No dia algo agitado de depoimentos na Comissão Parlamentar de Inquérito
no Senado da Covid-19, a oposição colheu duas pontas de fios da meada:
1) a atitude do presidente da República diante de uma acusação trazida a
ele sobre eventuais irregularidades e
2) os limites da ação do governo
diante da pressão de parlamentares para influir na destinação de verbas
contra a pandemia.
Será necessário ver os próximos
capítulo para concluir sobre o grau de dificuldade da CPI em chegar a
fatos materiais que embasem eventuais pedidos de indiciamento neste
caso. O governo tem um trunfo, que é o
contrato em pauta (Covaxin) não ter sido consumado. Mas a oposição pode
esgrimir, por exemplo, a diferença do senso de urgência exibido pelas
autoridades sanitárias nos casos da Pfizer e da vacina indiana. E há o
problema do preço. A oposição diz que é a vacina mais cara de todas. O
governo argumenta que o valor negociado é o menor de tabela.
E
há o detalhe da tal terceira empresa não citada em contrato e que de
repente apareceu no circuito. E tem as dúvidas sobre a empresa que
representa os indianos no Brasil. O presidente
da República precisará afastar as nuvens de uma eventual suspeita de
prevaricação, mas poderá reafirmar que não há acusação de corrupção
contra ele. Entretanto, como o governo fará para controlar uma situação
em que parte da sua base vier a ser investigada pela Polícia Federal e o
Ministério Público?
Se há algum risco político
trazido pelo Caso Covaxin é este: gerar instabilidade nas relações do
Palácio do Planalto com a base principal de sustentação do governo no
Congresso, e que o vem protegendo até agora das flechadas desferidas
pela oposição e pelo antibolsonarismo extraparlamentar. Já
se viu no caso do agora ex-ministro Ricardo Salles que, mesmo com as
alterações na cúpula da Polícia Federal, é ingenuidade imaginar que o
governo tem controle absoluto sobre o andamento de investigações.
Leia mais e saiba quem é o senador bunda gorda, inútil e imbecil e a deputada espanhola - termos carinhosos e respeitosos que se tornar comuns no Circo Parlamentar de Inquérito da Covid-19.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
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