O economista José Roberto Mendonça de Barros
acha que pode estar perto de mudar o ciclo da economia mundial, para
uma forte desaceleração ou até recessão. Um dado impressionante: há US$
16 trilhões aplicados em ativos com rendimentos negativos e isso mostra
uma atitude de defesa contra riscos. O economista Marcos Lisboa explica
que o dólar, que subiu 10% em pouco mais de um mês no Brasil, está
refletindo a soma da fraqueza da economia brasileira e as incertezas
internacionais.
O presidente americano Donald Trump tem sido um fator de instabilidade da economia global. Ele cria ondas de especulações. Depois de ter derrubado os mercados com a nova escalada da guerra comercial, no domingo ele disse que deveria ter sido mais duro. A segunda-feira começou com queda nos mercados da Ásia, mas aí ele mudou o tom completamente, e o mercado internacional operou em alta. Postou elogios à China, como se o presidente Xi Jinping tivesse cedido. A China meio que desmentiu. Disse que nada havia acontecido de novo. Enquanto isso, os sinais de risco global se acumulam, segundo José Roberto: — O mundo tem US$ 16 trilhões aplicados em papéis com juros negativos, da Alemanha, do Japão, e de vários outros tesouros. Isso só se explica porque os investidores estão com medo de perda no portfólio. A dívida das empresas americanas está dando 47% do PIB dos Estados Unidos. É recorde. E como se sabe, não existe desalavancagem suave. As empresas de tecnologia que foram a razão da valorização do mercado estão sob risco regulatório. O modelo do Fed de NY mostra que a probabilidade de uma recessão nos EUA já passou de 30%. No passado, quando isso aconteceu, houve recessão. Além da invers
ão da curva de juros, há outro sinal clássico aparecendo que é a alta do ouro.
No Brasil, o dólar disparou 10% em pouco mais de um mês. Saiu de R$ 3,74, no dia 22 de julho, para R$ 4,13 pela taxa Ptax, calculada pelo Banco Central. É a maior cotação desde 18 de setembro do ano passado. Esse choque cambial terá efeito sobre a confiança dos consumidores e dos empresários neste terceiro trimestre. As famílias percebem que há algo errado com a economia e podem adiar decisões de compra. As grandes empresas que têm dívidas em dólares têm piora dos seus balanços. A importação de bens de capital fica mais cara.
O economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, acha que o dólar reflete as pressões ruins de fora e de dentro do país. Várias medidas prometidas pela equipe econômica acabaram não se concretizando, como a de zerar o déficit primário com a venda de estatais, e outras ideias ainda em fase de estudos chegam à imprensa e ao mercado antes de se tornarem propostas concretas: — A reforma da Previdência foi um passo importante, mas ela sozinha não resolve a questão fiscal. Os gastos obrigatórios aumentaram R$ 200 bilhões desde 2016 e isso está paralisando a máquina pública. O governo ainda não tem uma agenda clara para a recuperação, são muitas ideias de projetos ao mesmo tempo, mas várias delas não se sustentam — afirmou.
Ontem o humor do mercado financeiro foi afetado também por mais uma pesquisa de opinião mostrando queda da popularidade do presidente Jair Bolsonaro. [a pesquisa cuidando da popularidade do presidente Bolsonaro é, no presente momento, um mero dado a municiar uma oposição incompetente.] Os que avaliam o governo como ruim ou péssimo chegaram a 39% dos entrevistados pela CNT/MDA, enquanto os que pensam que é ótimo ou bom caíram para 29%. A desaprovação do presidente saltou de 28% para 54% em cerca de seis meses, enquanto a aprovação caiu de 57% para 41%. E o brasileiro está pessimista sobre a economia. A grande maioria, 88%, ainda avalia que o país permanece em crise econômica, 67% conhecem algum parente ou amigo próximo que ficou desempregado, e 28% avaliam que a economia piorou neste governo, contra apenas 23% que acham que ela ficou melhor. O medo de ficar desempregado, em relação há um ano, está maior para 55%, contra apenas 9% que acham que ficou menor.
A economia americana está desacelerando. Ainda cresce e com baixa inflação, mas há riscos. — Até agora não apareceu inflação nos Estados Unidos e isso é bom, mas esta rodada adicional de tarifas pode bater em preço porque atinge bens de consumo. Antes era de bens intermediários e bens de capital — diz Mendonça de Barros.
Trump pode ser atingido pela confusão que ele mesmo está criando na economia mundial.
Blog da Míriam Leitão - com Alvaro Gribel, de São Paulo - O Globo
O presidente americano Donald Trump tem sido um fator de instabilidade da economia global. Ele cria ondas de especulações. Depois de ter derrubado os mercados com a nova escalada da guerra comercial, no domingo ele disse que deveria ter sido mais duro. A segunda-feira começou com queda nos mercados da Ásia, mas aí ele mudou o tom completamente, e o mercado internacional operou em alta. Postou elogios à China, como se o presidente Xi Jinping tivesse cedido. A China meio que desmentiu. Disse que nada havia acontecido de novo. Enquanto isso, os sinais de risco global se acumulam, segundo José Roberto: — O mundo tem US$ 16 trilhões aplicados em papéis com juros negativos, da Alemanha, do Japão, e de vários outros tesouros. Isso só se explica porque os investidores estão com medo de perda no portfólio. A dívida das empresas americanas está dando 47% do PIB dos Estados Unidos. É recorde. E como se sabe, não existe desalavancagem suave. As empresas de tecnologia que foram a razão da valorização do mercado estão sob risco regulatório. O modelo do Fed de NY mostra que a probabilidade de uma recessão nos EUA já passou de 30%. No passado, quando isso aconteceu, houve recessão. Além da invers
ão da curva de juros, há outro sinal clássico aparecendo que é a alta do ouro.
No Brasil, o dólar disparou 10% em pouco mais de um mês. Saiu de R$ 3,74, no dia 22 de julho, para R$ 4,13 pela taxa Ptax, calculada pelo Banco Central. É a maior cotação desde 18 de setembro do ano passado. Esse choque cambial terá efeito sobre a confiança dos consumidores e dos empresários neste terceiro trimestre. As famílias percebem que há algo errado com a economia e podem adiar decisões de compra. As grandes empresas que têm dívidas em dólares têm piora dos seus balanços. A importação de bens de capital fica mais cara.
O economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, acha que o dólar reflete as pressões ruins de fora e de dentro do país. Várias medidas prometidas pela equipe econômica acabaram não se concretizando, como a de zerar o déficit primário com a venda de estatais, e outras ideias ainda em fase de estudos chegam à imprensa e ao mercado antes de se tornarem propostas concretas: — A reforma da Previdência foi um passo importante, mas ela sozinha não resolve a questão fiscal. Os gastos obrigatórios aumentaram R$ 200 bilhões desde 2016 e isso está paralisando a máquina pública. O governo ainda não tem uma agenda clara para a recuperação, são muitas ideias de projetos ao mesmo tempo, mas várias delas não se sustentam — afirmou.
Ontem o humor do mercado financeiro foi afetado também por mais uma pesquisa de opinião mostrando queda da popularidade do presidente Jair Bolsonaro. [a pesquisa cuidando da popularidade do presidente Bolsonaro é, no presente momento, um mero dado a municiar uma oposição incompetente.] Os que avaliam o governo como ruim ou péssimo chegaram a 39% dos entrevistados pela CNT/MDA, enquanto os que pensam que é ótimo ou bom caíram para 29%. A desaprovação do presidente saltou de 28% para 54% em cerca de seis meses, enquanto a aprovação caiu de 57% para 41%. E o brasileiro está pessimista sobre a economia. A grande maioria, 88%, ainda avalia que o país permanece em crise econômica, 67% conhecem algum parente ou amigo próximo que ficou desempregado, e 28% avaliam que a economia piorou neste governo, contra apenas 23% que acham que ela ficou melhor. O medo de ficar desempregado, em relação há um ano, está maior para 55%, contra apenas 9% que acham que ficou menor.
A economia americana está desacelerando. Ainda cresce e com baixa inflação, mas há riscos. — Até agora não apareceu inflação nos Estados Unidos e isso é bom, mas esta rodada adicional de tarifas pode bater em preço porque atinge bens de consumo. Antes era de bens intermediários e bens de capital — diz Mendonça de Barros.
Trump pode ser atingido pela confusão que ele mesmo está criando na economia mundial.
Blog da Míriam Leitão - com Alvaro Gribel, de São Paulo - O Globo
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