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quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Caminhoneiros paralisam rodovias em oito estados e acendem alerta - Terrorismo de extrema-direita representa maior ameaça aos EUA pós 11/09 -

Boletim da Polícia Rodoviária Federal já alerta sobre bloqueios; em São Paulo, caminhoneiros tentam se mobilizar

A Polícia Rodoviária Federal de pelo menos seis estados relatam pontos de bloqueio por conta de paralisação de caminhoneiros. Segundo informações de delegacias regionais da PRF, os bloqueios acontecem na Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Maranhão, Paraná e Santa Catarina. Caminhoneiros de São Paulo conversaram com o Radar Econômico e dizem que estão se organizando para fazer bloqueios nas regiões de Caçapava e Jacareí a partir da noite desta quarta-feira.

O ministério da Infraestrutura confirma que os bloqueios acontecem 4 estados e diz que “não há coordenação de qualquer entidade setorial do transporte rodoviário de cargas e a composição das mobilizações é heterogênea, não se limitando a demandas ligadas à categoria.” O ministério também acredita que até o fim do dia os movimentos já terão terminado. A maior manifestação acontece em Santa Catarina. No Maranhão, os manifestantes fecharam rodovias em Balsas e a pauta seria protesto contra o Supremo Tribunal Federal, segundo informações da PRF no estado.

O experiente gestor da Armor Capital e especialista em câmbio, Alfredo Menezes, fez o alerta: “O foco agora para o mercado é o movimento de caminhoneiros. Seria horrível para o PIB e o fiscal. Um tiro no pé.” As ações da Petrobras caem mais de 4,7% nesta quarta-feira, 08, com receio dos investidores que as paralisações possam ter a ver com o preço dos combustíveis. O Ibovespa cai mais de 3% e o dólar sobe quase 2,5%, aos 5,31 reais.

VEJA - Radar Econômico

Desde os atentados às Torres Gêmeas, extremistas supremacistas mataram mais americanos do que extremistas islâmicos radicados no país

Os anos em que Donald Trump ocupou a presidência dos Estados Unidos ficaram marcados pelo avanço da extrema-direita no país. O comício de supremacistas brancos em Charlottesville, em 2017, e os eventos do Capitólio, em janeiro de 2021, são os grandes expoentes dessa crescente. 

Ainda que haja uma tentativa de minimizar ou isolar esses incidentes por parte de simpatizantes, especialistas alertam que o crescimento desse movimento é uma forma de terrorismo que se tornou a maior ameaça à segurança doméstica dos Estados Unidos. Desde o 11 de setembro, os extremistas de direita foram mais responsáveis por mortes de americanos do que os fundamentalistas islâmicos radicados no país.

No início do ano, um relatório feito pela inteligência americana advertiu que os ataques por motivação racial representam uma ameaça de terrorismo doméstico mais letal do que em anos anteriores, sendo mais séria do que potenciais ataques vindos do exterior. A Casa Branca já tem, inclusive, uma estratégia para lidar com o problema.

O diretor do FBI — a polícia federal americana –, Christopher Wray, disse ao Congresso que os atos de 6 de janeiro não são um fato isolado, “mas uma demonstração de que o problema do terrorismo está se espalhando por todo o território americano há varios anos”. Ele acrescenta ainda que os ataques mais letais da última década foram causados por grupos supremacistas. 

Apesar das inúmeras advertências, o assunto foi minimizado ao longo dos anos. A atenção e os recursos foram direcionados em sua maioria para ameaças exteriores, como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, subestimando o nível de ameaça desses grupos. “É inegável que o governo federal subestimou a ameaça, principalmente após os eventos de 11 de setembro, quando o foco passou a ser muçulmanos, estrangeiros e pessoas de cor”, diz Hina Shamsi, diretora do projeto de segurança nacional da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) ao jornal The Guardian.

Muitos especialistas governamentais e não governamentais estudam o fenômeno do terrorismo doméstico, analisando ameaças deliberadas ou atos de violência motivados por questões ideológicas que intimidam a sociedade americana. A plataforma de pesquisa New America analisou os 251 assassinatos que se encaixam nessa categoria desde os atentados de 2001.

O relatório concluiu que membros da extrema-direita mataram 114 pessoas em mais de 30 ataques, enquanto os que seguem ideologias extremas do islamismo, mas sem ligação com o exterior, mataram 107 indivíduos em 14 ataques. 

O Departamento de Justiça americano reprime duramente aqueles que ameaçam a vida da população em nome da Al-Qaeda ou do EI, trazendo acusações relacionadas ao terrorismo, resultando em grandes sentenças independente da realização ou não do ataque. Quando se trata de supremacistas brancos, a situação é diferente. Segundo levantamento feito pela Organização Centro Brennan para Justiça da escola de direito da Universidade de Nova York, ataques cometidos por esses grupos muitas vezes são minimizados a crimes de ódio ou violência de gangues, com os casos passando para legislações estaduais ou locais. 

David Sterman, um dos autores do relatório da New America, diz que os atos de extremistas são mais difíceis de policiar, uma vez que há alinhamento de pensamento com a política dominante dos Estados Unidos, acrescentando que o racismo tem um grande papel na disparidade da fiscalização. O atentado de Oklahoma, quando um homem bombardeou um prédio federal matando 168 pessoas e ferindo 680 em 1995, colocou um holofote no terrorismo doméstico de extrema-direita, porém, após os atentados de 11 de setembro, o então presidente George W. Bush direcionou todos os esforços para combater a ameaça externa. 

Durante seus dois mandatos, de 2001 a 2009, sete incidentes fatais que terminaram com 10 mortos e 11 feridos foram realizados por membros de extrema-direita, motivados por ideologia anti-gay, supremacia branca e retaliação pelo atentado às Torres Gêmeas, enquanto jihadistas foram responsáveis por dois ataques que terminaram com três mortos e nove feridos.

O terrorismo dentro do país se tornou ainda mais forte a partir de 2009, quando grupos motivados pela recessão econômica e pela eleição do primeiro presidente negro do país se tornaram mais agressivos. 56 pessoas morreram e 40 ficaram feridas durante os anos de governo de Barack Obama. A campanha presidencial de Donald Trump, em 2016, foi pautada em cima de uma retórica nacionalista branca. Quando se elegeu, o discurso foi posto em prática, como a proibição de viagens de imigrantes de uma série de países muçulmanos e a redução da entrada de refugiados vindos da América. Esse encorajamento por parte do ex-presidente trouxe consequências: mais de 10 ataques causados por extremistas de direita mataram 48 pessoas e feriram outras 59.

Ainda não está claro qual a estratégia que será adotada pelos Estados Unidos para continuar lidando com a escalada do terrorismo doméstico. No entanto, o aumento do número de ataques — cada vez menos isolados — liga o alerta para que a situação receba a devida atenção.

VEJA -  Mundo


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Cuidado com as águas de março



A expressão acima, como as "águas de março" que se espera sempre ao final do verão, é um antigo presságio. Foi o que Julio César escutou de um vidente, voltando vitorioso da guerra, no apogeu de seu poder. Ouviu novamente quando ia ao Senado, e desdenhou da advertência, conforme narram Seutônio e Plutarco, fontes para a dramatização que Shakespeare fez do episódio.

No velho calendário lunar romano, os idos caíam no dia 15 de março próximo, quando vão acontecer passeatas pelo impedimento ou renúncia de Dilma Rousseff.  A passagem se tornou um clássico sobre o excesso de confiança que impede um líder inseguro, herói ou charlatão, no topo de sua glória, de distinguir a cautela da fraqueza. Os grandes homens sabem da importância do acaso na política, pois tudo pode sempre mudar num golpe do destino. Não há general vitorioso que não possa ser esfaqueado por aliados de boa-fé, três meses depois da reeleição, por motivos vagos, traições imaginárias ou mal-entendidos. 

Julio César percebeu traidores e conspirações por toda a sua volta, como Dilma Rousseff, que foi presidente do conselho de administração da Petrobrás durante todos esses eventos horríveis de que se fala a todo momento. Ela estava muito mais perto disso tudo do que Lula do "mensalão" e, ao que tudo indica, tudo era uma coisa só, imensa, com diversos personagens em comum. São dezenas de caracteres secundários, operadores, agentes políticos, executivos, facilitadores, lobistas, doleiros, qualquer um deles, ou muitos, poderiam participar da conspiração. Teriam sido mais de 60 os conspiradores, uma bancada inteira, e exatos 23 a esfaquear César, segundo os registros. 

Quantas punhaladas virão das delações premiadas de teor ainda desconhecido?  Não há acordo entre os biógrafos se César ia mesmo derrubar a República e deixar-se proclamar imperador em 44 A.C. Nem se Dilma Rousseff tirou proveito direto do oceano de dinheiro desviado da Petrobrás, ou se sua campanha foi mesmo alimentada por dinheiro de corrupção. O fio da dúvida tece muitas histórias, cada qual põe uma engrenagem em movimento, é fácil perder o controle da situação. 

Num contexto semelhante, o presidente Collor procurou segregar a economia da crise política ao substituir Zélia Cardoso de Melo por Marcílio Marques Moreira. Parecendo mirar-se no exemplo, Dilma livrou-se da sua Zélia mesmo antes de reeleger-se e também nomeou uma espécie de embaixador com missões semelhantes: resolver as bombas deixadas por invencionices anteriores, recompor o relacionamento com os mercados (e com o bom senso) e evitar que a economia venha a aumentar as dores de cabeça do Palácio. O novo ministro precisará da colaboração do acaso (de São Pedro, para ser mais específico), e também dos bons ofícios de outras santidades e orixás brasilienses, com os quais poderá ter mais sucesso fazendo algumas oferendas. 

Seus primeiros movimentos revelaram muito cálculo: um pequeno pacote que lhe garante quase metade da meta estabelecida, o restante da qual facilmente alcançável mediante controle de caixa (o chamado "contingenciamento"), mesmo com a aprovação do "orçamento impositivo".
 
Sobre este último, vale lembrar que a matéria aprovada não condiz com este título vistoso, pois passa a ser impositiva apenas a execução das emendas parlamentares individuais e mesmo assim, com os descontos contidos no próprio dispositivo é muito provável que o valor executado de emendas fique na sua média histórica na faixa de 0,4% da Receita Corrente Líquida (RCL). É como se fosse uma "verba de gabinete" constitucionalmente assegurada, o direito de gastar algo na faixa de R$ 10 milhões em obras onde quer que o parlamentar julgue importante. 

A batalha de política fiscal terá ainda vários lances, pois é tido e sabido que a meta de superávit primário de 1,2% do PIB fixada por Joaquim Levy é para lá de modesta: de 1999 a 2008 esteve em cerca de 3% do PIB em média. Foi um lance inteligente fixar uma meta dentro da zona de conforto.  A separação dos assuntos econômicos dos políticos ia funcionando muito bem, até que a Presidente nomeou um homem do partido para o comando da Petrobrás, e assim, a empresa foi arrastada de volta para o torvelinho dos temas "políticos", péssima providência. 

Há, de fato, dois enredos na Petrobrás, não necessariamente descorrelacionados: um de má gestão, numa extensão impensável, talvez sistêmica, outro de roubalheira. A desproporção de valores é flagrante: a incompetência é imensamente mais cara que a corrupção, daí a insensatez em deixar uma coisa misturar-se com a outra. 

A companhia perdeu US$ 160 bilhões em valor, uma catástrofe, em razão principalmente da mudança de preço de petróleo, do modelo de exploração do pré-sal, dos níveis insanos de investimento a que se obrigou a companhia e da repressão aos preços de derivados. Foi uma trapalhada histórica em matéria de gestão a ponto de despertar a atenção de Aswath Damodaran, da Universidade de Nova York, talvez o mais conhecido dentre os professores de escolas de negócios americanas, uma espécie de guru internacional no tema de estratégia e avaliação de empresas. 

Não vale aqui detalhar a análise de Damodaran sobre o que descreveu como "a calamidade" que se abateu sobre a Petrobrás, mas apenas registrar que a má gestão - uma conduta totalmente reversível (e não necessariamente criminosa, pois pode ser apenas uma variedade de burrice que nasce de proposições ideológicas) - é responsável pela maior parte do prejuízo. Novas bases para a gestão e a para orientação estratégica (e ele faz diversas recomendações óbvias e interessantes) fariam a empresa recuperar vários bilhões em valor em pouco tempo, o que transformaria o dinheiro da corrupção em café pequeno e ajudaria, inclusive, a negociação de indenizações.   

Mas, em vez de prestar atenção no que diz o guru, tal como César, Dilma rejeita a cautela e o bom senso, e mantém a empresa na mesma senda que a levou ao buraco. Trazer Joaquim Levy foi um grande progresso, mas manter a Petrobrás sob a órbita do PT foi uma maneira de estabelecer os limites. Se foi a proverbial teimosia ideológica, tanto pior, mas se não havia alternativa, então é para nos preocuparmos de verdade com os idos, que podem ser de maio, julho e outubro, ou dos outros meses, quando cai no dia 13.

Fonte: Gustavo Franco – O Globo