As primeiras escolhas
da presidente Dilma Rousseff para compor o futuro ministério estão deixando
esquerdistas de teclado e botequim um tanto perplexos, o que não deixa, já
escrevi, de ser um boa notícia, não é mesmo? Se a presidente não mudar de ideia, uma “não escolha” — o que valerá por uma demissão — também será uma
boa notícia: Dilma não pretende
reconduzir Gilberto Carvalho para a Secretaria-Geral da Presidência, cargo
que assumiu maior importância no primeiro mandato da petista. Ao
secretário-geral cabe
a interlocução com os chamados “movimentos
sociais”, que nada mais são do
que os braços do petismo que usam o estado brasileiro como um cartório de suas
demandas.
Dilma nunca gostou de
Carvalho e o quer distante do seu governo, embora a tarefa não seja fácil. Ele é o segundo homem mais importante do PT na
hierarquia informal do partido — depois de Lula. Com aquele seu ar
santarrão, sua fala mansa e sua estatura, pode
ser muito mauzinho. Este senhor não perdeu uma só oportunidade de responder a problemas
antigos criando problemas novos. Na sua mais recente investida, resolveu reclamar de
público contra o que chamou de falta de interlocução de Dilma com os movimentos
sociais, sugeriu que houve retrocesso nessa área e aplicou uma censura pública à sua chefe. E se explica por que o
fez: Carvalho é que se considera chefe dela e
imune à demissão.
Vamos a um exemplo? Embora a Funai seja uma
autarquia subordinada ao Ministério da Justiça, a “questão
indígena” ficou a cargo da Secretaria-Geral. Carvalho botou
literalmente para quebrar. O braço-direito do ministro na empreitada é um tal Paulo Maldos. Se alguém quer saber como a dupla trabalha, basta verificar como se deu a chamada “desintrusão” de uma
região chamada Marãiwatséde, em Mato Grosso.
Nessa área, havia a fazenda Suiá-Missú, que
abrigava, atenção, um povoado chamado Posto da Mata, distrito de São Félix do
Araguaia. Moravam lá 4 mil pessoas.
O POVOADO FOIDESTRUÍDO. Nada ficou de pé, exceto uma igreja — o “católico” Gilberto Carvalho é um homem respeitoso… Nem mesmo deixaram,
então, as benfeitorias para os xavantes, que já são índios aculturados. Uma escola que atendia 600 crianças também
foi demolida. Quem se encarregou da
destruição? A Força Nacional de Segurança.
Carvalho e Maldos foram, depois, para a região para comemorar o feito.
Abaixo, segue o vídeo que mostra a destruição.
A irresponsabilidade
de Carvalho foi muito longe. Tão logo surgiram os primeiros protestos
violentos em São Paulo, em junho de 2013, ele, ao atacar a polícia, demonstrou a
sua óbvia simpatia pelos arruaceiros, imaginando que o custo político cairia
no colo do governador Geraldo Alckmin. O tiro saiu pela culatra: o tucano se
reelegeu no primeiro turno em São Paulo, e Dilma conseguiu um segundo mandato
na trave, com pouco mais de três pontos de diferença.
Segundo esse gênio, os brancos de classe média se assustavam com aquele, como ele
chamou, “bando de meninos negros e morenos”. É pouco?
Calma! Ele sempre
pode ir além. Confessou, em entrevista, que manteve vários encontros com
representantes dos black blocs, os mascarados criminosos que saíam quebrando
tudo por aí. Sim, um ministro de estado
dialogava secretamente com bandidos. Depois
de o MST espancar 30 policiais na Praça dos Três Poderes, em Brasília, ele
compareceu ao encontro do movimento no dia seguinte, com patrocínio da CEF e
do Banco do Brasil.
Quem é cotado para o lugar
de Carvalho? Miguel Rossetto, um dos coordenadores
da campanha de Dilma neste 2014 e atual ministro do Desenvolvimento Agrário. Já
escrevi aqui: membro
de uma corrente do PT chamada “Democracia
Socialista”, no papel ao menos, está à esquerda de Carvalho. No caso, isso conta menos: se escolhido,
Rossetto será, efetivamente, um subordinado de Dilma e poderá ser demitido se
não fizer a coisa certa. Com Carvalho, é
diferente: é ele, insisto, quem se
sente chefe de sua chefe. Se a presidente não aproveitar o momento para
tirá-lo do Palácio, lá ele continuará,
conspirando em favor da volta de Lula, o seu Dom Sebastião. Dilma terá mesmo autonomia e clarividência para
botar Carvalho pra fora do seu governo? Para o bem do país, espero que sim. E
isso, adicionalmente, poderá fazer bem até… a seu governo.
Do Blog do
Reinaldo Azevedo