Folha de S. Paulo
Presidente disse que se Felipe Santa Cruz quisesse saber como o pai tinha morrido, ele poderia contar
O ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal),
interpelou Jair Bolsonaro para que ele esclareça "eventuais ambiguidades
ou dubiedades dos termos utilizados" nesta semana, ao falar sobre a
morte de Fernando Santa Cruz, pai do presidente da OAB, Felipe Santa
Cruz. O presidente tem 15 dias para responder à interpelação. [apesar do ministro ter fixado um prazo, Bolsonaro não é obrigado a responder, podendo simplesmente ignorar, conforme permissivo constante do artigo 144 do Código Penal.
Caso seja este a opção do presidente - esperada pelos seus eleitores - o interpelante poderá tentar novas ações que, tudo indica, terão o mesmo destino do material divulgado pelo intercePTação = 'o escândalo que encolheu'.]
A decisão atende a um pedido do advogado, que, de acordo com o despacho
de Barroso, "se sentiu pessoalmente ofendido e entendeu que, das
declarações do senhor Presidente da República, se poderia inferir a
prática dos crimes de calúnia contra a memória de seu pai". Na segunda (29), Bolsonaro disse que poderia explicar a Felipe Santa
Cruz como o pai dele desapareceu durante a ditadura militar (1964-1985).
"Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um
dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um
dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele
desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a
verdade. Conto pra ele."
Fernando Santa Cruz desapareceu na época da ditadura militar depois de
ser preso por agentes do Estado. Até hoje, sua morte é um mistério e seu
corpo nunca foi encontrado. Depois de afirmar que sabia qual tinha sido o destino de Santa Cruz,
Bolsonaro voltou ao assunto. Numa live enquanto cortava o cabelo, o
presidente afirmou que ele foi morto por integrantes da AP, a Ação
Popular, de oposição à ditadura, que chamou de "grupo mais sanguinário e
violento da guerrilha lá de Pernambuco". A declaração contraria documentos oficiais que dizem que Fernando Santa
Cruz foi preso por agentes do Estado e desapareceu. A AP, por sua vez,
nunca foi um grupo armado.
Ex-militantes da organização anunciaram que também vão processar o presidente.
Mônica Bergamo - Folha de S. Paulo
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