O Globo
Pelo jeito, demorará para o governo federal ir para cima da milícia e do narcotráfico. A Polícia Civil do Rio tentou
Com a devida licença poética, foi mais ou menos assim.— Tem bandido cobrando 500 mil de empreiteira que toca obra pública.
Ministro, também no X:
— Tô sabendo. Seu colega de Nova Iguaçu também alertou. Vamo pra cima.
As propostas da transição não foram aproveitadas na gestão do ministro Flávio Dino. A julgar pelos resultados, nenhuma outra proposta foi aproveitada, nem sequer formulada no detalhe. Agora, confirmadas as mudanças, Mariano deverá imprimir “nova política”.
Pelo jeito, demorará para o governo federal ir para cima da milícia e do narcotráfico. A Polícia Civil do Rio tentou. Descobriu o nome do bandido que cobrou os R$ 500 mil da empreiteira que toca a obra do Parque da Piedade. Trata-se de Jean Carlos Nascimento dos Santos, o Jean do 18. O Ministério Público apresentou denúncia por extorsão, a polícia foi atrás do sujeito. Não encontrou.
Nada, portanto. Para prender Jean do 18, não era preciso denúncia alguma. Ele está condenado a 66 anos de prisão, é réu em 20 crimes, incluindo homicídios, foi preso em 2017, mas fugiu no começo do ano passado. E voltou às atividades.
O tuíte do prefeito Eduardo Paes trouxe à tona toda essa história. Com mais detalhes. Tinha ocorrido, em novembro passado, uma reunião de Dino e Cappelli com empreiteiros do Rio, que reclamaram justamente das extorsões. Todo mundo que deveria saber, portanto, estava sabendo. Vai ver foi por isso que o prefeito do Rio recorreu ao X. Boca no trombone.
Agora, todos sabemos — nada foi feito, nem ao menos se tem a tal política nacional de segurança. Parece mais fácil formular do que colocar para funcionar o que já existe. Em todas as áreas.
Um ano depois de iniciada a gestão Lula e depois de o presidente ter ido a Roraima para denunciar a tragédia do povo ianomâmi com a titular da nova pasta dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, a situação dos ianomâmis continua uma tragédia.
Repórteres e fotógrafos que foram até lá há uma semana encontraram crianças desnutridas com os ossos à mostra. Explosão de casos de malária e virose. Centenas de mortes. Rios poluídos tomados pela lama. O garimpo ilegal, que nunca saiu totalmente, de volta com força no interior da Floresta Amazônica — como descrevem reportagens e declarações de lideranças locais. Em janeiro de 2023, Lula decretou emergência de saúde pública. Neste mês, revelada a tragédia persistente, fez uma reunião com vários ministros e decretou questão de Estado. A Casa Civil anunciou que tomará “ações estruturantes”.
O governo diz que o desastre foi causado pela gestão Bolsonaro — é verdade — e que conseguiu alguns resultados, como redução no número de mortos. Não foi o que os jornalistas encontraram. Não é o que dizem lideranças indígenas. Além disso, até quando continuarão culpando o governo anterior?
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - Jornal O Globo - Coluna 13 jan 2024
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