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sábado, 21 de janeiro de 2023

Quem é o novo comandante do Exército, Tomás Miguel Ribeiro Paiva - O Globo

Comandante Militar do Sudeste assume o posto de Júlio César de Arruda, demitido pelo presidente Lula (PT) neste sábado

Comandante militar do Sudeste defende resultado das urnas em discurso

Comandante militar do Sudeste defende resultado das urnas em discurso Reprodução

Com a demissão de Júlio César de Arruda do comando do Exército, o substituto escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o comandante militar do Sudeste, Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva. A escolha acontece um dia depois de Paiva pedir a sua tropa respeito aos resultados das urnas e chamar os últimos atos no país de "terremoto político".

Aos 62 anos, Ribeiro Paiva nasceu na capital paulista e já foi chefe de gabinete do general Eduardo Villas Bôas. Ele assumiu o comando do CMSE em abril de 2021, ainda na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A unidade abrange 59 organizações militares e tem um efetivo de mais de 17 mil militares.

Quando ainda havia expectativa sobre que nome Lula escolheria para iniciar seu governo à frente do Exército, Ribeiro Paiva era tratado como o segundo da lista e o preferido de aliados de Lula. A escolha se confirmou por Arruda, em acordo com a equipe de transição.

No Exército desde 1975, Ribeiro Paiva foi aluno da Escola Preparatória de Cadetes do Exército, em Campinas (SP), tem cursos de Formação, de Aperfeiçoamento, de Comando e Estado-Maior, além de especialização em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas. Ele também foi ajudante de ordens dos ex-presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.

Durante sua trajetória na caserna, Ribeiro Paiva também comandou a Academia Militar das Agulhas Negras, a instituição de ensino superior responsável pela formação dos oficiais combatentes de carreira do Exército Brasileiro. Em 2012, ele comandou a Força de Pacificação da Operação Arcanjo VI, no Complexo da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro.

Sua chegada ao posto de general do Exército aconteceu em julho de 2019, quando passou a integrar o Alto Comando do Exército.

'Tem que respeitar o resultado da urna'
Em discurso no Quartel-General Integrado (QGI), em São Paulo, durante evento que homenageava os militares mortos durante terremoto no Haiti, nesta quarta-feira, Ribeiro Paiva pediu a sua tropa respeito aos resultados das urnas e chamou os últimos atos no país de "terremoto político".

"Também é o regime do povo. Alternância de poder. É o voto, e quando a gente vota, tem que respeitar o resultado da urna. Não interessa. Tem que respeitar. É essa a convicção que a gente tem que ter, mesmo que a gente não goste. Nem sempre a gente gosta, nem sempre é o que a gente queria. Não interessa. Esse é o papel da instituição de Estado, da instituição que respeita os valores da pátria. Somos Estado", afirmou o general.

Política - O Globo

 


sábado, 25 de julho de 2020

Paradoxos e paraquedas - Nelson Motta

Militares são preparados para matar e morrer

Desde sua origem nos guerreiros da Antiguidade, os militares são treinados para matar. Para cumprir as ordens de seus superiores, conquistar novos territórios, e defender com a própria vida a pátria e os cidadãos que lhes pagam os salários. Exige-se grande disciplina e respeito à hierarquia, um general não discute suas ordens com um capitão, não há nem pode haver “democracia interna” em um exército coeso e unido. [aliás, democracia, especialmente em excesso, não combina com um combate exitoso ao coronavírus.]

Com a evolução das guerras e do poder destrutivo, exércitos históricos como o de Alexandre, o Grande, as legiões romanas de Júlio César e a máquina militar nazista desenvolveram especialistas em logística, engenharia, química, física, medicina, comunicações, tecnologia, armamentos, veículos de combate. Das armaduras medievais aos macacões e capacetes de astronauta antivírus e antirradiação, os militares são preparados para matar e morrer e para obedecer à Constituição como um soldado a um general. Numa democracia não se cumprem ordens, a não ser as judiciais, debate-se com os representantes da sociedade e vota-se o que é melhor para o país.

Com sua vocação para a piada e os paradoxos, o Brasil tem um capitão expulso do Exército por planejar ações terroristas por maiores salários que manda em todos os generais.
[nada contra a democracia, apenas a frase anterior da matéria, mostra que o pensamento de Winston Churchill "...a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as demais formas que têm sido experimentadas ao longo da história.", elogia uma forma de governo que tem falhas graves, por criticar que o presidente Bolsonaro, eleito com quase 60.000.000 de votos, em eleições realizadas no Brasil, país  que apregoam vive sob o 'estado democrático de direito', mande em todos os generais.
Se vivemos em uma democracia a vontade soberana do Povo precisa e deve ser respeitada.
E uma das 'virtudes' apregoadas da democracia é que o Poder Militar se subordina à Consituição e esta atribui ao Presidente da República o comando supremo das Forças Armadas. 
A propósito: não esqueçam que o capitão foi absolvido das acusações pela mais instância da Justiça Militar de União = Superior Tribunal Militar.]  
Militarizou seu governo num aparelhamento igual ao do PT, só que o PT comandava sindicatos e movimentos sociais, e Bolsonaro comanda oficiais com tropas armadas. Ninguém duvida que ele se arriscaria a criar uma crise institucional, arrastando o que ele acha ser o “seu” Exército, para livrar os filhos da cadeia. Não chega a ser uma causa nobre, digna do Exército de Caxias.

Homens e mulheres do povo que chegaram por seus próprios méritos aos mais altos postos da hierarquia militar têm arraigada consciência de seus deveres com as instituições civis e democráticas. Estudaram e trabalharam muito a serviço de nossa soberania e das nossas instituições, e não parecem dispostos a participar das aventuras de um paraquedista lunático que caiu de paraquedas no poder.

Nelson Motta, colunista - O Globo


domingo, 14 de maio de 2017

Wanderléa

Não sei o que está sendo investigado do Maluf. Fiquei tão tocado com a descoberta de que ele, como a Wanderléa, ainda existe que não prestei atenção no resto da notícia

Há dias li a notícia de uma investigação envolvendo o Paulo Maluf e fui tomado por uma emoção parecida com a que senti ao descobrir que a Wanderléa está viva, ainda cantando e bonitinha como nos tempos da Jovem Guarda, lembra? 

[- Atualizando, sobre PAULO MALUF: Depois de ser duas vezes candidato à Presidência, prefeito de São Paulo outras duas, governador do Estado paulista e quatro vezes deputado federal, Paulo Maluf (PP-SP) - nome civil: PAULO SALIM MALUF - , aos 84 anos, diz preferir o último posto. "Vou cumprir este mandato de deputado federal em 2018, aos 87 anos. Se estiver com boa saúde, não preciso fazer campanha para deputado. É só dizer que sou candidato que estou eleito. Executivo não tem mais", diz. 
E completa: "(Ser) deputado é tranquilo: trabalho terça, quarta e quinta metade do tempo. Faço de conta que estou trabalhando."

- Atualizando sobre Wanderléa:  nasceu em junho 1946, 70 anos, a eterna Ternurinha, estreou na carreira aos 7 e que lançou seu primeiro álbum aos 17.
Wanderléa fez 70 anos e celebra o passado, reflete sobre tragédias pessoais e faz projeções para o futuro
"Eu só queria mesmo era ser livre. Acredito que com o meu jeito eu tenha contribuído para a soltura e para a autoestima da mulher brasileira", diz ela.]

Uma sensação de surpresa seguida de nostalgia e, confesso, até um certo enternecimento.

O velho Maluf, que o mundo parecia ter esquecido, ainda vivo, ativo — e solto. Deu saudade do tempo em que ele era uma espécie de corrupto oficial do Brasil, o suspeito de sempre, que inocentava toda a classe política nacional pelo contraste.  Ninguém era tão corrupto quanto ele. E como sua corrupção mais do que provada nunca deu cadeia e tornou-se até folclórica, ele também representava a tolerância histórica, o deixapralaísmo e o roubamasfazismo do brasileiro com a corrupção, até virem os tempos de Moro.

E houve uma reversão: antes Maluf inocentava os outros políticos porque nenhum conseguiria concentrar tanta corrupção quanto ele, hoje é tanta a corrupção revelada e generalizada que Maluf, pelo contraste, parece um amador.  Não sei o que está sendo investigado do Maluf, agora. Fiquei tão tocado com a descoberta de que ele, como a Wanderléa, ainda existe que não prestei atenção no resto da notícia. Parece que a investigação atual nada tem a ver com a inquisição de Curitiba.

Espantosamente, a operação Lava-Jato não se interessou pelo passado e pelas contas do Maluf, que deve estar se sentindo desprezado. E, decididamente, ultrapassado.

Cabelos
Planejando o assassinato de Júlio César, na peça de Shakespeare, os conspiradores discutem se devem ou não incluir Cícero no grupo. Um deles opina que os cabelos brancos de Cícero “nos trarão uma boa opinião, e comprarão a voz dos homens a nosso favor”.
Pensei no Lula, que deve a respeitabilidade que lhe permitiu ser eleito em 2002 em parte à sua barba branca, diferente da barba negra sindicalista que assustava tanta gente.

Há quem diga que foi a carta apaziguadora aos brasileiros que elegeu Lula pela primeira vez, outros dizem que foi o fastio com o governo Fernando Henrique. Eu sustento que foi a barba branca. Se deixarem o Lula ser candidato de novo em 2018, ele precisará, acima de qualquer outro requisito, de ainda mais cabelos brancos como os de Cícero.

Fonte: Luis Fernando Veríssimo - Transcrito do Blog do Noblat - O Globo


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Cuidado com as águas de março



A expressão acima, como as "águas de março" que se espera sempre ao final do verão, é um antigo presságio. Foi o que Julio César escutou de um vidente, voltando vitorioso da guerra, no apogeu de seu poder. Ouviu novamente quando ia ao Senado, e desdenhou da advertência, conforme narram Seutônio e Plutarco, fontes para a dramatização que Shakespeare fez do episódio.

No velho calendário lunar romano, os idos caíam no dia 15 de março próximo, quando vão acontecer passeatas pelo impedimento ou renúncia de Dilma Rousseff.  A passagem se tornou um clássico sobre o excesso de confiança que impede um líder inseguro, herói ou charlatão, no topo de sua glória, de distinguir a cautela da fraqueza. Os grandes homens sabem da importância do acaso na política, pois tudo pode sempre mudar num golpe do destino. Não há general vitorioso que não possa ser esfaqueado por aliados de boa-fé, três meses depois da reeleição, por motivos vagos, traições imaginárias ou mal-entendidos. 

Julio César percebeu traidores e conspirações por toda a sua volta, como Dilma Rousseff, que foi presidente do conselho de administração da Petrobrás durante todos esses eventos horríveis de que se fala a todo momento. Ela estava muito mais perto disso tudo do que Lula do "mensalão" e, ao que tudo indica, tudo era uma coisa só, imensa, com diversos personagens em comum. São dezenas de caracteres secundários, operadores, agentes políticos, executivos, facilitadores, lobistas, doleiros, qualquer um deles, ou muitos, poderiam participar da conspiração. Teriam sido mais de 60 os conspiradores, uma bancada inteira, e exatos 23 a esfaquear César, segundo os registros. 

Quantas punhaladas virão das delações premiadas de teor ainda desconhecido?  Não há acordo entre os biógrafos se César ia mesmo derrubar a República e deixar-se proclamar imperador em 44 A.C. Nem se Dilma Rousseff tirou proveito direto do oceano de dinheiro desviado da Petrobrás, ou se sua campanha foi mesmo alimentada por dinheiro de corrupção. O fio da dúvida tece muitas histórias, cada qual põe uma engrenagem em movimento, é fácil perder o controle da situação. 

Num contexto semelhante, o presidente Collor procurou segregar a economia da crise política ao substituir Zélia Cardoso de Melo por Marcílio Marques Moreira. Parecendo mirar-se no exemplo, Dilma livrou-se da sua Zélia mesmo antes de reeleger-se e também nomeou uma espécie de embaixador com missões semelhantes: resolver as bombas deixadas por invencionices anteriores, recompor o relacionamento com os mercados (e com o bom senso) e evitar que a economia venha a aumentar as dores de cabeça do Palácio. O novo ministro precisará da colaboração do acaso (de São Pedro, para ser mais específico), e também dos bons ofícios de outras santidades e orixás brasilienses, com os quais poderá ter mais sucesso fazendo algumas oferendas. 

Seus primeiros movimentos revelaram muito cálculo: um pequeno pacote que lhe garante quase metade da meta estabelecida, o restante da qual facilmente alcançável mediante controle de caixa (o chamado "contingenciamento"), mesmo com a aprovação do "orçamento impositivo".
 
Sobre este último, vale lembrar que a matéria aprovada não condiz com este título vistoso, pois passa a ser impositiva apenas a execução das emendas parlamentares individuais e mesmo assim, com os descontos contidos no próprio dispositivo é muito provável que o valor executado de emendas fique na sua média histórica na faixa de 0,4% da Receita Corrente Líquida (RCL). É como se fosse uma "verba de gabinete" constitucionalmente assegurada, o direito de gastar algo na faixa de R$ 10 milhões em obras onde quer que o parlamentar julgue importante. 

A batalha de política fiscal terá ainda vários lances, pois é tido e sabido que a meta de superávit primário de 1,2% do PIB fixada por Joaquim Levy é para lá de modesta: de 1999 a 2008 esteve em cerca de 3% do PIB em média. Foi um lance inteligente fixar uma meta dentro da zona de conforto.  A separação dos assuntos econômicos dos políticos ia funcionando muito bem, até que a Presidente nomeou um homem do partido para o comando da Petrobrás, e assim, a empresa foi arrastada de volta para o torvelinho dos temas "políticos", péssima providência. 

Há, de fato, dois enredos na Petrobrás, não necessariamente descorrelacionados: um de má gestão, numa extensão impensável, talvez sistêmica, outro de roubalheira. A desproporção de valores é flagrante: a incompetência é imensamente mais cara que a corrupção, daí a insensatez em deixar uma coisa misturar-se com a outra. 

A companhia perdeu US$ 160 bilhões em valor, uma catástrofe, em razão principalmente da mudança de preço de petróleo, do modelo de exploração do pré-sal, dos níveis insanos de investimento a que se obrigou a companhia e da repressão aos preços de derivados. Foi uma trapalhada histórica em matéria de gestão a ponto de despertar a atenção de Aswath Damodaran, da Universidade de Nova York, talvez o mais conhecido dentre os professores de escolas de negócios americanas, uma espécie de guru internacional no tema de estratégia e avaliação de empresas. 

Não vale aqui detalhar a análise de Damodaran sobre o que descreveu como "a calamidade" que se abateu sobre a Petrobrás, mas apenas registrar que a má gestão - uma conduta totalmente reversível (e não necessariamente criminosa, pois pode ser apenas uma variedade de burrice que nasce de proposições ideológicas) - é responsável pela maior parte do prejuízo. Novas bases para a gestão e a para orientação estratégica (e ele faz diversas recomendações óbvias e interessantes) fariam a empresa recuperar vários bilhões em valor em pouco tempo, o que transformaria o dinheiro da corrupção em café pequeno e ajudaria, inclusive, a negociação de indenizações.   

Mas, em vez de prestar atenção no que diz o guru, tal como César, Dilma rejeita a cautela e o bom senso, e mantém a empresa na mesma senda que a levou ao buraco. Trazer Joaquim Levy foi um grande progresso, mas manter a Petrobrás sob a órbita do PT foi uma maneira de estabelecer os limites. Se foi a proverbial teimosia ideológica, tanto pior, mas se não havia alternativa, então é para nos preocuparmos de verdade com os idos, que podem ser de maio, julho e outubro, ou dos outros meses, quando cai no dia 13.

Fonte: Gustavo Franco – O Globo