Corria o ano de 1998. O presidente era Fernando Henrique Cardoso, e as invasões de terra se multiplicavam. Apenas naquele ano seriam 599, e em várias regiões do país, inclusive o Rio de Janeiro, meu estado. Eu tinha, então, dez anos de carreira no jornalismo. Como repórter, fui deslocado pela chefia até Seropédica, no Grande Rio, para cobrir a invasão de uma fazenda. Minha equipe foi a primeira a chegar ao local. Havia cerca de 70 pessoas do MST e dois carros da Polícia Militar, apenas oito policiais no total. Ainda assim, eles já tinham convencido os invasores a deixar a propriedade, e tudo parecia calmo. Com a aproximação do nosso carro de reportagem, o clima mudou. Imediatamente, as pessoas que já estavam sentadas na estrada de terra, fora da fazenda, ergueram-se, aos gritos, contando com o testemunho de uma câmera de televisão, para tentar uma nova invasão.
Não demorei a perceber o que acontecia e orientei meu cinegrafista, ainda no carro, a não sair para registrar imagens. Ficou muito claro para mim que nossa presença, pura e simples, estava interferindo naquela história jornalística. Assim que paramos, fui na direção dos invasores e pedi a eles que se acalmassem, menti: “Estou vindo de outra reportagem aqui perto, e nossa câmera quebrou. Não tenho como registrar nada. O envio de outro equipamento pode demorar horas”. Deu certo. Em seguida, caminhei até os policiais e disse a eles a verdade. Nossa câmera funcionava perfeitamente, mas eu não podia permitir que meu trabalho servisse, de alguma forma, como estímulo e proteção para a perpetuação de um crime. Os policiais me agradeceram, e deixei o local.
Já vi muita enganação, para “produzir” uma pauta que a realidade não confirmou, ou para torná-la mais “atraente”, mais “impactante”
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