A pirâmide de Maslow nos ensina que há uma hierarquia das
necessidades humanas.
Há aquelas que são, em tese, dispensáveis, uma vez que meramente
mentais (autorrealização e estima) ou de natureza social (amigos, família etc).
Entretanto, na base da pirâmide, estão as necessidades indispensáveis,
inevitáveis, sem as quais não se vive: questões fisiológicas como água, comida,
sono e repouso.
E se um líder fosse capaz de utilizar esses elementos como arma
de guerra? “Se não fizerem o que eu quero, então não comem?”. Obviamente, isso
já foi praticado por tiranos durante a história.
Contudo, hoje essa prática
atingiu uma dimensão sem precedentes. Imagine você cortar o fornecimento de
comida e energia para um continente inteiro? É algo assustador, mas real. O
continente é a Europa, e o fornecedor é a Rússia.
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Uma matéria
recente da BBC inglesa mostrou que imagens de satélite revelaram que alguns dos
maiores produtores de trigo no mundo estão com suas plantações em péssimas
condições, como é o caso da Ucrânia, da Índia e dos Estados Unidos. Contudo, o
levantamento também mostrou que, por outro lago, 2 países estão com plantações
cada vez mais robustas: Rússia e China.
O problema disso tudo é que o cenário coloca uma situação
muito tenebrosa para o continente europeu e para os países em desenvolvimento.
O perigo de uma escassez global de alimentos começa a ganhar contornos mais
sinistros e realistas.
Instituições como o Fundo Monetário Internacional, o
Banco Mundial, o Banco de Compensações Internacionais e a própria Casa Branca
já alertaram para uma iminente fome mundial. E parece que a Europa será a
grande prejudicada, com a possibilidade de a Rússia utilizar o fornecimento de
energia e comida como ferramentas geopolíticas.
Um cenário de estagflação, condições climáticas adversas e
interrupções das cadeias globais de suprimentos criaram o contexto perfeito
para o caos.
E a Rússia está aproveitando cada centímetro dessa crise para
fazer valer sua vontade.
Moscou está vendendo mais petróleo e comodities do que
nunca, e hoje detém, junto com a China, as culturas básicas mais prósperas do planeta.
Isso dá a Putin uma vantagem geopolítica imensa, uma vez que a Europa e os EUA
estão vendo sua produção de comodities, sua indústria e sua segurança
energética serem dilapidadas em alta velocidade.
O Kremlin tem afirmado que não irá cortar o fornecimento de
grãos para a Europa. Mas eles também haviam dito que não cortariam o suprimento
de energia para os europeus. Entretanto, esta semana, o gasoduto Nord Stream 1
foi fechado por tempo indeterminado. Conclusão: além do petróleo e do gás,
agora as nações orientais podem utilizar, também, os alimentos como arma contra
as nações da OTAN.
É um cenário tenebroso, que pode, inclusive, ser ainda mais avassalador
para as nações menos favorecidas. O caos pode gerar aumento considerável da
fome, da pobreza e da criminalidade.
O Brasil, entretanto, tem o potencial de
garantir a segurança energética para a Europa e a segurança alimentar para o
mundo. Fazendo isso, diminuiria o controle de Rússia e China sobre as nações
ocidentais.
A pergunta que fica é: será que entraremos numa rota de
colisão com Moscou e Pequim, tentando nos impedir de ajudar as nações em suas crises
energética e alimentícia? [o Brasil tem que colocar seus interesses acima dos de qualquer outros países, que hoje se consideram donos do mundo.
O Brasil já integra o BRICS, enquanto por parte da EUA e Europa recebe ora ameaças ora afagos (até internacionalizar a Amazônia o francês já ameaçou.]
Ou os BRICS seguirão mais unidos do que nunca,
aproveitando o cenário adverso para fazer avançar, em conjunto, seus planos
geopolíticos? Aguardemos.
Daniel Lopez, colunista - Gazeta do Povo - VOZES