J. R. Guzzo
Somos um país conduzido pela criminalidade em razão da adoção da impunidade penal como política de Estado nos últimos 40 anos
A situação de calamidade aberta e aparentemente incontrolável em que se encontra hoje a segurança pública no Brasil não é um fracasso do governo Lula, ou do ex-ministro Flávio Dino,
e não será de quem está vindo para o seu lugar. É um fracasso do Estado
brasileiro – possivelmente o pior de todos, dentro de um contrato
social que coloca como obrigação fundamental do poder público garantir a
vida, a propriedade e os demais direitos do cidadão.
Nenhum governo,
por pior que seja, tem a capacidade de criar sozinho a paisagem de terra
arrasada que foi imposta ao Brasil atual pela criminalidade – e muito
menos no período de apenas um ano. [com o devido respeito ao ilustre articulista, se tratando governo atual - um DESgoverno SEM PROGRAMA DE GOVERNO e com um ministério repleto de SUMIDADES EM NADA - É PERFEITAMENTE POSSÍVEL, TANTO QUE ESTÁ SENDO REALIZADO.
Oportuno lembrar que o desmonte não atinge apenas a 'segurança pública', alcançando outras áreas do governo = incluindo a preparação a passos rápidos para o retorno da inflação.
O único objetivo do DESgoverno do presidente 'da Silva' é aumentar, de forma extorsiva, a arrecadação = fonte de recursos para obras = sabemos o que a contratação de obras intermináveis, que na quase totalidade não passam da fase incial, PROPICIA aos que administram recursos públicos.] Somos hoje um país conduzido pelo
crime porque o conjunto das forças políticas e sociais que mandam neste
país há 40 anos decidiu, por ação e por desídia, adotar na prática a
impunidade penal como política de Estado.
O resultado foi a
transformação do Brasil num país onde o crime compensa – basicamente,
porque os criminosos correm cada vez menos riscos.
Não
faltaram, ao longo dos anos, estudos, pesquisas e debates sobre a
criminalidade – e quanto mais se fala no assunto, pior fica a situação. É
óbvio que o problema não pode ser resumido a um, dois ou três motivos.
Catástrofes sociais desta natureza e deste tamanho sempre são fruto de
uma coleção de causas, circunstâncias e decisões erradas.
Mas também é
óbvio que não vai se chegar à solução nenhuma, como não se chegou até
hoje, enquanto a maioria dos responsáveis pela máquina pública não
reconhecerem honestamente que o Brasil de 2024 tem uma legislação
criminal suicida - e não passarem a demolir peça por peça, até a última, a
estrutura legal de proteção e incentivo ao crime que está atualmente em
vigor neste país.
A segunda ação indispensável é banir, através da
discussão livre e dos mecanismos habituais da democracia, a
ideologia-mãe de todo esse naufrágio: a de que o crime é uma
consequência das “injustiças sociais”, e não da recusa dos criminosos em
obedecer a lei, como fazem todos os demais brasileiros.
Os
sistemas de segurança que qualquer sociedade minimamente bem-sucedida
oferece à comunidade foram sistematicamente destruídos pelas leis que o Congresso Nacional,
por pressão de advogados criminalistas, entidades que defendem
“direitos humanos” e grupos criminosos, aprovou nos últimos 30 anos.
Todas as leis aprovadas neste período foram a favor dos bandidos e da
atividade criminal.
Nenhuma foi a favor da repressão ao crime – e dos
direitos que o cidadão tem de não ser assassinado, roubado e agredido.
Como querer, diante disso, que “o governo” resolva?
A evidência do
favorecimento ao crime está aí, à vista de todos. É a audiência de
custódia. É o juiz de garantias. É o cumprimento de 1/6 da pena.
É a “saidinha”
– cinco vezes por ano, com sete dias livres em cada uma.
É a libertação
quase que automática de assaltantes à mão armada, traficantes de droga e
até assassinos, por miudezas burocráticas contrabandeadas para dentro
das leis.
É a câmera que os policiais têm de usar em seus uniformes – e
que serve como um instrumento de intimidação no seu trabalho.
Não há um
único país no mundo com tanta proteção aos direitos dos criminosos e
tantas dificuldades para a ação dos policiais, promotores e juízes das
varas penais.
O
Brasil tem problemas sociais de primeira grandeza, sem dúvida – mas os
problemas sociais não têm nada a ver com o crime.
Países com níveis de
pobreza e de desigualdade muito piores que os do Brasil têm índices de
criminalidade muito mais baixos. É um fato objetivo. Como responder a
ele? A verdade é que caímos nessa fossa, basicamente, porque políticos e
magistrados nunca sofrem na própria pele as consequências das decisões
insanas que tomam.
Quem jamais soube, por exemplo, que algum senador da
República ou ministro dos tribunais superiores tenha sentido um revólver
na testa exigindo o seu celular e a senha do Pix? Isso não existe.
Toda
essa gente, os responsáveis diretos pelo incentivo ao crime no Brasil,
vive num mundo de segurança absoluta – dentro de carros blindados,
cercados de guarda-costas com armas automáticas, confinados a ambientes
onde bandido nunca entra.
Preferem, é claro, ficar com o cartaz de
“progressistas”, de “civilizados” e de “antifascistas” sem jamais correr
qualquer tipo de risco pessoal. Protegem os direitos dos criminosos - e
negam os direitos, a começar pelo direito à vida, dos 200 milhões de
cidadãos brasileiros.
Dá muito mais lucro.
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo
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