Editorial
É dever do Senado rejeitar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
dos Precatórios, aprovada em segundo turno na Câmara. O texto, que
recebeu o voto de 323 deputados, [no primeiro turno recebeu 312 votos = ganhou apoio no segundo turno, o que pode ocorrer na votação no Senado Federal] rompe o teto de gastos (única âncora
fiscal que resta ao país), desorganiza as contas públicas, alimenta
ainda mais a inflação (que já bate nos 11% em 12 meses), põe freios no
crescimento, reduz a retomada do emprego e da renda, prejudicando de
forma mais aguda os mais pobres — em tese, pretexto do governo para
promover a lambança. [Em vez de pretexto, preferimos chamar de ÚNICO CAMINHO para o Governo obter recursos para o Auxílio Brasil, que permitirá que 17 milhões de famílias tenham reduzida a situação de penúria, de fome que as aflige.]
Qualquer efeito positivo do Auxílio Brasil — um programa social
confuso, de eficácia questionável e com prazo de validade — será
eclipsado pela crise na economia que virá em seguida. Não se trata de
ajudar os miseráveis, mas de garantir dinheiro para gastar antes das
eleições do ano que vem, mesmo sabendo que os mais pobres serão os mais
prejudicados no médio prazo. Com a PEC, o Parlamento opta pelo caminho
mais prejudicial ao país. Nas palavras do economista Marcos Lisboa em
entrevista ao GLOBO, “um trem da alegria de distribuição de recursos
públicos”.[que reduzirá - ainda que muito pouco, mas é melhor o pouco do que nada - a situação de extrema miséria de 17 milhões de famílias.]
O principal mecanismo para garantir a farra eleitoreira tem sido até agora o “orçamento secreto”, cujo pagamento foi suspenso por uma decisão do Supremo. Foi a decisão correta, mas não atinge o problema essencial. Não fosse a famigerada emenda do relator, na certa os parlamentares encontrariam outro esquema para barganhar seu apoio ao governo. Num país com tamanho grau de fragmentação partidária, historicamente o Executivo tem dependido de acertos pouco republicanos para garantir apoio no Parlamento.
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