Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Fukushima. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Fukushima. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 10 de março de 2022

Na coleira de Putin: a dependência europeia do gás natural russo - VOZES

 Flavio Gordon

Koni estranhou a silhueta desconhecida e o som daquela voz. Em busca de compreensão, inclinou a cabeça de lado, como tendem a fazer os de sua espécie. Embora imperceptível às demais criaturas presentes, o cheiro de repolho fermentado, mais carregado no sal do que a habitual salmoura doméstica, logo excitou suas sensíveis células olfativas. Acostumado a cheirar as mãos do dono, que o contemplava com um sorriso ao mesmo tempo zombeteiro e orgulhoso, o imponente cão julgou por bem fazer o mesmo com a convidada, fonte de tão inédito olor. Esta, vítima de um ataque canino no ano de 1995, crispou-se de visíveis constrangimento e temor.

A inspeção farejadora durou pouc
o. Apenas pelas diferenças no tom da voz e postura corporal, a intuição canina dera ao animal a certeza de que o poder ali permanecia nas mesmas mãos, e que, tal como ele próprio, a nova criatura no pedaço haveria de acomodar-se gostosamente à autoridade do velho dono. Koni espantou-se apenas com o fato de, conquanto solta como ele, mas pela curiosa rigidez dos músculos, a outra mais parecesse encoleirada. Tratava-se, afinal, de um cachorro muito perspicaz, herdeiro de um centenário clã de farejadores a serviço da polícia secreta. A habilidade de farejar fragilidades emocionais e psíquicas era questão de pedigree.

 
O encontro ao qual Koni compareceu em condição estratégica, e sobre o qual, posto que nominalmente irracional, extraiu conclusões tão razoáveis, aconteceu no ano de 2007, na bela dacha de Vladimir Putin em Sochi, cidade localizada à beira-mar. Sim, o dono de Koni era o presidente russo, que então recebia para uma conversa sobre fornecimento de energia a chanceler alemã Angela Merkel – objeto dos perspicazes insights caninos. Com efeito, intimidada pela presença do labrador preto, e inteiramente submissa ao seu dono, Angela estava mesmo na coleira.

Posto que altamente simbólico do ponto de vista das relações interespecíficas envolvidas, o encontro em Sochi era apenas mais um episódio no processo de aprofundamento da dependência alemã do gás natural russo. Esse processo, que se iniciara com o filo-russo Gerhard Schröder, antecessor de Angela, agravou-se bastante com essa última, grande entusiasta da agenda anti-combustíveis fósseis da União Europeia, instrumentalizada, por exemplo, pelo Comércio Europeu de Licenças de Emissão, um dos produtos do famigerado Protocolo de Quioto. Guiada por ideólogos da “sustentabilidade”, Merkel era um dos líderes europeus para os quais a mudança para o gás natural preencheria o vácuo entre o estágio de abandono do arcaico carvão e a fase da futura consolidação das energias renováveis.

Resta que as implicações políticas dessa exaltada mudança são bem conhecidas. Quase metade do fornecimento de gás natural para a Europa provém da Rússia uma proporção que tende a aumentar caso seja retomado o projeto do gasoduto Nord Stream 2, recentemente suspenso por conta da guerra, mas nada garante que de forma permanente. E, como prevê a Eurogas, o consumo europeu de gás natural utilizado tanto para aquecimento quanto para gerar eletricidade – deve aumentar entre 14% e 23% até 2030, o que provavelmente deixará mais justa a coleira do Kremlin em torno do pescoço do Velho Continente.

Dentre as razões para o aumento do consumo de gás natural,
destaca-se, por um lado, a radical agenda ambientalista de redução de emissão de CO2, cujo fundamento está na mitologia pseudocientífica e milenarista do aquecimento global antropogênico. E, por outro, o abandono do investimento em energia nuclear, também causado por histeria e alarmismo em torno da possibilidade de acidentes como os de Chernobyl e Fukushima. No ano 2000, por exemplo, o governo alemão assinou um tratado prometendo fechar todas as usinas nucleares até o presente ano, 2022. Sem combustíveis fósseis e sem energia nuclear, resta, obviamente, o gás natural, pelo menos até que as energias renováveis se tornem menos custosas.

O problema é que o aumento da dependência de gás natural fruto de muita ideologia e pouca racionalidade coincide com a diminuição de fontes alternativas para sua obtenção, (como as do Mar do Norte), 
criando uma situação obviamente explorada pela Rússia de Putin. Diante desse contexto, nações do Leste Europeu, a exemplo da Polônia, República Checa e Hungria, mostram-se apreensivas ao constatar que se encontram tanto mais vulneráveis aos fortes ventos geopolíticos que lhes chegam do Oriente quanto mais sujeitos a uma estratégia de redução de emissões formulada a muitas léguas dali, em Bruxelas. A cruzada contra os combustíveis fósseis é particularmente nociva a países como a Polônia, no qual esses combustíveis respondem por aproximadamente 80% da produção de energia.

Com o mercado cada vez mais regulado desde cima, e na medida do crescente controle russo sobre a oferta, esses países veem o futuro de modo ainda mais tenebroso do que estados-membros mais ricos da EU, nos quais o investimento em energias renováveis é muito maior. Antes da presente guerra, enquanto a política afetava mais sensivelmente os países mais carbono-dependentes, a Comissão Europeia pressionava por mais restrições às emissões. Resta saber se, agora, com o projeto imperialista neossoviético avançando obstinadamente, a Alemanha e outras nações ricas do bloco continuarão dóceis e submissas, presas na coleira curta de Vladimir Putin.

Flavio Gordon, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 


domingo, 20 de outubro de 2019

VAZAMENTO DE ÓLEO - Omissão frente à tragédia - O Globo

Bernardo Mello Franco

Tragédia e omissão no litoral do Nordeste 

[desculpem sermos recorrentes, mas: este POST e outros do tipo, nos leva a pensar e imaginar: qual seria o tamanho do CAOS CAÓTICO,  se o  Brasil fosse atingido por um tufão, o que ocorreu no Japão há poucos dias, e além da destruição causado pelo tufão, ocorreram vários efeitos colaterais, entre eles arrastado pelas águas revoltas grande quantidade de dejetos radioativos da  usina nuclear de Fukushima - destruída  por um tsunami - (em plena radiação, altamente mortífera e com efeitos que se manifestam por anos e anos) com elevado risco de morte de milhares de pessoas e consequências que perdurarão por longo tempo.

Que são manchas de óleo diante da catástrofe japonesa?

Lá o objetivo maior é reduzir o efeitos do escape dos resíduos nuclear, ninguém pensa em indenização, antecipar período de defeso, governo multar governo e outras providências desnecessárias e inócuas - por carecerem de base técnica.]





É o maior desastre ambiental registrado na costa brasileira. As manchas de óleo que começaram a aparecer em setembro já se espalham por nove estados e 2.200 quilômetros de litoral. Devastam a vida marinha, ameaçam o sustento de pescadores e atingem paraísos ecológicos como a Praia dos Carneiros, em Pernambuco, e a Praia do Forte, na Bahia.

Depois de quase dois meses, o poder público ainda parece imóvel diante da tragédia. “O governo não sabe absolutamente nada. Não conhece a origem do óleo, não tem ideia de como recolhê-lo e não apresenta medidas para mitigar os danos”, afirma o presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado, Fabiano Contarato (Rede-ES).
Na quinta-feira, ele comandou uma audiência pública com representantes da Marinha e dos ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia. Ficou frustrado com a falta de informações e de planos de ação. “Saímos com mais perguntas do que respostas”, resume.

Para o senador, o presidente tem se omitido diante do caso. “Ele já deveria ter decretado estado de emergência ambiental há muito tempo. Até hoje, ele nem sequer se dignou a visitar ou sobrevoar a região”, critica. Na sexta-feira, Jair Bolsonaro insinuou que o vazamento teria sido uma “ação criminosa” para prejudicar o próximo leilão do pré-sal. “Com base em que ele afirmou isso? É uma precipitação irresponsável. Parece que o presidente tem mania de perseguição”, reage Contarato. [a lógica isenta  leva qualquer pessoa sensata, imparcial, a considerar uma ação criminosa, extremamente vantajosa para os inimigos do Brasil que, por extensão, são inimigos do presidente Bolsonaro.

Além de jogar nas largas costas do presidente mais uma acusação infundada, ajuda a sustentar o discurso dos que querem a internacionalização da Amazônia e, de carona, do litoral brasileiro - o que nos leva a sentir saudades dos BONS TEMPOS das 200 MILHAS.

Salvo engano, o partido do senador, a Rede, tem como candidato permanente aquela 'ambientalista', evangélica a favor do aborto e que é candidata nata do partido ao cargo de presidente da República - escalada para perder.
assim, nada de surpreender o senador acusar o presidente da República.]
Ele diz que o fato de o óleo ter características semelhantes ao extraído na Venezuela não resolve o enigma. “Isso não quer dizer nada, porque os venezuelanos exportam para vários países”, afirma.  O Ministério Público Federal acusa a União de se omitir diante da gravidade do problema. Na sexta-feira, uma juíza de Sergipe determinou que o Ibama aumente o número de funcionários envolvidos na limpeza das praias. Em abril, Bolsonaro extinguiu dois comitês ligados ao plano de ação contra vazamentos de óleo. [a extinção dos dois comitês reduziu em muito o gasto com energia elétrica  = houve um pequeno decréscimo nos gastos com ar condicionado para manter as salas refrigeradas, caso algum membro do comitê decidisse aparecer.] Em outra frente, o governo tem reduzido investimentos em preservação e fiscalização ambiental.
“O Brasil não aprende com as tragédias. O desastre de Mariana vai fazer quatro anos. Não mudamos as leis e não reforçamos a fiscalização. Pelo contrário: o país só enfraquece os órgãos de controle”, diz Contarato. O senador vê um clima de indiferença sobre o assunto. “O país não se mobiliza contra o desmonte dos órgãos ambientais. O mundo está preocupado, mas nós não estamos”, observa.

O desinteresse também contamina o Senado. Na quarta-feira, o presidente da Comissão de Meio Ambiente precisou cancelar a sessão porque nenhum dos 34 colegas marcou presença. [quando deixam o presidente Bolsonaro extinguir uma comissão, um comitê, ainda reclamam - pena que ele não possa extinguir a Comissão de Meio Ambiente do Senado.]  No dia seguinte, a audiência sobre o vazamento de óleo teve poucas testemunhas. Dos 27 senadores do Nordeste, só quatro deram as caras.
“O Legislativo também está sendo omisso e conivente”, diz Comparato, que se licenciou do cargo de delegado de polícia para assumir o primeiro mandato eletivo. “Quando ocorre uma tragédia, os políticos querem aparecer. Na hora de discutir o que fazer, a maioria some”, protesta.


Bernardo Mello Franco, colunista - O Globo