Ação Popular, de oposição à ditadura, que chamou de "grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco". A declaração contraria documentos oficiais que dizem que Fernando Santa Cruz foi preso por agentes do Estado e desapareceu. A AP, por sua vez, nunca foi um grupo armado.

Ex-militantes da organização anunciaram que também vão processar o presidente.
 
Mônica Bergamo - Folha de S. Paulo
 
 

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