O Globo
Agência de espionagem opera sob controle direto do presidente
Jair Bolsonaro avança na concentração de poder. Em julho fez uma escolha
pessoal, decidida em família, para o comando da agência de espionagem.
“O que o presidente precisa é de informação para não ser surpreendido”,
disse ao entregar a Abin ao delegado federal Alexandre Ramagem. Herdeira
do antigo SNI, ela mantém 26 unidades nos estados. Agora, opera sob
controle direto do presidente. Em seguida, ele aproveitou a confusão política com o “superministério”
da Justiça para retirar-lhe o Coaf, banco de dados financeiros em cuja
malha caíra um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
Semana passada, avisou à Receita Federal que pretende “limpar” o órgão
de “petistas infiltrados”. O governo não refutou o relato do repórter
Raphael Di Cunto sobre queixas do presidente quanto a uma suposta
“perseguição” fiscal à sua família.
Nesta semana define quem vai comandar a Procuradoria-Geral da República.
Ontem, alinhou os compromissos que impôs: “Que (o escolhido) entenda a
situação do homem do campo e não fique com essa ojeriza ambiental; que
não atrapalhe as obras, dificultando licenças; que preserve a família
brasileira; e que entenda que as leis têm que ser feitas para a maioria e
não para as minorias.” Por tais critérios, Bolsonaro parece desejar a
PGR como um anexo do Palácio do Planalto.
A lei dá à Procuradoria-Geral a competência exclusiva para investigar e
denunciar —ou não —o presidente da República, ministros, deputados e
senadores. O ungido de Bolsonaro terá influência decisiva no rumo de
casos de corrupção, meio ambiente, direitos civis, limites à ação
policial, armamento da população e, também, arguições das leis
previdenciária e tributária em produção no Congresso — onde o presidente
já tem a maior bancada. Bolsonaro começou enquadrando o governo numa moldura de símbolos
militaristas verde-oliva. Agora, avança no controle pessoal e direto
sobre a agência de espionagem, os órgãos de controle externo e o
Ministério Público. É um excedente de poder, observam políticos, nas
mãos de um presidente em campanha pela reeleição.
José Casado, jornalista - O Globo
José Casado, jornalista - O Globo
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