Em encontro com ânimos exaltados, as agressões não ficaram restritas a Lula e Bolsonaro, líderes nas pesquisas de intenção de voto
Mas, em alguns momentos, passaram tanto do tom que obrigaram o jornalista William Bonner, mediador do encontro, a intervir repetidas vezes para advertir os postulantes ao Palácio do Planalto sobre as regras que deviam ser seguidas. As propostas para o Brasil, na maior parte do tempo, foram deixadas de lado. Já as acusações se dirigiram a todos os lados, não se restringindo aos líderes das pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Veja quais foram os momentos mais quentes do debate.
Já no primeiro bloco, os ânimos se mostraram exaltados entre Bolsonaro e Lula, a três dias do primeiro turno. Não houve um único embate direto entre os dois. Mas um mirou no outro enquanto estavam diante dos demais candidatos. Eles só interagiram na batalha de pedidos de direito de resposta que travaram. Duelo que começou nos primeiro minutos do encontro. O candidato à reeleição dialogava com Padre Kelmon (PTB) e, ao levantar o tema da corrupção, acusou o petista de "chefe da roubalheira" e "ex-presidiário". Lula, então, obteve o primeiro direito de resposta. E depois de seu rival resistir a deixar o púlpito, contra-atacou, falando em quadrilhas da "rachadinha" e da "vacina":
— Ele falar de quadrilha comigo? Ele precisava se olhar no espelho e ver o que está acontecendo durante o governo dele. O que foi a quadrilha da vacina, de um dólar por vacina? Se quer pedir direito de resposta, peça à CPI (da pandemia). Quando vier ao microfone, você se comporte como um presidente e respeite quem está assistindo. Não minta.
Bolsonaro, então, pôde se defender, mas continuou na ofensiva.
— Que dinheiro de propina? Nada tem sobre meu governo. Deixa de mentir. Toma vergonha na cara — disse ele, chamando Lula de "mentiroso" e "traidor da pátria".
Após terem conversado tête-à-tête nos bastidores, Bolsonaro e Padre Kelmon (PTB) confirmaram as expectativas de que agiriam em "dobradinha" contra os adversários. Já no primeiro bloco, ele elaborou um discurso elogioso ao atual presidente, ao dizer que o candidato do PL comprou "500 milhões de doses de vacina e deu R$ 600 de auxílio". Só então perguntou se o atual presidente pretendia manter essa política se eleito.
Com a bola levantada para ele, Bolsonaro respondeu que sim e fez promessas aos eleitores. Em outra rodada, no segundo bloco, Kelmon chegou a dizer que havia dois candidatos de direita no debate (ele próprio e Bolsonaro), em meio a outros cinco que seriam, em sua concepção, da esquerda. Soraya Thronicke deixou claro que não concordava. Disse que Padre Kelmon não sabia o que era esquerda e direita.
Em sua primeira pergunta no debate, Soraya Thronicke já havia se dirigido ao candidato Padre Kelmon (PTB), chamando-o de "Padre Kelson". Depois, para não repetir o erro, focou em chamá-lo de "candidato padre". Na tréplica, a senadora criticou o adversário e lembrou que o petebista havia recebido auxílio emergencial durante a pandemia. Era o início de um dos choques que mais repercutiram nas redes sociais. - Bem se vê que, depois do auxílio emergencial, o senhor arrumou um emprego de cabo eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (PL), que por sua vez é o cabo eleitoral do candidato Lula, pois é quem está colocando Lula na liderança é Bolsonaro — disse Soraya.
A partir daí, a temperatura não baixou. Abordando a emergência da Covid-19, Soraya questionou se o padre não tinha "medo de ir para o inferno" por dizer que não deu nenhuma extrema-unção na crise sanitária. Kelmon emendou ao dizer que era um "padre sendo mandado para o inferno por uma mulher". O combate teve continuidade no segundo bloco. Soraya ressaltou que não o mandou para o inferno, antes de atacá-lo.
Padre Kelmon teve direito de resposta e disse que ela desconhecia o valor de um sacerdote.
Lula também foi coprotagonista de um confronto com Padre Kelmon com tensão nas alturas. Quando os dois estiveram cara a cara, o jornalista William Bonner teve que interromper duas vezes. Na primeira, Kelmon insistia em falar quando era a vez de Lula se pronunciar. Na segunda intervenção, o petista havia chamado o padre de "impostor" e "candidato laranja" que não tem respeito às regras. Foi o gatilho para a rodada virar bate-boca. "O senhor está fantasiado, rapaz", chegou a dizer Lula antes de os microfones dos dois serem cortados. Bonner, então, tentou acalmar os ânimos: "Vamos respirar", disse ele. Os desrespeitos às regras do debate, no entanto, continuaram, a ponto de Bonner repreender Padre Kelmon e dizer que o petebista estaria instituindo uma nova regra no debate. "Está encerrada a sessão", disse Bonner no fim da contenda.
Mesmo sem ter sido citado na confusão, Bolsonaro pediu direito de reposta, que foi negado. Mas depois, no último bloco, usou a alcunha de "candidata laranja" para atacar Soraya Thronicke.
Padre Kelmon chamado de "Padre Kelson" por Soraya Thronicke não foi a única gafe dos candidatos ao se referirem aos adversários durante o encontro na TV Globo. O jornalista William Bonner também escorregou no nome do petebista, ao anunciá-lo como "Padre Kelman". A confusão rapidamente tomou as redes sociais e virou uma coleção de memes. Mas não parou por aí.
No segundo bloco, Lula chamou Simone Tebet de "Simone Steb". Já Simone, diante de Soraya Thronicke, quase se referiu a ela como "candidata Bolsonaro". Ao perceber o equívoco, pediu desculpas e disse que, pelo carinho que tem pela concorrente, jamais a desrespeitaria daquela forma. Foram alguns minutos apenas para a tag "candidata Bolsonaro" se tornar o terceiro tema mais comentado do Twitter no país.
Curiosamente, o público também se confundiu com uma declaração de Bolsonaro. Quando ele lembrou que morou em Nioque, no Mato Grosso do Sul, muitos entenderam que ele teria dito Acre, no Mato Grosso do Sul. O suposto erro do presidente também foi parar nas redes, enquanto alguns tentavam esclarecer a confusão que ocorria.
Orientado a abordar no debate o caso Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André (SP) encontrado morto em 2002, Bolsonaro evocou uma tese conspiratória de que sua morte teria motivações políticas ligadas ao PT. Perguntando a Simone Tebet (MDB) sobre uma antiga declaração de sua candidata a vice, Mara Gabrilli, o presidente insinuou que Lula teria relação com o crime. Com jogo de cintura, Tebet lamentou a pergunta fosse dirigida a ele, e não ao petista. E logo em seguida, Lula teve direito de resposta concedido.
— Não é possível conviver com alguém com a cara de pau do presidente. O
Celso Daniel era meu amigo, ele foi chamado da prefeitura para
coordenar o meu programa de governo de 2002. Agora, você culpar o Lula
da morte do Celso Daniel? Seja responsável, você tem uma filha de dez
anos vendo o programa que está gravando — afirmou Lula. [o descondenado petista esqueceu só se trai os amigos; a mais infame traição, de Judas Iscariotes a Jesus Cristo, o traidor era apóstolo do Traído.]
- Malu Gaspar: Como Padre Kelmon ‘encantou’ Roberto Jefferson
- Vera Magalhães: Sudeste pode trazer risco a Lula em caso de 2º turno
Em O Globo - MATÉRIA COMPLETA
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