Por J.R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 1º de novembro de 2021
O Brasil tem uma folha corrida ruim em matéria de tratamento do meio
ambiente, desmatamento e outros itens da agenda ecológica? Tem.
Mas a
verdade, nunca dita — principalmente aqui mesmo, no próprio Brasil — é
que ruim, mesmo, é o prontuário do mundo desenvolvido em cada uma dessas
questões.
Europa e EUA 'não são exemplo de nada' em matéria de preservação Foto: Agência Brasil
Europa, Estados Unidos e outros lugares de primeira classe
são maravilhosos, hoje, para dar aulas altamente edificantes de boa
conduta ambiental ao Brasil (e de fazerem ameaças cada vez mais
agressivas para serem ouvidos, e ouvidos já), mas foram horríveis com as
suas próprias naturezas. Conclusão: não são exemplo de nada, para
ninguém.
Desgraçado do Brasil, aliás, se fosse seguir o mundo desenvolvido em
matéria de preservação ambiental — a Amazônia estaria reduzida ao
tamanho do Passeio Público de Curitiba, e o resto da superfície do país
seria um deserto de asfalto, autoestradas e outros portentos da
infraestrutura.
O país tem muito o que fazer, é claro; também é muito
urgente que faça. Mas nada é tão falso como o teatro montado nessas
conferências mundiais onde se celebra a correção ecológica, fala-se em
carbono zero e se joga no Brasil a culpa por tudo o que existe de errado
com a natureza do “planeta”. O Brasil não é o problema.
É, ao
contrário, onde se pode estudar, aprender e encaminhar soluções.
Nenhum
país do mundo preservou tanto as suas florestas quanto o Brasil. Em
nenhum país do mundo os proprietários rurais são obrigados por lei a
manterem intocadas, e reservadas à natureza, 20% de suas propriedades,
sem nenhuma compensação por isso. Nenhum país desenvolve tanto a sua
produção de alimentos sem tocar em áreas de floresta.
Nenhum país do
mundo tem quase 15% do seu território ocupado por reservas indígenas — o
cenário de sonho dos ecologistas que vivem em países onde não existe
índio.
Os verdadeiros problemas ambientais do Brasil não são, como querem a
militância e a ignorância ambientais do Primeiro Mundo, o resultado do
progresso e da prosperidade econômica — são, exatamente ao contrário, o
fruto direto do atraso e da pobreza. Problema ambiental de verdade, no
Brasil, é 50% da população viver sem sistema de esgotos, em consequência
da ganância dos donos das empresas estatais e da religião do “poder
público”. Ou, então, a ilegalidade e o crime puro e simples — os grandes
responsáveis pelo desmatamento, as queimadas e a mineração ilegais.
O mundo dos ricos, depois de ter alcançado um grau de desenvolvimento
que lhes fornece PIBs per capita de 80.000 dólares por ano, quer que o
Brasil cancele o seu desenvolvimento econômico para resolver os
problemas mundiais do meio ambiente.
Quer isso, aliás, de todos os
países subdesenvolvidos.
Está mais do que na hora, portanto, de se
concentrar nas soluções reais, nas preocupações ambientais legítimas da
comunidade internacional e no debate honesto das questões ecológicas.
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