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domingo, 17 de julho de 2022

Ministro da Justiça determina que PF investigue vídeo que encena ataque contra o presidente - O Estado de S. Paulo

 O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, determinou, neste sábado, 16, que a Polícia Federal investigue uma produção audiovisual após imagens circularem nas redes dos bastidores de uma gravação em estúdio que mostram um personagem parecido com o presidente Jair Bolsonaro (PL) pilotando uma moto e depois caído, com manchas de sangue. “As imagens são chocantes e merecem ser apuradas com cuidado”, disse o ministro no Twitter.

Quantas horas Alexandre de Moraes dará para os produtores se manifestarem sobre discurso de ódio?

Ou será que isso pode? Será que instigar outros Adélios pode?
Tem método… pic.twitter.com/39qA5Xb9dv

— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) July 16, 2022
 
Durante o sábado, políticos bolsonaristas compartilharam vídeos e fotos que exibem parte da gravação. Monitoramento da reportagem observou que o conteúdo começou a circular em grupos de apoiadores do presidente no Telegram na manhã deste sábado e atribui a responsabilidade da produção à Rede Globo.
O presidente Jair Bolsonaro organiza motociatas pelo País.
O presidente Jair Bolsonaro organiza motociatas pelo País. Foto: Werther Santana/Estadão

A deputada Carla Zambelli (PL-SP) disse que a produção da obra era da Globo em publicação no Twitter. Ela removeu a postagem logo após. A reportagem pediu mais informações à deputada. “Chegou a notícia assim pra mim”, justificou, sem apontar a origem do material.

A Comunicação da Globo negou que tenha “série, novela ou programa” com o conteúdo das imagens. “A Globo desmente que pertençam a produções suas - seja para canal aberto, canais fechados próprios ou Globoplay - vídeo e fotos que estão circulando nas redes sociais de gravação de obra ficcional mostrando um atentado ao presidente da República”, disse a empresa em nota. “A Globo não tem nenhuma série, novela ou programa com esse conteúdo. Segundo foi informada, a gravação seria de um filme do cineasta Ruy Guerra chamado A Fúria, que pretende fechar a trilogia iniciada com Os Fuzis, de 1964, e A Queda, de 1976.”

Ainda segundo o comunicado, a empresa afirmou que o Canal Brasil tem uma participação de 3,61% nos direitos patrimoniais do filme, “mas jamais foi informado dessas cenas e, como é praxe em casos de cineastas consagrados, não supervisiona a produção”.

Embora tenha participação acionária no Canal Brasil, a Globo não interfere na gestão e nos conteúdos do canal”, informa.

Em nota, o Canal Brasil diz que não teve conhecimento prévio da cena que causou a polêmica e que não interferiu na obra. “Ainda não assistimos a nenhum trecho do longa-metragem, que não foi finalizado por seus realizadores”, diz o texto.

A produção do filme A Fúria diz que as imagens foram captadas sem autorização “de uma filmagem à qual atribui-se suposto, e infundado, discurso de ódio”. Segundo a produção, o cineasta Ruy Guerra “filmou um longa-metragem de ficção que será lançado no final de 2023, portanto não há qualquer relação com o processo eleitoral e, muito menos, forjar fake news simulando um fato real”.

“O fato ilegal neste caso é a divulgação de uma cena retirada do contexto da história que será contada”, diz o comunicado. “Esclarecidos estes fatos, o diretor Ruy Guerra avisa que só fala de seu filme quando estiver pronto, como ele sempre faz.”

Políticos bolsonaristas atacam produção e o Judiciário
Políticos bolsonaristas criticaram as imagens e atacaram o Poder Judiciário e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Um vídeo compartilhado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, questiona qual produtora “cometeu esse crime”.”Quantas horas Alexandre de Moraes dará para os produtores se manifestarem sobre discurso de ódio? Ou será que isso pode?”, questionou o parlamentar no Twitter.

Na sexta-feira, 15, o magistrado deu dois dias para que o chefe do Executivo se manifeste em ação sobre supostos discursos de ódio e incitação à violência. “Tentaram matar Bolsonaro uma vez e não conseguiram. Agora, até ensinam como fazer”, tuitou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Ele ainda disse que os brasileiros não iriam ver os produtores nos tribunais. “Contra Bolsonaro pode tudo.”

A deputada Bia Kicis (PL-DF) também usou as redes sociais para provocar Alexandre de Moraes. “Seria isso liberdade artística, liberdade de expressão ou um ato criminoso e estímulo à agressão contra sua pessoa. Não seria ataque à democracia? Com a palavra, xandão!”, publicou, em referência pejorativa ao magistrado.

Política - O Estado se S. Paulo
 
 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Aonde Guedes quer chegar? - Nas entrelinhas

A troca de acusações entre Guedes e Maia é sinal de que a relação entre ambos se deteriorou de tal forma que o diálogo será quase inviável. Quem mais perde com isso é a sociedade.

Ontem foi um dia de mais confusão na área econômica. O ministro da Economia, Paulo Guedes, rechaçou a proposta de utilização dos recursos destinados aos precatórios para viabilizar o programa Renda Cidadã, muito criticada pelos especialistas, como se nada tivesse a ver com ela. A medida foi anunciada pelo relator da PEC Emergencial, senador Márcio Bittar (MDB-AC), depois de ter sido aprovada pelo presidente Jair Bolsonaro e, pasmem, o próprio Guedes. O ministro da Economia também estava com Bolsonaro e os líderes do governo no Congresso quando a proposta foi anunciada. “Um projeto dessa magnitude jamais seria apresentado se não tivesse o conhecimento e a aprovação do presidente da nação e o carimbo de OK do ministro da Economia”, disse Bittar, segundo o qual Guedes havia dado uma demonstração cabal de que concorda com a proposta, durante a sua reunião com Bolsonaro. 

[Aonde Guedes quer chegar? não se sabe.

É  notório que ele quer encerrar a carreira política do presidente JAIR BOLSONARO em 1º de janeiro de 2023. Antes, a maior parte das encrencas em que o governo se envolvia era atribuída a um trio de ex-ministros: Mandetta, Moro e Weintraub = os trapalhões, havia o Velez mas foi esquecido.

Agora, todas são provocadas por declarações e outras ações provocativas do ministro Paulo Guedes - por enquanto, com apenas um ex-, de ex-posto Ipiranga.

O deputado Maia, por ser político, já tem a credibilidade comprometida. Vive dando pitaco - mesmo tendo deixado de lado, provisoriamente, o que entendemos serem pretensões de derrubar o presidente da República - nos mais diversos assuntos e o ministro da Economia pega a corda (vez ou outra o presidente também se envolve em discussões) e fornece munição para o deputado que preside a Câmara.

A função principal do presidente da Câmara dos Deputados  é pautar as votações daquela Casa. Seria sensato se Guedes e o próprio presidente ignorassem os comentários fora de hora do parlamentar,  e aguardassem ações concretas no tocante à pauta da Casa que o deputado ainda preside].

Na manhã de ontem, porém, Guedes disse que o gasto com precatório estava sendo examinado com foco no controle de despesas e que não era “uma fonte saudável, limpa, permanente, previsível” para financiar a nova política de transferência de renda do governo. Ou seja, detonou a proposta de Bittar. Na terça-feira, apesar das críticas, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, também havia anunciado que o Palácio do Planalto não recuaria da proposta.

A grande interrogação é se a postura de Guedes teve aval do presidente Jair Bolsonaro, que gosta desse faz que vai mas não vai, ou o ministro da Economia se encheu de brios e resolveu marcar posição mais responsável sobre a questão fiscal. A primeira hipótese é mais provável, porém, outra declaração polêmica de Guedes levanta suspeitas de que pode ser a segunda. O ministro da Economia acusou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de ter feito um acordo com a esquerda para não aprovar as privatizações.

“Não há razão para interditar as privatizações. Há boatos de que haveria acordo entre o presidente da Câmara e a esquerda para não pautar as privatizações. Precisamos retomar as privatizações, temos que seguir com as reformas e temos que pautar toda essa transformação que queremos fazer. A retomada do crescimento vem pela aceleração de investimentos em cabotagem, infraestrutura, logística, setor elétrico, das privatizações, Eletrobrás, Correios… Estamos esperando”, disparou Guedes, que aproveitou a divulgação de dados do Caged sobre geração de empregos para provocar o presidente da Câmara, com quem vive às turras. Em resposta, Maia disse que Guedes “está desequilibrado” e sugeriu ao ministro que assistisse ao filme A Queda, que narra os últimos dias de Adolf Hitler e do Terceiro Reich.

Jogada de risco
É surreal o que está acontecendo, às vésperas da discussão no Congresso de uma proposta que é considerada a principal bandeira social do presidente Jair Bolsonaro para sua campanha de reeleição. Além disso, o governo precisa aprovar uma série de medidas para enfrentar a recessão e também mitigar outros efeitos da pandemia, a maioria na área do ministro da Economia. A troca de acusações entre Guedes e Maia é sinal de que a relação entre ambos se deteriorou de tal forma que o diálogo será quase inviável. Quem mais perde com isso é a sociedade. O governo precisa aprovar um Orçamento de 2021 exequível, para evitar a degringolada da economia.

Não faz sentido o ataque de Guedes a Maia. O presidente da Câmara é um político liberal, nunca foi de esquerda. Para ele, porém, dialogar com a esquerda é tão importante quanto ter o apoio do Centrão para o bom funcionamento da Casa, isso possibilita acordos que garantem as votações e o avanço do trabalho legislativo. Maia foi o grande artífice da reforma da Previdência. Dispõe-se a ter mesmo papel nas reformas tributária e administrativa, mas há divergências de fundo entre o presidente da Câmara e Guedes, principalmente sobre o novo imposto sobre operações financeiras, que Maia não aceita. Com o bate-boca de ontem, um dos dois terá de recuar para o processo andar.

Entretanto, pode-se imaginar que Guedes aguarda o fim do mandato de Maia e aposta num presidente da Câmara alinhado com Bolsonaro: Arthur Lyra (PP-AL), por exemplo, o líder do Centrão mais alinhado com o governo. Mas essa é uma jogada de alto risco, porque o governo perde tempo, e nada garante que o sucessor de Maia será um pau mandado do presidente da República. A outra possibilidade, já aventamos aqui: Guedes está se movimentando como quem pretende marcar posição e sair do cargo em grande estilo. O desgaste do ministro da Economia só aumenta junto aos agentes econômicos, seu prestígio com os políticos nunca esteve tão por baixo. Ambos farejaram o cheiro de animal ferido na floresta. Guedes, o superministro, era o Posto Ipiranga de Bolsonaro. Não é mais.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense