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segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A crise no Ceará

O problema do crime organizado, cada vez mais grave, atinge todo o País e tem de ser considerado desse ângulo


A onda de ataques promovida pelo crime organizado na capital e em cidades do interior do Ceará, e que já dura mais de dez dias, como represália à adoção de medidas de endurecimento do sistema penitenciário, em especial a transferência de seus chefões para presídios federais de segurança máxima, deixa lições que devem ser aprendidas pelas autoridades de segurança pública de todo o País. A crise que amedrontou a população, embora tenha amainado, deve continuar, porque os bandidos parecem dispostos a resistir em resposta à dura reação das autoridades, segundo reconhece o próprio governo estadual.

Os bandidos conseguiram tumultuar a vida da região metropolitana de Fortaleza e de mais de 40 cidades do interior — transportes, escolas, postos de saúde e hospitais e comércio. Uma bomba explodiu num viaduto por onde passa o metrô — o que mostra o cuidado com que os bandidos planejaram suas ações para causar o máximo de transtorno à população. O balanço dos primeiros dez dias indica que houve mais de 170 ataques — incêndios e bombas — a prédios públicos e particulares. Os prejuízos deverão ser grandes, segundo reconhecem as autoridades e responsáveis pelos vários setores privados afetados.

Na origem da fúria dos bandidos está a nomeação para secretário de Administração Penitenciária do policial civil Luís Mauro Albuquerque, conhecido por ter conseguido impor ordem e rígida disciplina no presídio de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, em 2017, quando morreram 26 presos em disputas entre facções criminosas, numa das piores chacinas já ocorridas nos presídios brasileiros. Um dos principais pontos de sua linha de ação é que não admite a existência de facções nos presídios e, por isso, não permite que grupos de presos se organizem.

Isso mais a determinação do governador Camilo Santana de combater a entrada de celulares nos presídios e transferir para penitenciárias federais de segurança máxima os chefões das facções que dominam o crime no Estado, dentro e fora do sistema penitenciário — Guardiões do Estado (GDE), nascida no Ceará, Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e Comando Vermelho (CV), do Rio —, desencadearam os ataques. Todas as vezes que se toca nesses pontos — principalmente o isolamento dos chefões — a reação é a mesma.

Foi assim na mais famosa e vasta onda de ataques lançada pelo crime organizado, a de maio de 2006, em São Paulo. Naquela ocasião, o pivô da crise foi a transferência de Marcos William Herbas Camacho, o Marcola, chefe do PCC, do presídio de Avaré para o de Presidente Prudente, junto com mais uma centena de bandidos dos postos de comando da facção. O PCC tumultuou a vida da capital paulista principalmente com ataques a bases da polícia e de bombeiros e a agentes penitenciários e policiais de folga, para aumentar o clima de insegurança.

A receita se repete agora no Ceará, porque a nova disciplina nas cadeias afeta questões fundamentais para esses grupos — sistema de comunicação e hierarquia de comando — controlarem os presídios e planejarem ações criminosas fora deles, principalmente o tráfico de drogas, hoje seu principal negócio.  O governador cearense tem cumprido até agora as medidas prometidas para combater o crime organizado. Já mandou para presídios federais de segurança máxima, para tentar assegurar seu isolamento por meio de um regime carcerário mais rigoroso, 21 presos identificados como integrantes da chefia de facções, e garante que mais 20 devem ter o mesmo destino. É importante também que cumpra as promessas de reprimir os celulares nas celas e manter a disciplina proposta por seu novo secretário de Administração Penitenciária.

Igualmente importante é que as lições da crise do Ceará sejam consideradas pelos demais Estados. O problema do crime organizado, além de cada vez mais grave, atinge todo o País e tem de ser considerado desse ângulo. Nenhum Estado pode fazer muito isoladamente. E também o governo federal tem papel relevante a desempenhar.

Editorial - O Estado de S. Paulo


sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Criminosos impõem toque de recolher e destroem lâmpadas para ocultar ataques no CE

[Governo não decreta 'estado de sítio' - oportunidade ímpar para dar uma lição inesquecível aos bandidos - os criminosos se antecipam e impõem 'toque de recolher'.

A situação já saiu da capacidade de ação da Força Nacional. Se o Governo postergar a decretação do 'estado do sítio', quando decidir, a medida vai atrapalhar a 'reforma da Previdência']

População de Fortaleza continua insegura; na décima madrugada de atentados, Estado já registrava 180 ocorrências

 Na décima madrugada de ataques no Ceará, o clima em Fortaleza continua sendo de medo e preocupação. Apesar da redução do número de atentados nos últimos dias - foram registrados, oficialmente, 180 até a última quinta-feira, 10 - a população teme que as ocorrências continuem.

No fim da noite, criminosos detonaram uma bomba no viaduto de Messejana, na zona sudeste da capital cearense. A explosão provocou uma pequena cratera no chão e a pista foi interditada pela polícia. "As facções se assustaram com a Força Nacional, mas é só ela ir embora que os ataques vão voltar a acontecer", diz uma comerciante de 36 anos que pede para não ser identificada. Ela mora na Sapiranga, região onde nasceu a Guardiões do Estado (GDE), facção criminosa criada no Ceará. Na rua onde vive, o caminhão de lixo não passa desde o Ano-Novo e uma montanha de dejetos se acumula nas calçadas. 

Além da GDE, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) também atuam nos presídios cearenses e têm sido responsáveis pelos ataques que incendiaram prédios públicos e privados, afetaram a circulação de ônibus e impactaram o dia a dia do cearense na última semana. oradores de bairros mais afastados do centro de Fortaleza relataram, sob a condição de anonimato, que homens ligados aos grupos do crime organizado continuam impondo toque de recolher dentro dos bairros e têm chegado até a queimar lâmpadas dos postes de iluminação pública para impedir a visibilidade no momento dos ataques, que têm acontecido na madrugada.  

Já passava das 19 horas de quinta quando a recepcionista Débora Miranda, de 23 anos, desistiu de entrar no ônibus no Terminal da Parangaba que a levaria até a casa do namorado, na Barra do Ceará, bairro que registrou atentados como a queima de veículos. "Perto da casa dele, estão queimando as lâmpadas dos postes. E no caminho, o ônibus passa por essas ruas, que ficam totalmente escuras. Não tenho coragem de pegar. Não me sinto segura", diz. "Todo mundo ainda continua com medo." 

A assistente administrativa Teresa Souto, de 35 anos, trabalha em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no Canindezinho, onde na quarta-feira um ônibus foi incendiado e a iluminação, cortada. "O atendimento encerrou às 21 horas e só retomou hoje (quinta), às 7 horas", conta. O local funciona 24 horas.   "Como é que o governo diz que os ataques diminuíram? Está todo mundo com medo. Acho que não vai acabar tão cedo. Eles acham que prendendo muitos marginais, vão acabar. Mas é muito bandido", afirma ela. "Estamos em guerra. Com certeza estamos em guerra, para chamar polícias de outros Estados é porque a situação já é de calamidade pública." 

Um motorista de 24 anos, que pede para não se identificar, diz ter percebido a redução dos ataques. "Mas ninguém está confiando que acabou. O crime dentro dos bairros é muito grande. As armas dos traficantes são pesadas, às vezes melhores do que as dos policiais", diz. Um entregador de bebidas relatou ao Estado que foi impedido pelos criminosos de entrar em dois bairros. "Eles chegaram dizendo: 'Ou vocês saem daí ou vamos tacar fogo nesses caminhões", relata. Para ele, se a Força Nacional se retirar, os ataques podem voltar novamente com força.  Nos terminais de ônibus, os coletivos com destinos considerados mais perigosos seguem partindo sob escolta de motoqueiros ou com a presença de dois policiais na porta de entrada. O apoio dos agentes de segurança tem início às 17 horas e segue até as 22 horas. Os ataques a ônibus diminuíram nos últimos dias, mas moradores relatam que agora a estratégia é incendiar espaços e veículos particulares, e não mais públicos.

O Estado de S. Paulo

 

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Operação da PM no Morro do São Carlos, na região central do Rio, tem um suspeito baleado




Os disparos são ouvidos em vários pontos da comunidade


Moradores do Morro do São Carlos, na região central do Rio, e de ruas próximas relatam nas redes sociais um intenso tiroteio na comunidade, na manhã desta sexta-feira. O confronto acontece durante uma ação dos batalhões de Ações com Cães (BAC) e o de Operações Especiais (Bope). Um suspeito foi baleado e, com ele, de acordo com a PM, havia uma pistola. 


O Morro de São Carlos - Fabiano Rocha / Agência O Globo



O ferido foi levado para o Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro. Na ação foram também apreendidas quatro granadas. Alunos da Universidade Estácio de Sá, na Rua do Bispo, ouviram os tiros. 

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domingo, 4 de março de 2018

No Rio, ex-militares ensinam táticas do Exército a facções

Ex-paraquedistas e ex-fuzileiros navais recebem de R$ 3 mil a R$ 5 mil por hora de aula

Os serviços de inteligência das Forças Armadas e da polícia do Rio de Janeiro investigam ex-militares que estão treinando integrantes de facções criminosas com táticas usadas pelo Exército e pela Marinha. Esses instrutores, principalmente ex-paraquedistas e ex-fuzileiros navais, recebem de R$ 3 mil a R$ 5 mil por hora de aula – valor que pode chegar a R$ 50 mil em uma boa semana. Eles preparam bandidos no uso de fuzis, pistolas e granadas, para atuar em áreas urbanas irregulares, como favelas, e a definir rotas de fuga.
Eles preparam bandidos no uso de fuzis, pistolas e granadas, para atuar em áreas urbanas irregulares, como favelas, e a definir rotas de fuga (Pilar Olivares/Reuters)

Há cinco meses, durante operação de cerco no Morro da Rocinha, o comportamento dos traficantes fortemente armados chamou a atenção do setor de inteligência. “Seguia claros padrões profissionais, até no gestual de comando”, relatou um oficial do Exército. Em grupos de 8 a 12 homens, os criminosos se deslocavam de forma coordenada, fazendo disparos seletivos e evitando o contato direto, “exatamente como faria a tropa em um ambiente adverso”. Entre as lições ensinadas pelos ex-militares também estão o emprego da camuflagem e técnicas de enfrentamento.

Já foram rastreados entre 10 e 12 ex-combatentes, na faixa dos 28 anos. O número pode ser maior. O temor de que ex-militares sejam cooptados por facções foi explicitado pelo novo ministro da Defesa, o general da reserva Joaquim Silva e Luna, no Rio. Segundo ele, as Forças Armadas dispensam entre 75 mil e 85 mil reservistas todos os anos. “Esse pessoal passa pelas Forças, é treinado, adestrado, preparado e, quando sai, às vezes volta ao desemprego. E eles podem se tornar vulneráveis nesse momento, podem ser cooptados.”

Os militares que passam pelo Batalhão de Operações Especiais dos Fuzileiros Navais fazem cursos e estágios de guerra na selva, na Caatinga, no Pantanal. Aprendem a saltar de paraquedas e a executar tiros de precisão, combate pessoal e ações anfíbias. São oficiais, subtenentes e sargentos. No Comando de Operações Especiais do Exército, o ciclo mais abrangente prepara por 25 semanas para missões de reconhecimento, contraterrorismo, resgate, evasão, sabotagem, guerrilha e contraguerrilha. Por isso são tão valorizados pelas facções no treinamento de seus “soldados”.

Economia
Para um analista, ex-oficial da PM fluminense, “dar adestramento para manusear os armamentos é um recurso das facções para evitar os disparos a esmo, aumentar o poder de fogo e reduzir a perda de material, afinal, um fuzil AK-47 novo, posto no morro, custa R$ 30 mil”. A assessoria especializada dos ex-militares também orienta aquisições dos contrabandistas e evita desperdícios. “Até recentemente, os ‘xerifes’ do tráfico compravam tudo o que aparecesse. Em um depósito em Manguinhos foi achado um projétil de artilharia de 155 mm. Enorme, impressionante e totalmente inútil para quem não tem um canhão”, contou o ex-PM. Hoje, a composição do arsenal das facções é mais rigorosa. Abrange fuzis de calibre 7.62mm e 5.56mm, pistolas 9mm, granadas de alto poder letal em pequeno raio (de 5 a 15 metros) e explosivos plásticos.

Os comandos do Exército e da Marinha tratam esses casos como assunto policial. “São criminosos comuns, perderam o vínculo com as Forças. Depois de presos, são submetidos à Justiça comum. É isso o que acontece”, explicou um general. Na avaliação do oficial, com larga experiência na missão de estabilização do Haiti,não há gente de ponta entre esses marginais: os melhores quadros ficam na tropa, mesmo depois de cumprido seu termo de trabalho”.

Origem
Esse treinamento por ex-militares foi detectado no Rio pela primeira vez em 2000. Desde então, houve cinco casos em que os protagonistas foram identificados. Ao menos um morreu em confronto com a PM. Um deleso ex-paraquedista Marcelo Soares Medeiros, o Marcelo PQD – acabou evoluindo na estrutura do crime. Passou de instrutor e intermediador na compra de armas a gerente e, depois, controlador de um ponto de distribuição de drogas no Morro do Dendê, na Ilha do Governador. Preso desde 2007, cumpre pena em Bangu.

Há um ano, foi apontado como o responsável pela construção de um túnel, com iluminação, ventilação e sistema de drenagem, que seria usado em uma fuga. Marcelo PQD (a sigla identifica os paraquedistas) esteve alinhado ao Comando Vermelho (CV), mas, na prisão, mudou de facção e agora integraria o Primeiro Comando da Capital (PCC), grupo paulista.  Uma das estratégias do PCC é qualificar seus membros. Além de ampliar o domínio no País, com núcleos em presídios, montou uma rede internacional que abrange Colômbia, Venezuela, Bolívia e Paraguai – de onde saem as linhas de fornecimento e entrepostagem de drogas e armas. O PCC está armado sobre um sofisticado organograma, equivalente ao adotado por empresas de grande porte.

Segundo o setor de inteligência do Ministério da Defesa, na arquitetura administrativa do PCC há três níveis sob liderança de Marcos Herbas Camacho, o Marcola, encarcerado em regime de segurança máxima em Presidente Venceslau, em São Paulo. Uma das divisões da organização se dedica a obter equipamentos, criar depósitos seguros para guardá-los e expandir a infraestrutura. A meta mais ambiciosa seria estabelecer centros de comando e comunicações fora das zonas de conflito.

Ponto móvel
Os treinamentos desenvolvidos pelos ex-militares são realizados em campos móveis para dificultar a localização. De acordo com a inteligência da PM haveria centros em seis comunidades da cidade do Rio. São áreas de mata e vielas de passagem, isoladas pelos traficantes durante um curto período.  Encontrar os pontos de treinamento é prioritário para as Forças Armadas. Uma possibilidade é utilizar os Veículos Aéreos Não Tripulados (Vants) – os drones da Força Aérea no trabalho. As aeronaves sem piloto Hermes 450, israelenses, do Esquadrão Hórus, são capazes de voar por 20 horas acima dos 5 mil metros de altura, e seus sensores óticos podem obter informações e imagens de dia e à noite. Os ex-militares são cuidadosos para não deixar rastros. Os instrutores ensinam seus aprendizes a não produzir lixo que possa servir de pista de localização ou sinal de passagem. Mais que isso, os criminosos são orientados a não ter em mãos nada que não possa ser abandonado, mesmo os objetos pessoais.

Veja

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

PCC recruta venezuelanos em prisão de Roraima e amplia frente internacional

A crise humanitária venezuelana está se somando a uma crise carcerária e de segurança pública brasileira no interior da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), a maior de Roraima, com mais de 1,2 mil presos. Integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), que dominam o presídio e há um ano foram responsáveis pela morte de 33 detentos, estão cooptando venezuelanos que chegam cada vez em maior quantidade às cadeias locais.

Desde o fim de 2016, com o recrudescimento da crise política e econômica na Venezuela, cujos impactos vão da precariedade do sistema de saúde à pouca oferta de produtos nos supermercados, os vizinhos decidiram migrar. A cidade de Pacaraima, na fronteira, e a capital Boa Vista são as que notam os efeitos do fluxo, que deixa um rastro de superlotação em abrigos públicos e um número incomum de pedintes nas ruas.

A situação tem culminado na prisão de venezuelanos que se envolvem em crimes como furto e roubo de celular, além da entrada ilegal de combustível, e tráfico de drogas. [por esse amontoado de crimes é que defendemos o imediato fechamento das fronteiras brasileiras com a Venezuela e a devolução àquele País de todos os venezuelanos;
não é questão de desumanidade e sim de preservar primeiramente os interesses dos brasileiros. O Brasil possui mais de 12.000.000 de desempregados, portanto, não pode receber refugiados - estaria distribuindo a miséria com a agravante de tal distribuição já piorar a situação de milhões de brasileiros e também elevar o índice de criminalidade em solo brasileiros.] Dados da Secretaria de Justiça de Roraima mostram que de cinco venezuelanos presos o número passou para mais de 60 em um ano. Quem se aproveitou disso foram os integrantes da facção paulista PCC, que recrutam os estrangeiros para os quadros e fortalecem a conexão internacional em busca de armas, drogas e lavagem de dinheiro.
“Observamos que muitos venezuelanos foram cooptados pelo PCC. Por meio do setor de inteligência, percebemos que esse contato com o país vizinho vem se fortalecendo e tem relação com a imigração descontrolada”, afirmou à reportagem o secretário adjunto de Justiça e Cidadania (Sejuc), capitão da PM Diego Bezerra de Souza.

A pasta, segundo Bezerra, tem um monitoramento dos integrantes da facção, catalogação que inclui presos e também aqueles que já foram soltos. Sobre os motivos que levam os venezuelanos a se aproximarem do PCC, o capitão disse existir um “conjunto de fatores”.
“Eles são intimidados e precisam se agregar a algum grupo para se fortalecer, e isso tem acontecido principalmente com o PCC. Dificilmente vemos venezuelanos entre os membros do Comando Vermelho (CV, facção do Rio de Janeiro)”, explicou.

Após o massacre em janeiro, a secretaria decidiu retirar todos os inimigos do PCC que ainda estavam presos na Pamc. Eles foram levados para a Cadeia Pública de Boa Vista, que se transformou em reduto do CV, grupo criminoso que após os assassinatos viu despencar o número de filiados.  A cônsul da Venezuela em Roraima, Gabriela Ducharne, disse nesta quinta-feira, 4, que a situação é verdadeira, mas a falta de informações fornecidas pelos presos impede que sejam tomadas providências. “Não tenho muita informação porque eles não falam muito. Mas é verdade: estão sendo obrigados a entrar nas facções, senão sofrem as consequências. Eles não falam muito, mas dizem que estão sendo incluídos. Alguns não falam que são obrigados, só que estão fazendo parte.”

Emergência
No dia 4 de dezembro, o caos migratório levou a governadora Suely Campos (PP) a decretar situação de emergência no Estado. Na justificativa, sustentou que o agravamento da situação se deu diante do “inesperado e rápido aumento do número de imigrantes que chegaram a Roraima, majorando significativamente o contingente de estrangeiros, sem que possuam meios e condições para sua manutenção”. Disse ainda que as equipes estaduais enfrentam “sérias dificuldades” para dar apoio humanitário e logístico, com riscos à saúde e segurança dos imigrantes e da população local.

A Rodovia BR-174, que dá acesso à Penitenciária Monte Cristo, é a mesma que, 200 quilômetros à frente, vai dar em Santa Elena de Uairén, principal porta de entrada dos estrangeiros em território brasileiro na região. Nas ruas de Boa Vista, a prefeitura ainda tenta impedir que venezuelanos vendam produtos e limpem para-brisas nos semáforos, cena pouco comum antes da onda migratória. Dos 726 mil detentos no sistema prisional do País, há 2,6 mil, estrangeiros, segundo relatório do Ministério da Justiça. Dos estrangeiros, 56% são do continente americano. O relatório soma dados relativos a julho de 2016, quando em Roraima havia 31 estrangeiros, 1,3% dos presos do sistema local.

Procurado, o Ministério da Justiça não se posicionou sobre a atuação do PCC em Roraima. Afirmou que o serviço de inteligência da pasta recebe informes das polícias locais.  obre as deficiências do sistema prisional de Roraima, o secretário adjunto, capitão Diego Bezerra, disse esperar melhorias ao longo de 2018, com a reforma da Pamc, construção de uma unidade em Rorainópolis, a cerca de 290 quilômetros da capital, e de uma nova cadeia. Tudo isso, conta o secretário, deverá reduzir o déficit de 1,2 mil vagas. O Estado tem um total de 2,7 mil presos.

Ele ainda atribui os problemas que persistem na Monte Cristo a “mais de 20 anos de descaso, abandono e falta de investimento na área”. “Não é da noite para o dia que se resolve o problema”. Questionado sobre o risco de novas mortes, o secretário disse não acreditar em novos episódios como o massacre de janeiro, mas afirmou que as mortes infelizmente acontecem. “Como acontecem em qualquer lugar do mundo”, afirmou. 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.