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terça-feira, 1 de março de 2022

Putin prepara assalto mais destrutivo após erros na guerra da Ucrânia - Folha de S. Paulo

Folha Press

Após enfrentar problemas logísticos e violar o manual das invasões militares, as forças de Vladimir Putin chegam ao sexto dia da guerra na Ucrânia numa nova etapa, potencialmente mais destrutiva para Kiev. O surgimento do comboio de 64 km de comprimento rumo à capital ucraniana e a intensificação do bombardeio sobre Kharkiv, a segunda maior cidade do país, são o símbolo dessa mudança.

A resistência local deverá ter problemas para segurar o assalto que se ensaia. Não que ela não tenha tido seus momentos de glória, apesar da romantização exacerbada na mídia ocidental, mas eles parecem ter derivado mais de erros de Moscou do que de sua qualidade técnica intrínseca.

Em novembro de 2020, após a derrota armênia na guerra contra o Azerbaijão, o analista militar russo Konstantin Makienko, do Centro de Análises de Estratégias e Tecnologias, de Moscou, escreveu um texto profético no jornal Vedomosti. "A principal lição que Moscou deve tirar da tragédia [a Armênia é um aliado indócil russo, e o apoio de Ancara a Baku aumentou a influência turca no Cáucaso] é que nunca subestime o inimigo. Reina aqui uma atitude condescendente e irônica em relação ao Exército ucraniano", afirmou. "Os militares ucranianos já possuem sistemas de armas que os russos não possuem. Mísseis antitanque de terceira geração e drones kamikaze. E, em breve, os drones turcos Bayraktar-TB2", completou.

Kostia, como era chamado pelos amigos, não viveria para ver a profecia realizada: morreu há um ano. Mas seus alertas eram precisos acerca das dificuldades que os russos encontraram. Mas não só essas.

Dois princípios de invasões terrestres foram violados por Moscou. O primeiro, o da finalidade: a mais bem-sucedida operação do gênero da guerra moderna, a expulsão do Iraque do Kuwait na Guerra do Golfo (1991), era desenhada com um objetivo só. O conflito que tirou Saddam Hussein 12 anos depois, também. Não foi o que se viu agora. Putin deixou claro desde o começo que seu objetivo era Kiev: decapitar o governo de Volodimir Zelenski com o mínimo de danos civis, para provavelmente instalar um aliado que não enfrentasse uma guerra civil e manter apoio em casa.

Mas seu ataque foi extremamente complexo, envolvendo as forças irregulares do Donbass, a ação rumo a Kiev pela Belarus sem uma coordenação aparente com a força vinda mais do leste e uma ofensiva com rumos divergentes no sudeste do país: tropas que deveriam atacar Mariupol se dividiram no meio.

O segundo princípio é um corolário do primeiro: concentração de forças. Apesar de chegar às ruas centrais de Kiev no terceiro dia de ação, o fez apenas com infiltrações mínimas de militares aerotransportados. Isso sugere que Putin subestimou Kiev, acreditando que apenas sua chegada ao país forçaria a rendição de Zelenski, pintado na Rússia como um fantoche americano, uma versão vida real do comediante que vivia na TV antes se tornar presidente, em 2019.

Pedra angular da doutrina militar russa, o uso maciço de barragens de artilharia e mísseis não foi aplicado nas primeiras fases do conflito. Houve, claro, ataques mais fortes como os vistos em Kharkiv e Mariupol, mas ainda não configura o "choque e terror" do então secretário de Defesa dos EUA Donald Rumsfeld no Iraque de 2003.

A Força Aérea russa ainda não foi usada de forma decisiva, deixando o trabalho principal para mísseis de cruzeiro e balísticos. Apenas um punhado de aviões de ataque Su-25 e talvez algum modelo avançado Su-34, amplamente usados na guerra civil síria, foi visto em ação. Helicópteros só foram vistos na tomada do aeroporto de Hostomel, perto de Kiev. A ideia é destruir toda a defesa antiaérea ucraniana, e esse objetivo parece perto de sua conclusão, evitando assim o constrangimento de ver aeronaves abatidas.

Os drones turcos que dominaram a guerra de 2020, como Kostia previu, fizeram estrago. Até a última conta disponível, Kiev tinha recebido seis deles, e ao menos uma coluna de blindados russa foi destruída. Os russos, contudo, dizem que já praticamente abateram todos. "A operação inicial foi baseada em suposições terríveis sobre a capacidade e a vontade da Ucrânia de lutar, e um conceito operacional impossível. Moscou errou feio no cálculo. Mas suas forças ainda não entraram na guerra", escreveu no Twitter o americano Michael Kofman, diretor para Rússia do centro CNA. "Houve dificuldades, claro. Mas a degradação das forças ucranianas é diária. É matemática, ao fim", afirmou Konstantin Frolov, analista político em Moscou.

Na segunda (28) e nesta terça (1º), o cenário mudou. O Kremlin não colocaria quilômetros de veículos expostos a ataques aéreos, o que mostra confiança em sua tática de supressão. E a intensificação dos bombardeios em Kharkiv, para onde foi enviada ao menos uma bateria do temível sistema de mísseis termobáricos TOS-1, quase uma arma de destruição em massa, prenuncia uma escalada.

Não é casual, assim, as informações vazadas pelo Pentágono à mídia americana sobre a renovada ação do Kremlin. Mais importante, tudo indica que as linhas de suprimento foram regularizadas. Este é um problema inerente a qualquer operação terrestre: os nazistas perderam a conquista de Moscou porque acabaram a gasolina, a munição e a comida às portas da capital soviética, em 1941.

Em 1991, a famosa "guerra das 100 horas" dos EUA contra Saddam só não perdeu o título porque soldados americanos foram feitos de motoristas de caminhões-tanque para levar combustível para a exaurida 1ª Divisão Blindada rumo a Bagdá.

O que se coloca agora é cálculo cruzado com o relógio correndo contra o Kremlin, pressionado sob todos os lados por sanções econômicas e políticas. Com o canal diplomático bem ou mal aberto em Gomel (Belarus), os russos podem contar ainda com alguma chance de rendição ucraniana. As promessas de ajuda militar dos vizinhos da Otan não parecem se materializar na velocidade para mudar a guerra: se Kiev de fato receber algum caça, não será em quantidade para mudar o rumo da ação.

Mas Zelenski parece bastante firme em seu posto de defensor, dado o apoio que recebe no Ocidente. Nisso concordam Kofman e Frolov: Kiev tem enorme vantagem na guerra midiática, o que não é pouco no mundo das redes sociais. Enquanto o Kremlin basicamente tenta esconder a guerra em casa, proibindo até as TVs de chamarem assim, Zelenski tem vantagem mundo afora. Putin se importa com isso? Enquanto sua posição interna não estiver ameaçada, parece que não. Mas uma intervenção prolongada traz riscos crescentes que sua retórica inflamada de guerra nuclear e confronto com a Otan indica.

O baixo número relativo de vítimas civis, central para o russo dada interligação entre seu povo e o ucraniano, também não ficará assim se ele usar mão pesada enquanto retém a iniciativa para subjugar a Ucrânia ou encontrar um cenário intermediário para manter o país dividido e fora da órbita do Ocidente.

Mundo - Folha de S.Paulo 


sábado, 11 de setembro de 2021

Reforço no policiamento para ato contra Bolsonaro em SP custará R$ 885 mil

O reforço no policiamento para o protesto deste domingo (12), na avenida Paulista, região central de São Paulo, terá custo de R$ 885 mil para o governo estadual. O ato será em defesa do impeachment do presidente Jair Bolsonaro. 

[desperdício de dinheiro público tendo em conta que os bolsonaristas após mostrarem no 7 de setembro o apoio maciço que o Presidente da República Federativa do Brasil, JAIR MESSIAS BOLSONARO, possui, não irão perder tempo com uma manifestação ridícula e sem sentido.l
O item mais destacado no protesto é a defesa do impeachment do presidente Bolsonaro
O impeachment presidencial não precisa de defesa, precisa sim,  como primeiro passo que o presidente cometa crime de responsabilidade. 
Após tal passo é que o presidente da Câmara terá razões justas e legais para submeter o pedido, ou pedidos, ao crivo dos deputados - se 342 parlamentares aprovarem a instalação do processo o assunto irá para o Senado (341 votos ou qualquer número inferior manda o pedido para a lata do lixo).
Os tais arruaceiros vão promover uma manifestação sem motivação, descabida e que só causa prejuízos ao Brasil.] 

Além do efetivo regular, haverá efetivo extra de 2.000 policiais. Haverá também apoio de 700 viaturas e 6 veículos blindados, além de helicópteros e drones.

Como ocorreu em manifestações anteriores contra e a favor de Bolsonaro, haverá revista de manifestantes durante diversos pontos da cidade. 

Folha de S. Paulo 

 

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Crise entre poderes - Para coibir violência no 7 de setembro, governo de SP fará maior esquema policiamento da história - O Globo

Malu Gaspar

Quatro mil PMs e helicópteros para conter violência no 7 de setembro em SP  

[NÃO VAI ACONTECER NADAa violência alardeada só está na cabeça insana dos arautos do pessimismo;
Esta notícia é para cumprir pauta = além de lembrar a inadequação dos meios, incluindo quantidade, perguntamos: alguém em sã consciência é capaz de acreditar que fosse acontecer algo o 'joãozinho' teria o comando?
]

O governo de SP prevê a chegada a São Paulo de centenas de ônibus contratados por ruralistas e empresários simpáticos a Bolsonaro. A previsão de que os atos de 7 setembro serão grandes e com risco de violência fez com que o governo de São Paulo montasse o maior esquema de monitoramento e policiamento já realizado na história das manifestações políticas na cidade.  "A preocupação não é com a manifestação, esse é um direito legítimo da democracia garantido pela Constituição. A preocupação é com a violência que possa haver durante os atos e principalmente no encerramento das manifestações", diz o  governador João Dória. 

Crise entre poderesCarta assinada por 1500 acadêmicos dos EUA e Europa alerta para risco de repetir no Brasil invasão do Capitólio [sugestão prática: vamos torcer para que a carta assinada pelos acadêmicos seja longa, impressa e com elevada tiragem = na crise que atravessamos pode ser usada como papel higiênico, etc.
 
Entregar carta para o Biden é outra mancada - com a ideia genial de evacuar primeiro as tropas e de depois os civis e o democrata americano tem que se preocupar é se vai conseguir cumprir seu mandato = em seis meses foi mais incompetente que o Trump em quatro anos.]

Serão 4 mil policiais militares com 100 cavalos e mais de 1400 viaturas, três helicópteros e seis drones, distribuídos pelos dois locais onde haverá atos públicos: a avenida Paulista, onde estarão os manifestantes pró-Bolsonaro, e o vale do Anhangabaú, onde ficarão os manifestantes contra o presidente. As polícias rodoviária estadual e federal também foram acionadas para patrulhar as estradas e acessos a São Paulo.

Para diminuir o risco, o serviço de inteligência do governo do estado, junto com a PM e a Polícia Civil, vai revistar os carros de som antes dos atos e todos os manifestantes que chegarem com mochilas, bolsas ou qualquer volume que possa conter armas.  Ao longo da semana passada, o governo do estado tentou proibir a realização de atos contra Bolsonaro no mesmo dia dos atos do 7 de setembro, mas a Justiça concedeu liminar autorizando os protestos.

Malu Gaspar, colunista - O Globo


sexta-feira, 25 de junho de 2021

UM SENTIMENTALISMO TÓXICO, mais criminoso do que o próprio.

Dra. Débora Balzan

 

“Quando as mentiras ficam grandes o suficiente, o mundo inteiro se deteriora”

Impunidade em massa, mas, “em compensação”, soltura o mais rápido possível!

A punição efetiva, aquela que guarda algum real sofrimento pessoal expiado pelo criminoso,  é a única forma de eventual “ressocialização”. Sofrimento como ser humano, de coração e razão, o que não acontece com os psicopatas. O sofrimento dos psicopatas será, no máximo, por estarem por curto período de tempo presos, e não o sofrimento interno, de culpa, mas tão-somente o egoístico. Das duas, uma: psicopatas não deveriam nunca sair das prisões porque nunca mudam, apenas desenvolvem mais expertise para se sofisticarem e não serem pegos; e os que não são psicopatas, mas que precisariam  expiar de forma real e por um longo tempo (quiçá para sempre), de modo proporcional à gravidade dos seus crimes. De qualquer sorte, não há dúvida de que a pena se fundamenta na necessidade de prevenção geral, que só é possível com a retribuição, pela contenção; a ressocialização, quase uma quimera, é fim mediato e é constitutiva à pessoa do apenado.

Na prática, observo que a imensa maioria das  pessoas envolvidas na execução penal tem uma necessidade de sempre entender e justificar o criminoso, seja ainda com relação ao crime já condenado, mas também pelas  faltas e inobservância de regras no cumprimento da pena. Há quase um pedido de desculpas pelo Estado em cumprir, ainda que minimamente, a pena ou alguma sanção decorrente de uma falta grave, quando há alguma  consequência. As punições decorrentes das infrações que ocorrem dentro dos estabelecimentos prisionais seguem a regra da apuração e punição dos crimes em geral, ou seja, pouco se apura e muita impunidade. Há alguma dúvida de que quase ninguém (talvez ninguém) seja punido quando se apreendem drones,  armas, celulares,  drogas etc em grandes operações? Prevalece a máxima de socializar tudo, e em não sendo individualizadas as condutas, mas generalizadas entre dois, três ou mais. Aqueles  objetos estão   naquele local por geração espontânea. Quando em apreensões menores e mais corriqueiras, também essa é a regra, para alívio quase geral. A dúvida é tudo o que se quer!   A sociedade, na imensa maioria das vezes,  também é preterida nas execuções penais, só que não sabe. A única informação que recebe é a  de superlotação carcerária (só esses locais são mostrados, como se todos assim o fossem).

Pode-se perfeitamente trabalhar em execução penal apenas com princípios abertos e que servem ao bem e ao mal: o  da presunção da inocência e o da dignidade da pessoa humana, levados ao infinito, sem em praticamente momento algum lembrar da dignidade de cada pessoa humana nas ruas e que contra elas parece viger o princípio da culpabilidade, mas que nunca cometeram nenhum crime.

Aos desavisados, menos de 3% dos crimes existentes em terra brasilis prevêem a pena de prisão no regime fechado desde o início do cumprimento. Nesse universo dos 3% estão todos os crimes de homicídios (menos de entre 8 a 5% têm autoria apurada, o que não significa condenação, muito menos cumprimento de pena). E os latrocínios? Estupros? O regime para o assalto não é o fechado! Não esqueçamos das vítimas que não reportam mais os crimes sofridos. Em compensação, 
de forma esquizofrênica, prega-se a maior mentira nacional acerca do superencarceramento, como se a sociedade já sofrida tivesse culpa ou como se os que lá estão são inocentes ou que lá ficassem por muito tempo, como se não fosse necessário redistribuir melhor os presos, bem como construírem-se vagas. Aqui vale destacar também o discurso de que o sistema faliu. Como assim? Nunca foi aplicado. Ele é sabotado e manipulado com dados, linguagem e imagens parciais. Mostra-se apenas um lado, ou alguém sabe quanto de dinheiro é preciso para tornar o Brasil livre desse problema? 

Alguém sabe que houve um acordo em Brasília de não se investir mais no sistema prisional em meados de 2013? 
Quantos são presos com relação aos crimes ocorridos? 
Quanto tempo em média ficam nas condições mostradas, mesmo tendo cometido as maiores barbáries? 
Alguém tem noção da aberração que existe nessa proporção crime/castigo? 
Há uma canibalização da verdade. Como dizer que a prisão não funciona? Ela NÃO é aplicada. Como explicar num país onde na imensa maioria de TODOS os crimes cabe transação penal, suspensão condicional do processo, pena alternativas, prisões domiciliares, tornozeleiras e onde não é incomum assaltante (aquele que ataca principalmente os pobres ..) não expiar um dia sequer de liberdade e cumprir “pena” com tornozeleira? Nem vou adentrar nos problemas das tornozeleiras, mas garanto que não são poucos, técnicos e jurídicos (difícil apurar e impor uma sanção a quem descumpre as regras da tornozeleira, quando se descobre).

Há um sentimentalismo tóxico, que não ajuda nem o raro criminoso que gostaria de expiar seu erro. Não há expiação, não há crescimento, não há possibilidade de ajudar ninguém tirando-lhe o peso de certo sofrimento. Não estou dizendo que não deva existir dignidade, mas a adequada, e nunca maior do que a de um cidadão que não atentou contra a sociedade. Não é possível querer outro resultado onde a vitimização é acolhida de forma quase que unânime. Não esqueçamos que mesmo nos piores estabelecimentos, onde há a necessidade de maior dignidade, a imensa maioria fica tempo insuficiente e desproporcional ao crime cometido. Isso a “olho nu”, abrindo processos de execução penal todos os dias. Essa verdade para mim é inafastável. A legislação leniente, a cultura em geral libertária pelos psicólogos que lá atuam e o ativismo completam o quadro, sem nunca tirar a responsabilidade de quem deve oferecer vagas. Precisamos superar essa questão das vagas, pois é a justificativa plantada e colhida por anarquistas, abolicionistas, e caprichosos onde tudo o que se quer é guerra de classes. Esse é o pano de fundo.

O que dizer de: alguns apenados que recebem remição, trabalham; apuração de faltas gravíssimas somente com recursos sem efeito suspensivo – e olhe lá; maioria dos PADs imprestáveis - e não se diga por falta da desculpa batida de falta de recursos, mas de um mínimo cuidado e capricho na forma. Qualquer desvio formal, absolutamente contornável e fácil de ser feito (sim, já tentei mais de uma dezena - esse número é real - explicar, só faltou desenhar, e vou desenhar. Será o próximo passo). O que dizer quando uma autoridade flagra um preso com celular e ela mesma julga o PAD? E não reconhece a falta? O que dizer quando, pelo menos, na última década, 99 por cento de todas avaliações psicológicas que são feitas pela equipe técnica do estado (em casos de crimes com violência à pessoa), concluem que a prisão não resolve e não informam características da personalidade do criminoso, para que se acautele na liberação precoce e temerária de alguém? 
 
Óbvio que essa ausência JAMAIS prejudica o apenado. Inverteu-se a lógica; e quem disse que em não se conseguindo apurar nada contra o preso ele tem condições? Tudo ocorre de forma genérica. As progressões do regime fechado para o semiaberto são praticamente automáticas, é difícil fugir disso; tenta-se impedir uma progressão mesmo com várias fugas e delitos no curso da execução. O que dizer de prisões domiciliares por saúde no regime fechado, não demonstradas claramente a necessidade? Muito comum essas prisões domiciliares por saúde serem renovadas de 30 em 30 dias, ou em 60, ou em 90 dias? 
 
Tente recorrer e mostrar o equívoco da decisão? Quando chega ao tribunal, já perdeu o objeto, e nova decisão sobrevém por período igual, até chegar-se aos prazos para benefícios. Casos existem de condenados faceiros passeando pelas ruas como se não tivessem décadas de pena a cumprir. Até por gastrite já vi. Essa é a realidade, não só a que se mostra. Progressão para crimes hediondos com 2/5 ou 3/5 para reincidentes, conforme determina a lei? Não, apenas em parte, pois para a segunda progressão, utiliza-se 1/6 apenas! Criminosos habituais? Qual o problema em unificar, a absoluta imensa maioria. Detrações? Onde está escrito que não pode ocorrer por períodos anteriores ao delito pelo qual se cumpre a pena? Reincidência? Não é circunstância pessoal, mas processual, seria uma interpretação que muito prejudica o apenado. Conversão de pena restritiva em privativa, mesmo que esteja no fechado, por quê? Quando são mulheres, o ponto central são os filhos e a gravidez, mesmo que as condenações sejam por delitos na presença dos filhos. Como devolver alguma dignidade que a sociedade merece? São posicionamentos jurídicos? Sério isso? Tudo isso impacta diretamente na violência nas ruas e na impunidade. Quanto mais benevolência, sentem-se incentivados. Essa benevolência é fator criminógeno. Sempre haverá um abraço amigo . Por qual razão a tendência é sempre não buscar as reais razões do caos e já inventar mil desculpas e ideias mirabolantes?

Absolutamente, todas essas minhas colocações vêm de minha experiência e não têm outro objetivo senão o de cumprir a obrigação a que me imponho como agente política inserida em assunto tão sujeito a paixões e a manipulações ideológicas a esclarecer com o meu trabalho: a verdade não é exatamente essa que nos é mostrada. Não estou a negar fatos, estou a dizer com o mesmo comprometimento que fiz quando do juramento na minha posse em 1996, o que se mostra é apenas um recorte, que serve a mentiras, manipulações e sequestro da capacidade do indivíduo condenado entender que ele merece e precisa de uma resposta forte do Estado e como se toda a responsabilidade fosse do incompetente Estado ou dos cidadãos. Não, não é: é do criminoso.

“Quando as mentiras ficam grandes o suficiente, o mundo inteiro se deteriora. Mas se você olhar perto o bastante, a maior das mentiras é composta por mentiras menores e essas por outras menores ainda – e a menor das mentiras é onde a grande começa. Não é apenas uma declaração inexata sobre um fato. Pelo contrário, é um ato que tem a dimensão da mais séria conspiração que já possuiu a raça humana. Sua inocuidade aparente, sua maldade trivial, a tênue arrogância que a faz crescer, a aparente trivial fuga da responsabilidade que ela objetiva – tudo isso trabalha efetivamente para camuflar sua verdadeira natureza, seu verdadeiro perigo e sua semelhança com os grandes atos de maldade que os seres humanos perpetram e frequentemente apreciam: a mentira corrompe o mundo. E o que é pior: essa é a intenção.” (Jordan Peterson).

Olhos para quem quer ver.


Débora Balzan - A autora é Promotora de Justiça da Vara de Execuções de Porto Alegre, colunista do Tribuna Diária e membro do MPPS. 

Transcrito do Percival Puggina

Artigo publicado originalmente no portal Tribuna Diária de 30/08/2020


quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Uma lei autoritária – O Estado de S. Paulo

Opinião

A nova lei de segurança da França viola direitos fundamentais de forma inaudita

A sociedade francesa está com medo de uma nova onda de ataques terroristas, medo da violência policial contra negros e imigrantes, medo de perder direitos que são a essência da república, ora sob ameaça sem precedentes. É bastante significativo que as multidões que ocupam as ruas de Paris e de outras cidades da França há dias gritem o tempo todo o lema nacional francês: “Liberdade! Igualdade! Fraternidade!”.

[Animador e promissor o fato de que países considerados modelos  de democracia - Alemanha e França - começam a reconhecer que ou se combate os abusos cometidos em nome das liberdades civis ou teremos o CAOS.

Esperamos que esses bons ventos soprem também no Brasil e as polícias e demais agentes de segurança possam trabalhar na contenção dos distúrbios que ocorrem por qualquer coisa e na maioria das vezes sem motivação que possa ser considerada.

A ORDEM e PROGRESSO  da Bandeira Nacional precisam se tornar realidades e com bagunças por razões menores  continuarão sendo apenas uma frase. E os que teimam em zombar das normas, invocando razões ridículas ou mesmo vazias para não cumpri-las, tem que ser obrigados e cumprir e punidos com rigor pela omissão e cabe às autoridades da segurança pública, nos seus mais diversos níveis, enquadrá-los com o uso da força necessária.]

Foi assim na tarde do sábado passado, quando milhares de manifestantes se reuniram no entorno da Torre Eiffel para mais um dia de protestos contra a brutal agressão a Michel Zecler, um produtor musical negro surrado com cassetetes por três policiais brancos, no dia 21 passado. Zecler correu da polícia por não estar usando a máscara de proteção contra a covid-19, o que está sujeito à multa em Paris.

Os manifestantes também protestavam contra uma lei recentemente aprovada pela Assembleia Nacional que, sob pretexto de combater a escalada de ataques terroristas na França, põe em risco a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa no país, além de favorecer que policiais como os que agrediram brutalmente Zecler não sejam punidos.

Três pontos da chamada Lei de Segurança Global, que ainda precisa passar pelo Senado, representam risco concreto às liberdades civis na França. Um deles autoriza a prisão por um anoalém da aplicação de uma multa de 45 mil euros (R$ 287,7 mil) – de qualquer cidadão que divulgue de forma “mal-intencionada” imagens de policiais em ação. O que haverá de caracterizar a “má intenção”? Não se sabe. Trata-se, pois, de uma lacuna inconcebível em um Estado Democrático de Direito.

Isso significa que, caso o Senado aprove a Lei de Segurança Global sem alterações, todas as forças de segurança da França terão enorme margem para decidir quando imagens da atuação de seus agentes vieram a público de forma “mal-intencionada” e quando essa divulgação causou “prejuízos mentais” aos agentes. Temendo a prisão e a aplicação de tão vultosa multa, é lícito inferir que muitos cidadãos, incluindo os jornalistas, passarão a ter receio de filmar e expor as ações violentas da polícia francesa. E é sabido que muitos casos passariam ao largo do conhecimento público – e, portanto, da punição – não fossem as filmagens das câmeras de TV e dos celulares.

Ora, não será impedindo que a sociedade tome conhecimento dos casos de violência policial que essa chaga, longe de ser um problema restrito à França, será superada. Decerto não será por meio do acobertamento dos agentes que abusam do monopólio do emprego da violência que os casos de agressão policial vão diminuir.

De acordo com a Lei de Segurança Global, a polícia também pode usar imagens de câmeras de segurança sem autorização judicial e empregar drones com tecnologia de reconhecimento facial para monitorar a participação dos cidadãos em manifestações públicas. “(A Lei de Segurança Global) é a reversão de nosso modelo social a um que poderíamos nomear, sem exageros, de Estado policial”, disse ao jornal The Washington Post o advogado Vincent Brengarth, autoridade em Direito Penal e liberdades civis da república francesa.

O teor autoritário da nova lei não passou despercebido por órgãos ligados à defesa dos direitos humanos. Em nota, a Comissão Consultiva Nacional de Direitos Humanos afirmou que “nenhuma das instituições encarregadas da defesa dos direitos fundamentais da França foi consultada” sobre o texto. Por sua vez, o Conselho de Direitos Humanos da ONU também criticou a lei francesa por conter “violações significativas dos direitos humanos e das liberdades fundamentais”.

De 2012 para cá, houve 250 mortes causadas por ataques terroristas na França. Dia após dia, sucedem-se os casos de violência policial. Não se pode minimizar a gravidade desses problemas, que merecem a devida resposta do Estado. Mas essa resposta não pode ser uma violência em si mesma, isto é, não pode colocar em risco direitos e liberdades fundamentais quando a sociedade não se mostra disposta a abrir mão deles.

Recomendamos ler: aqui 

 

 Opinião - O Estado de S. Paulo


terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Arábia Saudita: balada forte num dia, decapitações no outro - VEJA - Mundialista


Condenação à morte dos peixes pequenos pelo assassinato de Jamal Khashoggi culmina um ano delirante que só comprovou: o dinheiro compra tudo

Por Vilma Gryzinski
Por trás da máscara: jovens curtem festival eletrônico, adaptando exigência religiosa, e príncipe acha que resolveu questão de assassinato de opositor Fayez Nureldine/AFP

Dar a vida pelo chefe é uma força de expressão que ganhou uma interpretação sinistra na Arábia Saudita.  Cinco dos operadores que receberam a missão de matar Jamal Khashoggi, desafeto do príncipe herdeiro, e a cumpriram de forma excepcionalmente estúpida, foram condenados à morte.  Na Arábia Saudita, a sentença máxima é executada como prega a tradição islâmica, por decapitação.
Não é impossível que a pena seja eventualmente comutada, tendo cumprido a encenação de castigo exemplar.

Os cinco condenados à morte, mais onze a penas de prisão, são os paus mandados da equipe de assassinos enviada ao consulado saudita em Istambul, em 2 de outubro do ano passado. Inclui-se entre eles o médico legista que aparece numa gravação dizendo: “Agora, vamos separar as juntas”. Ao som de uma serra elétrica. Sim, o consulado era todo, obviamente, grampeado. A Turquia é um dos maiores rivais da Arábia Saudita – mesmo que não fosse, todo mundo grampeia todo mundo, uma regra amplamente conhecida.

O desembarque, os deslocamentos e a viagem de volta dos assassinos trapalhões, incluindo um trajeto de despiste feito por um dos agentes com as roupas tiradas do corpo provavelmente ainda quente do morto, foram todos registrados em câmeras de segurança. A única coisa que fizeram direito, por assim dizer, foi encarregar um colaborador local de sumir com o corpo desmembrado. O cadáver não foi encontrado até hoje – e não por falta de buscas.

Autoridades turcas, uma investigadora especial da ONU e até a CIA, todos chegaram à mesma conclusão: a ordem de matar Khashoggi, mesmo desproporcional ao dano que podia causar à imagem construída a peso de petrodólares pelo príncipe Mohammed bin Salman, partiu do mais alto nível.  Justamente o eximido no julgamento de resultado encomendado. Por “falta de provas”, livraram-se Saud al-Qathani, íntimo assessor de imagem do príncipe, e Ahmed al-Assiri, o vice-diretor do serviço de inteligência. Para não mencionar o próprio príncipe.

Ah, sim, a operação toda era apenas para “conduzir” Khashoggi de volta à Arábia Saudita, para ouvir uns bons conselhos e mudar de vida. Escapou ao controle porque ele começou a gritar, recebeu uma injeção tipo mata-leão, a coisa deu errado etc etc. Mais um pouco, seria condenado pelo próprio assassinato.
Confiante no seu taco, na relevância do petróleo saudita para manter a economia mundial andando e na importância geoestratégica do país como contrapeso ao Irã, Mohammed bin Salman manteve o sangue frio, a cara de pau e os cofres abertos. Vários de seus projetos ambiciosos foram prorrogados, diante do repúdio a um ato de barbárie tão escandaloso.

Mas menos de um ano depois do assassinato a Aramco, a estatal do petróleo, fez um IPO – não tão bem sucedido como o planejado. Mesmo assim, saiu dele como a empresa mais valiosa do mundo, coisa de 1,7 trilhão de dólares.  A abertura de capital da Aramco faz parte de um grande plano do príncipe para reestruturar a economia saudita, contando inclusive com uma futura era pós-petróleo. Há coisas que fazem sentido no ambicioso plano, há coisas puramente malucas. Exemplo: transformar um país onde reina a corrente mais fundamentalista da religião muçulmana num polo turístico e cultural.

Se um vizinho menor como o Dubai consegue manter exigências como o véu completo, com o rosto coberto, para as mulheres locais, conciliando-as com grandes hotéis e atrações turísticas para estrangeiros, onde biquínis e bebidas são aceitos, por que não a Arábia Saudita, muito mais rica? Há uma longa lista de respostas negativas, inclusive a influência dos religiosos e de setores da própria população mais extremamente conservadores.

Sempre é bom lembrar que Osama Bin Laden foi gerado no coração do sistema saudita. O próprio Jamal Khashoggi teve simpatias pela Al Qaeda, em sua versão original, antes de se transformar em defensor de uma versão islâmica da democracia.
Em compensação, a população mais jovem apoia em massa a política de abertura do príncipe e releva deslizes eventuais como matar e esquartejar um opositor.  Abrir o país a eventos esportivos e shows de música é uma novidade quase inimaginável.

(...)
Ah, sim, nesse ano alucinante, o Irã, acuado pelas sanções americanas, aumentou a pressão e atacou instalações petrolíferas na Arábia Saudita com drones.  Como sempre, os sauditas pediram guerra, desde que travada pelos Estados Unidos com o sacrifício de vidas americanas, claro. Donald Trump achou melhor não. No momento, a situação está temporariamente amornada. Mas todas as condições de alta tensão continuam valendo e 2020 vai ser um ano de arrepiar.

O Irã avança aceleradamente para um portal bem mais próximo da bomba atômica, esperando assim forçar os Estados Unidos a retomar o acordo nuclear renegado.  A resposta da Arábia Saudita sempre foi fazer sua própria bomba caso o Irã não seja contido. Dinheiro para isso, tem.

MATÉRIA COMPLETA em  Blog Mundialista, Vilma Gryzinski, jornalista  - VEJA  


quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Míssil no quarto: Israel tem o direito de matar terroristas? - VEJA - Mundialista

Por Vilma Gryzinski

Desde pasta de dente envenenada até um ataque de alta precisão como o que detonou chefe da Jihad Islâmica, assassinatos em nome da defesa nacional


Como um homem com a cabeça a prêmio, e justamente pelo mais letal dos inimigos, Baha Abu Al-Ata dormia cada hora num esconderijo em Gaza. Não é um lugar muito bom para se esconder, mas o chefão da Jihad Islâmica Palestina, um grupo armado e bancado pelo Irã, não tinha muitas alternativas fora ficar sempre em zonas cheias de civis , inclusive familiares, como escudo humano. Às 4 horas da manhã de terça-feira, um único míssil de alta precisão foi disparado através da janela do quarto onde Abu Ata dormia com a esposa.
Foram as únicas vítimas fatais, no ato.


[Israel executa um inimigo que está dormindo, com a esposa que também é assassinada. 
Não satisfeito, a pretexto de vingar misseis lançados contra o território israelense, atacam com aviões ultramodernos civis palestinos desarmados.
É a batalha do estilingue contra aviões caça.]

Minimizar os “danos colaterais” é sempre politicamente conveniente embora nenhum israelense tenha a menor ilusão de que o país deixaria de ser vergastado em organizações internacionais, mesmo quando o alvo é o dirigente de uma organização armada que prega a eliminação total de Israel. A “morte dirigida” foi aprovada pelas mais altas instâncias jurídicas das forças armadas, da mesma forma que acontece nos Estados Unidos, onde o 11 de Setembro liberou os militares para a prática e o uso de drones facilitou-a enormemente.

Só o presidente Barack Obama autorizou mais de 500 ataques com drones. A tática das “mortes dirigidas” foi endossada pela Suprema Corte de Israel em 2006, depois de anos de debates jurídicos e com várias restrições.  Obviamente, causa enorme controvérsia, inclusive dentro de Israel, apesar do apoio quase total da opinião pública.
Em especial no caso do chefe da Jihad Islâmica, um grupo que é praticamente um poder paralelo em Gaza, competindo com o Hamas no lançamento de foguetes contra a população civil e atentados suicidas em território israelense.
O Hamas assumiu um compromisso, negociado com o Egito, de segurar o foguetório em troca de um alívio nas restrições que Israel impõe a Gaza em represália pelos ataques.

O “alívio” inclui o recebimento de dinheiro vivo para a folha de pagamento de funcionários públicos. Numa única dessas remessas, bancadas pelo Catar, foram 15 milhões de dólares em malas, num carro de luxo.  É claro que o Hamas está fazendo uma grande encenação de revolta pelo assassinato, tem uma gritaria geral de “sangue de um, sangue de todos”, mais uma vez chovem foguetes, mesmo depois de um novo cessar-fogo.Nos bastidores, mais de uma vez pediu a aliados que controlassem Abu Ata e sua turma, que têm arsenal de fabricação própria próprio e total alinhamento com os interesses do Irã.

Como toda política é local, houve reações da oposição israelense acusando interesse politiqueiro de Benjamin Netanyahu.  Bibi chefia o governo em caráter temporário, visto que nenhum dos dois blocos mais votados consegue formar maioria no Parlamento.  Ele também tinha empenho especial em despachar Abu Ata desde que foi retirado pela segurança, em cenas transmitidas ao vivo, quando a Jihad Islâmica disparou foguetes contra o lugar onde fazia um comício, uma semana antes da eleição de 17 de setembro.

O resultado embolado dessa eleição se prolonga até agora: nem Netanyahu nem Benny Gantz, da frente que conseguiu um parlamentar a mais, conseguem a maioria necessária. Gantz, que foi chefe do estado-maior das forças armadas, apoiou a operação contra Abu Ata. Simultânea a outra, em Damasco, onde o número dois da Jihad escapou com ferimentos.  Quando a escalada atingiu um nível mais generalizado, Israel também aproveitou para bombardear o comandante da unidade de foguetes da Jihad Islâmica, Rasmi Abu Malhous.
 
PRÍNCIPE VERMELHO
Mas nenhum primeiro-ministro pode tomar sozinho a decisão de uma “morte dirigida”. A palavra final é do alto comando das Forças de Defesa de Israel, quando é uma ação militar clássica.  Em várias ocasiões, o comando militar vetou o ataque contra Abu Ata, por motivos operacionais e outros, nunca revelados. Os “astros se alinharam”, na definição de um porta-voz, dez dias antes.

O outro modus operandi para as “mortes dirigidas” são ações clandestinas, a cargo de uma unidade especial do Mossad. Seus agentes recebem treinamento à parte do resto do serviço de inteligência, em Cesareia, a cidade portuária construída por Herodes, o Grande, alguns anos antes do advento da era cristã.  Como nos filmes, jamais podem falar com ninguém sobre o “serviço” nem revelar seus nomes verdadeiros, exceto para os cônjuges.
Ao contrário dos filmes e apesar da legendária eficiência do Mossad, as coisas podem dar errado.
Foi assim que um garçom marroquino foi assassinado na Noruega em 1973, erroneamente identificado como Ali Hassan Salameh, o sedutor Príncipe Vermelho, organizador do massacre de Munique, o sequestro e execução de atletas israelenses durante as Olimpíadas.

Além de matarem o homem errado, os agentes israelenses ainda foram identificados por um companheiro que pisou na bola por um motivo absurdo.
A missão dele era abandonar o carro usado no assassinato – com placa anotada, como sabiam os israelenses –, pegar um trem e daí deixar o país de avião, anonimamente.  Como tinha comprado equipamentos hidráulicos, incluindo torneiras, para sua casa, não quis carregar peso e decidiu devolver o carro na agência onde havia sido alugado. A polícia norueguesa já estava esperando por ele.
O escândalo foi recriado em detalhes pelo jornalista Ronen Bergman no livro Rise and Kill.

O título é uma referência a um trecho do Talmude que diz: “Se alguém está vindo para te matar, erga-te e mate primeiro”.
Bergman não tem nenhuma simpatia pela política que guiou, segundo suas contas, mais de cinco mil assassinatos desde bem antes da criação do Estado de Israel.
Segundo ele, agentes do Mossad tiveram duas oportunidades de pegar Josef Megele no Brasil, o Anjo da Morte das experiências monstruosas em Auschwitz, mas deixaram passar.
Numa dessas ocasiões, chegaram a acompanhar seus movimentos na fazenda que tinha em Caieiras, mas receberam ordens de largar a operação e voltar rapidamente porque uma crise maior, a dos mísseis secretos do Egito, estava explodindo.
Mengele morreu afogado em Bertioga, em 1979.

Caçar nazistas não era uma prioridade do Mossad, com exceções notórias como o caso de Adolf Eichmann, sequestrado na Argentina e julgado, condenado e enforcado em Israel.
Motivo? Já não podiam fazer mal a Israel, ao contrário dos chefes de várias organizações armadas palestinas.  O mais importante deles, Yasser Arafat, estava fora da lista por ser uma personalidade importante demais – e a pedido dos Estados Unidos.
Quando Ariel Sharon assumiu como ministro da  Defesa, segundo a reconstituição de Bergman, mandou colocar Arafat na lista de novo. Brigou com altos comandantes que resistiram a planos de assassinato que provocariam a morte de muitos civis inocentes.

Como praticamente todos os palestinos, Bergman mais do que dá a entender que Sharon finalmente conseguiu seu objetivo de forma mais sutil, aparentemente através de intoxicação por algum elemento radiativo.
Cercado em seu bunker, Arafat caiu doente, foi levado para a França e acabou morrendo, em novembro de 2004. A coisa toda aconteceu em um mês. Em 2012, o corpo dele, enterrado em Ramallah, foi exumado para a retirada de vestígios ósseos e devolvido à sepultura em seis horas. Mas não houve nenhum resultado conclusivo.
Sem os constrangimentos da censura militar no caso de Arafat, Bergman dá detalhes do assassinato de Wadie Haddad, da Frente Popular de Libertação da Palestina, em 1978.

Na época, palestinos cristãos como Haddad estavam entre os mais radicais e se alinhavam ideologicamente com o nacionalismo árabe e o comunismo – a onda do novo islamismo fundamentalista acabou totalmente com isso, exceto por alguns bolsões no Líbano. Haddad foi envenenado gradualmente com uma bactéria tóxica colocada em sua pasta de dentes. Morreu gritando de dores horríveis num hospital militar da Alemanha Oriental.
Cientistas iraquianos que viajavam para ampliar o programa nuclear secreto de Saddam Hussein foram orientados a levar sempre escova e pasta próprios quando viajavam para o exterior.
Pelo menos dois acabaram assassinados e o programa explodiu literalmente com o bombardeio do reator de Osirak.

“JUÍZO FINAL”
Vários cientistas iranianos também foram alvos das “mortes dirigidas”, mas o Irã continua avançando rumo a um arsenal nuclear.  A pretexto da saída americana do acordo nuclear internacional, já está enriquecendo urânio a 60%. Diminuiu assim radicalmente a extensão do “corredor de tempo” necessário para produzir a bomba, que demanda urânio enriquecido a 90%.
Vai, assim, aumentando o tamanho da ameaça existencial a Israel.  Apesar de imensamente complicado, um ataque preventivo às instalações nucleares iranianas é viável em termos operacionais.  Existe forte oposição a uma operação assim dentro do establishment militar de Israel.
Em última instância, porém, são os Estados Unidos que seguram a barra e impedem o “ataque do juízo final”.

Foram os Estados Unidos que arrancaram de Menachem Begin a promessa de não matar Arafat quando, derrotado, teve que deixar o Líbano, de navio, em 1982.
Um atirador de elite israelense tirou uma foto com Arafat na mira de seu fuzil e Begin deu-a de presente a Philip Habib, o embaixador americano no Líbano, como prova da palavra cumprida.  Em tempo: Ali Hassan Salameh, o mentor do massacre de Munique confundido com o garçom marroquino na Noruega, foi morto por um carro-bomba em Beirute, quando ia para a festa de aniversário da mãe, em 1979.

Uma agente do Mossad, com codinome de Erika Chambers, usou a legendária queda do Príncipe Vermelho por mulheres bonitas para levantar seus itinerários. Escapou com os outros 16 agentes do Mossad envolvidos na operação. As “mortes dirigidas” e altamente contestáveis, do ponto de vista jurídico, político e pragmático, não mudam os fundamentos dos problemas de Israel.  Primeiro, a população palestina que vive em seu território internacionalmente reconhecido, tendo cidadania e direitos – cerca de 20% –, embora preferisse estar de outro lado.
Segundo, e acima de tudo, os palestinos dos territórios ocupados, cujos líderes não aceitam alternativas para que tenham um Estado próprio, como seria certo e justo.
Mas “matar primeiro aquele que vem para te matar” não é uma prática que vá sumir do mapa tão cedo.
Pelo menos, enquanto os inimigos de Israel desejarem este destino coletivo para o país.
E, enquanto isso, as centrífugas iranianas estão funcionando a mil.

domingo, 13 de janeiro de 2019

Cessão de drones para a FAB marca fim de programa da PF

Cessão de drones comprados pela Polícia Federal à FAB marca o fim de projeto que custou R$ 150 milhões aos cofres públicos e tinha como objetivo dinamizar o combate ao contrabando e à ação de traficantes nas fronteiras do país

Dois veículos aéreos não tripulados (vants), comprados em 2009 pela Polícia Federal (PF) por R$ 27,9 milhões, foram cedidos para a Força Aérea Brasileira (FAB). O ato que repassa o uso dos equipamentos para a Aeronáutica foi publicado no Diário Oficial da União na última terça-feira e ocorreu após a PF gastar R$ 150 milhões com o projeto. Esse custo envolve, além da manutenção dos aparelhos, o treinamento de equipes especializadas, que inclusive viajaram para o exterior a fim de aprender a manusear o equipamento. A mudança marca o abandono da proposta inicial, que tinha a finalidade de elevar a capacidade de investigação contra o tráfico de drogas e o contrabando, principalmente nas regiões de fronteira. O uso dos aviões evitaria que agentes fossem colocados em risco durante as diligências. [gastos de   R$ 150 milhões, com manutenção dos aparelhos treinamento de equipes especializadas - qual o gasto com manutenção? lembrando que dos nove anos da compra dos aparelhos, dois eles ficaram parados;
gasto com treinamento, ainda que pago em dólares não alcançam milhões e com isto fica a dúvida se os gastos com manutenção em sete anos alcançaram o custo de várias vezes o preço dos drones???]
 
Com a mudança do órgão  que opera os drones, muda a finalidade. A Força Aérea Brasileira atua principalmente na defesa do espaço aéreo nacional e não é responsável, em circunstâncias normais, pela investigação do crime organizado. Além de ceder o uso do equipamento, a PF terá de gastar R$ 1,5 milhão com a atualização de licenças internacionais. Além disso, de acordo com uma fonte, a corporação policial também assumiu a responsabilidade de arcar com a manutenção dos vants, que estavam parados desde 2016 em um hangar da corporação em São Miguel do Iguaçu (PR).[o que justifica que os veículos tenham ficado parados mais de dois anos e mesmo assim os gastos de manutenção, desde a compra, ficaram em torno de R$ 100.000.000,00?]

O encerramento do projeto é visto como um duro golpe nas atividades de investigação da PF, embora a instituição não admita oficialmente. Os drones são dotados de câmeras de alta resolução, com capacidade de filmar e fotografar a distância, mesmo durante a noite, com pouca luz. Voando em uma altitude elevada, os modelos podem acompanhar a rota de criminosos durante o transporte de drogas e armas — algo que ocorre quase diariamente nos 17 mil quilômetros de fronteiras do país. Os vants podem voar em qualquer parte do território nacional e possuem características que dificultam a visualização por alvos em terra. [os VANTs são valiosos, mas, estão parados há no mínimo dois anos e a PF cortinou desenvolvendo suas atividades e apresentando resultados.]

O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Boudens, lamentou o fim do projeto. “Nós já insistimos muito com a direção-geral sobre a continuidade do projeto vant. A interrupção será prejudicial, pois policiais federais foram treinados para operar esses equipamentos. São cursos caros. Agentes foram deslocados para São Miguel do Iguaçu especificamente para operar os drones. Além da perda material, tem o esforço da equipe”, disse

Vigilância
Os modernos vants Heron I, comprados pela PF, são usados por forças de segurança ao redor do mundo para dinamizar as operações de combate ao tráfico de drogas, mapeamento aéreo e vigilância de grandes áreas. Tratam-se de drones de tecnologia israelense. O último voo dos equipamentos ocorreu em fevereiro de 2016. Desde então, eles ficaram parados, acumulando poeira na cidade paranaense. [retificando: os vant ficaram parados por no mínimo dois anos e nove meses]

Entre 2011 e 2016, os aviões deveriam, de acordo com o projeto inicial, realizar 40 mil horas de voo. No entanto, a atividade foi bem menos intensa. Os modelos voaram por apenas mil horas. Assim que o projeto deixou de ser colocado em prática, os aparelhos foram parcialmente desmontados. Em fevereiro do ano passado, a FAB chegou a anunciar que estava em andamento uma série de encontros com representantes da PF para discutir uma parceria.

Em nota, a FAB informa que a cessão dos vants tem como objetivo a “otimização dos recursos, especialmente envolvendo aspectos logísticos e de manutenção”. A Aeronáutica destacou que o acordo foi realizado a pedido da PF, que os drones não serão usados para fins bélicos e confirmou que receberá repasses de recursos da Polícia Federal. “O acordo prevê que a operação dos equipamentos será conjunta. A colaboração entre a FAB e a Polícia Federal, bem como demais órgãos de segurança pública, não é uma novidade. ARPs da FAB já foram empregados em apoio a diversas operações de segurança pública e órgãos de inteligência. O mais recente ocorreu durante a Garantia da Lei e da Ordem no Rio de Janeiro”, diz um trecho do posicionamento.

A PF alega que a cessão é uma forma de economizar, e que as necessidades operacionais da instituição não serão prejudicadas com a medida. “A Polícia Federal informa que foi celebrado acordo de cooperação entre Polícia Federal e a Força Aérea Brasileira, que visa a operação conjunta de todos os veículos, com a otimização dos recursos e do custeio dessa ferramenta e a franca economia de recursos públicos. Tal acordo atende plenamente às necessidades operacionais da Polícia Federal. Ressalte-se que a PF e a FAB mantêm sistematicamente projetos e ações de cooperação e de atuação coordenadas, no cumprimento de suas respectivas atribuições constitucionais”, informou.[pelo histórico apresentado na matéria, fica claro que os vant da PF estão entre aqueles equipamentos estão entre os que é melhor não ter do que ter e não usar.]
 
Correio Braziliense
 
 
 
 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

FAB ganha mais poder para a posse e terá autorização para abater aviões

Será a primeira vez que uma cerimônia de transmissão de faixa presidencial precisará contar com o suporte da defesa aérea.

Informações enviadas pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), pela Polícia Federal e pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) à Força Aérea Brasileira (FAB), fizeram o presidente Michel Temer assinar um decreto, que deve será publicado hoje, dando à Aeronáutica diversas prerrogativas de segurança na posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro, no próximo dia 1º. Será a primeira vez que uma cerimônia de transmissão de faixa presidencial precisará contar com o suporte da defesa aérea.

Comandante de Operações Aeroespaciais da Aeronáutica, o major-brigadeiro do Ar Ricardo Cesar Mangrich afirma que, no dia da posse, a Esplanada dos Ministérios será “o ponto mais defendido da história de todo o nosso sistema aeroespacial brasileiro”, mas garante que será uma “ação normal para uma situação excepcional”. A situação é considerada excepcional, porque, segundo o major-brigadeiro, informações de órgãos de inteligência apontaram movimentos suspeitos que podem trazer riscos à cerimônia.

Nós entendemos que a Força Aérea tinha que estar à altura dessa excepcionalidade num momento em que nós interpretamos informações que vieram da Abin, do GSI, da Polícia Federal e até da nossa própria inteligência, e que indicavam algum risco durante a exposição de tantas autoridades a céu aberto. Então, o Comando da Aeronáutica decidiu solicitar ao presidente (Temer) a assinatura de um decreto que foi assinado hoje (ontem) e será publicado amanhã (hoje) no Diário Oficial da União”, explicou. As informações tidas como “anormais” não foram detalhadas.

Especificamente para a “Operação posse”, que deve durar das 12h às 0h do dia 1º, o decreto solicitado pela FAB dará à Força prerrogativas de segurança no tocante à defesa aeroespacial. Da chamada “Sala de Decisão”, localizada no Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE), no Lago Sul, poderão ser definidas ações instantâneas, como, por exemplo, a destruição de drones que invadam o raio de 7,4km em volta da Esplanada dos Ministérios, a área vermelha.

“Primeiro será efetuado o tiro de aviso. Se o elemento não for cooperativo, receberá um tiro de detenção. Se entrar na área vermelha, é automaticamente detido através de um míssil: um de guiamento termal, que segue o calor da aeronave, e outro, por laser”, diz o major-brigadeiro Mangrich.

Conforme o Correio antecipou, a Aeronáutica criou uma área de extrema segurança com o objetivo de impedir a entrada de veículos não autorizados em volta da Esplanada dos Ministérios durante todo o dia 1°. Por meio da criação das chamadas “áreas de exclusão”, só aeronaves autorizadas poderão sobrevoar, em um raio de 130km, a partir da Praça dos Três Poderes.

Serão três áreas: vermelha, amarela e branca. Na vermelha, o sobrevoo será proibido, com exceção do helicóptero da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e da Aeronave Remotamente Pilotada (ARP) da Força Aérea. Na amarela, que deve abarcar um raio de 46,3km, que inclui o Aeroporto Internacional de Brasília, será assegurado que nenhum voo comercial seja afetado. Já a área branca, considerada reservada, abrangerá um raio de 129,6km. Para sobrevoá-la, será necessário apenas o plano de voo.
 

Correio Braziliense
 

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Bolsonaro e Israel, uma relação político-religiosa arriscada para o Brasil

Ao anunciar a transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, o presidente eleito Jair Bolsonaro respondeu às expectativas das influentes igrejas evangélicas, sua base de sustentação, correndo o risco de uma ruptura com uma política de mais de meio século do Itamaraty.   Seguindo os passos do presidente americano Donald Trump, de quem já se disse um admirador, o futuro chefe do Executivo brasileiro corre o risco de isolar o país diplomaticamente, expondo-o a represálias comerciais de parte dos países árabes, grandes importadores de carne do Brasil.
"O Brasil tem uma posição histórica naquilo que a gente chama de solução de dois Estados [para Israel e a Palestina] e esta decisão pode jogar todos esses esforços no lixo", avalia Guilherme Casaroões, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.

A anexação de Jerusalém oriental por Israel, após a guerra de 1967, nunca foi reconhecida pela comunidade internacional, para a qual o estatuto da cidade santa deve ser negociado pelas duas partes e as embaixadas não devem se instalar ali enquanto não se cheguar a um acordo.  O governo brasileiro sempre seguiu essa diretriz, mas o posicionamento de Jair Bolsonaro poderia colocá-la em xeque.  "É motivo de respeitar uma nação soberana", declarou o presidente eleito em entrevista à TV Bandeirantes na segunda-feira.

Na terça-feira, ele parecia hesitar, ao declarar que a transferência "ainda não foi decidida", lançando dúvidas sobre sua determinação sobre uma medida tão polêmica.  A transferência da embaixada teria, antes de mais nada, uma motivação religiosa para Jair Bolsonaro, eleito em 28 de outubro com 55% dos votos, em parte graças ao apoio ativo das igrejas evangélicas neopentecostais, que reúnem milhões de fiéis.
"Os evangélicos mais conservadores não colocam em questão, não relativizam nenhuma atitude de Israel. Qualquer decisão, qualquer medida, há um pressuposto que tem a legitimidade para fazer, como povo escolhido", que deve ser defendido custe o que custar, independentemente da atitude de seus dirigentes, explica Ronilson Pacheco, teólogo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
"É uma leitura extremamente literal da Bíblia, sem fazer qualquer reflexão de contexto, de história", acrescentou.

Os neopentecostais brasileiros seguem os preceitos do sionismo cristão, corrente segundo a qual o retorno dos judeus à terra santa e a criação do Estado de Israel, em 1948, segue uma profecia bíblica que anuncia o retorno do Messias.  "Nos templos, há muitos símbolos litúrgicos do judaísmo, como o candelabro ou a estrela de Davi, e alguns pastores até usam o kipá ", acrescenta Ronilson Pacheco.

O próprio Jair Bolsonaro, casado com uma evangélica, foi a Israel em 2016 para ser batizado por um pastor nas águas do rio Jordão.
Mas a religião não é a única motivação para Bolsonaro transferir a embaixada para Jerusalém, um anúncio que agradou o premiê israelense, Benjamin Netanyahu.
"Tem um valor simbólico para ele, pela relação dele com a comunidade evangélica, e também casa com uma revisão da tradição da política externa brasileira, mais globalista, multilateralista", explicou Monica Herz, professora associada do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio.

Para ela, o mimetismo com Donald Trump se aproxima a "um alinhamento com o governo americano, coisa que não fizemos nem durante a ditadura militar".  Ex-paraquedista do Exército, Jair Bolsonaro é conhecido justamente pela nostalgia do regime militar, que comandou o País entre 1964 e 1985.  A aproximação com Israel também se deve ao fascínio do presidente pela tecnologia de ponta do Exército israelense.

Um de seus filhos, o senador Flavio Bolsonaro, e o governador eleito do Rio, Wilson Witzel, devem visitar o país em breve para comprar drones de ataque, que poderão ser usados pelas forças de ordem na luta contra os narcotraficantes.
Mas para Guilherme Casarões, "o Brasil teria condições de se aproximar dos EUA e de Israel independentemente de transferir a embaixada" de Tel Aviv para Jerusalém.
Membro da comissão de Relações Exteriores do Congresso, o senador Ricardo Ferraço, considerou recentemente que Bolsonaro fez esta promessa de forma precipitada, sem medir as consequências.
A Câmara de Comércio árabe-brasileira declarou sua preocupação, enquanto o Brasil é o primeiro produtor do mundo de carne halal (cujo consumo é permitido aos muçulmanos). O chefe da representação palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, declarou à AFP esperar que o deslocamento da embaixada não passe de um "anúncio de campanha".