Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador butique. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador butique. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Ronaldo Caiado: “O agro quer paz”

O governador de Goiás reconhece que o setor não pode mais avançar sem olhar para o meio ambiente e critica o MST por desrespeitar as leis do campo

 Ronaldo Caiado

Durante mais de quatro décadas de estrada política, por cinco vezes deputado federal e uma senador, o governador em segundo mandato de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), sempre deu voz aos interesses do agronegócio, o que o projetou nacionalmente na década de 80. 
Filho de agropecuarista e médico de formação, ele era então presidente da União Democrática Ruralista (UDR) e agitava a bandeira antirreforma agrária. Dali saltou à arena eleitoral, concorrendo à Presidência na eleição de 1989, na qual travou altos embates com Lula — um duelo que, segundo ele, não deixou feridas. 
Apoiador de Jair Bolsonaro, com algumas colisões pelo caminho, Caiado, aos 73 anos, defende um ponto de equilíbrio entre o olhar ambiental e a economia. “O agro está puxando o PIB e precisa de condições para seguir prosperando”, disse ele a VEJA, nesta entrevista em que critica do MST à União Europeia e fala da dor trazida pela perda de um dos quatro filhos, morto subitamente aos 40 anos.

O governo está tentando se reaproximar do agronegócio e anunciou o maior Plano Safra da história. Como entende esse movimento? Estão apostando no que dá certo. A agropecuária contribuiu com 159 bilhões de dólares nas exportações brasileiras no ano passado e é o único setor com chances de ser competitivo no cenário internacional. Lula fez suas reflexões. Compreendeu que não vale a pena ir para o confronto e travar uma desnecessária queda de braço em uma área da economia que caminha tão bem e só quer paz.

Por que o setor tem tanta resistência a Lula e ao PT? 
O permanente apoio do PT ao Movimento Sem Terra dificulta as coisas. Imagine eu ficar na porta de sua casa dizendo que vou invadi-la. Você certamente não se sentirá tranquilo. Agora, o MST não tem figura jurídica. Não sei quem é o responsável pelo estatuto nem quem responde por seus atos. Por isso, não cabe sequer perder tempo falando deles.
 
O senhor é contra a reforma agrária? Se a conversa não girar em torno de invasão, mas de promover a reforma com desapropriações ancoradas na lei, não vejo problema algum. 
Não é o Zé ou a Maria que vão dizer “olha, eu vou fazer uma reforma agrária aqui nesse município e invadir essa propriedade”. Isso deve transcorrer no campo das normas preestabelecidas, à base de uma política eficiente de inclusão dos assentados, para que tenham oportunidades. Na maioria das vezes, você chega à terra e o cidadão está sem luz elétrica, sem água e sem acesso à cidade. Assim, não funciona.
 
Suas divergências com o PT estão postas de lado? 
Uma coisa é o processo eleitoral, a outra é o governo, que exige uma parceria constante. 
Entendo que o presidente está em seu terceiro mandato e sabe muito bem que não é o caso de ficar entrando em rota de colisão. 
Quem não lembra, lá atrás, de meus debates com Lula, quando eu era presidente da UDR? 
E quando disputamos a Presidência da República, em 1989? Esse tempo ficou para trás.

“Ambientalistas de butique ficam dizendo por aí que não pode nada. Mas o cidadão necessita de alternativas para viver. O governo deve dar subsídio para manter a floresta de pé”

Restou alguma ferida do passado? 
Nenhuma. Lula e eu sempre tivemos posições antagônicas, mas de forma respeitosa. Naquela época, não havia marqueteiro, cada um fazia sua campanha, e o debate era mais livre. Nada que saía dali, porém, era de ordem pessoal.

(...)

Há três ministros na Esplanada que vieram da cota do União Brasil. O que acha de a sigla integrar o governo? 
O partido esteve presente também no governo de Bolsonaro, ocupando três ministérios de relevância. Nem por isso votava junto em todos os temas que vinham à pauta, compondo uma base uniforme. Faz parte da política. Não cabe a mim falar pelos deputados e senadores que lá estão. Cada um deve analisar a sua realidade.
 
Não é contraditório que uma ala do União Brasil integre o governo e a outra se mantenha na oposição? 
Não acontece apenas com o União Brasil. Sempre há num partido discussões internas e tendências diferentes. Não existe algo como uma legenda homogênea em que todo mundo concorda com tudo. Essa esquizofrenia faz parte do sistema político brasileiro e garanto que não há dose de Gardenal que arrefeça isso.
 
Mundo afora, se discute como fazer girar a economia sem ferir o meio ambiente. O Brasil está fazendo a lição de casa? 
Acho que o Brasil está na direção certa. Outro dia, uma respeitada professora da faculdade de Lisboa desancou os brasileiros num seminário do qual participei em Portugal, criticando a postura ambiental do país. Perguntei a ela se as propriedades de lá chegam perto do que se vê na Amazônia, onde há até 80% de reservas. Passo pelos rios da Europa e só vejo concretagem na margem, sem nenhuma mata. Temos o código florestal mais moderno do planeta, algo que nunca foi implantado na Ásia, na União Europeia ou nos Estados Unidos. Precisamos de pessoas qualificadas no Itamaraty para discutir esses assuntos no cenário internacional.

(.....)


Estão demonizando o agro brasileiro? Claro que sempre aparece alguém para dar uma versão fake news para o que acontece no campo. O fato é que, enquanto o Brasil cresceu 2,9% no ano passado, em Goiás o avanço foi de 6,6%. Há algumas décadas, ninguém imaginava que o cerrado pudesse produzir um grão de soja nem engordar boi. Mas aí a Embrapa pesquisou, desenvolveu a semente e hoje exportamos para todo mundo. Agora, veja a indústria brasileira. Desde Juscelino Kubitschek constroem-se carros no país, mas não fomos capazes de fazer um veículo para brigar no mercado internacional.

Por que o senhor se opôs à reforma tributária? O projeto aprovado na Câmara fere de morte o pacto federativo, que é uma cláusula pétrea da Constituição e dá aos estados autonomia de arrecadação e de gestão dos recursos. Criaram uma comissão federativa para fazer a redistribuição do dinheiro e definir quais estados deverão receber os fundos de compensação e de desenvolvimento regional. Para mim, é uma excrescência que concentra ainda mais o poder em Brasília.

O senhor defende a manutenção da guerra fiscal? Guerra fiscal é um termo pejorativo que só existe no Brasil. Nos Estados Unidos, empregam a mesma prática, mas lá chamam de competição nos impostos. O Texas oferece um tributo menor do que o da Califórnia, e as empresas vão para lá por esse incentivo. Isso é política de desenvolvimento. Na minha avaliação, a reforma tributária tal como apresentaram serve à Confederação Nacional da Indústria e ao grupo das exportadoras, não à população. Mas, sim, precisamos de uma mudança aí para dar impulso à economia.

Com Bolsonaro inelegível, como avalia a força do bolsonarismo? Mesmo com Bolsonaro proibido de sair candidato, não se pode retirar dele a capacidade de mobilizar milhões de pessoas. Pouquíssimos líderes no país têm tamanho poder de transferência de votos.

“A perda de um filho é um fato que você não consegue superar, não passa. Cada lugar que eu olho me traz uma lembrança. Uma morte dessas tira um pouco da beleza da vida”

Como anda sua relação com Bolsonaro? 
Não o considero meu amigo, mas um aliado. Não significa que eu seja submisso. Não sou vaquinha de presépio nem estou aqui para dizer amém. Não concordo com ele em relação à desconfiança sobre a urna eletrônica nem sobre as vacinas da Covid. Sou médico e acredito na ciência.
 
Um relatório da Abin mostra que os atos de 8 de janeiro contaram com apoio de produtores rurais. Desaprova a conduta deles? O ministro Alexandre de Moraes está cuidando para que essas pessoas respondam por seus atos. Como governador, não admito qualquer espécie de invasão ou destruição de prédio público. Critico essa postura da mesma forma que fiz quando o Congresso foi invadido pelo MST. Democracia exige cumprimento de regra. 
 
Para as eleições presidenciais de 2026, fala-se muito nos nomes dos governadores de Minas, Romeu Zema, e de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para representar a direita. 
Considera boas apostas? 
São duas pessoas extremamente credenciadas. O Brasil terá oportunidade de avaliar uma nova safra de governadores, que se colocarão como candidatos. São Paulo e Minas, claro, contam com uma posição de arranque diferenciada, por serem os maiores colégios eleitorais do país.

Como tem lidado com a ausência de seu filho, morto subitamente em 2022, aos 40 anos? 
É um fato que você simplesmente não consegue superar, não passa. Cada lugar que eu olho me traz uma lembrança. Mergulhei firme no trabalho, sabendo que meu filho está me ajudando lá de cima. Uma morte dessas tira um pouco a beleza da vida.

Publicado em VEJA, edição nº 2853,   de 9 de agosto de 2023

 

sábado, 5 de março de 2022

Demagogia no front - Revista Oeste

Guilherme Fiuza 

Os pacifistas de butique trocaram de roupa para posar contra a guerra. É comovente 

Existem duas Ucrânias: uma é alvo de bombardeios que sacrificam inocentes; a outra é o novo aeroporto dos demagogos, que não são nada inocentes. A segunda Ucrânia é uma mistificação que avilta a primeira (e única).

Joe Biden, presidente dos Estados Unidos | Foto: Shutterstock

A pandemia mostrou que, nos dias de hoje, toda tragédia tem potencial de oportunidade para esse contingente cada vez maior de surfistas da virtude imaginária. O nome do jogo é desenhar vilões horripilantes, jogar as culpas nas costas deles e correr para o abraço da claque. Sendo assim, nem vamos nos deter naqueles que usam a guerra na Ucrânia para botar a culpa “no Bozo”, e pirraças do tipo.

O que se impõe de forma bastante intrigante no cenário do “debate político” (entre muitas aspas) é o uso do ataque russo para uma tentativa patética de reabilitação de Joe Biden, o fenomenal recordista de votos da história dos EUA que mal consegue concluir suas frases. Tudo é muito enevoado em se tratando de Biden e suas circunstâncias.

Mas aí está: aquilo que antigamente se denominava grande imprensa, e que hoje virou um ajuntamento de manchetes parecidas entre veículos supostamente concorrentes — o tal “consórcio” —, resolveu apostar tudo na guerra da Rússia. Como sempre, o peixe que esse consórcio tenta vender é um excelente indicativo, em qualquer circunstância, do que cheira mal. E é claro que o panfleto vendido entre um bombardeio e outro é a volta do mocinho Joe Biden, fiel da resistência ucraniana. Contando ninguém acredita.

Os progressistas de butique estavam com saudade de fingir que Biden é o final feliz após as trevas demoníacas do trumpismo — historinha que eles construíram com tanto esmero e tão mal. Veio aquela eleição imunda, com um festival de indícios de fraudes em votos voadores pelos correios que a Justiça americana decidiu não examinar, e emergiu o magnífico poste de Barack Obama, para êxtase dos demagogos de vida fácil ao redor do mundo. Aí obviamente sobreveio um governo trapalhão, porque demagogia não é solução para nada, e a claque do final feliz ficou aí pelos cantos meio encabulada.

É incrível que esse mesmo Biden ressurja como o estadista fiador do equilíbrio geopolítico contra a tirania

Mas não totalmente, porque o forte dessa gente é justamente a desinibição. Biden comandou uma retirada súbita, atabalhoada e vergonhosa das tropas norte-americanas do Afeganistão, cuja consequência imediata foi a ascensão do Talibã, uma das forças políticas mais violentas e obscuras do mundo. É incrível que esse mesmo Biden ressurja agora nas bocas como o estadista fiador do equilíbrio geopolítico contra a tirania. E o Talibã mandou mensagens de paz e amor para a Ucrânia. Está dando para entender?

Biden segue uma linha de política externa transigente com regimes totalitários como Irã e China (que trabalhou pela sua eleição) em nome de um suposto pragmatismo pacifista — que não resulta em um milímetro de paz na conduta bruta desses “parceiros”. Sua credencial como contraponto ao autoritarismo bélico de Putin é nenhuma. Seu grupo político passou anos acusando Trump de conluio com Rússia e Ucrânia sem conseguir provar nada, sendo o filho do próprio Biden quem tem relações e negócios mal explicados na região. Que mocinho é esse?

É o que aparece hoje nas manchetes do consórcio e na conversa mole do “debate político” como a esperança da paz ao lado de líderes decadentes da Europa, como Macron, ou das Américas, como Trudeau, todos desesperadamente precisados dessa nova demagogia após a farsa totalitária que protagonizaram na pandemia. Após dois anos de cumplicidade com a violência fantasiada de proteção sanitária, apoiando a transformação de cidadãos do mundo inteiro em reféns de ações ditatoriais mentirosas e experimentos anticientíficos graves, os pacifistas de butique trocaram de roupa para posar contra a guerra. É comovente.

Deve ser sintomático que tudo quanto é surfista de pandemia, como João Doria, Sergio Moro e companhia promotora de lockdowns estúpidos e vacinações experimentais compulsórias, reapareça depois de toda sua brutalidade pedindo paz no mundo. A guerra revela coisas terríveis, inclusive que a inocência está em falta na atual conjuntura.

Leia também “Passatempo para o fim do mundo”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Este homem é uma lutadora - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

A falsa inclusão de atletas transexuais em esportes femininos significa a exclusão de meninas de seus espaços no esporte

Alana McLaughlin, antes e depois da transição | Fotos: Reprodução Instagram
Alana McLaughlin, antes e depois da transição -  Fotos: Reprodução Instagram 
 
Há duas semanas, escrevi um artigo sobre o silêncio das feministas com a nova velha realidade das mulheres no Afeganistão depois da retirada das tropas norte-americanas e aliados da região. Comandadas pelo Talibã agora, as afegãs sofrerão sob um duro regime de opressão e liberdades cerceadas.
 
Mas o silêncio das feministas não é exclusivo para o assunto das mulheres do Afeganistão, agora cobertas da cabeça aos pés e sem o direito de trabalhar nem estudar.  
O feminismo de butique que diz lutar pelas mulheres continua calado em relação ao avanço absurdo de atletas transexuais, homens biológicos contemplados com anos de testosterona, competindo, invadindo e agora espancando mulheres sob os aplausos dos seguidores do politicamente correto.

Alana McLaughlin, a segunda mulher abertamente transgênero a competir no MMA nos Estados Unidos, venceu sua estreia na semana passada por finalização nas preliminares do Combate Global em Miami, Flórida. A lutadora de 38 anos usou um mata-leão contra Celine Provost para encerrar a partida aos 3 minutos e 32 segundos do segundo round. McLaughlin, que começou sua transição de gênero após deixar as Forças Especiais do Exército dos EUA em 2010, disse que espera ser uma pioneira para atletas transgêneros em esportes de combate: “Quero pegar o manto que Fallon colocou”, disse McLaughlin à Outsports antes da luta, referindo-se a Fallon Fox, que em 2012 se tornou a primeira mulher trans a lutar no MMA. “No momento, estou seguindo os passos de Fallon. Sou apenas mais um passo ao longo do caminho e é minha grande esperança que haja mais coisas para seguir atrás de mim.”

A luta terminou com um mata-leão que McLaughlin deu na adversária, Celine Provost | Foto: Reprodução

Antes da transição, McLaughlin era um soldado das Forças Especiais dos EUA, o que levou alguns usuários de mídia social e até mesmo outros lutadores a questionar a legitimidade de sua competição na seção feminina do MMA. Entre os críticos estão o lutador do UFC Sean O’Malley e o narrador de MMA Angel David Castro. Alana McLaughlin fez a transição cinco anos atrás, o que significa que “ela” viveu 33 anos de sua vida como homem e com o corpo formado em sua totalidade pelo hormônio mais proibido para as mulheres no esporte: a testosterona.

Há alguns anos venho tentando trazer um pouco de racionalidade para o debate público sobre transexuais no esporte. Essa falsa inclusão significa a exclusão de meninas e atletas femininas de seus espaços no esporte. 
A invasão de homens biológicos nos esportes femininos não é apenas errada, é um ataque frontal e um desrespeito às mulheres — a própria discussão é, em si, ultrajante e humilhante. 
O debate honesto sobre esse assunto não pode ser embasado na identidade social de um indivíduo, que, obviamente, deve sempre ser respeitada. Como as pessoas decidem viver suas vidas é um problema individual. 
Mas decisões sociais e particulares não criam direitos imediatos. Esse assunto é sobre a clara exclusão de meninas e mulheres no esporte feminino, é sobre ciência e sobre identidade biológica, pilar sagrado e justo nos esportes.

Nessa semana, a Califórnia passou por um processo de recall para o governo estadual. Dentre os candidatos a ocupar o lugar de Gavin Newson estava Caitlyn Jenner, ex-atleta olímpico de decatlo masculino como Bruce Jenner. Jenner se identificou como mulher trans em 2015, é pai das empresárias Kylie e Kendal Jenner, padrasto das Kardashians e é contra meninos biológicos trans competirem com meninas no esporte feminino. Recentemente, ela disse em um vídeo que esse assunto é apenas uma questão de justiça: “Sou contra meninos biológicos que são trans poderem competir com garotas nas escolas. Simplesmente não é justo”. E arrematou: “E nós temos de proteger o esporte feminino nas escolas”. Caitlyn foi devorada pelo tal feminismo que jura por todos os santos proteger e lutar pelas mulheres.

O assunto, para aqueles que querem apreciar a biologia humana, é vasto e muito bem estabelecido na ciência. As diversas vantagens que as mulheres trans possuem devido aos anos de testosterona desde a infância não são amenizadas ao manter a quantidade hormonal recomendada pelo Comitê Olímpico Internacional de até 10 nanomols por litro por 12 meses. 
Não existe estudo que prove que esse período reverta aspectos como o coração e os pulmões maiores, maior capacidade aeróbica e cardiorrespiratória, além de outros, como nível de oxigênio no sangue, densidade óssea e fibra muscular. Não há absolutamente nenhum estudo que mostre que a genética masculina pode ser revertida em apenas um ano, depois de passar 20 ou 30 anos com altas doses de testosterona. 
 
E não para por aí: mesmo pequenas quantidades de testosterona a mais no organismo feminino podem resultar em verdadeiros milagres no esporte, como segundos de diferença em uma prova, o que pode definir uma medalha de ouro ou um recorde olímpico. 
O teto de testosterona que uma atleta transexual pode ter chega a ser até três vezes maior do que o de uma mulher. No corpo de uma atleta, um pouquinho a mais desse hormônio, considerado o suprassumo do esporte, faz uma grande diferença.

Ao longo de 24 anos como atleta profissional, pude conhecer médicos excepcionais, engajados na proteção do esporte limpo e justo. O ortopedista Bernardino Santi, que já participou de quatro edições dos Jogos Olímpicos como profissional de saúde, foi um deles e hoje desempenha um trabalho importantíssimo na proteção das mulheres. Santi, assim como centenas de outros médicos ligados à fisiologia humana que se calam para o politicamente correto, é categórico em afirmar que ainda não há evidências científicas que levem a um consenso que garanta segurança a todos os atletas, incluindo os próprios esportistas transgêneros, durante as competições. Para ele, as definições do Comitê Olímpico sobre o tema são precipitadas: “Hoje, é muito precoce, não há consenso científico para dizer que uma atleta trans se equipara a uma mulher biológica. Pelo contrário, há muitos trabalhos científicos que rebatem essa argumentação”.

Para os esportes de contato, como o MMA, há ainda maiores inseguranças para as mulheres biológicas sobre sua integridade física

O principal ponto de todo esse debate, que é o fator hormonal e a quantidade de testosterona relacionada a maior massa muscular e óssea, parece simplesmente não existir para a turba político-ideológica que vem gritando “ciência!” ultimamente. Mas Santi ressalta outros pontos além da grande diferença hormonal na resposta muscular, na velocidade, na força e em explosão: “A capacidade pulmonar e o aspecto cardiológico são alguns dos fatores que dão vantagens físicas aos atletas que são homens biológicos. Mas se compararmos apenas a questão da bacia da mulher, por exemplo, que é preparada para a gravidez, há muitas diferenças com relação à do homem. Com isso há um centro de gravidade diferente, uma explosão muscular diferente. Por mais que se atue na parte hormonal, há aspectos que são impossíveis de ser modificados”, ressalta o médico.

Os perigos de tamanha cegueira ideológica não são relacionados apenas às mulheres que estão vendo seus espaços esportivos serem invadidos por homens biológicos. Muitos médicos, como Santi, ressaltam que não se sabe, por exemplo, até que ponto essa mudança hormonal nas mulheres trans levará a outros tipos de doença, pois não há tempo suficiente para estudos conclusivos que possam garantir que daqui a alguns anos a retirada da testosterona nessas atletas trans não possa levar a um problema cardiológico, por exemplo, ou que possa trazer algum risco de morte para a pessoa: “Há muita precipitação em torno do tema e nisso não está se pensando no ser humano”, ressalta Santi.

Para os esportes de contato, como o MMA, há ainda maiores inseguranças para as mulheres biológicas sobre sua integridade física. E mesmo diante de tamanha injustiça, muitas atletas têm sido colocadas em verdadeiras espirais de silêncio e não se pronunciam, com receio de serem rotuladas de preconceituosas ao se manifestar abertamente sobre o assunto. A verdade é que, se essas atletas não se manifestarem, o esporte feminino será tomado por uma turba que demanda que o politicamente correto seja maior até que a ciência e a biologia humana. Atletas trans baterão recordes seguidos com uma clara vantagem biológica que não pode ser ignorada — e, no Ocidente livre para as mulheres, teremos de nos comportar como as afegãs sob o Talibã.

Um homem não pode se tornar uma mulher diminuindo sua testosterona. E os direitos das mulheres não devem terminar onde os sentimentos de alguns começam.

Leia também “As mulheres invisíveis do Afeganistão”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


sábado, 28 de março de 2020

Esses gestores lançarão um fundo para ir às compras em meio à crise - EXAME

Por Graziella Valenti

Apesar dos efeitos do coronavírus serem ‘imprecificáveis’, Daniel Lemos e Marcos Gonçalves preparam lançamento do primeiro fundo do Riza Asset Management

Com a maior crise econômica global do pós-guerra batendo à porta, como consequência da pandemia da covid-19, Daniel Lemos prepara o lançamento do primeiro fundo da Riza Asset Management na próxima terça-feira (31). Lemos se uniu a Marco Gonçalves, fundador da butique de fusões e aquisições Riza Capital, no ano passado para estruturar e liderar a gestora. A estreia das operações foi no início de fevereiro, com capital próprio. A filosofia para o momento é quase socrática: só sei que (quase) nada sei.

Enquanto a conversa com a EXAME acontecia, no início da noite de sexta-feira, 27, a Agência France Press noticiava a conta: um terço da população mundial está confinada. “Nunca se viu nada parecido na história, desde a Segunda Guerra Mundial”, disse Lemos. Apesar da falta de previsibilidade, a experiência de Lemos no mercado de crédito permite clareza de parâmetros em um momento no qual o futuro da economia – e até das estruturas sociais tal qual conhecemos hoje – é totalmente incerto.

A primeira carteira que será aberta para captação será do Riza Daikon, multimercado com dedicação maior ao crédito privado. A partir do dia 31, o fundo estará nas plataformas do BTG Pactual, antiga casa de Gonçalves, e da XP Investimentos, sociedade que Lemos deixou no início do ano passado. Há outros fundos prontos e novos lançamentos podem ocorrer em abril. “Nossa visão para os fundos é de bastante cautela porque os efeitos secundários desse momento são ‘imprecificáveis’”, explica o gestor, deixando claro que nessa circunstância a carteira precisa manter entre 30% e 40% de caixa, ante um percentual de 15% a 20% para cenários de normalidade. “Com caixa quero dizer LFT, certo”.

(.....)

Soluções
“É preciso estudar formas de retomar a atividade e proteger os riscos. Infelizmente, não haverá como cuidar de tudo perfeitamente: da saúde e da economia. Também é preciso locais dedicados somente ao tratamento da doença. Sabemos que é grave. Temos dois sócios minoritários internados. A situação é grave, mas não há solução perfeita.

Governo vai precisar acionar o seguro e usar parte das reservas internacionais, trazendo para dentro do país parte do total que, com os ganhos desse começo de ano, já deve estar perto de 370 bilhões de dólares. É verdade que o real vai ficar um pouco mais desprotegido, mas será que neste momento vai fazer tanta diferença assim se o dólar for a 6 reais? Será que vai aumentar inflação se ninguém está comprando? 

Por um período, vai inclusive, nos deixar mais competitivos.Também vamos ter de aprender a ver economias e empresas quebrarem. Desde a Segunda Guerra Mundial, nada mais pode dar errado. É incrível o que se fez na Crise de 2008. Quase ninguém quebrou. Não sabemos se isso é mesmo o certo a fazer. Quebrar é parte do aprendizado. Você quebra, aprende, reequilibra as práticas e retoma. Esse é o ciclo.”


Em EXAME - MATÉRIA COMPLETA