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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Em missa por irmão de Lula, militantes acendem velas e pedem justiça

Ex-presidente não teve autorização do Judiciário e da PF para acompanhar funeral  

[na realidade não seria um funeral ou velório e sim show-velo-mício, para o presidiário deitar falação para as duas centenas de militontos que lá estiveram.

Oportuno destacar que pela primeira vez, morto faz papel de figurante no próprio velório (frase de  comentário de um competente colunista).]

Em uma celebração ecumênica nesta terça-feira (5) em frente à Polícia Federal do Paraná, onde o ex-presidente Lula está preso, militantes e religiosos homenagearam o irmão do petista, morto na semana passada, e pediram justiça.
Genival Inácio da Silva, o Vavá, morreu na semana passada, aos 79 anos, em São Paulo. A Justiça e a Polícia Federal não autorizaram que Lula saísse da prisão para ir ao enterro.
“Nem isso respeitam”, disse o padre Domenico Costella, que chegou a ficar com a voz embargada. “Até os romanos mostravam piedade diante da morte. Nem isso.”

A missa foi acompanhada por cerca de 200 pessoas, na vigília em frente à PF. Nenhum familiar do ex-presidente estava no local —as visitas da família devem ocorrer na quinta.  Metalúrgicos e sindicalistas de São Paulo, Santa Catarina e de Minas Gerais viajaram para participar do evento.  Lula está detido desde abril, depois de ter sido condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro.  O petista afirma ser inocente e diz ser alvo de uma perseguição jurídica.

O frei Aloísio Fragoso de Morais citou um trecho do evangelho de Mateus: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”.
“Lula só não está morto porque a justiça ainda vive em nós”, afirmou.
Ele ainda mencionou “aqueles que dão a vida em nome da justiça, os mártires”, e elogiou a paixão dos militantes.

Em meio aos cantos religiosos, os militantes erguiam as mãos fazendo o sinal de “L” e gritavam “Lula livre” e “Glória a Deus”. “É pelo Lula, pelo Vavá que a militância nunca para de lutar”, gritaram.  Ao final da celebração, o grupo gritou “boa noite” ao ex-presidente, do lado de fora do prédio, acendendo velas erguidas em bocas de garrafa pet.  Lula está detido numa sala adaptada, no prédio da superintendência da PF no Paraná. [a mudança do presidiário Lula para uma penitenciária comum, dividindo a cela com uns 40 bandidos comuns, deverá ocorrer no final abril próximo.
Lula ultrapassou no dia 2 de fevereiro a barreira dos 300 dias em cana.]


Folha de S. Paulo
 

 

sábado, 19 de março de 2016

Cálculo de multidões: ciência contra o “chutômetro”

O protesto do dia 13 de março em São Paulo reuniu 500 mil pessoas (Datafolha), 1,4 milhão (PM) ou 2,5 milhões (Vem Pra Rua)? 

Entenda como são feitas as medições

Talvez esteja no Evangelho de Mateus, capítulo 14, versículo 21, a mãe de todas as imprecisões na contagem de pessoas em eventos públicos. A passagem trata do milagre da multiplicação de pães e peixes por Jesus, e diz: "Os que comeram foram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças". Pobre Mateus se tentasse se safar com esses números nos dias de hoje. Provavelmente seria linchado pelos "romanos" das redes sociais. 

Como visto nas recentes manifestações contra o governo federal e o PT, é comum haver uma grande discrepância nas estimativas sobre participação de público divulgadas por autoridades, imprensa e organizadores dos eventos. Isso ocorre basicamente por dois motivos: é muito difícil fazer a contagem precisa de uma grande aglomeração de pessoas em uma área aberta; e sempre fortes interesses envolvidos nas estimativas, o que faz com que sejam infladas ou subestimadas.

Na manifestação do dia 13 de março em São Paulo, o Datafolha informou que o protesto reuniu 500.000 pessoas. Para a Polícia Militar, foram 1,4 milhão. Um dos organizadores do evento, o movimento Vem Pra Rua, divulgou que 2,5 milhões de pessoas passaram peal Avenida Paulista naquela tarde de domingo. "Na ausência de estimativas precisas e metodologias claras, o público fica refém de uma visão tisnada pelos interesses das pessoas que fazem as contagens. A sociedade ficaria melhor informada por uma estimativa técnica sem nenhum viés político ou ideológico", escreve em um estudo o professor Paul Yip, especialista em analise de dados da Universidade de Hong Kong.

Especialistas em contagem de multidão e estimativas de público afirmaram à reportagem de VEJA que o número do Datafolha, ainda que não seja 100% preciso, é o mais próximo da realidade por um simples motivo: não cabem 1 milhão de pessoas na Paulista. Rogério Chequer, líder do Vem Pra Rua, afirma que a medição deles é uma estimativa com base no números da PM. "Não temos tecnologia para medir", admitiu. Já a PM do Estado de São Paulo não retornou os contatos da reportagem de VEJA para explicar sua metodologia. 

O instituto Datafolha, com imagens de satélite e pesquisadores e medições, apurou que a Av. Paulista tem 136.000 metros quadrados disponíveis para a concentração de pessoas - incluindo as vias, calçadas, canteiro central, vão livre do MASP e até mesmo os túneis sob a Praça do Ciclista. Para caber 1 milhão de pessoas neste espaço, seria preciso haver uma concentração de 7,5 pessoas por metro quadrado ao longo de toda a área disponível. É algo inviável.


 Para efeito de comparação, nos horários de pico do metrô, a concentração nos vagões é algo entre 6 e 7 pessoas por metro quadrado, e elas mal se movem, acomodam-se umas coladas às outras. Em uma manifestação, com áreas de maior e menor densidade, esse nível de concentração acontece somente em espaços limitados - perto dos carros de som ou das entradas do metrô, por exemplo. Na manifestação do dia 13, "para acomodar 1,5 milhão de pessoas, seria necessário a ocupação não só da Paulista como da Av. da Consolação inteira, sem espaços visíveis, com concentração de sete pessoas por metro quadrado, nível que só se atinge em situações de confinamento", explica Alessandro Janoni, diretor de pesquisas do Datafolha.

O instituto possui registros fotográficos de diferentes concentrações ao longo da via, com espaços pouco ocupados, inclusive com transversais e paralelas abertas para veículos mesmo no horário de pico. Com a evolução dos softwares de georreferenciamento, os cálculos são mais rápidos, com a possibilidade de ajustes em tempo real. É possível, com poucos cliques, excluir a área do vão livre do MASP caso a PM impeça a sua ocupação. Da mesma forma, consegue-se ao longo da medição incluir áreas que não haviam sido considerados no planejamento inicial, como parte da Av. da Consolação e as transversais da Paulista, por exemplo.

Busca pela precisão - O método de contagem de pessoas em uma multidão mais utilizado foi criado na década de 1960 por um professor da Universidade de Berkley, na Califórnia. Observando os protestos contra a Guerra do Vietnã de sua janela, Herbert Jacobs estabeleceu que para avaliar o tamanho das manifestações era preciso medir a área ocupada e dividi-la por quadrantes. Bastava analisar a concentração de pessoas em cada quadrante para obter a soma final. Em busca da precisão, o chamado método Jacobs evoluiu e a contagem incorporou projeções matemáticas para balancear a diferença entre as áreas de maior e menor densidade.

Apesar das evoluções técnicas, a estimativa de multidões se mantém imprecisa. Na tentativa de aperfeiçoar a contagem e reduzir a margem de erro, o arquiteto Curt Westergard, fundador da empresa Digital Design and Imaging Service (DDIS), desenvolveu uma nova metodologia. Em 2010, a DDIS causou frisson nos EUA ao divulgar a medição de audiência de dois eventos em Washington. Depois disso, seus trabalhos passaram a ser cada vez mais requisitados.

Na época a emissora CBS News contratou a empresa para estimar o número de pessoas se reuniu em uma manifestação organizada por um apresentador da Fox News e em outra coordenada por comediantes. No primeiro evento, os organizadores anunciaram 500.000 pessoas; Westergard e sua equipe contaram 87.000, com uma margem de erro de 9.000 pessoas para mais ou menos. Na segunda manifestação, visivelmente mais numerosa, um dos comediantes brincou que havia 10 milhões de pessoas; mas a DDIS contou 250.000, com uma margem de erro de 10%. "Um ponto de partida básico é saber a capacidade total do local da manifestação. Qualquer estimativa acima do limite físico é um erro", diz Westergard sobre os chutes dos organizadores.

A empresa chegou a aos seus números combinando diferentes dados: a medição prévia das áreas ocupadas; uma série de fotografias aéreas feitas por balões em diferentes momentos da manifestação; a presença de pessoas no local coletando dados quantitativos e qualitativos; e o uso de um modelo em 3D do local do evento, no caso, o National Mall (o grande parque urbano entre o Lincoln Memorial e o Congresso). "O uso da modelagem 3D é importante para captar irregularidades no terreno e pessoas em locais que as fotografias aéreas planas não mostram, como áreas sombreadas ou encobertas por construções e árvores", explica Westergard.

A principal diferença entre o método Jacobs e o da DDIS é que a equipe de Westergard não estabelece uma grade sobre uma superfície plana, mas constrói digitalmente uma rede de pesca sobre um modelo 3D para capturar a topografia e a distribuição mais precisa das pessoas em um determinado local. De 2010 para hoje, a tecnologia já avançou e as medições da DDIS estão ainda mais precisas, com fotos de melhor resolução e maquetes em 3D mais realistas.

O diretor de pesquisa do Datafolha reconhece que com esse modelo "a precisão é maior do que em fotos verticais tradicionais". Conscientes da disputa de interesses que cercam as estimativas de pessoas em manifestações, Westergard e Janoni buscam antídoto na acurácia do tratamento dos dados. "Divulgamos o que os dados mostram", diz o especialista americano. "Não são números exatos, nenhum será. Mas são as estimativas mais embasadas na ciência que podemos ter." Segundo o diretor do Datafolha, buscar números próximos da realidade é questão de "sobrevivência". "Queremos manter nossa reputação de imparcialidade, é fundamental para a sobrevivência de nossa empresa", diz Westergard . "E entendemos que no debate passional que domina o país, a frieza de alguns números venha a chocarn ou irritar", completa Janoni. Chocam e irritam mesmo - mas a ciência deve prevalecer sobre o "chutômetro".

Fonte: Revista VEJA