O Estado de S. Paulo
STF, Câmara e Senado não veem graça em apanhar dos bolsonaristas enquanto Bolsonaro passa de bonzinho
Os manifestantes de domingo, em grande maioria bolsonaristas, ainda não
entenderam exatamente o que está acontecendo e, quando confrontados com a
verdade por Marcelo Madureira, [esses artistas, no caso o humorista, em final de carreira é um problema a urgência que tem por holofotes - só essa extrema necessidade de voltar aos palcos, explica um individuo que é contra os, digamos, homenageados/apoiados em uma passeata, pretender usar o ato de apoio para ofender os homenageados.] no Rio, dirigiram agressões e
impropérios contra ele, retirado sob escolta policial. A verdade dói.
Os atos foram em favor do ministro Sérgio Moro e do procurador Deltan
Dallagnol e contra a lei de abuso de autoridade, o Congresso e o
Supremo, com foco nos ministros Dias Toffoli, que o preside, Gilmar
Mendes e Alexandre de Moraes. Não ficou claro de que lado desse saco de
gatos está o presidente Jair Bolsonaro. [o presidente Jair Bolsonaro está do lado do Brasil, do lado do povo.] Dia sim, outro também, o presidente dá sinais de distanciamento, até de
um certo enfado diante de seu ministro da Justiça, o troféu mais
comemorado e um dos dois superministros do início do governo. Tirou-lhe o
Coaf, demitiu o chefe do órgão indicado por ele, cortou as verbas da
Justiça, disse publicamente que o ministro não manda na PF.
Enquanto a turma que defende Moro fazia manifestações pelo País, até com
bonecos infláveis do Super-Homem com a cara do ministro, Bolsonaro
espezinhava o ícone internacional da Lava Jato. “Cuide bem do ministro
Moro, você sabe que votamos em um governo composto por você, ele e o
Paulo Guedes”, pedia um internauta. “Com todo respeito, ele não esteve
comigo na campanha”, deu de ombros Bolsonaro. [é notório que Moro goza de grande apoio popular, com chances reais de ser candidato a vice na chapa Bolsonaro - 2022 (exceto se Bolsonaro aprovar a volta da CPMF), mas, também é certo que o presidente Bolsonaro não precisou de Moro para obter quase 60.000.000 de votos nas eleições 2018.]
Logo, fica a dúvida: os manifestantes estavam defendendo Moro de quem?
Do Congresso? Do Supremo? Ou do próprio Bolsonaro e de todos eles
juntos? Do lado oposto, os grupos nas ruas desfilavam faixas dizendo que a mais
alta Corte do País é “uma vergonha” e pedindo “impeachment já” de
ministros. E quando Toffoli atraiu a ira popular definitivamente?
Quando, atendendo a um pedido de advogados e a um interesse de Flávio
Bolsonaro, o 01, mandou suspender todos os processos e investigações com
base em dados do Coaf e sem autorização judicial. Outra dúvida: os manifestantes sabem por que Toffoli tirou o Coaf da
frente? Que o principal beneficiário foi o filho do presidente? Que um
dos motivos da birra com Moro é que ele foi contra a liminar de Toffoli?
E que foi por conveniência do Planalto que o Coaf virou UIF e foi parar
no Banco Central?
Os protestos miraram também Alexandre de Moraes, que mandou suspender
investigações da Receita Federal sobre 133 autoridades, inclusive de
colegas dele no Supremo. Mais uma dúvida: os manifestantes ouviram as queixas de Bolsonaro de que
a Receita estava devassando a vida de seus familiares? Que ele tentou
meter a mão na Receita no Rio, sua base? Teve até protesto dos agentes
do fisco? [o pessoal do Fisco omite que em determinados aeroportos eles gozam de privilégios de circulação, o que equivale, na prática, a isenção de impostos.] Aliás, por que ninguém defendeu a PF? [a PF tem realizado um excelente trabalho e não corre riscos, assim, não precisa de defesa.
Os entreveros da PF com o presidente da República foi o esquecimento, pela PF, da máxima: "quem pode o mais, pode o menos".]
Por fim, o grande motivo das manifestações foi combater a lei de abuso
de autoridade, aprovada rapidinho no Congresso e agora nas mãos de
Bolsonaro, que pode vetar, sancionar ou, o mais provável, vetar só
partes. [o veto parcial, em grande parte soluciona o problema;
a denúncia apresentada por corrupção e lavagem de dinheiro contra Rodrigo Maia explica, sem justificar, a pressa de aprovar a lei de abuso de autoridade - até ontem, o 'primeiro-ministro' era o algoz do presidente Bolsonaro, agora tudo mudou.] Uma das broncas é porque as dez medidas anticorrupção evaporaram
e o pacote anticrime e anticorrupção de Moro foi engavetado. Ficou a
lei que combate quem combate a corrupção. Então, uma quarta dúvida: ninguém viu a “live” de Bolsonaro anunciando
na internet “uma segurada” no pacote de Moro? E com o Moro como
coadjuvante?
Rodrigo Maia (agora alvo direto da PF), Davi Alcolumbre e Dias Toffoli,
para ficar nos presidentes, estão cansados de apanhar sozinhos por
decisões que dividem com Bolsonaro. E não só nas ruas, mas no próprio
Congresso, onde o PSL lidera a articulação da CPI da Lava Toga, mirando
Toffoli e o STF. Bolsonaro lava as mãos diante das manifestações e da CPI, mas Toffoli
tem uma bomba: a liminar que favoreceu o 01 e que ele pode retirar a
qualquer momento. Se é para apanhar, que apanhem todos. Os alvos dos
bolsonaristas não acham graça em apanhar sozinhos, enquanto Bolsonaro
fica de bonzinho
Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo
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