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sábado, 21 de outubro de 2023

Lula deveria se ocupar com o Brasil - Carlos Alberto Sardenberg

Vamos falar francamente: só os Estados Unidos têm capacidade de intervenção no conflito do Oriente Médio. Deve-se ao presidente Biden — com sua arriscada viagem a Tel Avivo único movimento, digamos, no sentido da redução de danos: obter a concordância de Israel e do Egito na abertura do corredor para levar comida, água e remédios para a sofrida população de Gaza.

E o Brasil?

Ia escrever capacidade zero. Mas perto de zero é mais adequado. Por um motivo: as boas relações de Lula e de Celso Amorim, seu assessor especial, com lideranças palestinas, incluindo, muito especialmente, o Hamas. E com o Irã, patrocinador dos terroristas do Hamas e do Hezbollah. Tratamos desse tema na coluna da semana passada. Voltamos para acrescentar novos dados.

Em março deste ano, Amorim assinou o prefácio da edição em português do livro “Engajando o mundo: a construção da política externa do Hamas”. O autor, Daud Abdullah, que esteve no Brasil para o lançamento, vive na Inglaterra. Já foi processado sob acusação de incitar ataques terroristas.

Em seu prefácio, Amorim declara ter ficado “encorajado” com estas palavras do autor: “O Hamas pode representar um papel central na restauração dos direitos palestinos”. Isso, acrescenta o embaixador brasileiro, “através de maiores esforços diplomáticos e alianças globais”.

Como percepção geopolítica, trata-se de um equívoco monumental. Esforços diplomáticos de um grupo cujo objetivo formal, escrito em estatutos, é destruir Israel e assassinar judeus?  
Como um diplomata experiente pode equivocar-se tanto?

A menos que não seja análise, mas propaganda. O autor Abdullah certamente é propagandista do Hamas. Amorim, de sua parte, acentua as relações históricas de Lula com o movimento palestino. O que é verdade. Tanto que, nos primeiros dias depois do ataque do Hamas, Lula e Amorim evitaram qualificar o caso como terrorismo.

Pois não seria este o momento de usar essas relações? 
Se o objetivo for evitar a escalada, há um movimento essencial que depende do Hamas: a libertação dos reféns presos em Gaza, entre os quais há muitos civis não israelenses, inclusive, possivelmente, brasileiros.

Há uma pressão global para que Israel cesse os bombardeios em Gaza e desista do ataque por terra. Não fará isso unilateralmente. A pressão interna sobre o governo israelense não permite. Uma troca pelos reféns pode levar pelo menos a uma parada temporária na guerra, abrindo espaço à diplomacia.

Lula tem acesso direto ao presidente do Irã, Ebrahim Raisi, aliás recentemente admitido como integrante do Brics. 
O Irã financia e lidera o Hamas. Amorim certamente tem como chegar a lideranças palestinas ligadas ao Hamas. 
Por que o governo brasileiro não se engaja nessa direção? 
 
Toda a movimentação diplomática do governo brasileiro simplesmente não deu em nada até agora. E não dará. 
Todo mundo sabia que a resolução apresentada no Conselho de Segurança da ONU seria derrubada pelos Estados Unidos, que pretendem manter abertas todas as suas opções de negociação e intervenção. 
Os 12 países que votaram pela resolução o fizeram para marcar posição interna ou em relação aos Estados Unidos (como a China). E votaram sabendo que a proposta brasileira cairia.

Retirar os brasileiros de Israel foi simples. Não houve qualquer obstáculo de Israel, ao contrário. Mas e os reféns que estão em Gaza?

O Hamas quer apoio como o apoio incondicional que recebe de esquerdas internacionais, cuja manifestação em Nova York pedia um só Estado Palestino, “do rio (Jordão) ao mar”.  
Ou seja, varrendo Israel do mapa. Esquerdas brasileiras, incluindo partes do PT, embarcaram nessa.  
Mas Lula teve de chamar o terrorismo do Hamas de terrorismo, por pressão local e internacional.

Ora, isso elimina a capacidade de fala com o Irã e o Hamas. Como o governo brasileiro não tem abertura para o outro lado, acabou qualquer possibilidade de intervenção no conflito.

Para falar a verdade, o governo deveria aplicar todo o seu tempo, sua energia e seu dinheiro nos graves problemas internos: a seca no Amazonas, chuvas no Sul, o desastre da segurança especialmente na Bahia e no Rio.   
Mas isso é mais difícil, né? [afinal o DESgoverno petista, NÃO TEM PLANO DE GOVERNO - em nenhuma área = como pode resolver algo?]

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 

O Globo - Coluna 21 outubro 2023


segunda-feira, 4 de abril de 2022

Um mundo em guerra - Revista Oeste

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia é apenas mais uma página na longa história de guerras escrita pela humanidade

Uigures durante um protesto contra a China perto do consulado chinês em Istambul, na Turquia, em 15 de dezembro de 2019 | Foto: Shutterstock
Uigures durante um protesto contra a China perto do consulado chinês em Istambul, na Turquia, em 15 de dezembro de 2019 | Foto: Shutterstock

A invasão da Ucrânia pela Rússia trouxe novamente à superfície os horrores da intolerância, da opressão e do autoritarismo. Inflamados pela retórica do presidente Vladimir Putin, os soldados russos tomaram de assalto diversas cidades ucranianas. E deixaram rastros de destruição por onde passaram. Infraestruturas, bases militares e áreas residenciais foram reduzidas a pó — literalmente. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de mil civis morreram desde o início dos ataques, em 24 de fevereiro. Pelo menos 4 milhões de ucranianos se refugiaram em outros países.

Esse cenário dantesco serviu de combustível para a imprensa, que decidiu acompanhar o conflito intensamente. Imagens aterradoras estampam as páginas de jornais e revistas, enquanto analistas políticos comparecem a programas de televisão para comentar os desdobramentos do confronto. Muitos tiveram a sensação de que essa era a primeira guerra de grande magnitude surgida em décadas.

Em virtude da cobertura da imprensa, a crise no Leste Europeu atingiu níveis extraordinários de importância. Mas a verdade é que, desde que a história passou a ser registrada, o mundo nunca teve sequer um dia de paz. Os holofotes, contudo, nem sempre estiveram em cena.

O terror chinês
O massacre contra os uigures, povo muçulmano estabelecido na região autônoma de Xinjiang, localizada no noroeste da China, é um exemplo de tragédia humanitária que passa ao largo dos líderes ocidentais e dos conglomerados econômicos. Há dez anos, a minoria islâmica é alvo sistemático do terror praticado pelo Partido Comunista. Liderada pelo presidente Xi Jinping, a ditadura chinesa enviou milhões de uigures para campos de concentração. A justificativa: suposto combate ao terrorismo.

Em entrevista à CNN, um ex-detetive chinês disse ter testemunhado diversas vezes o uso de métodos de tortura nesses locais, como eletrocussões e afogamentos. O ex-oficial, identificado apenas como “Jiang” por temer retaliações de Pequim, revelou que os responsáveis pelas prisões têm de cumprir cotas de números de uigures a serem detidos. “Se quiséssemos que as pessoas confessassem algum crime, usávamos um bastão elétrico com duas pontas afiadas no topo”, explicou. “Amarrávamos dois fios elétricos nas pontas e os fixávamos nos órgãos genitais dos detentos.”

 

A brutalidade nos campos de concentração provocou desespero na população de Xinjiang, que não consegue procurar abrigo em outros países porque a ditadura chinesa usa recursos tecnológicos para vigiá-la. Em parceria com a Huawei, uma das maiores empresas da Ásia, o Partido Comunista elaborou um sistema de monitoramento que envolve a gravação de voz, o rastreamento, a reeducação ideológica e o reconhecimento facial de seus alvos. Nos últimos dez anos, aqueles que violaram a legislação e tentaram cruzar a fronteira para o Vietnã, o Cazaquistão, o Tajiquistão e o Camboja foram deportados para a China. O paradeiro desses cidadãos é desconhecido.

De acordo com a For The Martyrs, organização sem fins lucrativos que atua em defesa das liberdades religiosas, aproximadamente 2 milhões de uigures estão presos em campos de concentração. Isso representa 10% da população de minoria muçulmana.

A despeito desse massacre, a China realizou os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022. Noruega, Alemanha, Estados Unidos, Suécia, Holanda, Áustria, Suíça, França, Canadá, Itália, Coreia do Sul, Finlândia, Eslovênia, Austrália, Bélgica, Polônia e Estônia — países que impuseram sanções à Rússia depois da invasão da Ucrânia — participaram do evento sem nenhuma objeção.[absurdo é que a mídia formada pela velha imprensa e a TV Funerária, a serviço da causa esquerdista progressista, produzem narrativas falsas; 
Vejamos: vendo os principais telejornais jornais da Rede Funerária ou lendo as manchetes da velha imprensa = o tal 'consórcio' que adequa os fatos à narrativa desejada =  fica a impressão que a Rússia perdeu a guerra,  e que logo os jornalistas e analistas mostrarão soldados ucranianos desfilando na Praça Vermelha e tanques disparando contra os muros do Kremlin. Não será surpresa, pelo que narram, que Putin discurse suplicando pela abertura de corredores humanitários ligando Moscou aos aliados "de palanque" da Ucrânia.
Só que ao mesmo tempo acusam a Rússia de matar civis ucranianos - um exército em fuga matando civis?
Outro absurdo é quando declaram que países da União Europeia vão boicotar o petróleo e gás russo - boicotar como? são eles, os candidatos a boicotadores, que precisam do gás e petróleo russo.
Por favor, apresentem os FATOS = a VERDADE.] 

Turbulências permanentes
No Oriente Médio, há conflitos ainda mais antigos, com raízes históricas profundas. Árabes e israelenses, por exemplo, disputam há mais de um século a região da Palestina, localizada entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo. Desde 1860, a turbulência prevalece no cotidiano de ambos os povos, a despeito dos raros períodos de estabilidade. A fundação do Estado de Israel, em 1948; a Guerra do Suez, em 1956; a Guerra dos Seis Dias, em 1967; e a Guerra do Yom Kippur, em 1973, são alguns dos eventos históricos que contribuíram para o crescente aumento de tensão na Ásia Ocidental.

A mais recente escalada de violência ocorreu no ano passado, em Sheikh Jarrah, bairro árabe localizado em Jerusalém Oriental. “Isso ocorreu em 12 de maio, data em que Israel celebrava a reunificação de Jerusalém”, explicou o cientista político André Lajst, diretor-executivo do StandWithUs Brasil. “O Hamas usou como pretexto as manifestações que estavam ocorrendo na cidade para disparar seus foguetes. Mas também houve uma questão judicial em Sheikh Jarrah: duas famílias palestinas refugiadas poderiam ser despejadas das casas onde moram, cujos proprietários são judeus. Esses acontecimentos motivaram protestos e geraram ondas de violência em Jerusalém.”

Desde o início do confronto, os fundamentalistas islâmicos lançaram 3.700 foguetes contra o território israelense, assassinando 12 pessoas e ferindo 333
Os ataques de Israel, por sua vez, mataram 232 palestinos e feriram outros 1.530. 
Depois de 11 dias de enfrentamento, o governo de Israel e as lideranças do Hamas anunciaram um cessar-fogo mútuo e simultâneo, colocando um ponto final às hostilidades — até a página 2.

Guerra ao Terror
Em 29 de agosto de 2021, um dia antes de concluírem a retirada das tropas do Afeganistão, os Estados Unidos enviaram um drone à capital do país, Cabul, com o objetivo de alvejar um terrorista do Estado Islâmico. O ataque, no entanto, também resultou na morte de civis, que engrossaram a estimativa de 900 mil óbitos decorrentes da Guerra ao Terror. [foi a primeira demonstração do Biden do quanto ele é incompetente como estrategista = ordenou a retirada do Afeganistão começando pelos militares, deixando os civis para o final.] O) capítulo, iniciado pelo ex-presidente George. W. Bush e concluído pelo presidente Joe Biden, encerraria parcialmente a história da incursão militar norte-americana nos países asiáticos, que ocorreu em resposta aos atentados de 11 de setembro. “A guerra tem sido longa, complexa e sem sucesso. E continua em mais de 80 países”, disse Catherine Lutz, professora na Universidade Brown (EUA) e co-diretora do projeto Costs of War, que avalia as consequências desse conflito.

Para Antonio Gelis Filho, professor de geopolítica empresarial na Fundação Getulio Vargas (FGV), os Estados Unidos decidiram declarar uma “Paz Quente” ao resto do mundo, imaginando-se capaz de intervir militarmente em países com culturas distintas. “O Ocidente tentou impor um modo de vida progressista ao resto do mundo, gerando resistências”, explicou. “Enquanto isso, transferia a fonte última de sua harmonia social e progresso — empregos industriais de alta remuneração — para o Oriente. É preciso restabelecer as bases reais de seu progresso antes que seja tarde demais.”

Além da Europa
O conflito entre a Rússia e a Ucrânia é apenas mais um capítulo da história da humanidade, construída durante milênios em meio à repressão e à violência. O genocídio contra os uigures, o confronto árabe-israelense e a incursão militar norte-americana nos países asiáticos ocorreram ao mesmo tempo em que o desenvolvimento econômico e tecnológico possibilitou a diminuição da fome no mundo, das taxas de analfabetismo e da pobreza — e, ao mesmo tempo, o acesso à informação e ao conhecimento. O avanço civilizacional, no entanto, jamais impediu a eclosão de guerras.

No mesmo momento em que Moscou e Kiev buscam soluções para o embate no Leste Europeu, outros cinco conflitos irrompem ao redor do mundo. No Iêmen, por exemplo, a catástrofe humanitária já dura 11 anos. Os números são chocantes: 223 mil mortos e 2 milhões de crianças em desnutrição aguda.

Também longe dos holofotes diplomáticos internacionais, a crise na Etiópia, iniciada em 2020, não parece arrefecer. Estima-se que 9 milhões de etíopes precisam de algum tipo de ajuda humanitária, segundo a ONU. Há ainda relatos de crimes de guerra ocorrendo no país, como chacinas contra civis e estupros em massa.

Em Mianmar, as tensões políticas e étnicas ocorrem há anos. De acordo com a organização não governamental (ONG) Rescue Committee, os conflitos que se espalharam pelo país desde a ascensão dos militares foram a causa da migração de 220 mil pessoas. Cerca de 14 milhões de habitantes (25% da população) precisam de ajuda humanitária. Desde o início da guerra, 10 mil civis morreram.

O Haiti vive uma espiral de violência desde julho de 2021, quando o então presidente, Jovenel Moïse, foi assassinado. Baleado 12 vezes na testa e no torso, seu olho esquerdo foi arrancado e os ossos do braço e do tornozelo, quebrados. De lá para cá, diversas gangues surgiram no país e passaram a semear o caos. No ano passado, mais de 800 pessoas foram sequestradas por esses grupos criminosos.

Protestos iniciados em 2011 contra o ditador da Síria, Bashar al-Assad, mergulharam o país em uma guerra civil de grande escala. O conflito, ainda em vigência, resultou na morte de 380 mil pessoas e na destruição de diversas cidades. Outros 200 mil cidadãos estão desaparecidos. Pelo menos 11 milhões de sírios, o equivalente à metade da população do país antes da guerra, tiveram de deixar suas casas.

O impacto da propaganda

Dentre todas essas catástrofes humanitárias, a imprensa escolheu prestar atenção ao conflito no Leste Europeu. Segundo Bruna Frascolla, doutora em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), isso ocorreu em razão da propaganda midiática pró-Ucrânia que circula nos países ocidentais. “Há dois meses, se você parasse alguém em Copacabana e perguntasse quem é o presidente da Ucrânia, ninguém iria saber”, observou. “Hoje, meio mundo não só sabe, como tem certeza de que é um santo. Basta dizer que apoia Zelensky para ter certeza de que é bom, e quem não aderir ao coro é um abominável putinista.”

Bruna diz ainda que intelectuais e jornalistas são responsáveis pela maneira como a propaganda pró-Kiev foi disseminada no Ocidente. “O povo letrado em geral vive assim: encontra um slogan para repetir e pertencer ao clube dos bons, o que por tabela constitui a existência de um time dos maus — sem espaço para neutralidade”, afirmou. “Como os jornalistas pertencem a esse grupo e aderem a slogans limpinhos e cheirosos, repetem acriticamente tudo aquilo que diz a Organização do Tratado do Atlântico Norte. O resultado é que empurram a propaganda sem se preocupar com a informação.”

Guerra e paz
Como observa Felipe van Deursen no livro 3 Mil Anos de Guerra, a história da humanidade é a história das guerras. Dos Tempos Bíblicos à Idade Moderna, diferentes povos batalharam entre si para impor seus costumes e valores. E deixaram rastros de sangue e destruição pelo caminho.

A despeito das atrocidades, contudo, a humanidade desenvolveu um conjunto de valores que ofereceu relativa estabilidade e harmonia entre os povos. Se no passado os conflitos tinham proporções globais, como observado nas duas Grandes Guerras Mundiais e na Guerra Fria, no presente as tragédias humanitárias estão restritas a pequenas regiões, livrando a maior parte da população do sofrimento.

Mas ainda assim haverá guerras. Essa é a história da humanidade.

Leia também “O Ocidente já perdeu?”

Edilson Salgueiro, colunista - Revista Oeste


sábado, 15 de agosto de 2020

Enfim uma boa notícia no Oriente Médio, mas tem quem reclame - Blog Mundialista

Tudo de bom: acordo entre Israel e Emirados Árabes Unidos abre uma fase promissora e “tira da pauta” a anexação de territórios palestinos 

“Mensagem de amor de Telavive”. Assim a prefeitura da cidade ilustrou a fachada de luzes nas cores de Israel e dos Emirados Árabes Unidos – os Emirados, para simplificar. Uma semana antes, a  iluminação em forma da bandeira do Líbano, em solidariedade aos mortos na grande explosão do porto de Beirute, provocou reações furiosas. Israelenses de direita consideraram um ato de traição, uma vez que o Líbano continua a não aceitar um tratado de paz com Israel, e libaneses muito mais extremistas reagiram: “Vamos iluminar Telavive com nossos mísseis”. 

O clima completamente diferente que cerca a aproximação oficial entre Israel e os Emirados é um dos raros momentos em que o Oriente Médio produz uma notícia boa. A aproximação é produto de um longo processo de acerto entre interesses comuns. Israel não precisou pagar com a devolução de territórios, como aconteceu com o Sinai reintegrado ao Egito, em 1979.

O retorno de Yasser Arafat e a  transferência de territórios à Autoridade Palestina, em 1994, também envolveu essa “troca de paz por terra”. Foi uma experiência infeliz, fracassada ou condenada na opinião de muitos israelenses, decepcionados com a militarização e os atentados terroristas provocados pelos novos “aliados”. A maioria dos palestinos também se decepcionou por não conseguir o Estado independente que deveria estar na continuidade dos acordos.

Romper o tabu e se acertar com Israel sem ter o interesse premente de uma troca territorial é um passo muito importante não apenas pelo resultado presente como também pelo que antecipa como futuro: a aceitação de Israel como um país “normal”, não uma  entidade odiada a ser varrida do mapa ou, na falta de capacidade para fazer isso, hostilizada e rejeitada.

Por que o entendimento foi recebido com tanta má vontade em vários setores? Primeiro, porque é uma conquista de dois governantes abominados, Donald Trump e Benjamin Netanyahu. O terceiro integrante do acordo, o príncipe Mohammed Bin Zayed,  herdeiro de Abu Dabi e líder do pequeno e rico colar de emirados que foram uma entidade comum às margens do Golfo Pérsico, tampouco é uma flor da democracia e das liberdades fundamentais – ninguém é nessa região do mundo.

Segundo, porque nada é capaz de satisfazer as expectativas dos palestinos e de seus simpatizantes. [as expectativas dos palestinos são simples de satisfazer: querem apenas não ser estrangeiros em sua própria terra, vítimas de invasões de 'agricultores' - colônias de israelenses na Cisjordânia - 'agricultores' que contam com um apoio de um poderoso exército.
o número de mortos na explosão em Beirute, é muitas vezes inferior ao de civis palestinos mortos pelas chamadas Forças de Defesa de Israel - que utilizam aviões de última geração e poderosos blindados, para se 'defender'  de civis palestinos desarmados e em sua própria terra - ou migalhas que lhe foram concedidas.
Israel tem direito a um território, mas, não pode exercer tal direito tomando terras do mais fraco.]

O primeiro-ministro de Israel estava a poucos dias de anunciar a anexação das faixas de território palestino que, na prática, já são anexadas pela presença de enclaves residenciais habitados por judeus.
Como bom negociador, Bibi mais do que insinuou que anexaria também todo o lado ocidental do vale do rio Jordão.

Uma cartada que saiu rapidamente da mesaSobre a anexação das áreas sob controle total de Israel, Bibi sustenta que não foi eliminada  

Em Mundialista - Blog de Vilma Gryzinski - VEJA - MATÉRIA COMPLETA

sábado, 11 de janeiro de 2020

Muro ameaçado - Merval Pereira



O propalado desejo do presidente Jair Bolsonaro de subsidiar a luz dos templos religiosos, atendendo a um pedido da bancada evangélica na Câmara, é mais um dado preocupante no envolvimento do governo com a religião avançando sobre o Estado laico.  As implicações econômicas da medida, que estão provocando atritos dentro do governo, não interessam neste momento, mas sim a crescente influência da religião nos rumos da política brasileira. Quando anunciou que faria mudanças na área cultural “para preservar os valores cristãos”, Bolsonaro defendeu que o novo presidente da Ancine deveria ser um evangélico que conseguisse “recitar de cor 200 versículos bíblicos, que tivesse os joelhos machucados de tanto ajoelhar e que andasse com a Bíblia debaixo do braço”. 
[alguém já parou para pensar que quando o Presidente da República Federativa do Brasil, JAIR BOLSONARO, faz certos comentários está apenas sendo irônico, debochando de alguns que o criticam?
 
Afinal, vivemos na terra do DEBOCHE - debochar é, por suprema decisão, uma forma de exercer a 'liberdade de expressão', mesmo quando o alvo do deboche é JESUS CRISTO, o Filho de DEUS, o único realmente SUPREMO.
 
Até a 'constituição cidadã',-  um emaranhado de normas confusas, estabelecendo direitos SEM a contrapartida dos DEVERES, repleta de lacunas e pontos contraditórios, verdadeiros 'buracos negros' que facilitam a judicialização de qualquer bobagem, que seria resolvida com mais presteza e menos custo pelo guarda da esquina, mas, que mesmo assim é a LEI MAIOR - confere isenção tributária aos templos religiosos.
 
Concessão que até certo ponto procede - desde que seja decidido ( assunto para ir ao Supremo) tal isenção só favorecerá igrejas tradicionais, tendo a frente a Igreja Católica Apostólica Romana - aqui, para evitar longa e estéril discussão religiosa, não invoco sua condição de ser a realmente fundada por JESUS CRISTO e sim a mais antiga - seguida por algumas evangélicas, com tradição. 
Com essa seleção se evita que um individuo após puxar alguns anos de cadeia, aprenda alguns trechos bíblicos e quando em condicional vá para praça pública, uma bíblia nas mãos a pregar e funde mais uma denominação evangélica.]

Sem falar que já anunciou que pretende nomear para o Supremo Tribunal Federal (STF) um ministro “terrivelmente evangélico”, provavelmente o ministro da Advocacia Geral da União, pastor presbiteriano André Luiz Mendonça. O presidente Jair Bolsonaro já havia amenizado, a pedido dos evangélicos, as obrigações fiscais das igrejas. [atualizando: o artigo 150, inciso VI, b, combinado com § 4º do mesmo artigo da CF, já proíbe instituir impostos sobre o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades.] O cadastro do CNPJ passou a ser obrigatório apenas para matrizes, e o piso de arrecadação para que uma igreja seja obrigada a declarar suas movimentações financeiras diárias passou de R$1,2 milhão para R$ 4,8 milhões.

Quando se filiou ao PSC, com forte influência da Assembléia de Deus, Bolsonaro, mesmo sendo [se declarando] católico, foi batizado no Rio Jordão. No seu ministério há uma forte representação evangélica. Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, é pastora pentecostal; Ministro da Casa Civil, o luterano Onyx Lorenzoni acaba de nomear um pastor da Igreja Sara Nossa Terra para seu chefe de gabinete; o Ministério do Turismo é chefiado por Marcelo Álvaro Antonio, da Igreja Maranata, e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, é batista.

No Rio de Janeiro, temos um exemplo radical da mistura entre Estado e religião, com o prefeito Marcelo Crivella, pastor sobrinho de Edir Macedo, fundador da Igreja Universal. Na campanha, ele se comprometeu a não misturar sua religião com seu governo, mas nunca fez diferenciação.  Ano passado, mandou recolher da Bienal do Livro uma história em quadrinhos que tinha um beijo entre dois homens, [exceto tenha sido revogado de ontem para hoje, a CORRUPÇÃO DE MENORES é crime grave, tipificado no Código e a HQ era destinada ao público infanto-juvenil.] e neste réveillon incluiu nos espetáculos de fim de ano um grupo gospel, o que acabou gerando uma disputa jurídica com uma entidade que representa os agnósticos.

Diante da aproximação de Bolsonaro com os evangélicos, também a esquerda, sobretudo o PT, passou a tratar esse nicho eleitoral como prioritário. O PT, que nasceu das relações da esquerda católica com a Teologia da Libertação, passa agora, por orientação de Lula, a investir nos evangélicos, criando núcleos nas suas representações regionais para esse grupo. O caso mais recente envolvendo religião, o da censura ao vídeo de Natal do grupo Porta dos Fundos, que mostra Jesus envolvido em uma relação gay, é exemplar desse ambiente exacerbado que o novo governo estimula. Há anos o mesmo grupo faz edições de Natal com sátiras a Jesus, e nunca foi possível obter a censura que agora se conseguiu por algumas horas, até que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli colocasse as coisas em seu devido lugar, revogando a decisão absurda.

 Os protestos sempre existiram, e é perfeitamente normal que cidadãos ou instituições reajam às piadas que considerem insultuosas à sua religião com ações judiciais, mas, mesmo que peçam, num estado laico não poderiam ganhar uma causa de censura.
[em uma simples pesquisa no Google se comprova que as práticas usuais entre os pertencentes ao grupo que pretenderam incluir Jesus Cristo,  é severamente repudiada em vários trechos da Bíblia Sagrada.
Sempre que escrevo sobre este assunto surge uma pergunta:
qual o motivo da não inclusão do Profeta Maomé na HQ ou na sátira do grupo citado?] A separação por um muro invisível entre Igreja e Estado é peça fundamental de um Estado moderno e democrático, que é defensor de que cada um possa exercer sua religião, mas garante que nenhuma delas prevalecerá por obra do governo. 

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

País pária - Merval Pereira

O Globo
Isolamento no plano externo traz prejuízos econômicos concretos e nos põe à margem do Ocidente, com exceção dos EUA

Sim, Bolsonaro sempre foi assim. Mas está a cada dia mais Bolsonaro, menos presidente da República.  Raramente seus arroubos autoritários tinham repercussão na vida política do país,  eram inócuos. Seu desassombro deixa de ser uma qualidade quando coloca o país em situação embaraçosa diante do mundo civilizado, ou defende teses que, na pessoa física, poderiam causar apenas revolta, mas, na jurídica, criam crises políticas que vão se avolumando.

Cometeu a mesma afronta contra a ex-presidente do Chile, Michele Bachelet, atual Alta Comissária dos Direitos Humanos da ONU, que já cometera anteriormente com o presidente da OAB Felipe Santa Cruz. Além da gravidade em si, de desrespeito a líderes de instituições reconhecidamente representativas, demonstra um desprezo alarmante pela vida humana. [O atual presidente do Chile, por razões políticas, não pode corroborar o entendimento do presidente Jair Bolsonaro, mas, sem nenhuma dúvida possui a convicção de que só é presidente do Chile atualmente, graças a corajosa ação do general Augusto José Ramón Pinochet Ugarte, que neutralizou a ameaça comunista na nação irmã.]

Respondeu a críticas políticas não com argumentos e fatos, mas com a apologia ao extermínio dos adversários de sua ideologia. No caso de Bachelet, ainda demonstrou uma visão enviesada, pois creditou a seu pai uma ideologia revolucionária que os historiadores negam.  Essa divisão rasa de amigos e adversários, que são todos comunistas, assim como o PT tacha de direitistas os seus críticos, só demonstra visão política deturpada, que torna impossível uma composição mais ampla com a sociedade. A inviabilidade de uma coalizão não restrita à direita radical coloca o governo no isolamento interno, da mesma maneira que, no plano externo, estamos nos tornando párias com os controversos posicionamentos sobre o meio ambiente e os direitos humanos.

Para os interesses políticos imediatos de Bolsonaro, o isolamento no plano interno não é mau negócio, já que ele estimula o choque contra o PT. Mas, no externo, traz prejuízos econômicos concretos e nos coloca à margem do mundo ocidental, com exceção dos Estados Unidos. [a tentativa do presidente francês de jogar o mundo contra o presidente Bolsoanro, contra o Brasil, foi um enorme fracasso, que se o francês certamente se arrepende.
Além de não ter obtido apoio do mundo, foi advertido pela chanceler Merkel, por Boris Johnson e Trump.] Suas atitudes cada vez mais desabridas o levam a situações extremas com freqüência. Quando recebeu aquela desazada benção do bispo Macedo, da Igreja Universal, Bolsonaro chorou. [Bolsonaro, é forçoso reconhecer, porém, inevitável, também - mesmo sendo o 'mito' é humano -  pisou feio na bola quando se dizendo católico foi ser 'batizado' no Rio Jordão e agora ao aceitar ser 'abençoado' por um 'bispo'.
A Igreja Católica Apostólica Romana considera o batismo - ao se declarar católico, Bolsonaro ratifica sua condição de batizado segundos os ritos católicos - um Sacramento que é administrado uma única vez.
E, qualquer igreja evangélica séria, assim como a Igreja Católica Romana, considera inaceitável servir a dois senhores = no caso, pertencer a mais de uma igreja. ]
Recentemente, repetiu que às vezes acorda à noite, angustiado, como já fizera anteriormente, ao lembrar-se da facada que levou na campanha presidencial. O fantasma do drama vivido naqueles dias não abandona o presidente que, como já escrevi aqui, pode estar sofrendo de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), que ocorre em pessoas que sofrem situações com risco de morrer.   Como decorrência do TEPT a literatura médica registra transtornos de ansiedade, de humor, anorexia nervosa, paranóia, narcisismo. Muitos desses fatores estão presentes no cotidiano de Bolsonaro. A paranoia vem marcando a ação cotidiana do presidente. Os limites que lhe são impostos pela democracia o estão irritando, descobriu que não pode tudo.

Ameaçou não passar a Presidência para o vice-presidente Hamilton Mourão enquanto estivesse no hospital, mas teve que recuar. Disse que poderia deixar um interino na Procuradoria-Geral da República (PGR), mas vai anunciar o substituto de Raquel Dodge nos próximos dias, alertado de que poderia cometer um ato de improbidade administrativa se se mitisse. 
Os permanentes atritos internos e externos podem ser atribuídos a transtornos de humor. Descobriu que sua caneta Bic (que agora abandonou por ser francesa) tinha muito poder. Anunciou em altos brados que quem manda é ele, mais ninguém. Comparou-se ao Rei no jogo de xadrez. Disse que elegeu sozinho boa parte do PSL, partido pelo qual disputou a eleição, e que pode deixar a sigla a qualquer momento. Um narcisismo que cultiva cada vez mais.

Ameaça ultrajante
O curta-metragem "Operação Lula Livre", publicado no YouTube, é ultrajante. - [clique a assista.] Propaganda vulgar pela libertação do ex-presidente, conta a história de um grupo guerrilheiro que sequestra a filha do ministro Sérgio Moro, no filme chamado de Mauro, para exigir a libertação de Lula.
O ex-presidente aparece no papel de bom moço, e manda soltar a menina. Trata-se, segundo os autores, de "uma elocubração fabulatória relativa à progressiva iminência desta eventualidade histórica". A Polícia Federal está investigando, e os autores podem ser acusados de incentivo ao crime.


Merval Pereira, jornalista - O Globo 


sexta-feira, 29 de março de 2019

Trapalhadas do capitão

O dito pelo não dito


Onde se leu: o presidente Jair Bolsonaro ordenou ao Ministério da Defesa que comemore em todos os quartéis do país a passagem de mais um aniversário do golpe militar de 64; Leia-se agora: não foi comemorar. Foi rememorar, rever o que está errado, o que está certo e usar isso para o bem do Brasil no futuro, disse Bolsonaro, corrigindo seu porta-voz.

Onde se leu: Bolsonaro atribui a “problemas pessoais” a irritação com ele do presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia, que respondeu mandando que ele parasse de brincar de presidir o país; Leia-se agora: "o desentendimento entre os dois foi uma passageira chuva de verão” e é “página virada”, como afirmou Bolsonaro.

Onde se leu: Bolsonaro irá transferir de Tel Aviv para Jerusalém a embaixada do Brasil em Israel; Leia-se agora: Bolsonaro admite que o Brasil poderá abrir em Jerusalém um escritório de negócios, mantendo sua embaixada em Tel Aviv.

[comentário: a maior parte dos que fazem o Blog Prontidão Total é formada por BOLSONARISTAS da primeira hora, quando a candidatura do capitação era considerada uma piada.

A condição de BOLSONARISTAS da qual nos orgulhamos - acreditamos que o  governo do nosso presidente Jair Bolsonaro será exitoso, bastando para tanto que ele comece a governar e em 2021, com as bênçãos de DEUS, a reeleição começará a se concretizar.

Por tudo isso, decidimos transcrever o Post 'trapalhadas do capitão', expressar nossa alegria pela última das trapalhadas apresentadas no exemplo,  não ter se concretizado e  nem se concretizará e ao mesmo tempo apresentamos uma outra, que é uma pergunta ao presidente e ao mesmo tempo um protesto: 
- o que tem o presidente do Brasil, com reformas importantes em curso no Congresso,  a fazer em Israel?
- qual a vantagem política e econômica - esse papo de vantagens tecnológicas não convence a ninguém, a tecnologia que talvez seja obtida lá, pode ser obtida facilmente em outros locais e sem necessidade do presidente do Brasil se afastar do governo - que a viagem do presidente Bolsonaro a Israel traz para o Brasil? (ele já fez uma viagem àquele País e não seja uma coisa que possa ser considerada a mais correta: sendo Católico Apostólico Romano, portanto, devidamente batizado, qual o sentido de ir a Israel para ser batizado por um pastor evangélico no rio Jordão? demonstrar o desejo de servir a dois senhores?)
 
O presidente Bolsonaro precisa cair na real e entender que sua presença, na quadra atual, é mais necessária no Brasil do que em qualquer outro ponto do planeta Terra.
Aproveitamos para reiterar nosso protesto com o absurdo que foi a concessão aos EUA, Japão e Austrália, da faculdade de entrar no Brasil sem vista, sem que haja reciprocidade.

É presidente, com um certo abatimento esperamos que quando o senhor assumir de vez o governo do Brasil compense a trapalhada de agora e a da semana passada.]

Por ora, em matéria de retificações, é só. Mas amanhã será outro dia, e sob a pressão de novos acontecimentos, ou dos filhos, ou do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, ou de qualquer comentário que leia no Twitter, Bolsonaro sempre poderá retificar as retificações. A ninguém é dado mais surpreender-se com o estilo errático do capitão, o maior fabricante de crises que o Brasil já teve na presidência da República desde que dali, por vontade própria, saiu Jânio Quadros em agosto de 1961 pensando em logo retornar nos braços do povo e, de preferência, com o Congresso fechado.

Os militares ficaram pendurados na parede sem escada depois de Bolsonaro ter recuado do que havia dito a respeito do aniversário do golpe. Foi distribuída a nota do ministro da Defesa a propósito do movimento militar de 64 que deverá ser lida nos quartéis. Ela exalta como um fato histórico o que ocorreu há 55 anos. A resposta de Maia às provocações que Bolsonaro lhe fez foi a aprovação pela Câmara de uma emenda à Constituição que subtraiu poderes ao governo para remanejar despesas do Orçamento da União. É fato que a decisão da Câmara ainda será submetida ao crivo do Senado que poderá modificá-la, mas o estrago foi feito.

Quanto à transferência ou não da embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, o estrago se dará no outro lado do mundo. Mais precisamente na campanha à reeleição do primeiro-ministro daquele país, Benjamin “Bibi” Netanyahu. “Bibi” veio à posse de Bolsonaro certo de que a transferência da embaixada se daria.
De volta a Israel, faturou politicamente a decisão de Bolsonaro, para ver-se agora sem chão. E os evangélicos que se comoveram com o batizado de Bolsonaro nas águas do rio Jordão e lhe deram seus votos? Foi para agradá-los que Bolsonaro prometeu trocar a embaixada de lugar.
Vida que segue. Governo que promete fortes emoções.


Blog do Noblat - Revista VEJA

domingo, 6 de janeiro de 2019

A força dos evangélicos

Os evangélicos são a sustentação da base eleitoral de Bolsonaro e Trump, que representam a atual guinada ideológica à direita

O embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley ter comparado o presidente Jair Bolsonaro a Oswaldo Aranha, que presidiu em 1947 a sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas que levou à criação do Estado de Israel, só mostra a importância para Israel do compromisso político [compromisso sem data definida para seu atendimento.] do novo governo de transferir a embaixada brasileira para Jerusalém, como fez Trump.  Os evangélicos fundamentalistas são o sustentáculo da base eleitoral dos dois presidentes que representam, cada qual a seu modo, a atual guinada ideológica no mundo à direita, sob três pilares fundamentais: contra o aborto, a favor de Israel e a favor de armas.
No Brasil, esses pilares podem ser traduzidos pela segurança pessoal e a defesa de valores morais conservadores. Nos Estados Unidos, o grupo Christian United for Israel que faz o mais forte lobby a favor de Israel bíblica, o que implica o reconhecimento de Jerusalém como capital, independentemente de um acordo com os palestinos. Por isso o governo de Israel, nas palavras de seu embaixador no Brasil, considera que Bolsonaro está mudando a História.
Os evangélicos apoiaram Bolsonaro, que, católico, foi batizado no Rio Jordão, a exemplo de Cristo, pelo pastor Everaldo, presidente do Partido Social Cristão (PSC) ligado à Assembléia de Deus, a maior igreja evangélica do país. [religião é um assunto estritamente pessoal, a salvação é individual;
somos bolsonaristas de raiz, mas, temos que alertar um detalhe - os valores religiosos são superiores aos políticos e cabe o registro que a conduta do presidente Jair Bolsonaro, talvez politicamente correta (sempre a busca do maldito politicamente correto atrapalhando mais do que ajudando) errou  diante dos preceitos da Igreja Católica Apostólica Romana, quando,  sendo católico, aceitou ser batizado uma segunda vez.
 
Sem pretensões nem competência para aprofundar uma discussão teológica, destacamos que o CREDO é de clareza meridiana quanto estabelece "...Professo um só batismo para remissão dos pecados...".]
 
Outra igreja evangélica importante no apoio a Bolsonaro foi a Universal do Reino de Deus comandada pelo auto-intitulado Bispo Macedo, do PRB, Partido Republicano Brasileiro. O PRB foi criado em 2005 para substituir o PL, manchado pelas denúncias do mensalão. Na ocasião, o então prefeito Cesar Maia o chamou de “o gospel do crioulo doido”, tal a disparidade de seus fundadores. A Universal tem em São Paulo sua maior igreja, uma cópia do Templo de Salomão, cujo altar tem o formato da Arca da Aliança, onde, segundo relato bíblico, o rei Davi guardou os Dez Mandamentos no primeiro Templo de Salomão, construído no século XI a.C., em Jerusalém.
 
(...)
Mangabeira Unger considera que os evangélicos brasileiros têm semelhança com pioneiros que fundaram os EUA e tinham o espírito empreendedor que faria a diferença para o desenvolvimento do Brasil. As pesquisas durante a eleição presidencial mostraram que a sociedade exaltava o “autoritarismo” de Bolsonaro, provavelmente confundindo com “autoridade”, para trazer ordem aos serviços públicos, proteção à família, (instituição mais valorizada pelos brasileiros segundo o Datafolha), e meritocracia no trabalho. “Tudo sob a proteção divina”.
 
(...)
 
Matéria Completa, em O Globo, Merval Pereira
 

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Bolsonaro e Israel, uma relação político-religiosa arriscada para o Brasil

Ao anunciar a transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, o presidente eleito Jair Bolsonaro respondeu às expectativas das influentes igrejas evangélicas, sua base de sustentação, correndo o risco de uma ruptura com uma política de mais de meio século do Itamaraty.   Seguindo os passos do presidente americano Donald Trump, de quem já se disse um admirador, o futuro chefe do Executivo brasileiro corre o risco de isolar o país diplomaticamente, expondo-o a represálias comerciais de parte dos países árabes, grandes importadores de carne do Brasil.
"O Brasil tem uma posição histórica naquilo que a gente chama de solução de dois Estados [para Israel e a Palestina] e esta decisão pode jogar todos esses esforços no lixo", avalia Guilherme Casaroões, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.

A anexação de Jerusalém oriental por Israel, após a guerra de 1967, nunca foi reconhecida pela comunidade internacional, para a qual o estatuto da cidade santa deve ser negociado pelas duas partes e as embaixadas não devem se instalar ali enquanto não se cheguar a um acordo.  O governo brasileiro sempre seguiu essa diretriz, mas o posicionamento de Jair Bolsonaro poderia colocá-la em xeque.  "É motivo de respeitar uma nação soberana", declarou o presidente eleito em entrevista à TV Bandeirantes na segunda-feira.

Na terça-feira, ele parecia hesitar, ao declarar que a transferência "ainda não foi decidida", lançando dúvidas sobre sua determinação sobre uma medida tão polêmica.  A transferência da embaixada teria, antes de mais nada, uma motivação religiosa para Jair Bolsonaro, eleito em 28 de outubro com 55% dos votos, em parte graças ao apoio ativo das igrejas evangélicas neopentecostais, que reúnem milhões de fiéis.
"Os evangélicos mais conservadores não colocam em questão, não relativizam nenhuma atitude de Israel. Qualquer decisão, qualquer medida, há um pressuposto que tem a legitimidade para fazer, como povo escolhido", que deve ser defendido custe o que custar, independentemente da atitude de seus dirigentes, explica Ronilson Pacheco, teólogo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
"É uma leitura extremamente literal da Bíblia, sem fazer qualquer reflexão de contexto, de história", acrescentou.

Os neopentecostais brasileiros seguem os preceitos do sionismo cristão, corrente segundo a qual o retorno dos judeus à terra santa e a criação do Estado de Israel, em 1948, segue uma profecia bíblica que anuncia o retorno do Messias.  "Nos templos, há muitos símbolos litúrgicos do judaísmo, como o candelabro ou a estrela de Davi, e alguns pastores até usam o kipá ", acrescenta Ronilson Pacheco.

O próprio Jair Bolsonaro, casado com uma evangélica, foi a Israel em 2016 para ser batizado por um pastor nas águas do rio Jordão.
Mas a religião não é a única motivação para Bolsonaro transferir a embaixada para Jerusalém, um anúncio que agradou o premiê israelense, Benjamin Netanyahu.
"Tem um valor simbólico para ele, pela relação dele com a comunidade evangélica, e também casa com uma revisão da tradição da política externa brasileira, mais globalista, multilateralista", explicou Monica Herz, professora associada do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio.

Para ela, o mimetismo com Donald Trump se aproxima a "um alinhamento com o governo americano, coisa que não fizemos nem durante a ditadura militar".  Ex-paraquedista do Exército, Jair Bolsonaro é conhecido justamente pela nostalgia do regime militar, que comandou o País entre 1964 e 1985.  A aproximação com Israel também se deve ao fascínio do presidente pela tecnologia de ponta do Exército israelense.

Um de seus filhos, o senador Flavio Bolsonaro, e o governador eleito do Rio, Wilson Witzel, devem visitar o país em breve para comprar drones de ataque, que poderão ser usados pelas forças de ordem na luta contra os narcotraficantes.
Mas para Guilherme Casarões, "o Brasil teria condições de se aproximar dos EUA e de Israel independentemente de transferir a embaixada" de Tel Aviv para Jerusalém.
Membro da comissão de Relações Exteriores do Congresso, o senador Ricardo Ferraço, considerou recentemente que Bolsonaro fez esta promessa de forma precipitada, sem medir as consequências.
A Câmara de Comércio árabe-brasileira declarou sua preocupação, enquanto o Brasil é o primeiro produtor do mundo de carne halal (cujo consumo é permitido aos muçulmanos). O chefe da representação palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, declarou à AFP esperar que o deslocamento da embaixada não passe de um "anúncio de campanha".


 

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

A ameaça Bolsonaro [ameaça ou salvação?]

O presidenciável se consolida na vice-liderança das pesquisas, mas suas ideias extremistas e seu isolamento político são um alerta para o perigo que oferece

[Bolsonaro é antes de tudo coerente; 

não oferece risco de surpresas durante o seu Governo - quiçá, Governos; 

começa a incomodar e por isso seu nome, suas ideias para um Brasil melhor, seus projetos se tornam mais divulgados e com a divulgação, com as explicações necessárias para esclarecer, sua candidatura se consolidará.] 



Do quartel ao palanque – Em seu casamento com a primeira mulher, Rogéria, em 1978 (//Reprodução)

O deputado Jair Bolsonaro quer ser presidente do Brasil. O deputado Jair Bolsonaro tem chances reais de vir a ser presidente do Brasil. Há alguns anos, essas duas frases juntas fariam a maior parte dos brasileiros rir às escâncaras. Hoje, provocam reações diversas, que vão da celebração ao pavor, mas não incluem mais as antigas gargalhadas. 
Do quartel ao palanque – Os filhos Carlos, Eduardo e Flávio, em agosto de 2017 (Antonio Milena/VEJA)
A mais recente pesquisa do instituto Datafolha mostra que o deputado se consolidou em segundo lugar na corrida eleitoral para a Presidência da República, com 17% das intenções de voto no primeiro turno, atrás apenas do líder de sempre, o ex-­presidente Lula, com 35% [além das dúvidas sobre os números apresentados para Lula, que não combinam com o percentual dos que o querem preso, bandido encarcerado não pode votar nem ser votado - e será isto que ocorrerá com o ex-"Nosso" guia, em menos de seis meses.] Os números significam que, se o petista desistir ou for impedido de concorrer por motivos penais, hipótese cada vez mais provável, Bolsonaro é hoje o candidato com maior chance de assumir a liderança. É uma novidade e tanto — e talvez a maior ameaça que o Brasil já enfrentou no atual ciclo democrático.



Do quartel ao palanque – No Congresso Nacional durante a votação do impeachment, em que homenageou o coronel Brilhante Ustra, conhecido torturador na ditadura militar, [coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, sempre ACUSADO de torturador e nunca condenado - não havia provas a sustentar as acusações - ] em abril de 2016 (Cristiano Mariz/VEJA)

Debulhando-se a pesquisa, constata-­se que Bolsonaro tem um desempenho especialmente favorável entre os jovens, na faixa de 24 a 32 anos, do sexo masculino, com renda acima de cinco salários mínimos, que residem em cidades com mais de 50 000 habitantes das regiões Sudeste e Nordeste. [e os que viveram durante o Governo Militar com certeza votarão em Bolsonaro.
Durante o Governo Militar o Brasil tinha segurança - houve alguma insegurança causada pelos porcos guerrilheiros da esquerda, tipo Lamarca, Diógenes do PT, Clemente, Fernando Pimentel,  e outros marginais que agora estão:
 - roubando os cofres públicos; 
- tentando esconder  o que roubaram;
- tentando não ser encarcerado
- presos cumprindo sentença.
Tinha também SAÚDE PÚBLICA;
EDUCAÇÃO;  
TRANSPORTE.
Hoje está tudo em frangalhos, o povo morrendo nas portas dos hospitais, sendo assassinado por um 'quentinha',  sem condições  de lazer por não poder pagar uma passagem, as  escolas caindo aos pedaços, professores não tendo apoio e sendo vítima da violência gratuita de alunos.
Muitos alunos frequentam a escola apenas pela merenda escolar - que para muitos é o almoço e o jantar.]
 Isso mostra que o grosso do seu público não viveu sob a ditadura militar e pertence a um segmento da classe média. Não é o pedaço mais expressivo do eleitorado brasileiro, mas já reúne entre 20 milhões e 30 milhões de pessoas, dependendo dos nomes que aparecem na cédula.

Do quartel ao palanque – Com a terceira esposa, Michelle, em agosto de 2017 (Antonio Milena/VEJA)

Com esse apoio, Bolsonaro colocou definitivamente a direita radical no jogo eleitoral, num país que, há poucos anos, tinha vergonha de expor ideais dessa tendência. “Eu sempre fui de direita, mesmo quando isso era crime”, orgulha-se. [deputado Bolsonaro, fique certo que muitos não deixaram de ser de direita, mesmo quando era crime - sempre tive orgulho, tenho e continuarei tendo em ser de direita e milhões de brasileiros estarão apoiando sua candidatura e futuro governo.] 

Sua ascensão ganhou um impulso monumental justamente de seu maior inimigo — o PT, que, com a desmoralização provocada pela revelação de seus intestinos criminosos, conseguiu imprimir um estrago histórico à esquerda brasileira. Antes de Bolsonaro, o maior sucesso da direita extremista foi protagonizado por Enéas Carneiro, um cardiologista folclórico e estridente que se celebrizou pelo bordão “Meu nome é Enéas” e teve 7% dos votos na eleição de 1994 — e que, não por acaso, é um dos ídolos de Bolsonaro.

Bolsonaro já é maior que dois Enéas. É recebido com fanfarra nos aeroportos por fãs entusiasmados, é solicitado para selfies até nos corredores do Congresso. Numa noite recente, depois de ser abordado por uma dezena de deputados em sessão da Câmara, comentou com a reportagem de VEJA, que o acompanhava: “Ouviu o que me disseram lá dentro? ‘Vou estar contigo no ano que vem.’ Não tem opção, cara”. Apesar dos rapapés e uivos, Bolsonaro vive em isolamento político. Não tem ligação sólida com nenhum partido. 


 O general – Ex-chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) e ex-comandante militar do Planalto, o general Newton Cruz foi réu na ação penal do atentado do Riocentro. [ACUSADO, nunca apresentaram provas de sua participação em algum crime.] Para Bolsonaro, o militar é uma “inspiração” (Luiz Antonio/Agência o Globo)

Em quase três décadas como deputado, conseguiu aprovar apenas dois projetos e virou um saltimbanco de siglas. Pertenceu ao PDC, PP, PPR, PPB, PTB, PFL, PSC e, agora, está prestes a aderir ao PEN, cujo nome está mudando para Patriotas. No PSC, sua legenda anterior, quem lhe abriu as portas foi o pastor Everaldo Dias Pereira, aquele que a Odebrecht acusou de cobrar 6 milhões de reais para dar apoio ao candidato presidencial Aécio Neves, do PSDB. O pastor, aliás, tornou-se tão íntimo de Bolsonaro que o convenceu a cruzar o Oceano Atlântico pela primeira vez, no ano passado, para visitar Israel e ser batizado no Rio Jordão, junto com seus quatro filhos mais velhos.

Bolsonaro não oferece a seus eleitores um conjunto concatenado de ideias, não articula uma visão de Estado nem se alinha com nenhuma escola econômica. “Sou ignorante em economia”, confessa. Mas, entre suas ideias, observa-se uma tendência conspiratória, comum entre os militares, segundo a qual os estrangeiros estão sempre tramando para afanar as riquezas nacionais . Outro sinal do isolamento está em seu entorno. Seus conselheiros mais próximos são os três filhos mais velhos, do primeiro casamento: o deputado estadual Flávio Bolsonaro, a quem o pai chama de Zero Um; o vereador Carlos Bolsonaro, o Zero Dois; e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, todos do PSC. [por óbvio, ao oficializar sua candidatura a Presidência da República, Bolsonaro agira de acordo com sua nova condição, buscando assessoria ocmpetente e honesta.

Não tem sentido se exigir de um deputado federal - com vários mandatos - que disponha de uma assessoria do porte da necessária a um presidente da República.] Em tempos de Lava-­Jato, Bolsonaro vende seu isolamento político como um ativo. “Nenhum partido vai querer se coligar comigo porque sabem que não sou ‘piranha’ para receber certas propostas indecorosas”, diz. Apresentar-se como um solitário lírio no lodo pode parecer positivo, mas esconde um perigo. “Não ter uma base ampla e organizada não é novidade em uma eleição. Outros candidatos menos asquerosos disputarão as eleições de 2018 também sem amplas bases. Isso tudo coloca um problema: como conseguirão maioria parlamentar que dê sustentação às decisões? Todos os isolados teriam de responder a isso”, diz o sociólogo Demétrio Magnoli, da Universidade de São Paulo, que, em seguida, toca no ponto fulcral: “Agora, no campo da especulação, um presidente isolado com o perfil de Bolsonaro pode tentar apelar diretamente ao povo, por cima das instituições de mediação democráticas, como já vimos acontecer em outros países. Isso é uma ameaça à democracia porque põe em risco não a relação direta entre o presidente e o povo, mas sim as mediações entre o poder e o povo, que são fundamentais em um Estado democrático”. [a medida que a candidatura Bolsonaro se consolide e se constate uma ampla preferência do eleitorado por ele, o deputado escolherá os apoios que lhe convém e sempre em consonância com os interesses do Brasil e do povo brasileiro.]
O torturador – O coronel Carlos Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi, foi responsabilizado por torturas cometidas durante a ditadura. Bolsonaro o considera “herói” (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo) [responsabilização não sustentada por provas válidas em juízo.]
O mesmo isolamento se verifica no ambiente em que Bolsonaro passou a juventude e parte da idade adulta, as Forças Armadas. Ali, o capitão da reserva faz sucesso entre as baixas patentes, mas é visto com desconfiança pelo comando, que não apoia sua candidatura presidencial, tampouco enxerga com bons olhos o empenho do capitão da reserva em personificar a imagem da corporação. Há dois meses, na cerimônia de entrega do espadim de Duque de Caxias, na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Bolsonaro ganhou tratamento de celebridade por parte dos 450 cadetes e seus familiares, mas teve recepção fria entre quem tinha mais estrelas no peito. Generais fingiam ignorar sua presença. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, sentou-se o mais distante possível dele. Com esse clima de indiferença, na mesa que Bolsonaro dividiu com a terceira mulher, Michelle, alguém comentou: “As Forças Armadas estão cheias de comunistas. Só por isso os militares permitiram que o PT ficasse tanto tempo no poder”. [sendo o assunto decidido no voto, vale lembrar que um quatro estrelas tem um voto igual a qualquer outro eleitor - e a meta de Bolsonaro é ganhar a eleição no voto;
em caso de necessidade de uma intervenção militar, o número de estrelas tem grande peso, desde que o estrelado tenha comando de tropas.]
 
Na corporação — na qual Bolsonaro é chamado de “bunda-suja”, termo usado pelos militares de alta patente para designar os que não galgaram posições na carreira —, o presidenciável deixou um passado de insubordinação que a alta hierarquia não esquece. Em 1986, Bolsonaro escreveu um artigo em VEJA reclamando dos salários e benefícios dos militares. No ano seguinte, uma reportagem, também de VEJA, revelou que ele urdira um plano para explodir bombas em locais públicos e chamar a atenção do Exército para seu pleito de aumento do soldo militar (fato que ele nega até hoje [e que não foi provado]). Um processo foi aberto para investigar o caso e Bolsonaro foi absolvido pelo Superior Tribunal Militar, numa decisão que ainda é contestada. Mas as marcas do episódio ficaram nos arquivos do Exército, onde Bolsonaro é tido como um militar dado a “proselitismos políticos”.


O patriota – Morto em 2007, Enéas Carneiro especializou-se em discursos de teor nacionalista. Bolsonaro quer o ex-deputado no Livro dos Heróis da Pátria (Rosane Marinho/Folhapress)

A ilha política em que se transformou, no mundo civil ou militar, convive bem com suas posições extremadas. Em nome delas, Bolsonaro já foi classificado de quase tudo: homofóbico, racista, xenófobo, misógino, fascista. Ele atribuiu tudo a acusações distorcidas ou a pura armação promovida por inimigos da esquerda — ou, para usar sua definição predileta, “os imbecis”. Sua artilharia verbal insultuosa, que mira quase sempre as minorias, tem lhe rendido dissabores na medida em que sua popularidade cresce. Na semana passada, ele foi condenado por mais uma ofensa — nesse caso, contra os quilombolas. Em abril, em palestra no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro, rememorou uma visita a um quilombo e disse que “afrodescendente mais leve lá pesava 7 arrobas”. E acrescentou: “Não fazem nada. Eu acho que nem para procriadores eles servem mais”. A juíza Frana Elizabeth Mendes, da 26ª Vara Federal do Rio, que o condenou a pagar indenização de 50 000 reais, deu-­lhe um pito público: “Política não é piada, não é brincadeira”. E acrescentou que um parlamentar tem “o dever de assumir uma postura mais respeitosa com relação aos cidadãos”.

As intervenções provocadoras, destinadas mais a ofender opositores do que a clarear ideias, são uma marca de Bolsonaro. Na votação do impeachment de Dilma Rousseff, ele fez questão de dedicar seu voto a Carlos Alberto Brilhante Ustra, o famoso “doutor Tibiriçá” dos porões da tortura do regime militar. [Ustra foi acusado de muitas coisas, mas NUNCA foi condenado - lembrando que uma condenação só tem força efetiva quando transita em julgado e nunca uma sentença condenando o coronel Ustra se tornou definitiva.
Os que tiveram a honra de conviver com Ustra, sempre o consideraram um militar íntegro, dedicado aos seus deveres e pronto a fazer o necessário pelo Brasil. Isto é crime?] Embora Ustra esteja entre seus mentores intelectuais, Bolsonaro, ao mencioná-lo, queria apenas ofender os adversários políticos, sobretudo a própria presidente Dilma, que sofreu o suplício da tortura durante a ditadura. Dilma construiu todos os motivos para ser apeada do Palácio do Planalto, mas ter sido torturada não é um deles.

O discurso agressivo de Bolsonaro encaixa-se no clima politicamente polarizado do Brasil atual e faz sucesso entre uma camada de eleitores, mas talvez só ajude a radicalizar ainda mais o ambiente político. Diz Maurício Santoro, cientista político da Universidade do Estado do Rio de Janeiro: “Assim como ocorre com Trump e Marine Le Pen, muitas das declarações de Bolsonaro extrapolam a legalidade e são explicitamente racistas, discriminatórias ou de incitação ao crime. Só em 2017 ele já foi condenado duas vezes por incentivar o estupro e por agressões verbais contra negros. Agora, o que aconteceria se ele estivesse numa posição forte no Poder Executivo, como a Presidência da República? Ele provavelmente não hesitaria em promover discursos de ódio contra adversários ideológicos, o que pode ter consequências nefastas num país que já é muito violento”. A hostilidade ao diálogo não é novidade para Bolsonaro. Ele tem por hábito fugir de situações que não domina para evitar ser confrontado. Só viaja a locais onde é convidado por grupos de seguidores que defendem suas ideias. Os convites costumam partir de deputados estaduais e federais e de empresários locais.


Viva o golpe – O general Mourão, que defendeu uma intervenção militar, é apenas “um brasileiro indignado com esse estado de putrefação da política brasileira”, escreveu o deputado (FS 2015/Divulgação)

OS MENTORES INTELECTUAIS

Entre os ídolos declarados do Bolsonaro estão expoentes da ditadura e ativistas de extrema direita que acreditam que o Brasil está prestes a ser tomado por comunistas 
Entretanto, há um ambiente o digital — em que Bolsonaro reina soberano. Tem 5,5 milhões de seguidores nas redes sociais, muito mais do que o ex-presidente Lula, por exemplo, que tem 3,2 milhões. Na companhia permanente de um celular, ele mesmo fica praticamente todo o tempo on-line. Quem comanda seu núcleo virtual é o filho Flávio, o Zero Um. Ele criou um repertório de vídeos, memes e gritos de guerra de fácil assimilação e viés radical (com pequenas variações, são as seguintes as frases preferidas dos seguidores do deputado: “Bandido bom é bandido morto”, “Comunista tem que morrer, gay e feminazis também”, “Não gostou? Vai pra Cuba”). Recentemente, fez sucesso nas redes o tuíte em que o “Mito”, como o deputado é chamado por apoiadores, elogia o vídeo do general Hamilton Mourão, que defendeu uma intervenção militar no Brasil. “Ele (refere-se a Mourão) falou como um brasileiro qualquer que está indignado com esse estado de putrefação da política brasileira”, disse. Urros e vivas espoucaram no Facebook.

Atento à importância das redes sociais, Bolsonaro é zeloso com sua imagem digital. Na Câmara, ele percorre a passos largos e rápidos a distância de 400 metros que separa o Salão Verde de seu gabinete, no Anexo III (a “favela da Câmara”, diz ele). O gabinete de seu filho Eduardo, onde costuma receber visitas, é decorado com distintivos da Polícia Federal e da NRA, a poderosa associação que faz o lobby pró-­armas nos Estados Unidos. No percurso, um entusiasta o parou para pedir que gravasse em vídeo palavras de apoio a uma campanha de sua cidade pela renovação das armas da Polícia Civil. Outro quis uma selfie para mostrar à mulher, “fã” do deputado, segundo disse. Minutos depois, jovens da Universidade Federal da Integração Latino-­Americana (Unila) abordaram o parlamentar. Queriam seu apoio para “desmistificar a ideia de que a universidade é bolivariana”. Esses, o deputado nem parou para ouvir. “Imagine se assino alguma coisa desse lugar. Depois sou esculhambado.”

Nascido em Glicério, no interior de São Paulo, Bolsonaro criou-se em Eldorado, no Vale do Ribeira, um lugarejo de 20 000 habitantes. Ali, o grosso dos moradores atribui o atraso da cidade à demarcação de reservas ambientais, que impediriam a exploração agrícola. De família modesta (seu pai fabricava próteses dentárias, a mãe é dona de casa), ele frequentava a escola pública, era goleiro do time de futebol local e aturava a gozação dos colegas por causa do jeito desengonçado com que apanhava a bola. Seus passatempos eram caçar passarinhos com espingarda de chumbo, pescar no Rio Ribeira, ouvir no rádio o programa de Tonico e Tinoco, assistir aos filmes de Mazzaropi e — desde cedo, garante quem conviveu com ele — falar mal de comunistas. Segundo o professor Olavo Amado Ribeiro, hoje com 85 anos, de quem Bolsonaro foi aluno de português e educação moral e cívica, ele já era na adolescência um dos mais ácidos críticos de João Goulart, presidente derrubado no golpe de 1964. Mas o jovem Bolsonaro não era uma voz dissonante na cidade. “Eldorado não tinha esquerdistas”, diz o professor.

O episódio que mais moldou a forma de Bolsonaro, porém, deu-se com a chegada à região da trupe de Carlos Lamarca, o líder da VPR, organização guerrilheira de extrema esquerda. Em 8 de maio de 1970, um enfrentamento com soldados locais terminou com troca de tiros na praça de Eldorado. Bolsonaro, então com 15 anos, estava na escola no momento dos ataques. Ele lembra que os professores, amedrontados pelos tiros, esvaziaram as salas de aula e mandaram as crianças atravessar a praça rastejando para se proteger das balas. Seis soldados e uma moradora foram feridos, mas ninguém morreu. O episódio marcou para sempre a cidade e fez com que o Exército direcionasse tropas para o Vale do Ribeira. Os soldados que se confrontaram com Lamarca e a VPR, vistos como heróis, passaram a receber visitas constantes do jovem Bolsonaro, a quem estimularam a entrar na carreira militar. 


Na década de 70, coube ao seu pai, Percy Bolsonaro, trazer a política para dentro da família. Ele foi candidato a prefeito em Eldorado pelo MDB, que fazia oposição ao regime militar, mas não se elegeu. Gostava de “uma cervejinha” e não era “muito rígido” com os filhos. Algumas de suas características contrastavam com as de Bolsonaro desde cedo. “O Jair sempre foi mais radical e conservador que o pai”, diz o professor Ribeiro. Tanto que, em algumas oca­siões, seu Percy julgava que o filho se excedia no “anticomunismo”. Soltava um “o Jair é doido, é um exagerado”. A família, contudo, sempre se entusiasmou com a entrada do filho nas Forças Armadas. A prova disso é que, quando Bolsonaro decidiu abandonar o Exército para se dedicar à política, o pai foi até o Rio de Janeiro para demovê-lo da ideia. Fracassou. Agora, o filho está em segundo lugar nas pesquisas — e passou a levar a sério suas chances de chegar lá.

 O professor – Radicado nos Estados Unidos, o filósofo Olavo de Carvalho é o guru dos ultraconservadores e diz que não houve ditadura no Brasil. É consultor informal de Bolsonaro para assuntos externos (//Reprodução)

Tanto que, neste 7 de outubro, Bolsonaro embarca para sua primeira visita como político aos Estados Unidos. Seu cicerone será o filósofo ultraconservador Olavo de Carvalho, que mora lá e convidou o candidato para um road show no país. “Vamos conversar com investidores, membros do Partido Republicano e do governo de Donald Trump”, revela o deputado. Será a segunda viagem de Bolsonaro aos EUA. A primeira foi nos anos 2000, quando levou os filhos a Orlando. O político afirma que não gosta muito de viajar. Prefere passar o tempo livre no condomínio em que mora — com 100 casas de frente para o mar, na Barra da Tijuca. Ultimamente, anda cismado com segurança. Conta que, outro dia, viu um assalto em que o ladrão disparou um tiro para cima. Pensou que o episódio poderia ser “um alerta” para ele. Bolsonaro suspeita da existência de um “sistema” interessado em eliminá-lo “pelo fato de ser um outsider”. “O patinho horroroso está ficando bonito. Por isso querem me tirar. Mas vão ter de tirar na mão grande”, desafia, supondo que, mesmo que saia vitorioso, não estará imune a investidas para apeá-lo do cargo. “O sistema não me quer ali. Não quer que eu escolha ministros do Supremo”, diz.

Como todo populista, Bolsonaro tem uma solução simples para cada problema complexo. Contra a violência, propõe “dar armas ao cidadão de bem”. Ele também quer o fim do regime de progressão de pena e, para abrigar o número crescente de condenados, sugere “construir presídios agrícolas, para o preso produzir alguma coisa e trabalhar, e não ser um fardo para o Estado”. Em suas entrevistas, ele aceita discorrer apenas sobre temas que “domina”, como a exploração de metais por estrangeiros. Vencer o desemprego e fomentar o crescimento econômico, para Bolsonaro, é uma equação que se resolve com “segurança pública”. “Que empresário estrangeiro vai investir no Brasil se não podemos nem andar na rua?”, questiona. Contudo, se o empresário for chinês, ele não quer. “Os chineses estão se apropriando de nosso subsolo e, em breve, de nosso solo”, reclama. “Vamos virar inquilinos da China”, profetiza. Para o deputado, a exploração chinesa do nióbio (metal usado como liga na produção de aços especiais), em Goiás, é “um crime de lesa-­pátria”. Numa mistura de nacionalismo e nostalgia, ele apregoa que as riquezas minerais deveriam ser liberadas para extração pelos brasileiros. “O que seria do Brasil sem os bandeirantes que exploraram os diamantes? Teríamos um terço do território atual se não fossem eles. É preciso parar de tratar o garimpeiro como bandido no Brasil.”

Entre os especialistas ouvidos por VEJA, nenhum se arrisca a apostar que o deputado saia vitorioso de um pleito presidencial. Mas o fato de um grande grupo de brasileiros se engajar na campanha precoce de um candidato como ele causa preocupação. “Bolsonaro é contra todo o ideário que edifica uma democracia sólida, o que inclui a defesa dos direitos humanos e o combate à desigualdade”, diz Ricardo Sennes, da consultoria política Prospectiva. “Ele opta sistematicamente por partidos cada vez menores e cria um cenário que remete ao do ex-presidente Fernando Collor quando se filiou ao PRN. Essa falta de coalizão resultaria numa dificuldade de governar tamanha que um impeachment poderia se tornar inevitável.” Caminhando sozinho, um candidato pode até vencer a eleição, mas governar sozinho ninguém governa.


“Sou ignorante em economia”
Mesmo assim, Bolsonaro se declara contrário à política de aumento de juros para combater a inflação e votou contra o pacote fiscal de resgate do Rio

TAXA SELIC
Bolsonaro critica a política de aumentar juros para conter a inflação — o baluarte do pensamento liberal. Para ele, o Banco Central só cortou a Selic no último ano para “beneficiar banqueiros”, que temiam que os juros altos tornassem a dívida pública impagável, pondo em risco a rentabilidade de títulos públicos nos quais os bancos investem. “Banqueiro não quer levar calote”, diz. Bolsonaro afirma que defende a queda da Selic “há muito tempo”. Mas diz ser criticado por essa convicção porque o mercado acredita que “é pecado” o governo intervir na política de juros.

PRIVATIZAÇÕES
Sobre as privatizações anunciadas por Temer, ele se esquiva de dizer se manterá o plano caso seja eleito. “Tem coisa que dá para privatizar para acabar com o loteamento político. Mas setor estratégico não se privatiza. Nos Estados Unidos, é o Exército americano que cuida das hidrelétricas. Algumas coisas não podem sair da tutela do Estado. Chamam os militares de estatizantes, mas como fazer Itaipu com dinheiro privado?” Contudo, Bolsonaro votou a favor de desobrigar a Petrobras de participar dos leilões do pré-sal e discordou quando o governo Dilma determinou que a empresa tivesse participação obrigatória de 30% nos consórcios.

AJUSTE FISCAL
Bolsonaro nunca esteve alinhado à agenda de corte de gastos públicos nos seus sete mandatos como deputado. Sempre defendeu corporações do funcionalismo, em especial os militares, sua base eleitoral, votando a favor de reajustes salariais e de pensões. Neste ano, opôs-se ao pacote fiscal de resgate do Rio de Janeiro, que previa a venda de estatais fluminenses e a redução de benefícios de servidores. Mas, numa flagrante contradição, causou revolta nos próprios eleitores ao votar a favor da proposta que estabelece um teto de gastos para o governo em 2016, apesar de ter discursado contra a medida.

EQUIPE ECONÔMICA
Bolsonaro diz receber conselhos de um economista do setor financeiro cuja identidade não revela. Afirma ainda não ter pensado em um nome para assumir a Fazenda, caso ganhe. Costuma dizer que os generais não eram economistas e fizeram o Brasil crescer como nunca nos anos 1970. “Sou ignorante em economia, mas foram os especialistas que levaram o país para o buraco”, declara, deixando de lado o fato de que foram os especialistas que venceram o ciclo de hiperinflação.

CHINA
Ele faz críticas à China, país ao qual o Brasil “está entregando o seu solo e subsolo”, segundo diz. Tem obsessão pela ideia de que o Brasil possui riquezas geológicas pouco exploradas, como o nióbio e o grafeno, que, um dia, serão tomadas pelos chineses. “O chinês não tem coração. Não manda seus homens para o Afeganistão nem para lutar no Iraque. Manda homens de negócios para comprar tudo. A China está garantindo sua segurança alimentar com as nossas terras, e vamos nos tornar inquilinos dela”, diz.


 Fonte: Revista VEJA

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Bolsonaro na Veja: uma rápida nota -

... a jornalista que assina a peça de propaganda contra o deputado Jair Bolsonaro para a Veja desta semana, é uma daquelas figuras típicas do jornalismo tucano: formada na Wharton Business School, ela não é ignorante o suficiente para acreditar em economia marxista ou keynesiana, mas subscreve toda a agenda cultural da esquerda, venera o lumpemproletariado (o povo oficial, formado pelas “minorias”) e sente nojo do povo real, que se preocupa com segurança pública, está farto da roubalheira da classe política e repudia a corrosão dos valores tradicionais simbolizada em exposições como a do MAM e do Queermuseu.

Não surpreende, portanto, que ela tenha se colocado a serviço de figuras como o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Dória (a quem ela parece ser mais simpática nas redes sociais) e esteja trabalhando, ativamente, contra o candidato que dará mais trabalho aos dois.

Não há nenhuma grande novidade em nada disso, mas a capa da revista é um tanto curiosa. Apostando em uma chamada em letras vermelhas e com um subtítulo repleto de adjetivos — insultuoso, extremista e outras platitudes do tipo –, a Veja tenta alertar seus leitores (em número cada vez menor) de que o deputado federal representa uma grande ameaça. No interior da revista, o conteúdo da matéria segue a mesma linha, com o agravante de dizer algumas bobagens sobre o professor Olavo de Carvalho, mas o que mais chama a atenção é mesmo a capa, que em um certo sentido, mais profundo do que a turminha do André Petry poderia imaginar, acerta o alvo.

O deputado Jair Bolsonaro representa mesmo uma ameaça. Ele ameaça os arranjos do establishment brasileiro, de que fazem parte a Veja e o tucanato em geral; a hegemonia da tríade PT-PMDB-PSDB e a sobrevivência de seus esquemas de corrupção; a instrumentalização das instituições de ensino para a formação de idiotas úteis como os que assinam a edição da revista; e a cultura do banditismo que, todos os anos, vitima centenas de milhares de brasileiros. 

O deputado ameaça, ainda, todos aqueles que abominam a idéia de serem governados por alguém que pensa, fala e age como a maior parte do povo brasileiro e que, no mínimo, atrapalha um bocado os mais diversos esquemas de poder conduzidos por grupelhos iluminados que desejam ditar os rumos do país. (...)


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