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quinta-feira, 16 de março de 2017

Milagre ou estagnação

Ninguém se surpreendeu quando Emílio Odebrecht disse que sua empresa fazia caixa 2 desde os tempos de seu pai

De tempos em tempos, o Brasil arranja um encontro com uma incrível combinação de crise política e econômica. Como essa de hoje. Não que o país seja surpreendido. Os problemas a enfrentar exigem urgência, mas, um paradoxo, são velhos de décadas. Simplesmente ficaram por aí, sempre adiados porque, enfim, são difíceis ou incômodos para muita gente.
 
Caixa dois eleitoral, por exemplo. Ninguém se surpreendeu quando Emilio Odebrecht disse que sua empresa fazia isso desde os tempos de seu pai. Mais, ninguém se surpreende quando os políticos de amplo espectro dizem que caixa 2 é uma coisinha de nada, um crimezinho comum. Por que toda essa gritaria? - como, aliás, repetiam os políticos de antigamente. E parece que de repente, todo o sistema está enrolado no caixa 2, depois que o STF, o Ministério Público, o juiz Moro, todos observaram o óbvio: é roubo, é dinheiro lavado.
 
Reagem em Brasília: precisamos de uma anistia. Agora, que todo mundo já viu a sujeira? Sem chance. E a corrupção em obras públicas? Vários escândalos foram apanhados, pouca gente foi punida e a coisa sempre terminava com conclusões assim: a corrupção é até pequena, quase irrelevante, quando se considera o tamanho das obras feitas. É uma questão moral, não econômica, se dizia, isso significando que estava tudo bem. Mario Henrique Simonsen já percebia que a coisa era mais complicada. E até ofereceu uma solução pragmática, digamos assim. Muitas vezes, observava, é melhor pagar a propina e não fazer a obra; sai mais barato.
 
O que é isso, professor? - tal era a reação. Também faz tempo que todo mundo sabe que o sistema eleitoral é inviável. Que há partidos demais, que as coligações necessárias para governar escancaram as portas do fisiologismo e da corrupção, que as eleições são cada vez mais caras, também criando a oportunidade -  ou necessidade, dizem alguns - de arranjar muito dinheiro por fora. E parece que de repente se percebe que, para pagar por fora, as empresas precisam ganhar por fora, colocando um sobre preço nas obras. Melhor assim, diziam os mais cínicos ou mais realistas, do que economizar no cimento, por exemplo, e fazer estradas e estádios de má qualidade.
 
E acabamos ficando com as duas coisas: obras de qualidade, supercaras, e obras baratas, logo estragadas. Finalmente, a economia. Foi ontem que ouvimos falar do déficit da Previdência? Ou que o sistema tributário brasileiro é o pior do mundo? Ou que a legislação trabalhista só protege o emprego de quem está muito bem empregado, sendo um obstáculo à abertura de novas vagas?* Assim chegamos aos dias de hoje, outra incrível combinação de dificuldades. Há uma tarefa gigantesca pela frente:
 
- reformar o sistema eleitoral às pressas, num momento em que as lideranças políticas foram flagradas fazendo a coisa errada, de um "simples" caixa dois a gordas contas no exterior. (Notem o impasse: está vetado o financiamento eleitoral por empresas e não há dinheiro público suficiente para pagar as campanhas nacionais de 2018).
 
- reformar ao mesmo tempo a Previdência, a legislação do trabalho, o sistema tributário e as regras para obras públicas.
 
- e levar a cabo o combate à corrupção, o que somente será possível com a punição de toda a tropa apanhada.         
 
  Aqui, aliás, há um outro velho problema que parece surpreender: a justiça é lenta, especialmente o STF. Na verdade, a dificuldade aqui é maior, dado o que se ouve de ministros da Corte: é assim mesmo, o STF não está preparado para ações penais, paciência. Mas a população já perdeu a paciência. Talvez ainda não com o STF, mas vai perder se os ministros não arranjarem um meio de acelerar os trabalhos referentes à Lava Jato. Especialmente porque a publicidade dos processos e das delações torna imediato o julgamento popular e político.
 
Imaginemos agora que a descrição acima se referisse a um outro país qualquer e que nós, brasileiros, ficássemos sabendo da história hoje. "Esses caras estão ferrados" - é o que diríamos. É o que muita gente diz lá fora. Mas já houve momentos em que o Brasil se meteu na mesma combinação de problemas e - milagre! - conseguiu sair. Nem faz tanto tempo assim. Na era FHC, contando do tempo em que ele era ministro da Fazenda, o país matou a hiperinflação (que era um problema de quase três décadas); saiu da recessão; fez um enorme ajuste nas contas públicas, inclusive com uma reforma da Previdência; privatizou um monte de bancos, empresas e serviços; fez uma quase reforma tributária, conseguiu uma estabilidade político-eleitoral, que permitiu a ele, FHC, ser, em 42 anos, o primeiro presidente eleito pelo voto popular a passar a faixa para outro presidente eleito. [de todos os feitos da era FHC o que não deveria ter acontecido, não deveria  nem ser cogitado, foi passar a faixa para o 'diabo', que apesar de eleito pela estupidez do eleitorado brasileiro, representou e continua representando enquanto lembrado for - mesmo morrendo ele causará o mal - o pior que poderia ter acontecido ao Brasil, que foi eleger uma coisa chamada Lula, que para piorar foi substituída pela encarnação feminina de satanás.]
 
         Há esperanças, portanto. Mas foram anos de estagnação antes daquelas mudanças. É a alternativa que temos hoje: ou se fazem todas essas reformas ou serão anos de paradeira econômica e social até o milagre.
 
 
 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A nova (velha) matriz. Por R$ 1,50

Tombini de novo foi surpreendido por cenário mundial adverso e resolveu suspender a alta de juros que vinha anunciando

Se não for uma frase de Mario Henrique Simonsen, deveria ter sido: “Uma experiência que dá errado várias vezes deve ser repetida até dar certo”.

Trata-se de mais uma daquela série de leis que Simonsen foi inventando para caracterizar a burrice brasileira, em particular, e da América Latina, em geral, no manejo das políticas econômicas.  Pois está acontecendo outra vez. O governo Dilma reapresenta a “nova (velha) matriz econômica”. As coincidências são notáveis, mas a repetição é bem mixuruca.

Em 2012, por exemplo, a presidente Dilma deu uma mexida para valer no setor elétrico e aplicou uma redução de 16% na conta de luz residencial e de 28% para a indústria. Agora, o máximo que conseguiram foi cortar R$ 1,50 a cada 100kw/h consumidos.  E quer saber? Melhor assim. No ano passado, a conta de luz chegou a subir 80% em algumas regiões 51% na média nacional — para cobrir os buracos causados nos balanços de geradoras e distribuidoras depois daquela baita redução forçada de 2012. Agora, uma derrubadinha de R$ 1,50 não deve causar tanto estrago, não é mesmo?

Na política de juros também não tem muito mais o que estragar. No final de 2011, o presidente do BC, Alexandre Tombini, alegou uma piora surpreendente no mundo para iniciar uma forte derrubada da taxa básica de juros. Digamos que foi uma coincidência especial entre essa avaliação e o objetivo que havia sido anunciado por Dilma chegar a um juro real, descontada a inflação, de 2% ao ano. Tombini acabava de descobrir que isso era possível.

E lá se foi a taxa abaixo, até inéditos 7,25% nominais ao ano, 2% reais, também em 2012, período da queda da conta de luz.  E se a tarifa teve de subir de volta para pagar o rombo do setor — também os juros precisaram voltar escada acima, correndo atrás de uma inflação que disparava. Chegaram a 14,25%, com inflação passando dos 10%.

Pois agora em janeiro, Tombini de novo foi surpreendido por um cenário mundial adverso e resolveu suspender a alta de juros que vinha anunciando e aplicando. Não deu para já iniciar a derrubada. Assim, a manutenção da taxa básica em 14,25% — ou seja, o não aumento — foi como o R$ 1,50 de queda na conta de luz.  Mesma coisa no quesito concessão de crédito. Como em 2011/12, o governo Dilma está anunciando a abertura de crédito nos bancos públicos para irrigar alguns setores da economia. Mas se lá atrás a conta era de centenas de bilhões de reais só o BNDES recebeu R$ 500 bilhões do Tesouro agora os volumes são quase uma mixaria. O governo fala em R$ 50 bilhões “novos” de novo, na proporção do R$ 1,50 na conta de luz.

Reparem: mesmo quando quer fazer coisa errada, o governo tem pouco espaço. Ele quer voltar aos tempos da “nova (velha) matriz”. Mas topa com enormes limitações — recessão, juros na Lua, inflação idem, rombo nas contas públicas causadas justamente pela ... tal matriz.
Simonsen tem razão mais uma vez.

MOSQUITO
O ministro da Saúde, Marcelo Castro, num acesso de lucidez, disse que o Brasil está perdendo a guerra contra o mosquito. O pessoal do Planalto ficou nervoso, não por estar perdendo a guerra, mas pelo fato de o ministro dizer isso.  Típico cacoete. O fato, a guerra contra o mosquito, não importa. Importa o que se fala disso. Daí o gosto pelo marketing, pelos anúncios oficiais.

Assim, o governo resolveu convocar produtores de repelentes a Brasília para saber se eles tinham mercadoria em quantidade suficiente para distribuir para 400 mil grávidas do Bolsa Família. Também precisava saber quanto custava. Deu prazo para os produtores responderem.  Para que a reunião? Não bastava destacar uns funcionários para ligar e perguntar? 

Mas não. A sequencia vai no anúncio da reunião, anúncio do pedido, anúncio da cobrança e ... depois? Bom, depois vai ter orçamento, licitação, encomenda — e lá vai o mosquito ganhando a guerra.

E PODE?
Em São Paulo, o pessoal do Movimento Passe Livre, que luta contra o aumento da condução, tem feito pelo menos duas manifestações por semana, paralisando regiões importantes da cidade. Turma organizada. Tem até uma cartilha sobre como “travar” uma grande avenida.
Pelo jeito, não tem nada demais. As autoridades estaduais (tucanas) e as municipais (petistas) apenas tentam convencer os manifestantes a, pelo menos, dar o roteiro da manifestação; pode ser na hora mesmo do protesto.

Congestionamentos de quilômetros e horas paradas, gente perdendo hora no emprego, na escola, na ida ao hospital.
Qual o problema?
Nenhum. Aliás, é até coisa pequena. Reparem: depois de dois anos de investigação, com depoimentos de 300 testemunhas, a polícia paulista não conseguiu indiciar nenhum daqueles black blocs que destruíram ônibus, agências bancárias e concessionárias de automóveis nas manifestações de 2013/14.
O que queriam? Os caras estavam mascarados.

Fonte: O Globo - Carlos Alberto Sardenberg,  jornalista

domingo, 24 de maio de 2015

Sai o trem bala e entra o trem chinês - fica no meio a ferrovia TRANSNORDESTINA que o Lula inagurou quatro vezes nos dois mandatos. Na última, os vagões ferroviários foram para o local da inaguração em carretas rodoviárias

A máquina de propaganda do governo e a doutora Dilma têm um especial carinho por trens. Em 2004 Nosso Guia perfilhou um projeto de ligação ferroviária entre o Rio e São Paulo. Era o trem-bala. Faria percurso de 500 quilômetros em 90 minutos, cobraria o equivalente a R$ 120 e nada custaria à Viúva. Ficaria pronto para a Copa de 2014. 

Atrasando, era certo que rodasse em 2016 para a Olimpíada. Deu em nada. Ou melhor, deu em parolagem e pariu uma empresa estatal, a EPL. Quando o projeto naufragou, surgiu a palavra mágica ouvida por Machado de Assis em 1883: “lingu”. Ele não esclareceu o que isso queria dizer, mas talvez significasse “investimento”: os chineses bancariam o projeto do trem-bala. Pouco depois um mandarim explicou: “Pedir que uma empresa chinesa assuma um risco tipicamente governamental é uma grande piada”.

Antes do desembarque do primeiro-ministro chinês Li Keqiang, saiu da caixa de mágicas do Planalto o projeto de uma ferrovia transoceânica ligando o Atlântico brasileiro ao Pacífico peruano. Teria 4.400 quilômetros. Nas palavras da doutora Dilma “ela atravessará os Andes”. Custaria entre US$ 5 bilhões e US$ 10 bilhões. As dúvidas foram desfeitas quando o companheiro Li assinou 53 acordos com a doutora. Na mesa havia apenas o interesse mútuo de começar os estudos básicos da viabilidade do projeto. A ferrovia que iria do litoral brasileiro ao peruano era um exagero. O memorando assinado cuidava apenas da conexão da linha Norte-Sul, que iria de Campinorte, em Goiás, à costa peruana. A linha para o litoral atlântico é uma tarefa brasileira. Se tudo der certo, esse estudo deve ficar pronto em maio de 2016. O que era um estudo básico para analisar a viabilidade do projeto virou uma ferrovia que “atravessará os Andes”.

Cuidando dos seus interesses, os chineses assinaram diversos compromissos, compraram aviões, alugaram navios e arremataram um banco. Todos esses negócios são bons para eles e para o Brasil. Não havia por que botar o “lingu” de Machado de Assis numa ferrovia transoceânica. A agenda chinesa é sempre precisa. Em geral eles querem recursos naturais e proteínas. Além disso, vendem serviços, bens e máquinas. Jogo jogado. A isso junta-se um interesse do Império do Meio de fornecer sua mão de obra para os projetos onde põe dinheiro. São mais qualificados, conhecem a empresa e às vezes custam menos. Há cinco anos eram 740 mil, de Angola ao Uzbequistão. Obras chinesas no Brasil já tentaram importar operários mas foram barradas. Esse pode vir a ser um bom debate, pois o que é preferível, um pasto goiano com 50 vaqueiros ou a obra de uma ferrovia com 500 chineses e 500 brasileiros?

Esse item da agenda chinesa chamou a atenção de Machado de Assis. Em 1883, quando o andar de cima queria imigrantes para substituir a mão de obra escrava, chegou ao Rio o mandarim Tong King-sing. Veio acompanhado de um secretário negro, fez o maior sucesso com suas roupas e foi recebido por D. Pedro II. O imperador disse-lhe que não tinha simpatia por seu projeto e, no melhor estilo chinês, ele foi-se embora.  À época, comentando a visita do mandarim, Machado de Assis escreveu uma cronica, transcrevendo uma carta que teria recebido dele. Esclareceu que preferiu manter a grafia do autor.

A certa altura, como se fosse hoje, Machado/Tong escreveu:
“Xulica Brasil pará; aba lingu retórica, palração, tempo perdido, pari mamma.”

Uma aula sobre o falecido Trem-Bala
Ainda não se conhecem as fantasias que acompanham a ferrovia Transoceânica, mas está na rede uma detalhada narrativa do que foi a maluquice do trem-bala de Lula e Dilma. 

É a reportagem “Um trem para Bangladânia”, de Leandro Demori. (A mistura de Bangladesh com Albânia é um neologismo criado pelo professor Mario Henrique Simonsen.)

Ele foi das raízes do sonho do trem de alta velocidade até a morte do projeto da empresa italiana que vendeu a novidade ao governo. Nela havia planilhas mágicas e um roteiro inexplicável, pois o trem não parava ao longo do percurso. O primeiro administrador do projeto, José Francisco das Neves, o “doutor Juquinha”, dormiu umas noites na cadeia, por malfeitos cometidos na ferrovia Norte-Sul, aquela que cruzará com a Transoceânica.

O repórter Leandro Demori trabalhou 11 meses no assunto, conversou com 30 pessoas e colheu documentos brasileiros e italianos. Conseguiu o apoio da Contributoria, uma plataforma independente ligada ao jornal inglês “The Guardian” e seus leitores. Quem quiser pode inscrever seus temas. Os leitores do “Guardian” votam, e quem não for assinante do jornal deve pagar US$ 3 por mês para participar das escolhas. A ajuda é dada relacionando-se o número de votos que o tema recebeu e a quantia que o jornalista pede. Aprovado o financiamento, o beneficiado vai à luta e fica livre para colocar o texto onde quiser. Demori preferiu hospedar seu texto na plataforma Medium, de Ev Williams, o criador do Twitter.
Os repórteres, como o Fantasma das Selvas, são imortais.

Andar de cima
Não se conhece uma só voz saída da banca para condenar o ajuste fiscal enquanto ele avançou sobre despesas que beneficiavam desempregados, pensionistas e aposentados. Agora que a doutora acrescentou ao ajuste a pimenta da taxação dos lucros bancários, será interessante entender a reação dessa tão fiel torcida.

Renato Duque
A entrada do filho de Renato Duque na roda do dinheiro e das investigações da Lava-Jato assustou o comissariado.  O ex-diretor de serviços da Petrobras seria o arquivo que guarda as conexões do PT e de alguns de seus comissários com as petrorroubalheiras.  O “amigo Paulinho” só concordou em colaborar com o governo quando os investigadores mostraram-lhe que envolvera familiares em práticas criminosas. Até então, o PT considerava “satisfatórias” as patranhas que ele contava.

A Lava-Jato já custou a Renato Duque uma coleção de arte de novo rico e o equivalente a R$ 68 milhões depositados em Mônaco. Sua defesa diz que esse dinheiro não é dele. Amanhã, Eremildo, o Idiota, pretende se habilitar à sua titularidade.

Choque à vista
O senador Renan Calheiros e o deputado Eduardo Cunha, ilustres figuras da lista de parlamentares investigados pelo Ministério Público, decidiram jogar pesado contra a possível recondução de Rodrigo Janot ao comando da Procuradoria Geral da República. Rejeitá-lo, caso seja indicado pelo Planalto, além de ser uma imensa carapuça, poderá levar a uma inédita mobilização do Ministério Público, refletindo-se em setores do Judiciário, inclusive em seus gaveteiros.

Fonte: Elio Gaspari - O Globo

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Custo Petrobras + custo Dilma + custo petralhada = destruição da Petrobras

Graça gastou dinheiro mandando refazer as plantas nos EUA, mas agora, dado o evidente desastre, cancelou tudo

Há menos de seis anos, em 17 de setembro de 2009, o então presidente Lula apresentou-se triunfante em uma entrevista ao jornal “Valor Econômico". Entre outras coisas, contou, sem meias palavras, que a Petrobras não queria construir refinarias e ainda apresentara um plano pífio de investimentos em 2008. “Convoquei o conselho da empresa", contou Lula. Resultado: não uma, mas quatro refinarias no plano de investimentos, além de previsões fantásticas para a produção de óleo. 

Duas seriam refinarias Premium, uma no Maranhão, com previsão de refino de 600 mil barris/dia, a maior do país, e outra no Ceará, para 300 mil barris/dia. Ontem, ainda na madrugada de terça para quarta, a presidente da Petrobrás, Graça Foster, informou que a companhia simplesmente desistiu dos projetos Premium. Disse que a estatal não encontrou parceiros e que o negócio, afinal, não era viável economicamente.

Parece que não tem nada de mais. Algo assim como: “Foi mal, desculpa aí”.  Mas tem — nada menos que R$ 2,7 bilhões. Esse é o dinheiro que foi torrado em dois projetos que não saíram do papel. Na Premium I, a do Maranhão, ainda foram concluídas obras de terraplenagem, com “investimentos” de R$ 2,1 bilhões. Na II, do Ceará, a Petrobras conseguiu gastar R$ 600 milhões para praticamente nada.  Faz tempo que Graça Foster sabe que os projetos estavam furados. Desde 2012, pelo menos. Disse então que a companhia estava reavaliando a coisa, incluindo os equipamentos já comprados. Sim, Graça confirmou que equipamentos haviam sido adquiridos antes da definição dos projetos.
Graça ainda gastou dinheiro mandando refazer as plantas nos Estados Unidos — mas agora, dado o evidente desastre, cancelou tudo.

Curiosidade: ainda ontem à tarde, na página da Petrobras, lá constavam as duas refinarias, na categoria de novos empreendimentos. Pelo texto, coisas grandiosas. Pelo que disse ontem a presidente Graça Foster, a decisão de cancelar as refinarias foi tomada no último dia 22. Esqueceram de avisar o pessoal do site. Na verdade, é mais do que isso. 

A história não deixa dúvida: isso aí é “Custo Lula", mas também um custo a ser atribuído à diretoria da Petrobras e seu Conselho de Administração, no momento em que a companhia assumiu projetos tão mal desenhados e durante todo o tempo em que o desastre foi simplesmente escondido. Dilma Rousseff contou que, quando presidente do Conselho da Petrobras, foi levada ao equívoco ao se basear em documentos frágeis para autorizar a compra da refinaria de Pasadena. Pois parece que há muitos outros equívocos a contabilizar.

As outras duas refinarias que a Petrobras, então presidida por José Sergio Gabrielli, foi levada a fazer por decisão de Lula são a do Nordeste (Abreu e Lima) e o Comperj, do Rio, dois projetos que saíram do papel, mas a preços escandalosamente elevados.  Outra curiosidade: ainda ontem, estavam funcionando direitinho os escritórios das refinarias Premium em Fortaleza e São Luís. As obras tinham óbvio caráter político, espécie de prêmio para aliados no Nordeste. Por isso foi tão difícil cancelar: o negócio tinha outras funções além de refinar petróleo. Aliás, parece que a única coisa que não importava era o refino.

E pensar que os R$ 2,7 bilhões são coisa pequena diante dos erros, desvios, roubos e superfaturamento que a empresa ainda nem conseguiu contar. É explosiva a combinação da gestão “vamo-que-vamo”, para a qual fazer contas é coisa de neoliberal, com corrupção.

ECONOMIA
Como dizia Mario Henrique Simonsen: muitas vezes é melhor pagar a propina e não fazer a obra; sai mais barato para o contribuinte.

VISIONÁRIO
Como dizia Eike Batista: um dia a OGX vai valer tanto quanto a Petrobrás. = quase nada
 
Por: Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - O Globo