Adriano Marreiros
Na verdade,
seria incompreensível se a consciência de minha presença no mundo não
significasse já a impossibilidade de minha ausência na construção da
própria presença. (Paulo Freire)
Muitas vezes eu tentei fugir de mim, mas onde eu ia, eu tava... (Tiririca)
Tomo
Tiririca, eu tentei fugir de mim, mas de tanto repetir a tentativa e me
encontrar aonde quer que eu fosse, chego a pensar que devo ser um grande
idiota. É, não vai adiantar... Ainda que O Corvo ainda ecoe em meus
ouvidos, fui alfabetizado da forma correta e tive professores que sabiam
muito mais que eu e que pouco teriam a aprender comigo...
Em
consideração a eles, em memória de cada pessoa ou bicho que perdi, e
para perpetuar a existência de quem esteve junto às mãos do antigo
Adriano cronista, devo prosseguir escrevendo, mas como outro escritor:
não um heterônomo, pois não sou Pessoa de tal nível, como já disse, mas
um homônimo que soará falso: um impostor.
Talvez
alienígenas tenham criado várias cópias minhas a serem seriamente
debatidas: afinal, o Imperador conseguiu se clonar e: O Império
Contra-ataca! Vamos a mais
um assunto jurídico, chato como todo assunto jurídico da era em que o
Direito se confunde com o esquerdo... Falemos de constituição.
Altamente
democrática, com múltiplas garantias de direitos e procedimentos
democráticos.
Defensores em todo o mundo saudaram-na como a
constituição mais democrática que se poderia imaginar.
Constituição
brasileira de 1988? Não. Não é dela que estão falando, e pesso, digo,
peço (ora, fui corretamente alfabetizado e ensinado, tenho que escrever
corretamente) que considerem aquele parágrafo todo como se estivesse
entre aspas. É uma citação: é assim que a lamentável Wikipédia se
refere à Constituição Stalinista da União Soviética, de 1936 e até mesmo
ela a crítica...
Loucura (não
repita 3 vezes, por favor!): vocês vão dizer. Devagar com andor
porque, como certos ídolos com pés de barro, Daniel bem sabe, certas
pessoas e conceitos são bem diferentes do que parecem... Falei sobre
isso em curso no Burke Instituto Conservador[1] (inscreva-se). Vejamos um artigo dessa Constituição tão... democrática:
Artigo 125
— De acordo com os interesses dos trabalhadores, e a fim de reforçar o
sistema socialista, a lei garante a todo o cidadão:
a) Liberdade de palavra;
b) Liberdade de imprensa;
c) Liberdade de assembléia ou reunião;
d) Liberdade de passeatas e demonstrações.
Essas
liberdades são asseguradas por meio das facilidades que se lhes concede,
pondo à disposição dos trabalhadores e de suas organizações,
tipografias, material de impressão, edifícios públicos, ruas, meios de
condução, etc., para o exercício desses direitos.
Olhem que
belo artigo. É da Constituição Stalinista! Não tem algo parecido no
quinto? Não, não o dos infernos. No 5º, artigo 5º da nossa
Constituição? Tem. Prossigamos:
O Artigo 125
da constituição garantiu a liberdade de expressão da imprensa e da
assembleia. No entanto, esses "direitos" foram circunscritos em outros
lugares, de modo que a "liberdade de imprensa" ostensivamente garantida
pelo Artigo 125 não tinha nenhuma consequência prática, já que a lei
soviética considerava que "Antes que essas liberdades possam ser
exercidas, qualquer proposta de redação ou reunião deve ser aprovada por
um censor ou uma agência de licenciamento, para que os órgãos de
censura possam exercer 'a liderança ideológica’.” (wikipedia, mas
procure onde quiser...)
Até a
esquerdíssima Wikipédia diz isso, criticando... No entanto, até
professores, seus ídolos e suas bibliografias louvam sistemas assim até
hoje. Como pode se
falar em Democracia se qualquer escrito ou reunião deve ser aprovada
por um censor, por uma agência, pra que sempre esteja na linha de uma
“liderança ideológica”. É claro que LÁ não havia democracia, a despeito
do texto constitucional... Liberdade de expressão, de reunião, de
manifestação e de imprensa não existem se estão sujeitas a censores ou
dependem de permissões dadas por uns poucos editores que seguem uma
liderança, como: o Pravda e o Granma, claro, estou falando de países
distantes. “Adelante”:
Artigo 3.º
— Todo o poder na URSS pertence ao povo, que trabalha nas cidades e no
campo, e que é representado por Sovietes de deputados das classes
trabalhadoras
Não preciso
lembrar que, na nossa, esse poder emana do povo e em seu nome é
exercido: e assim é! Já a URSS era governada de maneira
muito contramajoritária, acho que para impedir uma ditadura da maioria,
já que só se admitia a “ditadura do proletariado”... Por isso: todo o
poder aos sovietes[2]... Essas instituições eram a própria democracia comunista: e tinham que ser respeitadas!!!
Mas: há diferenças. Voltemos à stalinista:
Artigo 133
— A defesa da Mãe Pátria é dever sagrado para todos os cidadãos da
URSS. Traição à Pátria, violação aos juramentos prestados, deserção,
enfraquecimento do poder militar do Estado, espionagem, serão punidos
com toda a severidade da lei, considerados que são como os crimes mais
graves.
Art 16
Código Penal: Quando algum fato perigoso não se ache expressamente
previsto neste Código, o fundamento e a extensão de sua responsabilidade
determinar-se-ão com atinência aos artigos desta lei que prevejam os
delitos mais semelhantes".
Esses eles
deixaram bem indefinidos. Ainda bem que, ao contrário de lá, a nossa
Constituição garante que não há crime sem lei anterior que o defina nem
pena sem prévia cominação legal... Ainda bem que, AQUI, só por Lei!!! Enfim, podia
me prolongar em várias outras comparações; mas, pra isso, seria melhor
um artigo “científico” (direito lá é ciência?!) ou uma aula: e isso eu
fiz nas aulas do curso do Burke Instituto Conservador (Inscreva-se!) É
melhor, pois, encerrar por aqui, lembrando que, de boas falsas
intenções, a constituição stalinista estava cheia. Por tal motivo, não
vou concluir se nossa Constituição é socialista ou não. A soviética
continha tantas garantias de liberdade e deu no que deu...
Mas não basta, pra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo
Mostremos valor, constância
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda Terra
(Hino do Rio Grande do Sul,
que homenageio neste
20 de setembro,
Dia do Gaúcho, da
Revolução Farroupilha).
* Adriano Alves-Marreiros
Um
homônimo de si mesmo (impostor), cansado de tudo e também de fugir de
si, corretamente alfabetizado, consciente de que seus bons professores
sabiam mais que ele e o carioca mais gaúcho do Brasil.
** Portal Tribuna Diária - Site que publicou originalmente