Nas
inolvidáveis palavras de Dilma Rousseff, então presidente da República,
“podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”. A máquina lulopetista
de destruição de reputações era mesmo diabólica. Com razão, os
eleitores demonstraram o desejo de dar um basta em tanta desfaçatez e
passaram a castigar o PT nas urnas. O recado foi claro: em política,
mesmo que alguns considerem válido “fazer o diabo”, não se pode fazer
coisas que nem o diabo faria.
O presidente Jair Bolsonaro,
contudo, parece disposto a cruzar todos os elásticos limites da pugna
política. Em recente manifestação pública, leu uma carta de um suposto
suicida, cuja morte o presidente atribuiu às medidas de restrição
adotadas por governadores para conter a pandemia de covid-19. A
exploração de um alegado suicídio para fins políticos – atacar os
governadores, a quem o presidente culpa pela situação econômica crítica
no País – não tem paralelo na história nacional.[não tem? e a sugestão do presidente se suicidar? jornalistas são formadores de opinião. Sugerir o suicídio de qualquer pessoa é indução ao suicídio = crime. ] Nenhum presidente da
República foi tão longe nem tão baixo. Quem tenta capitalizar
eleitoralmente a morte de um cidadão angustiado demonstra duas coisas:
destempero e desespero.
O destempero se traduziu na forma de
inúmeros palavrões e insinuações de conotação sexual – as preferidas do
presidente – contra seus adversários. Nada disso é novidade, mas não
custa lembrar que, sempre que faz isso, Bolsonaro viola o decoro
inerente ao cargo que ocupa, com a agravante de que o faz nas
dependências da residência oficial, usando equipamentos e pessoal pagos
com dinheiro público – o que configura crime de responsabilidade, um dos
tantos que Bolsonaro comete quase todos os dias. [tudo que possa parecer crime, quando praticado pelo presidente da República ou a ele atribuído, se tornou crime de responsabilidade.
Lembram do golden shower - carnaval de 2020 - os amorais que participaram do evento imundo por pouco não foram elevados à condição de heróis.
O presidente postou, na época, um comentário - grande parte da mídia militante lamenta que ele não faça postagem do tipo agora, para o acusarem de crime de responsabilidade.]
Se a
deseducação do presidente Bolsonaro não é novidade, o desespero é. Antes
seguro de sua condição de franco favorito à reeleição, pela qual
trabalha desde o momento em que vestiu a faixa, Bolsonaro dá sinais
agora de que se sente ameaçado. A provável entrada de Lula da
Silva na disputa de 2022 agravou sua insegurança. Certamente informado a
respeito de pesquisas que mostram sua reeleição cada vez mais incerta,
sobretudo em razão da escalada da crise provocada pela pandemia,
Bolsonaro tratou de intensificar sua busca por bodes expiatórios para
fugir de uma responsabilidade que é primordialmente sua, na condição de
presidente da República.
Em suas redes sociais, Bolsonaro disse
que “nós aqui buscamos salvar empregos”, enquanto governadores como o de
São Paulo, João Doria, “que não tem coração”, demonstram “uma tremenda
ambição”, estão apenas “lutando pelo poder” e só querem “atingir a
figura do presidente da República” com medidas de restrição social e
econômica para conter a pandemia.
Bolsonaro levantou suspeitas
sobre o número de mortos por covid-19, insinuando que está sendo inflado
para prejudicá-lo, e igualou as medidas adotadas pelos governadores à
decretação de estado de sítio. Nesse momento, entrou em seu terreno
favorito: a possibilidade de se tornar ditador. Citando a
hipótese de convulsão social como consequência das medidas restritivas,
com “invasão aos supermercados, fogo em ônibus, greves, piquetes e
paralisações”, Bolsonaro disse que cabe a ele, como presidente,
“garantir a nossa liberdade”. E completou: “Eu sou o garantidor da
democracia”.
Julgando-se detentor de tamanho poder, Bolsonaro
disse que lhe seria “fácil impor uma ditadura no Brasil”, bastando, para
isso, conforme suas palavras, “levantar a caneta e falar ‘shazam’”. E
ameaçou: “Eu faço o que o povo quiser. Eu sou o chefe supremo das Forças
Armadas. As Forças Armadas acompanham o que está acontecendo”, declarou
Bolsonaro, para em seguida recordar com carinho da época da ditadura
militar. [A Constituição Federal vigente, que não teve entre os seus autores o presidente Bolsonaro, atribui ao presidente da República - ou seja, a JAIR MESSIAS BOLSONARO - a nobre função de Comandante Supremo das Forças Armadas.
- o presidente Bolsonaro, que não pode, nem deve, ignorar tal comando constitucional. Razões: - não há motivos para o presidente declinar de tal encargo; e, o que consta da Constituição Federal, obriga ao presidente e a todos os brasileiros o fiel cumprimento - se o presidente fizer qualquer comentário criticando aquela atribuição, poderá ser acusado de crime de responsabilidade vão pedir o seu impeachment.]
É bom levar a sério mais essa ameaça golpista, em se
tratando de alguém com tão poucos freios morais. Confrontado pela
realidade trágica da pandemia, Bolsonaro tenta explorar as mortes como
ativos eleitorais, colocando-as na conta de seus adversários, e violenta
a inteligência alheia ao dizer que sempre defendeu a vacina e que nunca
considerou a covid-19 uma “gripezinha” – mentiras que podem ser
facilmente refutadas em inúmeros vídeos do próprio presidente na
internet.
Quem é capaz disso é capaz de tudo.