Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
E não é que um ministro do Supremo me fez voltar a Machado de Assis na semana que passou? Reli, para ser mais preciso, os breves capítulos de “Memórias póstumas de Brás Cubas” que fazem referência a uma genial descoberta do narrador/protagonista: a lei da equivalência das janelas.
“Assim, eu, Brás Cubas, descobri uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas, e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência.”
Dois episódios do romance esclarecem como a lei funciona. No primeiro, Brás Cubas encontra na rua uma meia dobra, moeda sem muito valor, e a enfia no bolso. Na manhã seguinte, sente uns repelões da consciência:
“...uma voz que me perguntava por que diabo seria minha uma moeda que eu não herdara nem ganhara, mas somente achara na rua. Evidentemente não era minha; era de outro, daquele que a perdera, rico ou pobre, e talvez fosse pobre, algum operário que não teria com que dar de comer à mulher e aos filhos; mas se fosse rico, o meu dever ficava o mesmo. Cumpria restituir a moeda e o melhor meio, o único meio, era fazê-lo por intermédio de um anúncio ou da polícia. Enviei uma carta ao chefe de polícia, remetendo-lhe o achado, e rogando-lhe que, pelos meios a seu alcance, fizesse devolvê-lo às mãos do verdadeiro dono. Mandei a carta e almocei tranquilo, posso até dizer que jubiloso.”
No segundo episódio, caminhando pela Praia de Botafogo, Brás Cubas esbarra em um embrulho misterioso, que leva para casa. O embrulho contém cinco contos de réis, uma pequena fortuna. Após um breve embate com sua consciência, o narrador decide ficar com o dinheiro, porque a boa ação da véspera (a devolução da moeda sem valor) criara, por assim, dizer, um crédito moral, que ele podia agora resgatar:
“De noite, no dia seguinte, em toda aquela semana pensei o menos que pude nos cinco contos, e até confesso que os deixei muito quietinhos na gaveta da secretária. (...) Crime é que não podia ser o achado; nem crime, nem desonra, nem nada que embaciasse o caráter de um homem. Era um achado, um acerto feliz, como a sorte grande, como as apostas de cavalo, como os ganhos de um jogo honesto e até direi que a minha felicidade era merecida, porque eu não me sentia mau, nem indigno dos benefícios da Providência.
- Estes cinco contos, dizia eu comigo, três semanas depois, hei de empregá-los em alguma ação boa, talvez um dote a alguma menina pobre, ou outra coisa assim... hei de ver...
Nesse mesmo dia levei-os ao Banco do Brasil. Lá me receberam com muitas e delicadas alusões ao caso da meia dobra, cuja notícia andava já espalhada entre as pessoas do meu conhecimento; respondi enfadado que a coisa não valia a pena de tamanho estrondo; louvaram-me então a modéstia.”
(A “ação boa”, vejam só, acaba sendo a compra do silêncio de Dona Plácida, alcoviteira que dará cobertura aos amores adúlteros de Brás Cubas com Virgília, uma mulher casada.) Machado de Assis revela com ironia a duplicidade de Brás Cubas – e, por extensão, a relatividade moral que parece ser um traço distintivo do nosso caráter nacional
É assim que funciona a lei da equivalência das janelas: pequenas boas ações, sobretudo se bastante divulgadas, compensam grandes e muitas más ações. Se a consciência pesar por causa de um grande mal causado, basta lembrar o pequeno bem que foi feito, para arejá-la. Trata-se, evidentemente, de uma falsa equivalência.
Por meio dessa lei universal do comportamento humano descoberta por Brás Cubas, Machado de Assis revela com ironia a duplicidade do personagem – e, por extensão, a relatividade moral que parece ser um traço distintivo do nosso caráter nacional.
A lei, aliás, permanece atualíssima.
Pensei em Machado de Assis, em Brás Cubas e na lei da equivalência das janelas quando li que o STF, depois de enquadrar um sem-número de apoiadores do governo; depois de censurar e desmonetizar canais conservadores do Youtube;
depois de intimidar e silenciar jornalistas;
depois de tornar réus manifestantes por crime de opinião;
depois de mandar prender e colocar tornozeleiras eletrônicas em deputados no exercício do mandato;
depois, em suma, de mandar às favas o direito à liberdade de expressão consagrado no Artigo 220 da Constituição - tudo isso com base no misterioso inquérito das fake news (mais misterioso que o embrulho encontrado por Brás Cubas, já que até hoje ninguém conhece seu conteúdo) - decidiu mandar bloquear perfis do PCO – Partido da Causa Operária nas redes sociais.
Imagino que, com isso, se pretenda demonstrar alguma isenção na condução do chamado “inquérito do fim do mundo”: de agora em diante, frente a qualquer insinuação de parcialidade por parte do STF, a resposta estará na ponta da língua: “Ah, mas eu também enquadrei a esquerda, bloqueei as redes sociais do PCO!”
Imediatamente associei o gesto do STF à atitude do imortal personagem de Machado de Assis.
Pois o gênio da lei da equivalência das janelas reside justamente aí, na total falta de equivalência: para afastar repelões da consciência causados por erros enormes, basta um pequeno acerto. (Aqui, na verdade, nem de acerto, grande ou pequeno, se trata, já que tirar a voz de um partido político na internet apenas cria mais um precedente perigoso em ano de eleição.)
Além disso, não dá para comparar o bloqueio dos perfis de um partido de extrema-esquerda no Facebook e no Tik Tokà perseguição implacável movida contra o governo e seus apoiadores.
Temos aqui mais uma falsa equivalência, pois não se trata de coibir dois extremos: pois somente com muita ignorância ou má-fé se pode classificar o governo de Bolsonaro e a política econômica de Paulo Guedes como sendo de direitana mesma medida em que o PCO é de esquerda. A não ser que se tenha tornado normal classificar como fascista e de extrema-direita qualquer pessoa ou partido à direita do lulopetismo.
Tempos muito estranhos. Agradeço, em todo caso, ao STF, por me fazer voltar a ler Machado de Assis.
Hoje queremos compartilhar com você uma análise sobre a demissão do jornalista Alexandre Garcia da CNN Brasil. Uma visão diferente que você não irá encontrar em outros veículos.
Quem escreveu sobre isso na Gazeta do Povo foi o colunista Paulo Polzonoff, uma das figuras mais afiadas na análise política brasileira. Nosso colunista crava: a demissão de Alexandre Garcia diz muito sobre quem a celebrou.
Veja um trecho da opinião do Polzonoff:
Para a surpresa de ninguém além da minha porção mais ingênua e esperançosa, a maioria dos comentários dos nobres colegas que recebi celebrava a demissão de Alexandre Garcia como um sinal de que “as coisas estão voltando ao seu devido lugar”, “o negacionismo está perdendo força” e “genocida não tem que ter liberdade mesmo”.
Deve ser difícil para os que se refestelam na semidesgraça alheia essa constatação evidente de que nunca (!) a destruição do outro será capaz de salvá-los.
Na sexta-feira, os poucos grupos de jornalistas de que faço parte
estavam em polvorosa. O motivo:um dos nossos, que atende pelo nome de
Alexandre Garcia, foi demitido da CNN Brasil. A justificativa para a
demissão – anunciada com estardalhaço pela própria emissora – foi o fato
de Garcia defender o chamado tratamento precoce contra a Covid-19. Mas
se engana quem acha que este texto diz respeito ao futuro profissional
do jornalista ou à decisão da emissora.
Engana-se quem acha que este texto diz respeito ao futuro profissional do jornalista ou à decisão da emissora.| Foto: Reprodução/ Twitter
Para a surpresa de ninguém além da minha porção mais ingênua e esperançosa,a maioria dos comentários dos nobres colegas celebrava a demissão de Alexandre Garcia como um sinal de que “as coisas estão voltando ao seu devido lugar”, “o negacionismo está perdendo força” e “genocida não tem que ter liberdade mesmo”. Não faltaram emojis de festa & regozijo. Transbordaram os slogans – atalho eficientíssimo na busca por likes sem que seja necessária muita capacidade cognitiva.
Na mesma noite, uma frase de “A Morte de Ivan Ilitch” – que em outro dia talvez passasse despercebida – me chamou a atenção. (Aliás, me permita abrir um parêntesis aqui para criar uma polêmica vazia e sem maiores consequências e dizer que as 92 páginas da novela de Tolstói, por sua profundidade, simplicidade e gravidade, são infinitamente superiores ao sarcasmo falsamente profundo, simples e grave de Machado de Assis. Pode fechar os parêntesis agora, maestro).
Nesse trecho do livrinho, Ivan Ilitch começa a adoecer. Os incômodos da doença fazem com que ele se desentenda com a esposa – que já não tem lá o mais agradável dos gênios. Ela começa a desejar a morte do marido. Mas, ao se dar conta do que isso representaria para as finanças da família, repreende-se. E daí vem a frase que chamou minha atenção (sublinhei à caneta e tudo) e que gostaria de compartilhar com os leitores: “Ela [a esposa] considerava-se terrivelmente infeliz justamente porque mesmo a morte dele [o marido] não poderia salvá-la”.
Deve ser difícil para os que se refestelam na semidesgraça alheia essa constatação evidente de que nunca (!) a destruição do outro será capaz de salvá-los. Pressupondo, claro, que eles sejam capazes de tal abstração. Para além do cala-boca e da humilhação pública de qualquer pessoa, o que há senão a infelicidade persistente dos homens pequenos que, feito criança birrenta, desejam ver sua visão de mundo triunfar sobre as demais?
Tratamento popular Volto ao assunto da demissão de Alexandre Garcia no fim do texto, mas antes gostaria de trocar dois dedinhos de prosa sobre um tema que, até hoje, esteve ausente das minhas crônicas: o tratamento precoce. Calma! Segura aí sua apreensão ou indignação que não estou aqui para dar o argumento definitivo pró ou contra o uso deste ou daquele remédio. Meu olhar é outro.
Apesar dos esforços de toda uma casta, o uso disseminado de cloroquina e ivermectiva no tratamento popular da Covid-19 é uma realidade incontornável. As pessoas usaram, usam e usarão. As pessoas desejam usar. O fato de a ciência ter legado esse tratamento à lata de lixo da história médica não muda absolutamente nada. Isso porque o tratamento popular contra a Covid-19 não tem mais muito a ver com medicina. À revelia do que dizem as revistas científicas e da autoridade dos homens de jaleco, ele hoje é indissociável de uma característica inata do ser humano: a esperança.
Além disso, para a Maria ou o João (ou Paulo ou Daniele), nem todas as estatísticas e termos científicos e latinórios e letras gregas do mundo são capazes de ir contra aquilo que os olhos viram, os ouvidos ouviram e, em alguns casos, o pulmão sentiu. As evidências anedóticas, isto é, o vizinho ou parente que se curou da Covid-19 porque fez uso do tratamento popular (e na vida real essa associação é inegável), valem muito mais do que qualquer palavra de especialista.
É essa a realidade que os militantes antitratamento popular não enxergam: nada do que um PhD diga vai se sobrepor àquilo que os sentidos perceberam. Ainda mais numa situação de caos e ruído como essa pandemia. Somos humanos, temos medo e esperança. E, por isso mesmo, é difícil encontrar entre os homens livres quem não esteja disposto a ignorar quaisquer discursos políticos e científicos para domar o medo se esbaldando na esperança.
Reticência De volta à pandemia de Schadenfreude que tomou conta das redes sociais por conta da demissão de Alexandre Garcia, antes de mais nada gostaria de sugerir a leitura da bela coluna de Luciano Trigo aqui nesta Gazeta do Povo. Por causa dela, no fim de semana recorri a umas fontes estoicas e encontrei uns escritos que combinam muitíssimo com a ocasião. “Grandes homens cultivam o amor; apenas os homens pequenos cultivam o espírito do ódio”, disse, com uma obviedade incômoda, o educador Booker T. Washington. Justamente ele, que tinha tudo para apostar no ressentimento, na divisão e na vingança. Afinal, quando Washington nasceu a escravidão ainda era uma realidade nos Estados Unidos. E ele enfrentou racismo e todos os tipos de adversidade para se tornar conselheiro de vários presidentes daquele país.
As perguntas que gostaria de estender aos homens pequenos(à direita, à esquerda, isentões e transversais) que celebram a destruição do inimigo apesar de essa destruição ser insuficiente para salvá-los são estas:
- qual a sua justifica para ser tão pequeno?
- O que você espera conseguir por meio dessa pequenez?
- Os likes e toda a atenção que sua pequenez possa despertar nas redes sociais o torna uma pessoa melhor – ou até mesmo mais feliz?
E aqui, acredite se quiser, eu pretendia lutar contra minha ojeriza a textos que terminam com pergunta e encerrá-lo assim, com esse horroroso ponto de interrogação aí. Mas não deu. Então vou encerrá-lo com outra excrescência estilística que me dá arrepios. Vou terminar o texto com “profundas” reticências, como se meu pensamento, de tão elevado, tivesse o poder de pairar no ar. Como se minhas palavras fossem névoa, e não bigorna. Reticências.
A adoção de pronomes neutros para agradar a uma minoria
empobrece a língua portuguesa e já contamina parte da iniciativa privada
Edição de arte Oeste | Foto: Shutterstock
“Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do maride, e o desespero daquele lance consternou a todes. (…) Só Capitu, amparando a viúve, parecia vencer-se a si mesme. Consolava a outre, queria arrancá-le dali. A confusão era geral. No meio delu, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas… (…) Fiquei a ver as delu; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amigue, e quis levá-le; (…) Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunte, quais os da viúve, sem o pranto nem palavras deste, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadadore da manhã.“
Sob
o argumento de que o idioma é machista e instrumento de perpetuação do
poder do “patriarcado”, coletivos que garantem representar determinados
públicos, como as feministas ou o antigo GLS — atual LGBTTTQQIAA —
exigem, entre outras reivindicações, a transformação radical da fala, a
chamada linguagem neutra. O primeiro parágrafo deste texto mostra como
ficaria, por exemplo, um trecho do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis, escrito com esta “neolinguagem”.
Monique
Wittig (1935-2003), pensadora que exerce influência sobre o movimento
de mulheres, defendia uma reforma das palavras de modo a torná-las
neutras de gênero.
A fim de viabilizar sua ideia, Wittig pregava uma
investida em duas etapas: 1) utilizar uma palavra da linguagem comum,
mudando-lhe o conteúdo de forma sorrateira;
2) depois, a opinião pública
é bombardeada pelos meios de educação formais (a escola) e informais
(os meios de comunicação de massa). Assim, as pessoas acabariam
enxertando esses termos no próprio vocabulário, sem nada perceberem. O modus operandi
respingou nos estudos da pesquisadora Judith Butler, uma das
precursoras da ideologia de gênero, para quem o sexo não define quem
você é. Dentro dessa concepção, o sujeito pode assumir múltiplas
identidades.
Nessa pseudolinguagem supostamente inclusiva, que
alguns defendem que seja adotada como norma-padrão, o uso de pronomes,
adjetivos ou substantivos “neutros” seria uma forma de acolher pessoas
que não se identificam como masculino ou feminino, chamadas de “não
binárias”, no-gender ou “gênero fluido”. Rosa Laura,
autointitulada ativista “não bináris”, explica o dialeto. Segundo ela,
os pronomes pessoais “ela” e “ele” têm de ser substituídos por “ile”. Já
os pronomes demonstrativos “daquela” e “daquele” mudariam para
“daquile”. Dir-se-ia, então: “ile é muito bonite”, em vez de “ela é
muito bonita”; e “todes gostam de irmén e du amigue delu”, em vez de
“todos gostam da irmã e do amigo dele”.
Cíntia
Chagas, formada em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais e
professora de português, garante que a linguagem neutra nada tem de
inclusiva.
Segundo a especialista, três grupos acabam sendo
marginalizados pelo “novo idioma”:
1) os disléxicos, que representam
parcela considerável dos estudantes;
2) os surdos, que fazem a
compreensão por meio dos sinais;
3) e os deficientes visuais, que
dependem de softwares para leitura no computador e, também, do
Braille. “O ‘dialeto neutro’ inviabiliza a comunicação desses grupos”,
constatou Chagas. “Trata-se de uma imposição injusta a essas pessoas,
que já vivem em um contexto de limitação, pois as obriga a se submeterem
a uma histeria coletiva”, acrescentou. “Em linhas gerais, o dialeto é
defendido por ditadores da linguagem.”
Esse foi um dos argumentos
do governo da França, que proibiu a linguagem neutra.“Ao defenderem a
reforma imediata e abrangente da grafia, os promotores da escrita
inclusiva violam os ritmos do desenvolvimento da linguagem de acordo com
uma injunção brutal, arbitrária e descoordenada, que ignora a ecologia
do verbo”, informou o Ministério da Educação francês. “Essas armadilhas
artificiais são inoportunas e atrapalham os esforços dos alunos com
deficiência mental admitidos no âmbito do serviço público.”
Educação Apesar de absurda, a “novilíngua” já é realidade em escolas e universidades do
Brasil e do mundo. Em setembro de 2020, circularam nas redes sociais
imagens de uma aula sobre “pronomes neutros” em uma instituição
particular do Recife (PE). Nos slides projetados, é possível
observar neologismos como “obrigade”. O episódio foi registrado no
Colégio Apoio e ocorreu em uma turma do 8º ano.
Dois
meses depois, o Colégio Franco-Brasileiro, instituição particular na
zona sul do Rio de Janeiro, resolveu “imitar” a concorrência e divulgou
um comunicado aos pais informando que adotara estratégias para absorver a
linguagem neutra nos espaços formais e informais de aprendizagem.
“Renovando, diariamente, nosso compromisso com a promoção do respeito à
diversidade e da valorização das diferenças no ambiente escolar,
tornamos público o suporte institucional à adoção de estratégias
gramaticais de neutralização de gênero em nossos espaços formais e
informais de aprendizagem”, salientou a instituição.
A coisa não
foi diferente na Escola St. Patrick, de Passo Fundo (RS). Os textos com
comunicados sobre a volta às aulas e outras informações similares foram
enviados via WhatsApp e traziam a letra “x” em vez de usar o feminino ou
masculino.
A escrita trouxe confusão e teve de ser explicada pela
direção do colégio privado,que atende crianças da pré-escola ao ensino
fundamental. Depois de receber uma série de reclamações, a instituição
de ensino teve de divulgar uma nota explicando que “o uso dessa letra
foi feito com a intenção de nos comunicarmos e, aqui, nos referimos às
mães e pais de modo geral”.
Nem o ensino superior ficou blindado
da prática. “Nesta segunda-feira, 3 de maio de 2020, serão iniciadas as
atividades acadêmicas dos estudantes veteranes da UEMG Divinópolis.
Sejam todes bem-vindes”, informou uma mensagem de boas-vindas publicada
nas redes sociais da Universidade do Estado de Minas Gerais. O post
ainda trazia uma imagem com os dizeres “Bem-vindes, estudantes
veteranes”. Nos comentários, os internautas questionaram a atitude.
Joanna Williams, em seu texto publicado nesta edição da Revista Oeste,
relatou o caso de uma estudante de direito do Reino Unido que corre o
risco de ser expulsa da universidade por ter dito, em um seminário de
estudos de gênero,que mulheres têm vagina.“As universidades estão
menos preocupadas com o ensino superior e mais com a doutrinação dos
alunos na ideologia progressista”, escreveu Williams.
Caio
Perozzo, especialista em linguagem e professor de literatura do
Instituto Borborema, associação cultural sediada em Campina Grande (PB),
acredita que as coisas chegaram a esse ponto devido a uma “crise da
inteligência”. De acordo com ele, a linguagem foi submetida à ideologia e
ao relativismo, que esvaziaram da fala e da escrita o propósito de
descrição da realidade como ela é. “Há pessoas que percebem algo, mas se
recusam a utilizar o termo adequado para representar aquilo porque
viola um conjunto verbal e ideológico que ela já tem. A ideologia deixa
sua inteligência deficiente”, observou o acadêmico.
Empresas Além da educação, a linguagem neutra contaminou a iniciativa privada. A rede de fast-food
Burger King fez uma postagem no Twitter em alusão ao Dia Internacional
da Luta contra a Homofobia e a Transfobia (17 de maio): “Bandeiras de
Todes”. No post, a empresa mostrou coroas e imagens que representam
diversas orientações sexuais. Depois de receber críticas, a companhia
tirou a publicação do ar. Contudo, emitiu uma nota, que dizia:
“Acreditamos que todas as pessoas são bem-vindas e fazemos questão de
reforçar a necessidade e a importância de assuntos como esse para a
sociedade. Consideramos e absorvemos todas as manifestações e
agradecemos por elas. Quanto mais conhecemos e discutimos, mais
aprendemos e mais informados estamos para lutar contra a LGBTfobia”.
Na
mesma linha do Burger King, o aplicativo iFood decidiu “cancelar” nomes
considerados preconceituosos. O novo termo de uso da plataforma vetou
pratos clássicos de restaurantes, como “batatas ao murro”, considerado
violento e machista. O mesmo ocorreu com “punheta de bacalhau”, iguaria
tradicional portuguesa, por ser fálica demais. Os chefs reclamaram, sem sucesso. Observa-se
com os casos descritos que o objetivo declarado de grupos como o que
promove a linguagem neutra é um só: purificar radicalmente o discurso de
qualquer palavra que possa ofender a alguém. Quando se abre a
possibilidade de qualquer um reinventar o idioma, reescrever obras
artísticas e policiar a cultura a pretexto de defender os direitos das
minorias,entra-se num terreno perigoso.
No livro1984,
escrito pelo jornalista inglês George Orwell, o protagonista Winston
Smith trabalha no Ministério da Verdade. Contudo, sua função é adulterar
registros históricos com a finalidade de moldar o passado à luz dos
interesses de um presente tirânico que se impõe com a ajuda da chamada
Polícia das Ideias. A entidade decide o que você deve pensar, escrever,
falar e até como agir. Orwell descreve o drama dos personagens, que
envolve a opressão física e, sobretudo, a mental. No desenrolar da
história, é possível identificar uma das estratégias do Estado
totalitário representado na obra: a mudança na linguagem mediante a
manipulação do significado das palavras. Qualquer semelhança não pode
ser interpretada como mera coincidência.
No livro
“Histórias sem data”,Machado de Assis conta que o Diabo, certo dia,
resolveu organizar sua atividade e fundar uma igreja. Seus afazeres
mereciam ser valorizados por certa pompa, paramentos, novenas,
escrituras etc.. Foi ter com o Senhor para notificá-Lo da decisão. Na
conversa, o tinhoso dissertou longamente contra as virtudes e a favor
dos vícios, atrativos reais com que contava para fazer prosperar sua
iniciativa. O ponto alto deu-se quando discorreu sobre as razões da
venalidade. Vale a pena transcrever:
“A
venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a
todos os direitos. Se tu podes vender tua casa, o teu boi, o teu sapato,
teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que
em todo caso estão fora de ti, como é que não podes vender tua opinião,
o teu voto, a tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas,
porque são tua própria consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no
absurdo e no contraditório. Pois não há mulheres que vendem os cabelos?
Não pode, um homem, vender uma parte de seu sangue a um outro homem
anêmico? E o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um privilégio
que se nega ao caráter, à porção moral do homem?”
A conversa
segue, abrindo o ventre e eviscerando a miserável falta de escrúpulos
com que operam certas instituições nacionais. E não me peçam para dar
nomes e sobrenomes aos bois desse cercado porque eu gosto de dormir na
minha casa, na minha cama, com minha mulher. Vejam pois, amigos
leitores, a impiedosa sina: umas poucas páginas do bom e velho Machado,
com quem quis buscar refúgio e proveito estético, me arrastaram de volta
ao amado Brasil cuja realidade me traz dor ao peito.
Machado de
Assis cortou fundo. Com razão não ficou apenas no dinheiro mal havido,
mas quase invadiu o território misterioso das criptomoedas,
descortinando as múltiplas moedas da venalidade. “Nem só de pão vive o
homem”, disse Moisés e repetiu Jesus. E nem só de dinheiro vive a
corrupção.
É assim que
eleitores e políticos vendem votos. É assim que muitos deputados trocam
convicções morais pelo sorriso afável dos corruptos que se resguardam
com leis de autoproteção. E é assim que tantos rasgam compromissos de
campanha e se desdobram em agrados ao poder togado do outro lado da
praça.
É assim que
ministros do STF fazem o mesmo jogo internamente e, para bem servi-lo,
rasgam o que escreveram em seus livros, ou desdizem o que tantas vezes
repetiram antes, com floreios de saber jurídico e certeza moral. A
Constituição é, assim, enviada às urtigas. É assim que se serve a Corte e
se desserve a sociedade,prendendo quem ataca a instituição e soltando
bandidos socialmente perigosos.É assim que consciências cedem à gratidão e a gratidão se impõe ao dever moral de declarar a própria suspeição.
É assim que a
opinião vai ao mercado em busca do melhor preço ou do maior número de
cliques. É assim que, para tantos, a fé erguida à condição de sacramento
da Ordem se corrompe e se torna utilidade política, o sermão vira
discurso e o discurso torna “a casa dividida contra si mesma”. E servem a
dois senhores.
Em seu devaneio criativo, Machado de Assis foi apocalíptico.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de
Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site
Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e
sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a
tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus
brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.
O
“fura-fila”, crônica figura do elenco dos protagonistas de maus costumes
brasileiros, não é apenas a figura isolada do transgressor egoísta dos direitos
de todos. Ele faz parte de um gênero das anomalias encravadas em nosso caráter
nacional. O
“fura-fila” voltou à cena nas ocorrências de furadores da fila para vacinação
contra a covid-19. Definiu-os o vice-presidente da República como gente sem
caráter nem solidariedade. Como se trata de um gênero de mau-caratismo, abrange
os que estimulam e apoiam os que furam a fila da vida alheia na desobediência
às regras de segurança sanitária de todos.
Anomalias
e defeitos do caráter nacional têm raízes históricas profundas. Não por acaso,
em diferentes formas e manifestações, podem elas ser encontradas até mesmo em
obras referenciais da literatura brasileira, como em “O Alienista”, de Machado
de Assis, na loucura de Simão Bacamarte.
Para
compreender o egoísmo antissocial e as invisibilidades do sistema de anomalias
de conduta desse gênero, que se expressam na falta de caráter do “fura-fila”,
recorro a obras de quatro de meus confrades da Academia Paulista de Letras. É
quase natural que identifiquemos em suas personagens alguém que conhecemos e de
cujos tormentos temos consciência.
As
deformações de caráter e as anomalias de conduta nelas personificadas estão
distribuídas na sociedade inteira. Manifestam-se em personalidades débeis. São
aquilo que a sociologia define como anomia, ausência de normas que torna
socialmente desviante o comportamento ou o põe em risco de discrepar do
moralmente esperado e necessário.
Em
“Antes do Baile Verde”, Lygia Fagundes Telles nos apresenta aos dilemas de
Tatisa, preocupada com os afazeres de preparação da roupa para o baile de
Carnaval, cujo tema será a cor verde. Não obstante, em outro aposento, seu pai,
muito doente, esteja morrendo. Ante a estranheza de Lu, sua empregada, Tatisa desenvolve
argumentos para isentar-se de responsabilidade e de culpa. A culpa é dos
outros, do médico, da própria empregada. É o “fiz a minha parte” de uma fala
recente do atual presidente.
Tatisa
personifica a alienação que decorre das prioridades invertidas da sociedade de
consumo e do espetáculo. É característica da classe média a falta de
consciência de alternativas para os dilemas e impasses da vida. Culpar o outro
ou a vítima é a saída autoindulgente. Anna
Maria Martins, nos contos de seu denso livro “Trilogia do Emparedado”,
desenvolve narrativas que ilustram e desvendam os emparedamentos desta
sociedade. Mesmo o emparedamento dos que emparedam os outros para sobreviver
numa sociedade assim. E se emparedam a si mesmos, sujeitos que são de uma
sociedade que, ao coisificar as pessoas, se torna vazia e povoada de seres
vazios.
O
conto “Plataforma 3”, cujo cenário é a estação da Luz, expõe o interior de um
homem que deixa a mulher, sai de casa e resolve partir. À medida que se
defronta com a afetividade de pessoas que estão juntas, no vai e vem de
passageiros na plataforma, vai tomando consciência de sua pobreza de alteridade
e de sua alienação no egoísta que é, vazio de afetividade em relação à mulher
que deixara. Volta para casa, abre a porta, entra, chama. A casa está vazia,
como se ali não tivesse havido ninguém desde há muito.
Maria
Adelaide Amaral, em “Luísa”, narra a história da personagem que dá nome ao
livro, que é apenas expressão imaginária do que dela acha um grupo de amigos
intermitentes. Luísa é um resíduo da condição humana, o intersticial de uma
sociedade de restos, de fragmentos de humanidade e de pessoa. Luísa
é um perambular indeciso da visão que dela têm os outros. Ela é um outro, que
não se realiza como pessoa tangível de sentimentos e decisões. Neste grande
livro de Maria Adelaide, os encontros são desencontros de humanos provisórios e
inacabados.
O
“fura-fila” e o transgressor egoísta e prepotente das normas de saúde coletiva,
na situação adversa da pandemia, pensam que o todo se resume neles. Estão
sozinhos no mundo. Eles são o nada de um verde-amarelo que desbotou, de uma
pátria que agoniza, afogada nos pressupostos neofascistas de uma grandeza falsa
e minúscula.
Em
obra desafiadora, “Um Estudo em Branco e Preto”, de Mafra Carbonieri, a
obsessão de sua personagem é assassinar a esposa. A cada tentativa comete o
assassinato que não ocorre, que pensa ter praticado, mas não aconteceu, na
mulher que retorna sempre ao seu cotidiano caseiro e repetitivo. Ele é o duplo
da alienação pós-moderna, desencontrado consigo mesmo, esquizofrênico. Sua
loucura, no entanto, faz revelações filosóficas que só os loucos propiciam.
Na
literatura está nossa consciência de que vivemos num país socialmente enfermo.
A nota do general
Augusto Heleno e a bravata de Jair Bolsonaro em seu destampatório depois
da divulgação do vídeo constituem duas maneiras de declarar vitória
quando estão perdendo o jogo. [o jogo ainda não começou.] Explico. Ao pé letra, a nota de
Heleno ameaça com golpe. Nem seria tão difícil de dar o dito-cujo, caso
houvesse consenso nas Forças Armadas. Não há. A dificuldade mesmo
estaria em mantê-lo. Eles não conseguem organizar um plano para
enfrentar o coronavírus, e não há consenso no próprio governo sobre o
rumo econômico a tomar. Ou alguém acha que os militares acreditaram no
palavrório de Paulo Guedes?
Sair dando tiro, prendendo e
arrebentando, havendo soldadesca disposta e armas, bem, isso é
relativamente fácil. A questão é governar depois. Quanto tempo duraria a
aventura? O destino dos golpistas seria a cadeia. Ou juntar os corpos
da guerra civil aos das vítimas da Covid-19. O que está em pauta é outra coisa: uma tática de intimidação do Supremo.
Bolsonaro
e Heleno sabem que estão, no caso do telefone, fazendo tempestade em
copo d'água. O pedido para recolher o celular do presidente foi feito
por deputados da oposição. É uma petição como qualquer outra. [uma petição que, como qualquer outra, pode ser deferida. E o desejo por holofotes, torna os piores absurdos possívei.] A
obrigação do ministro do Supremo é encaminhar à Procuradoria Geral da
República.
Eu estou entre aqueles, por exemplo, que avaliam, e já
escrevi isso aqui e disse no rádio, que o pedido não procede com o que
se tem até agora. É certo que Augusto Aras vai opinar que o
pedido é descabido. Aliás, imprudente, como sempre, Bolsonarodiz ter a
certeza de que será essa a opinião do procurador. Faz parecer que uma
decisão de caráter técnico é um arranjo.
Como certamente já lhe
disseram que Mello dificilmente mandaria recolher seu celular, quer
fazer parecer, de novo, que uma decisão técnica corresponde a um recuo
do ministro, para que suas milícias digitais possam gritar: "Ficou com
medo, ficou com medo!!!" Basta esse joguinho vulgar para desqualificar essa gente toda no trato com a institucionalidade.
Sim,
é evidente que se trata de uma tática para intimidar o Supremo. E não!
Eu não acho que Mello, agora, deva, então, mandar recolher o celular só
para mostrar quem manda. [será que o ministro pró condução 'debaixo de vara' também pensa assim?] Tanto quanto possível, tem de esquecer a
gritaria e decidir segundo a razoabilidade. Para a investigação
que está em curso no Supremo, o recolhimento do celular não se mostra,
parece-me, necessário. Até porque a reunião revelou coisas muito mais
graves. A intervenção ilegal na polícia federal, como resta claro, não
fica caracterizada na reunião. O que se tem é a determinação de intervir
em tudo, também na PF.
Estupidamente grave, reitero, é a
confissão de que o presidente quer armar a população pensando num futuro
confronto de natureza política. E a admissão, pelo presidente, de que
ele tem um sistema particular de inteligência. [o que o presidente chamou de sistema particular de inteligência consiste, em sua definição, de informações que recebe de amigos.
Imprudência no falar é uma característica do nosso presidente.]
Quem sairá mal no
retrato é Augusto Aras. Aposta que vai fazer de conta que nada
aconteceu. Afinal, ele tinha com ele esse conteúdo e opinou que deveria
permanecer em sigilo. Ele tentou escondê-lo da opinião pública.Imagino
Lula ou Dilma a fazer uma declaração com esse conteúdo. [Dilma é uma criminosa esperando condenação - questão de tempo - e Lula é um criminoso com duas condenações - em uma o cumprimento da pena ainda não iniciou e na outra falta cumprir alguns anos e ainda responde a vários processos criminais.
Com uma folha corrida desse tipo, os dois tem quer ser prudentes.] Ou o contrário
disso: imaginem os petistas a dizer, na fase de implementação, que o
Estatuto do Desarmamento buscava tirar armas do povo para ficar mais
fácil implementar uma agenda política.
Isso é o que os paranoicos dizem sobre o Estatuto, mas nunca foi uma confissão. Pois
Bolsonaro confessou: suas portarias sobre armas têm um horizonte
político. Afinal, como ele diz, "a liberdade é mais importante do que a
vida". MACHADO DE ASSIS
Ai, ai... Citarei
Machado de Assis num texto que trata de Bolsonaro e do general Heleno. É
para elevar o debate. No romance "Esaú e Jacó", o enterro de Flora,
disputada ferrenhamente pelos gêmeos Pedro e Paulo -- moralmente, eles a
mataram --, se dá durante a decretação do estado de sítio pelo
presidente Floriano Peixoto.
E o estupendo Machado escreve: "Não
há novidade nos enterros. Aquele teve a circunstância de percorrer as
ruas em estado de sítio. Bem pensado, a morte não é outra coisa mais que
uma cessação da liberdade de viver, cessação perpétua, ao passo que o
decreto daquele dia valeu só por 72 horas. Ao cabo de 72 horas, todas as
liberdades seriam restauradas, menos a de reviver. Quem morreu, morreu.
Era o caso de Flora; mas que crime teria cometido aquela moça, além do
de viver, e porventura o de amar, não se sabe a quem, mas amar? Perdoai
estas perguntas obscuras, que se não ajustam, antes se contrariam. A
razão é que não recordo este óbito sem pena, e ainda trago o enterro à
vista..."
Com o seu "liberalismo de baioneta", é evidente
que Bolsonaro não saberá o tamanho da asneira que é opor a vida à
liberdade. Quando se luta por liberdade, ARRISCANDO A VIDA (ISSO É OUTRA
COISA), o que se quer é uma vida livre, não uma liberdade que vague sem
corpo. Porque isso não existe. Daí que Machado escreva: "A morte é a cessação da liberdade de viver". Sem vida, presidente, então se é livre para quê? Mas, claro!, essa é uma pergunta feita por quem preza a vida. Naquele dia 22, o da reunião macabra, já haviam morrido três mil pessoas. E havia 46 mil contaminados. Não houve uma só palavra, de ninguém!, que denotasse solidariedade, empatia ou dor.
Um
mês depois, doentes e cadáveres foram multiplicados por sete. E eles
todos continuam a não dar a mínima para a "cessação da liberdade de
viver". Estão ocupados em ameaçar o país com golpe de estado.
Barulho por celular é
farsa; quer ilusão de vitória. Machado para Bolsonaro ... - Veja mais em
https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2020/05/23/barulho-por-celular-e-farsa-quer-ilusao-de-vitoria-machado-para-bolsonaro.htm?cmpid=copiaecolaBarulho por celular é
farsa; quer ilusão de vitória. Machado para Bolsonaro ... - Veja mais em
https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2020/05/23/barulho-por-celular-e-farsa-quer-ilusao-de-vitoria-machado-para-bolsonaro.htm?cmpid=copiaecola
Há quem prefira o autoengano. O governo hostiliza a imprensa, e o filho
do presidente dá sequência a uma difamação sexista contra uma
jornalista, da tribuna da Câmara. O presidente se cerca de militares da
ativa. O ministro da Economia ofende grupos sociais. A Educação está sob
o comando de um despreparado. Alguns ministros vivem em permanente
delírio ideológico. Os indígenas são ameaçados pelo desmonte da Funai e
pelo lobby da mineração e do ruralismo atrasado. Livros são censurados
nos estados. A cultura é atacada. Há quem ache que o país não está
diante do risco à democracia, apenas vive as agruras de um governo ruim.
E existem os que consideram que o importante é a economia.
Existe mesmo uma diferença entre governo ruim e ameaça à democracia,
mas, no caso, nós vivemos os dois problemas. As instituições funcionam
mal até pela dificuldade de reagir a todos os absurdos que ocorrem
simultaneamente. Quando um tribunal superior decide que uma pessoa que
ofende [sic] os negros pode ocupar um cargo criado para a promoção da
igualdade racial, é a Justiça que está funcionando mal. O
Procurador-Geral da República, desde que assumiu, tem atuado como se
fosse um braço do Executivo. O Supremo Tribunal Federal (STF) parece às
vezes perdido no redemoinho de suas divergências.
[O Brasil em que dizem que nada é normal, é um País em que uma decisão do Superior Tribunal de Justiça é criticada de forma negativa. Motivo: a decisão não foi nos moldes que os censores da esquerda esperavam.
Normalidade para eles só vale se as coisas forem assim:
- decisões da Justiça, ainda que impliquem em cerceamento do Poder Constitucional do presidente da República, deverão seguir o maldito 'politicamente correto' = um clichê - se é político, não pode se correto.
- estudantes na fase fundamental dos estudos devem ter acessos a obras 'culturais' nos moldes de 'macunaíma';
- militares da ativa, exercendo funções civis, é considerado militarização do governo;
- qualquer ministro, vale também para qualquer membro da equipe do presidente Bolsonaro, devem em qualquer manifestação que emitirem, ter em conta que a mesma será interpretada e sempre da forma mais desfavorável ao emitente e, por extensão, ao presidente;
- o ministro da Educação ter que ter a sabedoria de um Einstein, somada a de Aristóteles, Darwin e outros, apesar de sua função ser apenas a de coordenação da política educacional, cujo preparo cabe a vários asessores.
E, por aí vai... querem pautar o procurador-geral da República, o Suremo Tribunal Federal... é esta a normalidade que querem impor.
A calúnia contra a jornalista Patrícia Campos Mello, da “Folha de
S.Paulo”, foi cometida dentro do Congresso Nacional. O depoente de uma
CPI praticou o crime diante dos parlamentares. Um deles, filho do
presidente, reafirmou a acusação sexista. É mais um ataque à imprensa,
num tempo em que este é o esporte favorito do presidente. Mas é também
uma demonstração prática dos problemas do país. Alguém se sente livre
para mentir e caluniar usando o espaço de uma comissão da Câmara e é
apoiado por um parlamentar.
Não é normal que um general da ativa, chefe do Estado Maior do Exército,
ocupe a Casa Civil, nem que o Planalto tenha apenas ministros militares
e dois deles da ativa. Não é bom para as próprias Forças Armadas. Essa
simbiose com o governo seria ruim em qualquer administração, mas é muito
pior quando o chefe do Executivo cria conflitos com grupos da
sociedade, divide a nação, faz constante exaltação do autoritarismo e
apresenta projetos que ofendem direitos constitucionais. As Forças
Armadas são instituições do Estado, com a obrigação de manter e proteger
a Constituição. Deveriam preservar sua capacidade de diálogo com todo o
país, neste momento de tão aguda fratura. O trauma da ruptura
institucional comandada por generais é recente demais.
Não é normal que um governo estadual se sinta no direito de retirar das
mãos de estudantes livros clássicos, um deles escrito pelo mestre maior
da nossa literatura. A leitura de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, do
genial Machado de Assis, precisa ser estimulada e não proibida. É tão
despropositada a ideia de colocar livros em um índex que muitos reagem
apenas com incredulidade e desprezo. O obscurantismo, a censura, o
retrocesso são graves demais.[lembrem-se: este parágrafo omite que entre aquelas obras, estava macunaíma.]
A economia nunca poderá ir bem num país enfermo. Não há uma bolha em que
se possa isolá-la. Mesmo se houvesse essa capacidade de separação da
realidade, é preciso entender que a economia não está nada bem. Se no
mercado financeiro, se alguns líderes empresariais querem vender esse
otimismo falso é porque têm interesses específicos. A verdade, que bons
empresários e economistas lúcidos sabem, é que o mercado de trabalho
exclui um número exorbitante de brasileiros, o país ainda tem déficit em
suas contas, a alta excessiva do dólar cria distorções e a incerteza
tem aumentado.
A crise econômica foi herdada por este governo,[o essencial, o que realmente importa, é que aos poucos - não na velocidade desejada, impossível de ser alcançada devido o desastre da economia herdade - as coisas estão melhorando, apesar da hostilidade de um Congresso e que é muitas vezes referendada pelo Judiciário.] mas ele está cometendo o
erro de subestimar os desafios. O ambiente de conflito constante com
diversos grupos da sociedade, provocado pelo governo, esse clima de
estresse permanente, não é bom para quem faz projetos de longo prazo no
país. Quando o cenário de ruptura tem que ser considerado, os
investidores se afastam. uem prefere o autoengano pode viver melhor no presente, mas deixa de
ver os avisos antecedentes do perigo e, portanto, não se prepara para
enfrentá-lo. Manter a consciência dos riscos é a atitude mais sensata em
época tão difícil quanto a atual. Nada do que tem nos acontecido é
normal.
Não se enganem: nada disso é normal
Míriam Leitão, colunista - Com Alvaro Gribel, de São Paulo - O Globo