Análise Política
Eleição é época de números, com candidatos, aliados e apoiadores
espremendo as estatísticas para saber quem vai ganhar, se vai ter
segundo turno etc. Mas também é tempo de especulação e pensamento
mágico, boato, rumor, paranoia. Na temporada eleitoral, o objetivo
convive bem com o subjetivo. Leva vantagem quem consegue, ele próprio,
manter o máximo de objetividade enquanto surfa na subjetividade alheia.
Por falar em números, o dado ainda largamente incerto deste primeiro
turno é o comparecimento. Nas últimas três décadas, tem girado em torno
de 80%. Se à abstenção adicionarmos os brancos e nulos, o não voto em
candidatos nas presidenciais costuma rondar os 30%. Tem aí um ruído em
relação às atuais pesquisas, especialmente as estimuladas, em que
indecisos, não sabe, não respondeu, nenhum, brancos e nulos não passam
de 10%.
A pesquisa estimulada superestimar o apoio aos candidatos traz subsídios
para outra discussão, sobre haver ou não uma quantidade
estatisticamente relevante de um certo “voto envergonhado”. Ou seja, o
entrevistado despistar nas pesquisas por vergonha de sua opção
eleitoral, [tipo votar em um ladrão = além da apologia ao crime, via ode ao criminoso, ainda deixa o eleitor coma sensação de que é um babaca.] deixando para manifestar-se apenas no escurinho metafórico da
cabine de votação. Uma hipótese que alimenta sonhos e temores,
dependendo do lado da disputa.
Há, porém, um paradoxo matemático na premissa de haver “votos envergonhados” em número estatisticamente relevante.
Qual é a atitude esperada de alguém com essa tendência? A dissimulação, o
despiste. É altamente improvável que, só para disfarçar sua escolha, um
eleitor envergonhado de Jair Bolsonaro responda na pesquisa estimulada
“vou votar em Luiz Inácio Lula da Silva”. Mais razoável será ele dizer
que está indeciso, que não quer responder, que não quer nenhum, que vai
votar em branco ou nulo. E a mesma lógica aplica-se ao eventual eleitor
envergonhado de Lula.
Ora, mas se 1) há quantidade estatisticamente relevante de votos
envergonhados e 2) a tendência do eleitor envergonhado é despistar,
então o não voto em candidatos (indecisos, não sabe, não respondeu,
nenhum, brancos e nulos) deveria nas pesquisas estar superestimado, e
não subestimado. A série histórica mostra exatamente o contrário: muita
gente diz nas pesquisas que vai votar em alguém, mas na hora h não vota
em ninguém.
E ainda sobre o efeito da abstenção no próximo domingo, se vai ser
neutra ou ajudar um dos lados. No cruzamento das respostas, a diferença
entre Lula e Bolsonaro cai quando se expurga quem não votou em 2018. O
que concluir? Na hipótese favorável a Bolsonaro, tem gente dizendo que
vai votar em Lula, mas na hora nem vai comparecer. Na hipótese favorável
a Lula, tem gente que não votou há quatro anos e agora vai votar nele.
Assim como no próximo domingo, você decide no que prefere acreditar.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
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