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segunda-feira, 24 de abril de 2023

O que aconteceu no 8 de janeiro - Revista Oeste

Silvio Navarro

Imagens vazadas colocam o governo Lula no centro dos atos de vandalismo, levantam suspeita de cumplicidade e tornam a CPMI no Congresso inevitável

Foto: Reprodução

Às 14h55 do dia 8 de janeiro, os carros da Polícia Militar do Distrito Federal que atuavam na segurança da Praça dos Três Poderes, já sob ataque de um bando de vândalos, deixaram uma das principais vias de acesso à chamada Esplanada dos Ministérios.
 Ao fundo, em meio à fumaça de bombas de efeito moral, uma multidão avançava em direção ao Palácio do Planalto. 
Imediatamente, os oficiais alinhados em um cordão com escudos recuaram, permitindo a entrada do grupo no estacionamento do prédio. Neste momento, a porta principal da sede da Presidência da República em Brasília estava aberta. Por quê?
 
Um enorme arquivo com 160 horas de filmagens, captadas por 22 câmeras, foi obtido pela emissora CNN.  
A edição, com pouco mais de cinco minutos, foi divulgada na quarta-feira, 19. 
Há meses a Câmara dos Deputados, parlamentares individualmente e veículos da imprensa, por meio da Lei de Acesso à Informação, buscavam acesso ao material. O governo Lula guardava o conteúdo a sete chaves. Por quê?Foto: Reprodução MetrópolesFoto: Reprodução Metrópoles
 
Os vídeos provocaram um terremoto no Congresso Nacional como não se via desde os escândalos conhecidos pelos aumentativos Mensalão e Petrolão. Na mesma quarta-feira, coincidentemente, estava marcada a audiência do general Marco Edson Gonçalves Dias, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), na Câmara para falar sobre o dia trágico. Às 13 horas, contudo, ele enviou um atestado médico à comissão que não diz absolutamente nada: apresentava um “quadro clínico agudo que requer medicação”. Não há sequer o CID (classificação internacional de doenças), obrigatório em atestados médicos. Duas horas depois, “GDias”, como é chamado pelo Batalhão de Infantaria do Exército, estava com Lula na reunião que selou sua demissão
Foi o primeiro ministro do governo demitido em 120 dias de mandato, um recorde em qualquer governo do PT nem ministros enroscados em denúncias, como o das Comunicações e a do Turismo, foram despejados até hoje. Por que Gonçalves Dias deixou o posto tão rápido?
 
Horas antes do cancelamento da audiência na Câmara, o general aparece nas imagens do circuito interno do Palácio do Planalto circulando, à paisana, entre os invasores. 
Ele checa portas, visita a antessala do gabinete de Lula e interage com os baderneiros — as falas são inaudíveis. 
Em nenhum momento, o militar atuou como um agente de segurança nem tentou evitar a depredação. Que general permite que o inimigo ataque sua fortaleza? 

Atestado Utilizado por Gonçalves Dias | Foto: Reprodução

Já demitido, Gonçalves Dias disse em entrevista à GloboNews que sua atuação naquela tarde se limitou a direcionar os invasores para a planta baixa do prédio, onde a Polícia Militar os aguardava. Ele conversou com jornalistas, mas não foi ouvido até agora pela Polícia Federal, como os milhares de manifestantes que terminaram presos a mando do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Por quê?

Acuado, Lula mandou sua base escolher quem serão os integrantes da CPMI. A leitura do pedido de abertura da comissão será no dia 26

Lula sacou a velha carta de que não sabia de nada
Fez chegar aos articulistas na mídia que foi traído pelo general. É uma tese que não para em pé nem nas redações apaixonadas por ele
Dias é uma das pessoas mais próximas do petista há anos. 
Na Presidência, Lula usava um botão de emergência que acionava o general imediatamente. O jornalista Ricardo Kotscho, assessor do próprio Lula no passado, escreveu nesta semana no portal UOL. “Ele se tornou conselheiro do presidente, porque é um cara preparado. Lembro que, nas viagens de avião para a China e a Índia, ele passava o tempo todo lendo. Não consigo entender como isso foi acontecer com ele agora.”Foto: Reprodução UOL


Diante de tamanha proximidade, com Lula a quilômetros de distância de Brasília — estava em Araraquara, no interior paulista —, não é crível que o chefe do GSI tenha deixado de comunicar o presidente que o Palácio do Planalto fora invadido. O senador Marcos do Val (Podemos-ES), um dos que acompanham mais de perto os episódios de janeiro, afirmou que Lula teria dito na véspera ao general: “Deixe acontecer”.
Quer água mineral?

Outros membros do GSI também aparecem nas novas cenas: um deles, capitão do Exército, pode ser visto dez vezes. Numa das imagens mais bizarras, ele abre uma porta e oferece água mineral aos manifestantes. Em outra, depara-se com um vândalo mascarado prestes a arremessar um extintor de incêndio contra uma vidraça.  
Nem ele nem outros oficiais fazem nada para deter o quebra-quebra. Pelo contrário, quando o relógio do sistema de câmeras crava 15h19, os guardas deixam a sala, apenas dois minutos antes de os arruaceiros chegarem com uma marreta. Por quê?
 
Na sequência exibida pela CNN, é possível perceber uma novidade em relação às imagens divulgadas anteriormente pelo programa Fantástico, da Rede Globo: as pessoas que invadiram o prédio têm perfis distintos. Isso fica nítido na destruição do relógio do século 17
A cena estúpida foi explorada à exaustão para sustentar a narrativa de que o país estava diante de um golpe de Estado, sem tanques nem soldados, mas liderado por uma turba anônima de “bolsonaristas” organizada pelo WhatsApp. 
A imagem da TV Globo mostra um criminoso trajando uma camiseta preta com a estampa do rosto do presidente Jair Bolsonaro. Ele faz questão de encarar a câmera de segurança. É como se dissesse: “O Bolsonaro me mandou vir aqui”. Essa narrativa caiu na última quarta-feira.


"Exclusivo: Imagens mostram ação do GSI em ataque aos Três Poderes em 8 de janeiro | CNN NOVO DIA"

 
Agora, é possível ver que outros manifestantes, que usam camisas e bandeiras com as cores verde e amarela que tampouco deveriam estar dentro do prédio, é verdade — tentam recolocar no lugar o relógio francês trazido ao Brasil por Dom João VI. O que acontece depois?    O objeto é arremessado novamente contra o chão por outra pessoa mascarada. 

O conflito entre os próprios invasores está nítido: há uma tentativa vã de alguns deles em conter alguns solitários ensandecidos.                        Havia infiltrados ali?
Quem sabia dessas imagens? [COMENTÁRIO MOSTRANDO UMA CURIOSIDADE: A TV Funerária ontem, em seu programa dominical,  que já foi famoso, líder em audiência e credibilidade, entrevistava o "Cappellii, atual interino do GSI, que dizia ser correto o procedimento de 'empurrar' a multidão do 3º e 4º andares, para o segundo andar onde seriam presos; o repórter, talvez por estar  cumprindo pauta, não pode destacar que minutos antes ele havia apresentado imagens de pessoas circulando livremente pelo segundo andar e até comentado que as pessoas não estavam sendo incomodadas pela segurança.]

As imagens que jogam luz nos episódios de 8 de janeiro foram divulgadas por um canal de televisão. 
Numa nota oficial vazia, o GSI disse que o material é secreto e somente as autoridades que conduzem o inquérito têm acesso a ele — ou seja, a Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República e o gabinete do ministro Alexandre de Moraes. Passados 120 dias, por que nenhum membro do GSI, principalmente o chefe, Gonçalves Dias, foi indiciado ou preso?
 
Por muito menos e com extrema celeridade, o ex-secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres está encarcerado há três meses. Ele estava nos Estados Unidos no dia dos ataques
É acusado de ter rascunhado uma minuta [rascunho, esboço de ideias para uma possível apreciação, discussão, sem nenhum valor legal.] que, para o ministro Alexandre de Moraes, seria usada para chancelar o golpe de Estado preparado por 1,5 mil pessoas desconhecidas — entre eles, idosos, com crianças e cachorros que estavam acampados em frente ao Quartel-General do Exército. [sendo que o provável beneficiário do golpe - ex-presidente Jair Bolsonaro, estava há 10 dias nos Estados Unidos e sem nenhuma intenção de voltar ao Brasil para assumir o produto do golpe.] Anderson Torres | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
 
O papel golpista foi encontrado na casa de Torres numa operação de busca e apreensão
Ele já perdeu 12 quilos e a família segue com complicações — as três filhas com idade escolar estão abaladas, e a mãe faz tratamento contra um câncer
Nesta semana, o deputado Eduardo Bolsonaro sugeriu que o quadro de depressão de Torres é grave e que ele flerta com a ideia de suicídio na prisão.

Paralelamente, o governador do DF, Ibaneis Rocha, permaneceu afastado do cargo por mais de dois meses. Na época, Lula nomeou um interventor federal: o jornalista Ricardo Capelli, assessor do ministro Flávio Dino. Como precisou rifar o seu general do GSI nesta semana, Lula Capelli foi convocado novamente. Ele assumiu o posto e vai comandar todo o setor de inteligência do governo federal — leia-se: Dino vai centralizar todas as informações a partir de agora.

Existiam menores nas imagens? 
Por que rostos borrados? 
Quem vazou? 
Com qual interesse? O fascismo tenta confundir e dividir. Buscam fraudar a história. Unir nossa tropa e marchar pela democracia. Vamos reconstruir o Brasil.— Ricardo Cappelli (@RicardoCappelli) April 19, 2023
 
Diante da crise em Brasília, Lula antecipou o embarque para Portugal, o sexto país que visita desde que voltou ao poder. O Congresso travou: somente na quarta-feira, dia do vazamento das imagens, a oposição apresentou 150 requerimentos para suspender os trabalhos das comissões temáticas.  
Os plenários da Câmara e do Senado não funcionam por outro motivo: o governo não tem votos para aprovar nenhum projeto.
 
Acuado, Lula mandou sua base escolher quem serão os integrantes da CPMI. A leitura do pedido de abertura da comissão será no dia 26. 
O governo vai brigar pela relatoria ou a presidência da comissão. No Senado, os nomes já foram escalados: Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Renan Calheiros (MDB-AL), Humberto Costa (PT-PE) e Omar Aziz (PSD-AM), o quarteto que atuou na CPI da Pandemia. Na Câmara, o PT vai enviar o casal Gleisi Hoffmann (PR) e Lindbergh Farias (RJ). André Janones (Avante-MG) também quer participar.
 
A tropa lulista tem uma missão clara a partir de agora: impedir que outras imagens e informações sobre decisões tomadas pelo governo no dia 8 de janeiro — ou na véspera — sejam descortinadas.  
O principal temor são as quebras de sigilos telefônicos. 
As trocas de mensagens e o circuito interno de câmeras dos prédios públicos podem responder às perguntas que ficaram pelo caminho.
 
Uma conclusão, contudo, já pode ser tirada. Lula não aprendeu nada com o seu passado, cujo fim da linha foi a prisão — a esta altura da vida, nem vai mais aprender. 
Mais uma vez fica a lição de John Adams, o segundo presidente dos Estados Unidos, cuja biografia ele provavelmente nunca leu. “Os fatos são coisas teimosas. Independentemente dos nossos desejos, das nossas inclinações ou dos ditames de nossas paixões, eles não podem alterar o estado de fatos e evidências.” A verdade começou a aparecer.

Leia também “Dias de loucura”

Silvio Navarro, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Bolsonaro escala ex-ministros: segundo turno acirra disputa no Nordeste

Candidatos ao Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) travaram um duro embate, com acusações mútuas, numa disputa pelo eleitorado dos estados do Nordeste. Com estratégias distintas para alcançar o mesmo objetivo, as duas campanhas preparam investidas nos próximos dias para ganhar terreno na região, dominada pela esquerda nas últimas décadas. Enquanto os petistas vão aproveitar o Dia do Nordestino, comemorado amanhã, para tentar colar em Bolsonaro o selo de preconceituoso, o postulante à reeleição convocou aliados a manterem seus comitês abertos e a militância mobilizada para compensar a ausência de palanques naquelas unidades da federação.

O assunto tomou conta do debate depois que o presidente da República relacionou o bom desempenho de Lula na eleição ao analfabetismo do Nordeste, aproximadamente quatro vezes maior do que as taxas do Sul e Sudeste do país. Durante transmissão ao vivo nas redes sociais, anteontem à noite, Bolsonaro afirmou que “outros dados econômicos também são inferiores” porque tais estados “há 20 anos estão sendo governados pelo PT”. [o presidente Bolsonaro falou apenas e tão somente a verdade - aqui cabe um  'verdade dos fatos'; é uma situação que se arrasta desde o século passado, mas que se acentuou no inicio deste século quando a esquerda, o PT, passaram a governar os estados daquela região. O mentiroso nato, patogênico,  destas eleições é o petista Lula,  e Bolsonaro não quer essa pecha, por ser, merecidamente, de propriedade única e exclusiva do Lula.] 

Lula venceu em nove dos dez estados com maior taxa de analfabetismo. Vocês sabem quais são os estados? No nosso Nordeste. Esses estados estão sendo há 20 anos administrados pelo PT. Onde a esquerda entra leva o analfabetismo, leva a falta de cultura, leva o desemprego, leva a falta de esperança acusou Bolsonaro.

O ex-presidente terminou o primeiro turno com cerca de 13 milhões de votos a mais do que Bolsonaro no Nordeste — 67% a 26,8%. A campanha de Bolsonaro acredita que, apesar da diferença, há espaço para crescer na região. Lula, porém, trabalha para ampliar a rejeição ao adversário naqueles estados, intensificando ataques, como fez ontem. 

(...)

A estratégia bolsonarista no Nordeste passa pela captação do eleitorado feminino e evangélico local. Se entre as mulheres Bolsonaro enfrenta forte rejeição, junto aos religiosos, ele lidera. Nesta quinta-feira, João Roma ciceroneou a ex-ministra e senadora eleita Damares Alves (Republicanos), assim como a deputada federal reeleita Bia Kicis (PL), ambas do Distrito Federal, numa reunião com mulheres conservadoras em Vitória da Conquista (BA). A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também deverá se empenhar na empreitada.

— Vamos atrás das pessoas que estão desinformadas. Vou coordenar essa ação no Nordeste junto com Damares e a primeira-dama. Vamos atrás de deputados, prefeitos, lideranças. Vamos falar com todo mundo — afirmou Bia Kicis.

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Bolsonaro pediu até a aliados que não disputarão o segundo turno para manter seus comitês abertos com o objetivo de facilitar a distribuição do material gráfico do presidente. As ações vão mirar prioritariamente as capitais em que ele venceu em 2018, na disputa contra Fernando Haddad (PT) — Recife, João Pessoa, Fortaleza e Natal. Há a previsão de que haja uma rodada de atos nessas cidades neste fim de semana, possivelmente com a presença do próprio candidato à reeleição ou de Michelle.

Dois dados animam a campanha. Nos cálculos dos bolsonaristas, cerca de 30% dos evangélicos ainda não decidiram em quem votar. O trabalho no Nordeste pode conquistar parte desses brasileiros, na avaliação dos aliados do presidente. Eles também apostam que aumentará a abstenção, tradicionalmente maior no segundo turno, o que tende a prejudicar o candidato que está na frente, no caso, Lula. 

Em O Globo - MATÉRIA COMPLETA

 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Bolsonaro não pode falar “lepra”; querem censurar até o Evangelho

Decisão judicial

Juiz Fabio Tenenblat, da 3ª Vara Federal do Rio de Janeiro, proibiu Bolsonaro de usar o termo lepra em ação movida por associação de portadores de hanseníase - Foto: Alan Santos/PR 

Será que o juiz que ameaçou tirar a guarda dos filhos de pais que não vacinarem as crianças pensou que, com isso, ele vai aplicar a mais grave punição que uma criança pode receber, que é ser retirada dos pais, assim, de repente? Eu não estou falando da criança que é espancada todos os dias e quer se ver livre dos pais. Estou falando da criança que está bem em casa e, de repente, é retirado do convívio dos pais por ordem da Justiça.

Agora, se o juiz obriga que a criança seja vacinada e se, para má sorte do juiz, der uma reação adversa na criança, ele está livrando os pais dessa responsabilidade. Claro que os pais vão sentir, mas o juiz vai ter que assumir a responsabilidade pela vacinação. Será que ele já pensou nisso?

Estou dizendo isso porque tem tanta coisa rolando por aí. Estava vendo os dados do dia 17 de janeiro do hospital da Unimed em Fortaleza, passados pelo próprio presidente da Unimed, dr. Elias Leite. Tem 53 adultos internados lá; desses, 19 tomaram as três doses da vacina; 23 tomaram duas; três tomaram uma; e oito não tomou nenhuma. Na UTI tem 11, sendo que seis tomaram duas doses e quatro tomaram três doses. E sobrou um que não tomou nada. E no Rio Grande do Sul já teve duas mortes de gente que tomou as três doses da vacina.

Aliança a qualquer custo de Lula e Alckmin causa desgaste político

Presidente censurado
Um juiz proibiu o presidente Jair Bolsonaro de pronunciar a palavra "lepra". Isso porque lá em Santa Catarina, no mês passado, num discurso citando o Evangelho de Mateus, Marcos e Lucas, Bolsonaro disse que no tempo de Cristo havia lepra e que ela existe até hoje, e nem por isso o mundo acabou. E que hoje tem o coronavírus e que vai existir daqui para frente e o mundo não acabará.

Uma associação de reintegração dos atingidos pela hanseníase moveu contra a União uma ação, o que é muito justo, para que não se aplique rótulos que podem ser desabonadores ou preconceituosos aos portadores dessa doença e pediu multa diária de R$ 50 mil. O juiz não deu a multa porque a lei que ele citou nem fala em multa.

Só que a lei em que o juiz se baseia, de 1995, bane o termo "lepra" e seus derivados nos documentos oficiais e não na boca das pessoas. Tanto que diz os papéis que não observem a terminologia estabelecida serão imediatamente arquivados e não tem punição nenhuma. Mas o juiz avisa que ninguém na União pode pronunciar o termo "lepra". Então eu fico pensando: um capelão militar, por exemplo, que esteja lendo o Evangelho, vai ter que dizer as palavras "lepra" e "leproso".

 É muito justo que não se pregue estigma em ninguém, mas também o juiz não pode e nem a lei exige que se altere ou censure até o Evngelho. É uma maluquice. É o caso do juiz que é o sapateiro que foi além da sandália.

Asteroide passa perto da Terra
Eu queria terminar falando sobre uma outra ameaça que está muito em voga por causa do filme "Não olhe para cima". Vocês sabem que nesta terça-feira (18) passou um asteroide perto da Terra, o que chegou mais perto em 200 anos. Só que perto, no caso, segundo a Nasa, foram 2 milhões de quilômetros de distância.

Foi um asteroide até não muito grande: tinha um quilômetro de largura. O último que passou em 2017 chegou a ter 84 quilômetros. Ele passou a uma velocidade de 76 mil quilômetros por hora Só para a gente recordar o filme.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 23 de agosto de 2021

CONTRA A INJUSTIÇA TOGADA, CORAGEM! - Valterlucio Bessa Campelo

A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras. (Aristóteles)

Existem determinadas qualidades humanas que desde a antiguidade temos no ocidente como virtudes. São atributos que movem a sociedade na busca da realização do bem, seja a partir do indivíduo ou de grupos. Para Sócrates, quatro virtudes são fundamentais – sabedoria, ou prudência; fortaleza, ou coragem; temperança e justiça. Embora sejam essencialmente qualidades humanas, ele os expandia à cidade. Seu último ato, antes de ser envenenado foi de coragem.

Resumidamente, pode-se dizer, a partir do próprio Sócrates e de Platão e Aristóteles, que Sabedoria, ou prudência, são para fazer boas escolhas, para decidir corretamente, o que leva à racionalidade, à reflexão. Fortaleza, ou coragem, para levar a efeito a decisão tomada, para seguir com retidão, para não sucumbir às dificuldades enfrentadas. Temperança tem a ver com moderação, com freio aos excessos e às paixões. Justiça é a virtude da medida certa, da equidade, das coisas em seus devidos lugares e funções.

Lembrei dos gregos enquanto refletia sobre a prisão recente de Roberto Jefferson, mas não apenas, posto que antes deles vários outros brasileiros tiveram sua liberdade cassada por “delitos de opinião”, no bojo do infame inquérito das “fakenews”, essa monstruosidade criada para perseguir desafetos e fazer a Justiça pender para um lado, o que propriamente dissolve a si mesma. Justiça que tem lado não é verdadeira justiça.

Não pretendo discutir o mérito de nenhuma prisão em si mesma, não tenho, é certo, condições técnicas para isto. Entretanto, como cidadão, percebo uma espécie de agigantamento desproporcional de um poder que o torna assustador. Toda prisão carrega um conteúdo pedagógico, é um exemplo, uma amostra para a sociedade de que determinado ato é punível pela lei de modo severo – o que seria mais severo do que a restrição da liberdade? – então, quando vejo no patamar superior da Justiça brasileira o vezo em calar vozes e opiniões pela força, sinto que de algum modo a minha própria liberdade de expressão está ameaçada.

Possivelmente os áulicos do esquerdismo e o isentismo de cuecas (ou calcinhas) vermelhas se sentem confortáveis com as prisões facilmente decretadas contra seus adversários políticos. A mim, porém, incomoda muitíssimo, porque a pretexto de punir em um ou outro o que filosoficamente se poderia chamar de vício da falta de temperança, ou de prudência, ou as duas juntas, o STF está deliberadamente inibindo na sociedade a virtude da coragem que, segundo Aristóteles, antecede todas as outras. A coragem para ser livre e livremente se expressar está, por certo, ameaçada, intimidada por tantos ataques a este direito inalienável do SER humano.

Lembremos o que disse um dos pais fundadores dos Estados Unidos da América e seu primeiro presidente entre 1789 e 1797, George Washington. À época, adiantou ele que “Quando a LIBERDADE de expressão nos é tirada, logo poderemos ser levados, como ovelhas, mudos e silenciosos, para o abate.” 
Agredidos, vilipendiados é como se sentem aqueles que amam a liberdade e são proibidos de reagir ao monstro togado. 
Satisfeitos é como se sentem aqueles que por covardia ou ignorância abraçam seus futuros algozes. Estes, deveriam estar aprendendo mandarim.
Como se não bastasse censurar, prender e, literalmente, arrebentar, como fizeram com o jornalista Oswaldo Eustáquio (segundo o próprio) através do famigerado inquérito das fakenews, vem ultimamente a mordaça do TSE determinar que as bigh techs desmonetizem canais nas mídias sociais que sejam críticos ao sistema de voto exclusivamente eletrônico, mesmo sendo ele inseguro, como restou provado. 
Não havendo razão ou condições para prender todos, querem asfixiar financeiramente os canais conservadores. 
Enquanto isso, os canais dedicados à propaganda comunista estão à vontade para toda ação deletéria em relação ao governo e à democracia, inclusive para se associarem a governos estrangeiros. 
Aliás, por que se alegra aquele embaixador?

Impressiona que qualquer brasileiro esteja liberado para estupidamente, sem provas, sem sequer indícios, atribuir crimes e insultar o presidente da república ou qualquer do governo, porém, esteja proibido de sequer duvidar, ou questionar a qualidade das urnas utilizadas nas eleições brasileiras, apesar de o TSE jamais haver provado a sua higidez. Pelo contrário, por lá, digo, dentro do sistema eleitoral, durante 6 meses um hacker estagiou impunemente.

Parece que tomar o poder sem ganhar eleições entrou na moda. De Zé Dirceu ao mais idiota útil perambulante nas redações, sindicatos ou universidades, todos vêem a possibilidade de expulsar  um governante mediante expedientes de força, ilegais e infames, como uma opção razoável. Caem no anti-bolsonarismo histérico sem um tostão de reflexão e, assim, ajudam a colocar o Brasil calmamente na antessala do domínio vermelho, à espera de uma venezuelização. Essa gente não mede ou não faz ideia das consequências de sua vileza.

Por seu turno, a velha imprensa, órfã das verbas milionárias que lhe sustentava a ineficiência, cala-se frente à censura e aos desmandos. Os antigos jornalões e as TV’s agacham-se perante a força togada, chegando ao cúmulo de atribuir culpa ao silenciado. Vejam só! A imprensa é incapaz de defender a liberdade de expressão e sedizentes jornalistas a seguem sem se envergonharem.

Como se pode ver nos últimos tempos, a liberdade de expressão de uma parcela da população, a parte conservadora, se transformou alvo do humor de ministros de qualquer tipo e tribunal. 
Querem impor uma narrativa embusteira, historicamente podre, passando por cima dos mais elementares princípios do direito. Pior. Fazem isso sob a complacência das nossas personalidades ditas democratas.
FHC saiu do buraco onde se esconde para passar pano pró autoritarismo. Sociólogos e os filósofos de auditório se calaram. Cadê os defensores dos direitos humanos? Onde se meteram as feministas de sovaco cabeludo? Os intelectuais, os artistas? Onde? Não precisam responder. 
Estão escondidos, achando que golpeando Bolsonaro, o Brasil dará um giro para trás de 20 anos e recuperarão seus prestígios e suas sinecuras. Como faz pra gargalhar numa hora dessas?

Até a velha Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, no passado sóbria e séria, hoje se transformou num puxadinho da esquerda e é incapaz de emitir sequer uma nota em defesa da liberdade de expressão. Pensam eles, talvez, que será suave se transformar em “Ordem dos Advogados Bolivarianos” para não perder a sigla.

Vivemos um momento gravíssimo da história brasileira. Talvez a cisão política levada a cabo pela esquerda odienta, aquela que não se livra do coletivismo mofado e nos últimos 30 anos vem dividindo o Brasil entre pobres e ricos, homens e mulheres, pretos e brancos, homossexuais e heterossexuais, ateus e religiosos, precipite outra ainda maior. Sinceramente, creio que há tempo ainda para a sabedoria e a temperança, do contrário, em busca da maior das virtudes - a justiça, precisaremos muito da primeira - a coragem.

Valterlucio Bessa Campelo escreve opiniões, contos e poemas eventualmente em seu BLOG. 

 

domingo, 6 de outubro de 2019

STF notifica Bolsonaro por relacionar ONGs a queimadas na Amazônia - VEJA

Ministro Alexandre de Moraes acatou pedido de organização ambientalista de Fortaleza feito ao tribunal

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes decidiu notificar o presidente Jair Bolsonaro para que explique a declaração em que atribui a ONGs a responsabilidade por queimadas na Amazônia. A determinação ocorreu na quarta-feira, 2, e atende a pedido da Associação Civil Alternativa Terrazul, de Fortaleza. A notificação do ministro prevê que Bolsonaro responda a oito questionamentos relacionados a declarações que fez em 21 de agosto ao deixar o Palácio da Alvorada.

Na decisão, Moraes aponta que o pedido tem “pertinência” “em primeira análise”. Além disso, lembra, que esta solicitação de esclarecimentos está prevista no Código Penal e tem o objetivo de esclarecer “situações ambíguas” e “viabilizar o exercício futuro de ação penal condenatória”, “sendo cabível em qualquer das modalidades de crimes contra a honra”. Na ocasião, Bolsonaro insinuou que as queimadas estariam relacionadas à suspensão do repasses do Fundo Amazônia a projetos. “Pode estar havendo, não estou afirmando, ação criminosa desses ‘ongueiros’ para exatamente chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil”, disse na época. A fala teve repercussão negativa entre ambientalistas e também na imprensa estrangeira. O presidente nunca apresentou qualquer indício do envolvimento de ONGs com os números recorde de queimadas deste ano. [o Presidente Bolsonaro deixou bem claro que não estava afirmando - condição que leva o assunto para o campo de uma possibilidade e sem citar nomes de nenhuma ONG;

o ministro Alexandre de Moraes entendeu pertinente a pretensão da ONG - que certamente busca com sua atitude atrair holofotes, visto que  tudo indica se trata de uma ilustre desconhecida - apesar do caráter vago do comentário presidencial e sem citar  nomes, determinou a notificação do presidente,  que  tem o direito legal de não responder à notificação , ignorando o assunto.]

Dentre os questionamentos enviados ao presidente estão: “Quais ONGs são as supostas responsáveis pelas queimadas na Floresta Amazônica?”; “Se o interpelado tem conhecimento de quais são essas ONGs porque nenhuma medida foi tomada contra elas até o momento, levando em consideração que estas, de acordo com ele próprio, vem cometendo ato tipificado como crime?”; e “Existem provas concretas de que as ONGs que, supostamente, tiveram repasse de verbas cancelados ou reduzidos estão participando ativamente dos incêndios na floresta amazônica ou isso não passa de mera conjectura do interpelado?”

As demais questões são: “O que o interpelado quis dizer quando disse que ‘ao que tudo indica’? Isto é, existem provas que indivíduos, intencionalmente, foram até locais ‘estratégicos’ para filmar e ‘tocar’ fogo? Em caso positivo, que provas são essas e quem são esses indivíduos?”; “O que o interpelado quis dizer quando disse que ‘isso não está escrito’?”; “Quais são as ONGs que ‘pegam verbas bilionárias’ e fazem campanha contra ele?”; “O que motiva o convencimento do interpelado de que existe interesse de ONGs nas queimadas na Amazônia? Quais são essas ONGs? Se ele tem conhecimento de quais são, por que não as indicou nominalmente?”; e “Qual o motivo do Interpelado entender que existem ONGs que representam interesse estrangeiro? Quais são essas ONGs?”

Na decisão, o ministro cita um trecho do pedido da Associação Civil Alternativa Terrazul, em que ela aponta que o “interpelado e seu governo possuem absoluta aversão e promovem verdadeira cruzada não apenas contra entidades da sociedade civil, mas também o meio ambiente. Prova disso é que, desde que assumiu o cargo de presidente da República, o interpelado, reiteradamente, tomou atitudes e editou legislação com inequívoco intuito de diminuir a atuação dos entes da sociedade civil”.

VEJA - Estadão Conteúdo

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Lições do terror

No fundo, a simples enumeração de ataques é, de forma involuntária, o jogo que interessa aos líderes de facções criminosas

[ele não foi dos mais ativos e eficientes, mas, sabe do que fala.]

Calor absurdo aqui no interior do Mato Grosso do Sul. Coisas do marxismo internacional. Acabo de ler o livro de Afonso Arinos, graças às longas viagens de avião: 1.780 páginas. De tantos pedaços da história, discursos internacionais, personalidades, tenho espaço apenas para destacar uma frase da neta de Arinos. A mulher dele disse que ele andava triste. A menina resolveu consolá-lo: — Vovô, não fique triste, o senhor tem sua casa, seus filhos, a sua bengala…
Livros como o de Arinos e Joaquim Nabuco me reconciliam com o Brasil. Fico orgulhoso de me dedicar ao estudo do país. Em Fortaleza, vi um homem com um carrinho de pequenas frutas amarelas ao longe e disse: seriguelas. O homem se aproximou e, ao passar por nós, perguntei: que fruta é essa? Seriguelas, respondeu.
Fiquei feliz como um menino que passa na prova. Deveria ser um pouco mais sério porque estava cobrindo precisamente a onda de ataques no Ceará. Acontece que estou reavaliando um pouco minha noção de jornalismo. Nossa tendência é dramatizar ataques, cortar as imagens de forma que o fogo e a destruição se destaquem.
Quando examino mais de perto, os ataques, na verdade, são feitos em lugares desertos e em altas horas da noite. Um exemplo disso foi a dinamite que apareceu no metrô. Não tinha detonante, seu objetivo era assustar. Não quero dizer que o tema não seja grave. As cadeias estão superlotadas. As organizações criminosas cresceram muito, não apenas no Ceará. E um grande número de jovens sem emprego ou escola é atraído para as facções. Há alguns anos li um livro sobre um congresso ligado à ONU cujo tema era diplomacia preventiva — como atuar para evitar conflitos, sobretudo aqueles que realmente podem ser evitados.
Na época, falou-se também rapidamente no jornalismo preventivo. Nos anos 1960, tínhamos cadernos teóricos e talvez me dedicasse a escrever sobre essa nova forma de jornalismo. Mas, como as tarefas aumentaram, resta-me tentar aplicar a ideia na prática. Os puristas podem objetar: prevenir? O jornalismo não previne, não evita, nem provoca: apenas informa. Mas é de informação de que se trata. Informar significa também colocar num contexto um pouco mais amplo. Um pouco de estudo militar mostra que ofensivas são um momento delicado: os atacantes se expõem e costumam sofrer grandes perdas.
Com quase 400 pessoas presas, parece que aconteceu com as organizações criminosas do Ceará. Em Fortaleza, há agora um centro de inteligência para todo o Nordeste. Eu visitei o centro, mas não pude entrar porque precisava de licença especial, essas coisas. Imagino que tenham aproveitado esse momento de ofensiva e muitas prisões para entender um pouco mais das organizações criminosas. O que torna o problema do Ceará mais sério ainda é o fato de que muitas de suas coordenadas estão presentes em outros estados. A simples enumeração de ataques, grande parte deles em lugares remotos e escuros, no fundo, é, involuntariamente, o jogo que interessa aos líderes das organizações criminosas.
Eles precisam de um tipo de cobertura para difundir o medo. Mas chega um momento, e isso vale também para o terror político, que é preciso vencer o medo coletivo e encarar a vida com normalidade, mostrar que as coisas seguem, apesar deles. Artistas locais fizeram uma campanha intitulada Quero Meu Ceará de Volta, evocando todas as coisas boas numa cidade tão simpática como Fortaleza: andar nas ruas, ter cadeiras na frente de casa.
A ideia, creio eu, estava numa direção correta. Mas era preciso mais que isso: era preciso retomar as ruas com firmeza. Isso seria também uma tarefa para políticos. Mas eles andam meio escondidos. Exceto os que têm de tratar diretamente do tema pela responsabilidade de governo, os outros são muito discretos, para usar um termo leve. De qualquer forma, creio que os episódios do Ceará surgiram e sumiram sem que houvesse uma discussão mais detalhada sobre eles.
Minha impressão é que já é tempo de avaliarmos as relações de jornalismo e terror. Minha sugestão não é, absolutamente, a de omitir episódios atemorizantes. Em muitos casos, informar com mais profundidade e exatidão pode abrir caminho para que a sociedade compreenda o que se passa e retome as rédeas de seu cotidiano.
 
Fernando Gabeira, jornalista - O Globo
 
 
 

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Criminosos impõem toque de recolher e destroem lâmpadas para ocultar ataques no CE

[Governo não decreta 'estado de sítio' - oportunidade ímpar para dar uma lição inesquecível aos bandidos - os criminosos se antecipam e impõem 'toque de recolher'.

A situação já saiu da capacidade de ação da Força Nacional. Se o Governo postergar a decretação do 'estado do sítio', quando decidir, a medida vai atrapalhar a 'reforma da Previdência']

População de Fortaleza continua insegura; na décima madrugada de atentados, Estado já registrava 180 ocorrências

 Na décima madrugada de ataques no Ceará, o clima em Fortaleza continua sendo de medo e preocupação. Apesar da redução do número de atentados nos últimos dias - foram registrados, oficialmente, 180 até a última quinta-feira, 10 - a população teme que as ocorrências continuem.

No fim da noite, criminosos detonaram uma bomba no viaduto de Messejana, na zona sudeste da capital cearense. A explosão provocou uma pequena cratera no chão e a pista foi interditada pela polícia. "As facções se assustaram com a Força Nacional, mas é só ela ir embora que os ataques vão voltar a acontecer", diz uma comerciante de 36 anos que pede para não ser identificada. Ela mora na Sapiranga, região onde nasceu a Guardiões do Estado (GDE), facção criminosa criada no Ceará. Na rua onde vive, o caminhão de lixo não passa desde o Ano-Novo e uma montanha de dejetos se acumula nas calçadas. 

Além da GDE, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) também atuam nos presídios cearenses e têm sido responsáveis pelos ataques que incendiaram prédios públicos e privados, afetaram a circulação de ônibus e impactaram o dia a dia do cearense na última semana. oradores de bairros mais afastados do centro de Fortaleza relataram, sob a condição de anonimato, que homens ligados aos grupos do crime organizado continuam impondo toque de recolher dentro dos bairros e têm chegado até a queimar lâmpadas dos postes de iluminação pública para impedir a visibilidade no momento dos ataques, que têm acontecido na madrugada.  

Já passava das 19 horas de quinta quando a recepcionista Débora Miranda, de 23 anos, desistiu de entrar no ônibus no Terminal da Parangaba que a levaria até a casa do namorado, na Barra do Ceará, bairro que registrou atentados como a queima de veículos. "Perto da casa dele, estão queimando as lâmpadas dos postes. E no caminho, o ônibus passa por essas ruas, que ficam totalmente escuras. Não tenho coragem de pegar. Não me sinto segura", diz. "Todo mundo ainda continua com medo." 

A assistente administrativa Teresa Souto, de 35 anos, trabalha em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no Canindezinho, onde na quarta-feira um ônibus foi incendiado e a iluminação, cortada. "O atendimento encerrou às 21 horas e só retomou hoje (quinta), às 7 horas", conta. O local funciona 24 horas.   "Como é que o governo diz que os ataques diminuíram? Está todo mundo com medo. Acho que não vai acabar tão cedo. Eles acham que prendendo muitos marginais, vão acabar. Mas é muito bandido", afirma ela. "Estamos em guerra. Com certeza estamos em guerra, para chamar polícias de outros Estados é porque a situação já é de calamidade pública." 

Um motorista de 24 anos, que pede para não se identificar, diz ter percebido a redução dos ataques. "Mas ninguém está confiando que acabou. O crime dentro dos bairros é muito grande. As armas dos traficantes são pesadas, às vezes melhores do que as dos policiais", diz. Um entregador de bebidas relatou ao Estado que foi impedido pelos criminosos de entrar em dois bairros. "Eles chegaram dizendo: 'Ou vocês saem daí ou vamos tacar fogo nesses caminhões", relata. Para ele, se a Força Nacional se retirar, os ataques podem voltar novamente com força.  Nos terminais de ônibus, os coletivos com destinos considerados mais perigosos seguem partindo sob escolta de motoqueiros ou com a presença de dois policiais na porta de entrada. O apoio dos agentes de segurança tem início às 17 horas e segue até as 22 horas. Os ataques a ônibus diminuíram nos últimos dias, mas moradores relatam que agora a estratégia é incendiar espaços e veículos particulares, e não mais públicos.

O Estado de S. Paulo

 

sábado, 11 de agosto de 2018

O curral do coronel - Como a mão pesada do clã Ferreira Gomes, se impõe em Sobral, Ceará e berço político do paulista Ciro

Em Sobral, berço político de Ciro Gomes, candidato do PDT à Presidência da República, cearense nascido em São Paulo, impera a lei dos Ferreira Gomes. Obedece quem tem juízo

Durante a eleição municipal de 2016, o horário de funcionamento da prefeitura de Sobral, segundo maior município do Ceará com 205 mil habitantes, foi alterado a pretexto de economizar energia. Na realidade, a portaria instituída pelo então prefeito Clodoveu Arruda (PT) teve outro propósito: o de mobilizar funcionários públicos para trabalhar na campanha do irmão caçula do candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, Ivo Ferreira Gomes, candidato a administrar a cidade. Um verdadeiro exército de professores, agentes de saúde e secretários municipais cumpriu a missão a contento. Trajados de amarelo, os servidores da prefeitura bateram de porta em porta em favor da candidatura do irmão de Ciro. Durante o corpo-a-corpo eleitoral, houve até quem trocasse votos por água encanada. 

A agricultora Maria do Livramento Paiva, da fazenda Campo Grande, distrito de Taperuaba, confessou à ISTOÉ que, para receber água potável em sua residência, teve de “jurar fidelidade aos Gomes”, que consistia em cabalar o maior número de votos possíveis no seio da própria família. “Por essa água eu me despedacei arrumando voto de todo jeito”, afirmou. O resultado não poderia ter sido diferente: Ivo foi eleito com 57,9 mil votos – 51,4% do total. No primeiro ano de mandato, durante encontro para definir o Plano Plurianual da cidade, Ivo Gomes discursou: “Quem tem o poder sou eu e quem não rezar na minha cartilha vai sair. Experimentem me desafiar”, ameaçou. Os episódios são ilustrativos da influência exercida pelos Ferreira Gomes em Sobral. Mais do que berço político de Ciro, o município se transformou numa espécie de curral eleitoral da família. Ali, impera a lei do mais forte, na acepção do termo.

Não foi sempre assim. Além de primogênito, Ciro Gomes era o filho predileto de José Euclides Ferreira Gomes, o “advogado dos pobres”, como os defensores públicos eram chamados na década de 60, em Sobral. O garoto sempre foi considerado um virtuose. Lia muito e gostava de recitar Camões – chegou a ganhar um concurso para viajar a Portugal. Mas o começo da vida não foi fácil para o candidato do PST ao Planalto. Estudou em escola pública – Colégio Dom José –, pois os pais não tinham dinheiro. Conseguiu ingressar no Colégio Sobralense, privado, faltando apenas três anos para o vestibular. Ciro era resiliente. Para concluir o curso de Direito em Fortaleza, onde foi aprovado em 1º lugar, teve que morar num mosteiro de franciscanos. Motivo: o aluguel era mais barato. A situação mudou da água para o vinho em 1976 com a eleição do pai para a prefeitura de Sobral. Eleito, José Euclides fez um bom mandato e se vinculou ao coronel Cesar Calos, que virou ministro das Minas e Energia do governo João Figueiredo. A partir de então passou a mandar e desmandar na cidade, catapultando a carreira política do filho. O município foi a plataforma que lançou o aspirante ao Planalto a vôos mais altos, destaques para as eleições a prefeito de Fortaleza, governo do Ceará e para a nomeação a ministro da Fazenda do governo Itamar Franco. 

Relatos
Hoje, em Sobral, a família é detentora de 50% do eleitorado. Outros 20% votariam neles por medo, segundo revelou Luiz Melo Torquato, 77, ex-presidente do Guarany de Sobral. Torquato, que acompanha a vida política do clã Ferreira Gomes desde suas raízes, lembra que, ao todo, a cidade já teve seis prefeitos da família.  “Ciro gosta de falar o que o povo gosta de ouvir”, disse o empresário, emendando na sequência uma ponta de mágoa e frustração. Ele conta que eles eram muito amigos, mas que Ciro “se contaminou” ao se cercar “de gente grande e poderosa”. “Ciro era muito inteligente e honesto, mas virou uma máquina mortífera com quem passou a se opor a ele. Basta ver a rasteira que deu no ex-governador do Ceará Tasso Jereissati e Lúcio Alcântara, homens que investiram nele sem medir esforços e o colocou em cargos importantes que o projetou no cenário nacional e depois foram traídos”, lamenta.  Torquato não é voz isolada. Professor de português no colégio Sobralense, hoje extinto, o padre Osvaldo Carneiro Chaves, aos 94 anos, enrijece os músculos do rosto e pede para mudar de assunto quando indagado sobre seu ex-aluno Ciro Gomes: “Tem tanta gente no mundo, vamos falar de outras pessoas”, suplicou ele.

Perguntado com insistência se Ciro ao menos era um aluno aplicado, Chaves respondeu com rispidez: “Era uma estrela, mas um aluno aplicado não se julga pelas notas e sim pela sua capacidade de trabalho e pelo respeito ao próximo”. Contemporâneo de Ciro no Colégio Marista Cearense, na década de 70, o engenheiro Hermenegildo Souza Neto atesta a fama de “geniozinho de temperamento forte” do hoje aspirante à Presidência. Conta que o presidenciável se destacava, ajudava amigos de sala e não precisava estudar muito para tirar boas notas. “Nos dias de provas todos queriam sentar perto dele para pescar as questões”, afirma. Mas lamenta que Ciro “engrossou o pescoço depois que entrou na política”: “Ele se acha melhor que todo mundo”.

Agricultora disse que, para receber água potável em sua residência, teve de “jurar fidelidade aos Gomes”. Ou seja, votar e pedir votos para eles

Embora, nas recentes sabatinas, tente exibir um semblante mais sereno, Ciro mudou pouco, garantem moradores de Sobral. O jeitão explosivo pode até permanecer em stand by durante alguns momentos, mas segue latente, pronto para aflorar a qualquer hora. Como em setembro de 2016, quando, segundo testemunhas, Ciro percorria o distrito de Taperuaba, distante 65 quilômetros de Sobral, fazendo visitas e pedindo votos para o irmão Ivo. Incomodado com uma moto que o seguia, o candidato do PDT ao Planalto desceu do carro embebido em fúria, xingou o rapaz e tentou agredi-lo. Qual não foi sua surpresa: o motoqueiro conhecido por Júnior era dono de um certeiro cruzado de direita. Ciro acabou nocauteado com um único soco no rosto e precisou ser amparado por seus seguranças. O caso foi abafado.

Em novembro do ano passado, a família de Ciro sofreu o que seria o seu maior revés na cidade. A justiça eleitoral cassou o diploma de Ivo Ferreira Gomes, por compra de votos. Na ocasião, o Ministério Público Federal também foi favorável à cassação, mas o poder da oligarquia falou mais alto e o quadro foi revertido no TRE, em Fortaleza. Na última semana, o MDB e o Ministério Público Eleitoral impetraram um embargo de declaração e o processo seguiu para o TSE. Ivo atribui as recentes desventuras à oposição. O momento para os Ferreira Gomes não mesmo é favorável em seu berço político. Além da pendenga eleitoral, Sobral vive uma escalada de violência, com aumento do número de homicídios e bairros inteiros dominados por facções criminosas. De tantos mandos, o reduto dos Ferreira Gomes no interior do Ceará virou um desmando.


IstoÉ


 

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Marcola mandou matar líderes do PCC no CE

Bilhete apreendido em prisão indica que Marcola mandou matar líderes do PCC no CE

Bilhete apreendido no domingo com uma pessoa que visitava os presos na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior paulista, indica que Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, foi quem mandou matar Rogério Geremias de Simone, o Gegê do Mangue, de 41 anos , e Fabiano Alves de Souza, o Paca, de 38, no Ceará, na semana passada, em uma reserva indígena no Ceará.


Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola (Crédito: Reprodução/CRPPB)

Segundo o bilhete, um traficante conhecido como Fuminho teria executado Gegê e Paca, dois integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) que eram, até então, as mais importantes lideranças soltas. Com a morte dos dois, Fuminho assumiu esse posto." Ontem, fomos chamados em umas ideias, aonde nosso irmão Cabelo Duro deixou nois ciente que o Fuminho mandou matar o GG e o Paka. Inclusive, o irmão Cabelo Duro e mais alguns irmãos são prova que os irmãos estavam roubando (sic)”, diz o bilhete.

Os líderes mortos no Ceará viveram nos últimos meses numa mansão no Condomínio de Luxo Alphaville, no Porto das Dunas, em Aquiraz, região metropolitana de Fortaleza.
A dupla comprou uma casa no local por R$ 2 milhões, em um pagamento em dez cheques de R$ 200 mil.

IstoÉ

 

sexta-feira, 26 de maio de 2017

As finanças do Flamengo: mesmo minado pelo passado, o milagre econômico continua

Eduardo Bandeira de Mello é cobrado por títulos, mas nunca pôde gastar a riqueza que gerou. O jogo começou a virar em 2016 – e tudo indica que continuará a melhorar 

"O Flamengo tem a justa fama de clube mau pagador. Não tem transparência. Não tem qualidade na governança. Chega a ser irresponsável no papel de contribuinte. [...] Não vamos descansar enquanto não conseguirmos equacionar esse passivo que não é só financeiro. É ético. É moral." 




Eis um trecho do discurso de posse de Eduardo Bandeira de Mello, no distante 12 de dezembro de 2012, perante dezenas de conselheiros e da constrangida  antecessora  Patrícia Amorim. Relembrar a ocasião parece chover no molhado. Em quatro anos, o cartola recuperou as finanças do clube. Mais do que isso, colou em sua gestão um selo raro no futebol brasileiro: o da boa administração. Com justiça. E sob pressão. Por parecer tão rico, o time ganhou a obrigação de ser campeão – coisa que, de fato, fez pouco. Ainda mais agora, eliminado na fase de grupos da Libertadores, o coro aumenta. E os títulos, Flamengo?

[A eliminação precoce    na Libertadores atrapalhou bastante. 
Felizmente, o Flamengo tem em 2017 várias competições e conseguirá diminuir a falta do título da Libertadores.
Matheus Sávio conseguiu aliviar um pouco o sentimento de culpa e merece uma outra chance.
Agora quem precisa sair do Flamengo, com urgência urgentíssima é o Rafael Vaz. Só atrapalha.
Precisa ser doado urgentemente, o importante para o Flamengo é que Rafael Vaz vá embora.]

A direção rubro-negra comanda um clube que, por causa das perversas administrações anteriores, não opera com capacidade plena. O faturamento, sim, explodiu em quatro anos. Foi de R$ 273 milhões em 2013 para R$ 469 milhões em 2016, um crescimento de 72% (guarde esse percentual). Isso aconteceu muito em função da reformulação moral que Bandeira citou em seu discurso de posse. A cena de um gigante do futebol sendo assumido por um time de executivos de grandes empresas ajudou a dobrar a receita do departamento comercial, triplicar a renda com bilheterias e sócios-torcedores, além do contrato de direitos de transmissão, que foi junto. Tudo dobrou, nestes quatro anos, e aí está a razão para a imagem de riqueza que colou e não desgruda do Flamengo de 2017.

O que pouca gente reparou é que, apesar de as receitas terem aumentado bruscamente, a maior parte disso foi usada para pagar dívidas, não para elevar despesas. O quesito que melhor indica a qualidade de um time de futebol, no aspecto financeiro, é o gasto com remunerações. Aqui contam salários, direitos de imagem e direitos de arena. A equipe de 2013 custava R$ 124 milhões. Quatro anos depois, a de 2016 demandou R$ 155 milhões. Repare que as remunerações subiram 25% enquanto o faturamento aumentou em 72%. A diferença entre um percentual e outro é explicada pelas dívidas. A maior parte do incremento de arrecadação foi parar não no Flamengo de 2016, mas nos times de 2012, 2011, 2010... Aqueles que entraram em campo, por vezes foram campeões, mas não receberam tudo o que os cartolas da época prometeram que pagariam.

O endividamento dá o tom sobre o milagre econômico que Bandeira realizou nestes quatro anos. Em 2012, o clube devia R$ 726 milhões na praça. O problema foi reduzido ano a ano graças aos superávits – o saldo entre receitas e despesas operacionais. As dívidas fiscais foram alongadas em 2015, depois que o governo federal instituiu o Profut e permitiu aos times de futebol parcelar seus débitos em até 20 anos, com descontos em multas, juros e encargos. A gestão conseguiu manter em pé o acordo do Ato Trabalhistao único entre os grandes do Rio de Janeiro que não foi excluído nesse meio-tempo. 

Trata-se de uma fila de ex-funcionários a quem o clube deve. Os dirigentes pagam todo mês alguma quantia, e os credores vão recebendo até que a fila acabe. As reduções dessas duas dívidas, fiscal e trabalhista, fizeram com que o Flamengo devesse R$ 470 milhões em 2016.

A boa reputação financeira faz torcedores e imprensa acreditar que os problemas financeiros acabaram na Gávea. Não acabaram. Embora gere muita receita, a direção de Bandeira não gera receita suficiente para arcar com as despesas e ainda com as dívidas de curto prazo. O passado ainda pesa sobre os ombros dos dirigentes rubro-negros. E o clube gira com empréstimos bancários. De 2013 para a frente, o time tomou R$ 50 milhões com instituições financeiras em praticamente todas as temporadas. Só em 2016 o montante de novos empréstimos caiu para R$ 36 milhões. A dívida bancária ainda é grande. Em dezembro de 2016, o clube tinha um débito de R$ 112 milhões com bancos, uma dívida problemática porque acompanha juros agressivos e gera uma despesa financeira considerável – mais uma que tira do futebol. Não havia outra saída.

A comparação com o Palmeiras, outro novo-rico do futebol brasileiro, é inevitável. As dívidas palmeirenses foram aliviadas por um caminho diferente. Paulo Nobre, bilionário e presidente, injetou R$ 200 milhões pessoais e sanou o endividamento alviverde. Isso, somado ao patrocínio de Leila Pereira e à estabilidade financeira que o Allianz Parque proporcionou, fez com que os paulistas subissem a folha salarial de R$ 97 milhões em 2013 para R$ 198 milhões em 2016. Como o Flamengo teve de tomar outro caminho para reduzir e alongar suas dívidas, a folha rubro-negra subiu de R$ 124 milhões para os R$ 155 milhões já mencionados parágrafos atrás. Na realidade, o Flamengo só chegou ao "segundo lugar" em gastos com remunerações em 2016, seguido de perto por Cruzeiro e São Paulo, times que estão próximos da casa dos R$ 150 milhões. Em 2015, já com a reputação de ricaço, o time era apenas o sétimo da lista.

Nada disso tira do departamento de futebol flamenguista, comandado pelo executivo Rodrigo Caetano, a obrigação de conseguir resultados. A queda na primeira fase da Libertadores em 2017 é certamente decepcionante. A eliminação precoce na Copa do Brasil de 2016 diante do Fortaleza também foi um vexame, mesmo com o terceiro lugar no Campeonato Brasileiro. O Flamengo já tem porte financeiro (não só em receitas, mas em gastos) para peitar qualquer grande equipe sul-americana. Falta eficiência no investimento. Mas os resultados abaixo da expectativa precisam ser digeridos com sobriedade. Em primeiro lugar porque eles não desmerecem, de jeito nenhum, os significativos avanços feitos pela gestão de Bandeira nos campos administrativo, jurídico e financeiro. E, depois, porque talvez a expectativa seja exagerada por um punhado de motivos. O clube é festejado publicamente pela gestão, marcado pela riqueza, mas na realidade não pôde gastar tudo o que arrecadou com o presente porque tem uma herança desgraçada.

A perspectiva para 2017 é mais uma vez positiva, apesar do fracasso na Libertadores. O orçamento feito no término de 2016 é o único no país a prever um superávit superior a R$ 50 milhões – um dinheiro que tende a ser consumido mais por dívidas do que por investimentos. De novo. E há reviravoltas. A transferência de Vinicius Júnior para o Real Madrid deve render cerca de R$ 100 milhões limpos, já descontados impostos e comissões, um dinheiro inesperado e sem precedentes. O clube não tem bom histórico como vendedor de jogadores. Talvez seja a primeira ocasião em que Bandeira poderá pôr as mãos numa fortuna e usar a maior parte dela para investir, seja em atletas, seja em infraestrutura, em vez de vê-la parar nos bolsos de credores. 

Ainda que o imbróglio com o Maracanã esteja longe de ser resolvido com Odebrecht e governo do Rio, problema que sacrificará rendas flamenguistas com bilheterias e sócios-torcedores, o dirigente chega enfim ao ano em que poderá gastar. 

A probabilidade de títulos está aumentando, Flamengo.

>> Especial: As análises individuais das finanças de 18 clubes

 

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Temer é vítima de uma conspiração

Pesquisem a etimologia da palavra "conspiração". Lá está o verbo "spiiro", que significa "soprar", "respirar", mas também "emitir um odor". A conspiração, então, é uma teia de sopros, respiros e odores subalternos. Metaforicamente, é o cochicho das sombras. Cecília Meireles soube trabalhar tal origem no seu magnífico "Romanceiro da Inconfidência". Pesquisem a respeito.

É claro que o presidente Michel Temer está sendo vítima de uma conspiração meticulosa e muito bem-sucedida. Todos sabem que os irmãos Joesley e Wesley Batista eram íntimos e grandes beneficiários do regime petista. Aliás, dava-se de barato: querem pegar o PT? Então peguem a JBS. A coisa ganhou até tradução popular. Que jornalista não foi indagado no táxi sobre uma suposta fazenda de Lulinha, em sociedade com a JBS? Que se saiba, tudo conversa mole. Nunca houve.

Mas a dupla caiu na rede da Lava Jato. Os irmãos foram assediados pela força-tarefa. Sabe-se lá com quantas ameaças. Como não devem ter memória muito limpa do que fizeram nos verões passados, resolveram "colaborar". Mas não com uma delação premiada no molde Marcelo Odebrecht. Não!  Empregou-se a tática aplicada no caso Sérgio Machado, aquele que se dispôs a gravar peixões da República. Com a mesma generosidade. Em troca, os filhos de Machado nem processados foram. O criminoso pegou dois anos e três meses de cadeia em sua mansão, em Fortaleza.

Aos irmãos Batista se ofereceu ainda mais: "Entreguem o presidente da República, apelando a uma conversa induzida, gravada de forma clandestina. Façam o mesmo com o principal líder da oposição, e vocês nem precisarão ficar no Brasil, sentindo o odor dessa pobrada, que vai pagar o pato. Nós os condenaremos a morar em apartamento de bilionário em Nova York. Impunidade nunca mais!"

Querem saber?  Sim, sou grato ao Ministério Público Federal e à tal força-tarefa. Oh, sim, também pelos relevantes serviços prestados no combate à corrupção. Lembrando o cineasta Bertolucci, sob o pretexto de caçar tarados, vocês ainda chegam ao fascismo, valentes! Avante, "giovinezza, giovinezza,/ Primavera di bellezza/ (...)/ Per Janot, Dallagnol, la mostra Patria bella".

Sim, sou grato a todos os Torquemadas e Savonarolas da política porque admitem, na prática, agora sem nesga para contestação, que eu estava certo. Os procuradores têm um projeto de poder e estão destinados a refundar a República. E, por óbvio, seu viés é de natureza revolucionária, não reformista. Em recente prefácio que escreveu, o juiz Sergio Moro alcançou voos condoreiros: haverá dor.  Sim, sou grato a esses patriotas porque, quando afirmei, há meses, que a direita xucra estava se juntando a alguns porras-loucas, com poder de polícia, para devolver o poder às esquerdas, alguns tentaram me tachar de maluco. Perdi amigos –não por iniciativa minha. E, no entanto, tudo está aí, claro como a luz do dia.

Então vamos ver. O presidente Michel Temer disse que não renuncia. Sim, ele é um político, é hábil, é consciencioso e certamente saberá avaliar, de forma criteriosa, as circunstâncias. Estas são sempre boas conselheiras dos prudentes. Como ele próprio lembrou, trechos de gravações vêm a público naquele que é o melhor momento do governo.  No breve pronunciamento que fez nesta quinta, Temer subiu um pouco o tom —ou o som— que lhe é habitual. Havia uma irritação extrema, mas contida (como é de seu feitio). A tensão era óbvia.

O Brasil está pronto para ser o território livre do surrealismo jurídico.  Ali falava um presidente da República, ninguém menos, a negar a renúncia, mas sem saber do que era acusado. Tinha consciência, sim, de que o relator do petrolão no STF, Edson Fachin, já havia aceitado o pedido de investigação. Mas ele próprio não tinha ouvido nada. O conteúdo já foi liberado.  Ali falava um presidente da República, ninguém menos, que lutava para não ser refém do Terror Jurídico em curso no país. Sob o pretexto de "cassar tarados".

O Brasil afunda, e a esquerda deita e rola.


Fonte: Folha de S. Paulo - Coluna do Reinaldo Azevedo