O 8
de janeiro de 2023 foi patético.
Aqueles poucos milhares de pessoas que
chegaram à desguarnecida Praça dos Três Poderes não levavam armas nem
megafones e não obedeciam a liderança alguma.
Pessoas incautas,
ingênuas, desorientadas, somavam-se a manés inconformados e a alguns
arruaceiros, infiltrados ou não.
Sobre estes últimos, não cabe a mim,
mas às investigações, esclarecer quem eram e por que faziam o que
fizeram.
Transcorrido um ano inteiro, porém, a quem interessa deixar a
sociedade sem essa informação?
Por que o PT tanto quis pôr os arreios e
freios que pôs na CPMI?
Repetidamente
exibidas, as cenas mostram brutamontes dedicados à tarefa de rebentar,
com frieza de robôs, o que encontravam pela frente, a torto e a direito,
sem sequer olhar o que quebravam.
Se me coubesse interpretar aquelas
ações, eu diria que elas refletiam a seguinte mensagem: missão dada,
missão cumprida.
Os vândalos preparavam o cenário para as imagens que
ilustrariam as narrativas daqueles dias.
Digo narrativas e não história
porque até agora, que se saiba, num palco bem abastecido de câmeras de
vídeo, não houve a individualização dos agentes que se dedicaram à
ignóbil tarefa.
A partir daí, o assunto é tratado pelo STF como conta de
restaurante: 100% pagam em anos de cadeia o vinho que 10% beberam.
Muito conveniente!
No entanto, os atores daquele estrupício têm nome e
sobrenome.
Enquanto os
fatos ainda estavam em curso, escrevi no artigo “Um erro descomunal!”,
que, instigados pelo vandalismo ignóbil, os donos do poder iriam
intensificar e ampliar suas ações! Outras garantias individuais iriam
para o saco e muita gente de bem pagaria a conta. Subestimei, claro, as
consequências que estavam por vir.
Um ano
inteiro passou e ontem, 8 de janeiro de 2024, foi outro dia patético.
Como um comandante que discursasse a seus homens antes do desembarque na
Normandia, Alexandre de Moraes usou da palavra no evento que marcou o
dia da “Democracia inabalada”.
Parecia um implacável lança-chamas ou um
canhão de bordo cuspindo fogo sobre o “populismo extremista” ao qual
prometeu todos os suplícios que o destino pode reservar a quem ouse ver
as coisas sob outro ponto de vista. Existem discursos que abalam
democracias inabaladas.
O público do evento incluía a nata da oligarquia
governante.
Todos eram adoradores de uma deusa Têmis que pairava sobre o
ambiente.
Na minha imaginação, ela era exótica.
Não inspirava confiança
com seus braços musculosos fartamente tatuados com corpulentos dragões e
vampiros...
O público,
que se via como representativo dos democratas brasileiros numa sociedade
de indivíduos livres, não demonstrava grande abertura às diversidades
inerentes à política.
Aplaudia o indiscriminado furor punitivo,
prestava culto à moldagem da Lei à forma das "excepcionalidades" do
momento histórico, posava fazendo o L e deixava suas digitais
ideológicas nos punhos que se erguiam ao ar nos momentos de maior
vibração.
Que coisa
mais patética pretender que aquele evento sem povo e aquelas falas
pudessem ser representativos dos democratas brasileiros!
Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org),
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas
contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A
Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia
Rio-Grandense de Letras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário