No Brasil, ensinava o
ministro Pedro Malan, até o passado é imprevisível. Mas o futuro já dá para prever: basta olhar hoje pela janela, abrir
os ouvidos à voz das ruas, dar uma volta com a manifestação Fora Dilma.
Caso a manifestação seja pequena,
os bons acertos do governo com Guerreiros do Povo
Brasileiro como Renan Calheiros, Guilherme Boulos, do MTST, e Wagner Freitas, o presidente da CUT que se imagina comandante supremo dos
exércitos bolivarianos, permitirão à
presidente Guerreira da Pátria Brasileira arrastar-se até pelo menos a próxima crise (como a da CPI do BNDES, por exemplo; ou, já iniciada, a investigação
da Polícia Federal sobre o custo da Arena Pernambuco, construída pela
Odebrecht, e que certamente não se limitará a um único estado, nem a um só
estádio). Uma grande manifestação
enfraquecerá ainda mais quem já está fraca. E os índices de popularidade de
Dilma não têm mais como emagrecer.
Os seres
vivos (e políticos são muito mais vivos) têm
como principal instinto o da sobrevivência. Governo que disponha de cargos a
distribuir tem lá seus atrativos. Isso,
entretanto, só vale longe das eleições: em anos eleitorais, como 2016, governo fraco é
evitado como doença contagiosa. Político adora vencedores e foge de quem
depende de um Renan para sobreviver mais algum tempo. Muda de lado, e logo. Collor,
aliás, se apoiava em Renan. E
Renan o abandonou.
Em resumo, se a manifestação for
um sucesso, até o Barba a porá de molho.
De
crise…
Neste momento, a propósito, é bom manter as barbas
de molho. A Polícia
Federal invadiu na sexta-feira escritórios da Odebrecht em seis estados ─ Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo,
Rio de Janeiro e Distrito Federal ─ na Operação Fair-play (jogo limpo). O objetivo é apurar se houve fraude na concorrência e
superfaturamento na Arena Pernambuco, construída no governo Eduardo
Campos (PSB) para a Copa do Mundo.
Investiga-se
direcionamento da concorrência, em benefício da Odebrecht, e superfaturamento entre R$ 40 e R$ 75
milhões. E por
que escritórios da empresa em outros estados também foram vasculhados? Segundo
a Polícia Federal, para comparar os preços cobrados nos quatro estádios
construídos pela Odebrecht para a Copa. Só
mais um problema: há suspeitas de
superfaturamento em outros estádios. E, em pelo
menos um deles, o do Corinthians, o
presidente Lula ajudou o dirigente corintiano Andrés Sanchez, que contou a
história, a resolver problemas.
…em
crise
O
deputado Arnaldo Jordy (PPS-Pará), requereu à CPI do
BNDES a convocação do ex-presidente Lula e de seu filho Fábio Luís Lula da
Silva, o Lulinha.
É a
primeira vez em que alguém, numa CPI, tenta
investigar um integrante da família de Lula.
A
lei, ora a lei
O presidente da CUT, Wagner Freitas, na frente da
presidente da República, ameaçou pegar em armas com
finalidade política. Não importa o que moveu o presidente da CUT a usar essa inaceitável linguagem bélica:
caberia à presidente cumprir a lei, oficiando ao
procurador-geral da República para investigar o caso. Dilma preferiu rir de alegria
diante da ameaça de luta armada.
A frase
de Freitas: “Nós somos trabalhadores.
Somos defensores da unidade nacional. Isso implica ir para as ruas
entrincheirados, de armas na mão, se deitar e lutar, se tentarem tirar a
presidente. Nós seremos o exército que vamos enfrentar essa burguesia”.
Alô, Ministério Público Federal!
Tudo normal, dentro da lei?
Aplausos
pagos
A Marcha das Margaridas, promovida pela Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, Contag, em apoio à presidente Dilma Rousseff, é estranhíssima: primeiro, porque a
manifestação em favor do governo foi paga pelos cofres públicos: R$ 400
mil da Caixa, R$ 400 mil do BNDES e R$ 55 mil da Itaipu
Binacional.
A
manifestação em apoio a Dilma atraiu 15
mil pessoas, ao custo, portanto, de R$ 57 por pessoa, fora lanchinho e refrigerantes ─ tudo tirado do seu, do meu, do nosso dinheiro.
Segundo, porque
os recursos saídos da área econômica do governo foram usados para hostilizar o
chefe da área econômica do governo. O grito era Fora Cunha, Fora Levy.
Cá entre nós, pode dar certo?
Brasil,
um retrato
Campo
Grande, uma bela cidade, é capital de Mato Grosso do Sul. O prefeito Alcides
Bernal, do PP, perdeu o mandato por corrupção. O
vice Gilmar Olarte, também do PP, assumiu, mas está
sujeito à cassação por corrupção (a Câmara Municipal o enviou à Comissão
Processante por 29 x 0), e o Ministério Público o processa por lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
O seguinte na linha de sucessão é o
presidente da Câmara, Mário César Oliveira da
Fonseca, do PMDB, que está sendo investigado
pela Polícia Federal na Operação Lama Asfáltica. Só? Não! Em junho de 2014, o vereador Mário César teve o mandato cassado pela juíza eleitoral
Elisabeth Rosa Baisch, por abuso
de poder econômico durante a campanha. Mário César
recorreu, venceu e foi reconduzido ao cargo.
Esperemos o próximo capítulo. O correspondente desta coluna em
Campo Grande, um excelente jornalista, Paulo Renato Coelho Neto, se mantém
sempre alerta.
Fonte: Coluna do Carlos Brickmann - http://www.brickmann.com.br/