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domingo, 5 de novembro de 2023

Egito suspende saída de Gaza após ataque a ambulância - O Globo

Homem reage enquanto está sentado perto do portão do posto de fronteira de Rafah com o Egito, no sul da Faixa de Gaza Homem reage enquanto está sentado perto do portão do posto de fronteira de Rafah com o Egito, no sul da Faixa de Gaza — Foto: SAID KHATIB / AFP
O Egito anunciou a suspensão das saídas dos moradores de Gaza feridos e portadores de passaportes estrangeiros através da passagem de Rafah, informou o embaixador brasileiro junto à Autoridade Nacional Palestina (ANP), na Cisjordânia, Alessandro Candeas. 
Desde quarta-feira, quando a passagem foi finalmente liberada, cerca de 2.700 estrangeiros, de um total de 7.500, cruzaram a fronteira.

Devido à suspensão, que ocorreu após forças israelenses atingirem um comboio de ambulâncias no sábado — deixando 15 mortos e 60 feridos —, as autoridades não divulgaram uma nova lista de estrangeiros liberados para a saída do território neste domingo. Do Brasil, há 34 pessoas no aguardo: 24 são brasileiros, 7 são palestinos em processo de imigração e 3 são parentes próximos.

A única saída viável de Gaza hoje é pela passagem de Rafah, no sul do enclave, na fronteira com a Península do Sinai egípcia.
 A passagem está sob controle do Egito desde um acordo fechado com Israel, em 2007, quando o Hamas tomou o poder na Faixa de Gaza e expulsou o grupo palestino laico Fatah para a Cisjordânia, onde controla a Autoridade Nacional Palestina (ANP), reconhecida pela ONU como legítima liderança dos palestinos.

Nos 16 anos seguintes, Israel e Egito mantiveram um duro controle do que (e de quem) entra e sai do território dominado pelo Hamas. Caminhões de ajuda humanitária, entretanto, ainda podem entrar na região.

A Faixa de Gaza tem apenas outras duas passagens para saída e entrada de pessoas e mercadorias.  
Uma é a de Erez, que fica ao norte e leva ao sul do território israelense, e foi atacada pelo Hamas na invasão do dia 7 de outubro. 
A outra passagem, de Kerem Shalom, serve apenas ao transporte de cargas e também está no sul de Gaza, na fronteira com Israel e perto do território egípcio.

As saídas por Rafah começaram na quarta-feira como parte de um acordo internacional mediado pelo Catar para permitir que detentores de passaporte estrangeiro, seus dependentes e feridos de Gaza deixassem a região e, desde então, centenas de pessoas já saíram do território, incluindo feridos que estão recebendo tratamento em hospitais no Sinai.

Pouco depois dos ataques terroristas do Hamas, em 7 de outubro, o governo de Israel emitiu um ultimato aos palestinos de Gaza para esvaziarem o Norte do enclave, antes de uma invasão por terra. "Saiam agora", disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aos moradores da região que inclui a Cidade de Gaza, a maior e mais importante do território. Pelo menos 1 milhão de pessoas foram obrigadas a se retirar de uma vez só, em meio à destruição dos bombardeios.

Gaza é palco de bombardeios e combates terrestres entre tropas israelenses e o grupo Hamas, que lançou um ataque sem precedentes contra o Estado judeu em 7 de outubro, deixando mais de 1.400 mortos, segundo as autoridades israelenses. O governo do Hamas em Gaza afirma, por sua vez, que mais de 9.770 pessoas, a maioria civis, morreram no território devido aos bombardeios retaliatórios israelenses. 

*Em atualização.

Mundo - Jornal O Globo

 

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Tutores tradicionais do pensamento, incomodados, procuram calar a voz do povo - Alexandre Garcia

O presidente do Conselho da Renner, José Galló, afirmou, n'O Estado de S.Paulo, que somos o país do futuro que não chega. Tenho demonstrado isso em palestras. Jogamos fora as oportunidades postas à nossa porta. Parecemos masoquistas, sofrer é o nosso prazer.

Ganhamos, de graça, o que para os outros países é um sonho inalcançável: ausência de catástrofes naturais, de guerras com vizinhos; clima ideal: chuva e sol nas doses certas; água abundante, por cima e por baixo; minerais de toda sorte no subsolo; amplidão territorial, grandeza em rios e florestas; solo onde tudo dá. 
Talvez querendo nos punir por não termos conquistado o direito de ter tudo isso, tratamos de provocar para que dê errado, para que a natureza não cometa a injustiça de nos privilegiar sem mérito.

Nossas escolhas nas urnas contribuem para isso. Nossa passividade infla os fracassos. Meu colega Luiz Edgar de Andrade enganou-se, quando reportou que Charles de Gaulle dissera que o Brasil não é um país sério. Mas se não tivesse sido um engano de informação, seria bene trovato. Para compensar — e anular — tudo o que ganhamos no Gênese, provocamos um apocalipse no território nacional. Nem Noé conseguiria salvar-nos nesse dilúvio de passividade — ou sem-vergonhice?

Audiência
Agora vivemos um regime de exceção e nossa indiferença é como se estivéssemos em pleno estado de direito. A comunicação digital deu voz a todos — e os totalitários reagiram porque a democracia que propagam é a deles; só eles podem ter voz, o povo não. Povo, para eles, só é uma audiência anônima.

Os tutores tradicionais do pensamento, incomodados, procuram calar a voz do povo. Afinal, está na Constituição que todo poder emana do povo. Os tutores esperam que o povo se acomode com o que está escrito. Assim, se esgota no papel o poder popular e não é exercido. Mas, mesmo quando tenta exercer, o povo tem sido enrolado.

Por exemplo, os brasileiros elegeram seus representantes no Congresso, mas quem manda é quem não tem voto.  
Os representantes no Congresso têm o poder nominal de fazer leis, mas nas verdadeiras liberdades democráticas — esse poder é apenas literal. Quem baixa regras, mesmo, é o topo do Judiciário. Derroga até aquilo que, cheios de esperança, considerávamos direitos e garantias fundamentais, pétreas, inquebrantáveis.
 
E lá vamos nós, jogando nosso potencial no lixo, nosso futuro no passado, nossos filhos e netos num beco sem saída. 
Posso falar nisso, pois desde 1940 acompanho esse espetáculo de país alegre e sem rumo, na penitência de pecador por ter recebido um paraíso e não ter conseguido convertê-lo em terra prometida, ao contrário do que fizeram os israelenses com um deserto. Talvez um Sinai esteja dentro de nós, e habitamos o deserto submissos a ele e a falsos Moisés. Talvez apenas não tenhamos ânimo e coragem para separar as águas e atravessar o Mar Vermelho.
 
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense

sábado, 15 de agosto de 2020

Enfim uma boa notícia no Oriente Médio, mas tem quem reclame - Blog Mundialista

Tudo de bom: acordo entre Israel e Emirados Árabes Unidos abre uma fase promissora e “tira da pauta” a anexação de territórios palestinos 

“Mensagem de amor de Telavive”. Assim a prefeitura da cidade ilustrou a fachada de luzes nas cores de Israel e dos Emirados Árabes Unidos – os Emirados, para simplificar. Uma semana antes, a  iluminação em forma da bandeira do Líbano, em solidariedade aos mortos na grande explosão do porto de Beirute, provocou reações furiosas. Israelenses de direita consideraram um ato de traição, uma vez que o Líbano continua a não aceitar um tratado de paz com Israel, e libaneses muito mais extremistas reagiram: “Vamos iluminar Telavive com nossos mísseis”. 

O clima completamente diferente que cerca a aproximação oficial entre Israel e os Emirados é um dos raros momentos em que o Oriente Médio produz uma notícia boa. A aproximação é produto de um longo processo de acerto entre interesses comuns. Israel não precisou pagar com a devolução de territórios, como aconteceu com o Sinai reintegrado ao Egito, em 1979.

O retorno de Yasser Arafat e a  transferência de territórios à Autoridade Palestina, em 1994, também envolveu essa “troca de paz por terra”. Foi uma experiência infeliz, fracassada ou condenada na opinião de muitos israelenses, decepcionados com a militarização e os atentados terroristas provocados pelos novos “aliados”. A maioria dos palestinos também se decepcionou por não conseguir o Estado independente que deveria estar na continuidade dos acordos.

Romper o tabu e se acertar com Israel sem ter o interesse premente de uma troca territorial é um passo muito importante não apenas pelo resultado presente como também pelo que antecipa como futuro: a aceitação de Israel como um país “normal”, não uma  entidade odiada a ser varrida do mapa ou, na falta de capacidade para fazer isso, hostilizada e rejeitada.

Por que o entendimento foi recebido com tanta má vontade em vários setores? Primeiro, porque é uma conquista de dois governantes abominados, Donald Trump e Benjamin Netanyahu. O terceiro integrante do acordo, o príncipe Mohammed Bin Zayed,  herdeiro de Abu Dabi e líder do pequeno e rico colar de emirados que foram uma entidade comum às margens do Golfo Pérsico, tampouco é uma flor da democracia e das liberdades fundamentais – ninguém é nessa região do mundo.

Segundo, porque nada é capaz de satisfazer as expectativas dos palestinos e de seus simpatizantes. [as expectativas dos palestinos são simples de satisfazer: querem apenas não ser estrangeiros em sua própria terra, vítimas de invasões de 'agricultores' - colônias de israelenses na Cisjordânia - 'agricultores' que contam com um apoio de um poderoso exército.
o número de mortos na explosão em Beirute, é muitas vezes inferior ao de civis palestinos mortos pelas chamadas Forças de Defesa de Israel - que utilizam aviões de última geração e poderosos blindados, para se 'defender'  de civis palestinos desarmados e em sua própria terra - ou migalhas que lhe foram concedidas.
Israel tem direito a um território, mas, não pode exercer tal direito tomando terras do mais fraco.]

O primeiro-ministro de Israel estava a poucos dias de anunciar a anexação das faixas de território palestino que, na prática, já são anexadas pela presença de enclaves residenciais habitados por judeus.
Como bom negociador, Bibi mais do que insinuou que anexaria também todo o lado ocidental do vale do rio Jordão.

Uma cartada que saiu rapidamente da mesaSobre a anexação das áreas sob controle total de Israel, Bibi sustenta que não foi eliminada  

Em Mundialista - Blog de Vilma Gryzinski - VEJA - MATÉRIA COMPLETA

domingo, 4 de janeiro de 2015

Estado Islâmico se transforma em um movimento extremista transnacional

Facções radicais de vários países juram lealdade grupo.  

Especialistas veem uma organização mais letal, preparada e rica do que a rede Al-Qaeda, de Osama bin Laden

O sonho de instituir um califado islâmico no Oriente Médio o primeiro passo para a consolidação da Umma (“a grande nação muçulmana”) tem seduzido facções extremistas da Ásia e da África e colocado o terrorismo, mais uma vez, no topo da agenda mundial. Militantes radicais da Nigéria, do Mali, do Egito, da Índia e do Paquistão juraram lealdade aos mujahedine (guerrilheiros) do Estado Islâmico (EI), grupo que ganhou notoriedade por decapitar prisioneiros e por promover execuções em massa. 
 O grupo extremista ganhou força militar
 
Em Mombasa, na costa do Quênia, bandeiras do EI foram apreendidas em duas mesquitas. Na Líbia e na Península do Sinai, os jihadistas foram além e declararam a fundação de uma nação obediente a Abu Bakr Al-Baghdadi. Ao menos 15 mil mujahedine de 80 países, 2 mil deles do Ocidente, se uniram ao EI. O retorno às nações de origem é visto como um pesadelo para os governos, que temem atentados.
O francês Jean-Pierre Filiu, especialista em Oriente Médio pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), alerta que o Estado Islâmico já é muito mais perigoso do que a rede terrorista Al-Qaeda em seu auge, pouco antes de 11 de setembro de 2001. “Osama bin Laden tinha cerca de mil simpatizantes armados. O EI possui 30 vezes mais, a maioria deles com experiência em combate e em treinamento militar. A receita dos atentados de 11 de setembro era de US$ 500 mil. O EI tem US$ 1 bilhão”, afirmou ao Correio, por e-mail. De acordo com ele, se a Al-Qaeda operava no Afeganistão, uma espécie de “beco sem saída”, os jihadistas de Al-Baghdadi atuam na Síria e no Iraque e ameaçam a Turquia, um dos portões da Europa. “O acréscimo mais perigoso tem sido a recente aliança do Ansar Beit Al-Maqdis (“Os Partidários de Jerusalém”), a principal facção jihadista que opera do Sinai até o Vale do Rio Nilo".

“Uma analogia seria comparar o EI a uma nave-mãe, pois o grupo declarou um califado e atiçou a imaginação de muitos muçulmanos”, observa Magnus Ranstorp, especialista em terrorismo pelo Colégio de Defesa Nacional da Suécia. “Os outros sistemas de apoio fervilham em direção à nave; são auto-organizados, mas mantêm mesmo foco.” Para o sueco, a facção ganhou características de grupo de terror transnacional. Ele vê a evolução do EI como a metáfora de um arquipélago jihadista em expansão, no qual existem ilhas em processo de liberação. “São o caso da Líbia e do Sinai.”

O australiano Clive Williams, professor do Centro para Policiamento, Inteligência e Contraterrorismo da Universidade de Macquarie (em Sydney), admite que o Estado Islâmico foi bem-sucedido em desenvolver uma rede de facções afiliadas na maioria dos países muçulmanos e conta com simpatizantes no Ocidente. No entanto, ele nega que o EI exerça um controle nos moldes do que era aplicado pela Al-Qaeda. “O Estado Islâmico encoraja os simpatizantes a realizarem atentados e depois os reivindica, mas não toma parte na organização dos ataques. Apesar de ter influência transnacional, trata-se, primariamente, de um grupo do Oriente Médio”, explicou, por e-mail. Ele prevê que a maior parte das operações do EI no Ocidente será encampada pelos chamados “lobos solitários”, mais difíceis de serem detectados pelas agências de inteligência. Nesse sentido, os países que integram a coalizão americana na Síria e no Iraque seriam os mais vulneráveis. 
 
Fonte: Correio Braziliense