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sexta-feira, 14 de julho de 2023

Tráfego, carroças e tração humana! - Décio Antônio Damin

        Comovente uma cena comum entre nós leva a reflexões sobre a nossa sociedade. 
Num dia primeiro do ano, cedo, a maioria ainda dormindo, um homem moço, com braços fortes, queimado de sol, de calção e camiseta corre de uma lixeira à outra, rasgando sacos e deles retirando garrafas plásticas, latas, papéis e outros objetos para carregar  num carrinho que  quase desaparecia  sob uma montanha. 
Era um carro de duas rodas, com dois varões horizontais paralelos unidos na frente por uma barra transversal. Tal era o peso acumulado que parado se inclinava para trás e os varões apontavam, como lanças, para o céu. O homem move-se com desenvoltura, concentrado, nada desprezando. Depois de tudo ajeitado, posiciona-se entre os varões, pula e alcança a barra transversal e então, com seu peso, equilibra o carro que puxa com grande esforço, arfante, músculos retesados, seguindo até novo achado onde recomeça. Oprimido pelo mundo, não desiste e busca com esforço, com as próprias mãos, retirar do lixo a sobrevivência. Com vontade digna de um deus grego, um exemplo  de fortaleza  e  caráter para ser cantado em versos e que mereceria ser eternizado no bronze  é,  em sua fragilidade social, um gigante, um centauro, um sobrevivente. Dos restos está, com esforço e perseverança, arrancando  seu sustento, e  sabe lá de quantos.

Para alguns todas as chances, para outros o lixo! À tamanha disposição, se oportunidade fosse dada, a gratificação seria imensa.

Faz-nos pensar, ao propiciarmos aos nossos todas as oportunidades, insistirmos, brigarmos para que façam bem as coisas, estudem, se esforcem e que nos respondem, às vezes, com indiferença e até desdém.

Um  dia li uma opinião clara de que, para resolver os problemas do tráfego, dever-se-ia  retirar  das ruas as carroças, pois elas o atravancam., mas esqueceu que todavia temos ainda conosco convivendo homens que não atingiram  sequer o estágio da tração animal e puxam   eles próprios seus pesados carros. 
Sofisticamente, a opinião esquecia a luta hercúlea que, com meios naturais  elementares,  mãos e  força física, estão travando estes nossos irmãos.  
Merecem, sim, a  nossa admiração e, ao invés de execrá-los, deveríamos fazer  esforços para trazê-los ao século XXI em que a tração animal e, mais distante, a humana,  seriam apenas uma lembrança. 
Não basta tirá-los simplesmente das ruas.
 
 Décio Antônio Damin - Conservadores e Liberais

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

TSE esqueceu o progresso de 2002 para cá ...

Voto impresso já foi testado em 2002, mas acabou reprovado;  Naquele ano, para testar o sistema, a medida foi adotada em 150 municípios, atingindo 6,18% do eleitorado

[Convenientemente, o TSE esqueceu o progresso havido de 2002 para cá, nos diversos campos da eletrônica, incluindo impressoras; 
EXEMPLOS: esqueceu que em 2002, os celulares pesavam em torno de 500g e ofereciam, se muito, 1% do que oferecem hoje; as impressoras eram verdadeiras carroças, que quebravam só de se olhar para ela; as conexões via internet eram na maioria via discagem telefônica.
O estágio atual de progresso garante que as impressoras, ainda que as mais simples,tem um desempenho com elevada confiabilidade.]
O voto impresso [VOTO AUDITÁVEL = REGISTRO DO VOTO] já foi implantado em caráter experimental nas eleições presidenciais de 2002 — e acabou reprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Naquele ano, para testar o sistema, a medida foi adotada em 150 municípios, atingindo 6,18% do eleitorado.
 
Sua introdução no processo de votação nada agregou em termos de segurança ou transparência. Por outro lado, criou problemas, apontou um relatório do TSE. O tribunal concluiu que, nas seções com voto impresso, [nas seções aqui chamadas 'com voto impresso' NÃO OCORREU voto impresso; o voto foi efetuado normalmente na urna eletrônica, meio digital, sendo apenas impresso um espelho do voto confirmado.]  foram maiores o tamanho das filas e o porcentual das urnas que apresentaram defeitos, além das falhas verificadas apenas nas impressoras. “Houve incidência de casos de enredamento de papel, possivelmente devido a umidade e dificuldades de manutenção do módulo impressor”, apontou o texto. [a tecnologia atual, não deixa espaço para que os defeitos apresentados e outros do tipo ocorram.]
 
Correio Braziliense
 
 

sábado, 24 de julho de 2021

A ILHA DE PROSPERIDADE: O AGRONEGÓCIO NACIONAL

Alex Pipkin, PhD

Desde meus áureos tempos nos bancos escolares do primário, li e aprendi que o Brasil era o grande celeiro do mundo.

Adam Smith e David Ricardo, entre outros, explicam pertinentemente nossas vantagens comparativas em uma série de commodities agrícolas - soja - e industriais - minério de ferro - que nos foram herdadas; uma dádiva d’Ele. Como fomos beneficiados pela extensão, pela abundância, pela qualidade e pelo clima de terras agricultáveis para certas culturas. Será mesmo que como alude o folclore tupiniquim, Deus é brasileiro? Tenho minhas abissais dúvidas…

Bem, como nos meus tempos universitários agarrei-me a trilogia Porteriana, sei que as vantagens que realmente contam são as competitivas, aquelas que são criadas pela engenhosidade, pelo esforço e pelo investimento humano.  Nossa vocação continua sendo de produtores e de exportadores do setor do agrobusiness, no entanto, com uma diferença abissal: o setor investiu pesadamente em pesquisa e desenvolvimento, em tecnologias, e inovou pragmaticamente, gerando maior produtividade, empregos, renda e riqueza. O agronegócio nacional transformou-se em uma indústria intensiva em capital e tecnologia no que diz respeito à sua produção; sensacional.

Não é necessário muito esforço para comprovar o protagonismo do setor, que em 2020 representou 26,6% do PIB brasileiro. Evidente que a demanda mundial e o aumento dos preços das commodities impactaram no crescimento, porém, inegavelmente ocorreu uma transformação de postura e tecnológica no setor. Por outro lado, o que dizer do franco processo desindustrializador que o país vem sofrendo?  Em 2020, a indústria representou apenas 11,3% do PIB nacional e, sabidamente, o setor é o grande responsável pela geração de transformações, inovações, empregos, renda e riqueza.

Nesse país de legítimas e provadas elites de baixa qualidade, que insiste em focar o próprio umbigo - e de apenas alguns escolhidos - isolacionista e protecionista, repleto de relações de compadrio, de proteções, de incentivos fiscais, de subsídios, de tributação alta e burocrática, com raras exceções, continuamos mesmo produzindo espécies de carroças. O acesso a tecnologias de ponta, insumos, componentes, sistemas, bens de capital, enfim, segue significando um esforço hercúleo, que impede e/ou dificulta a agregação de valor, o aumento da competitividade brasileira e a nossa participação nas cadeias globais de valor.

Esse país é tão esotérico que até mesmo as transnacionais por aqui atuam distintamente do resto do mundo, constituindo-se, basicamente, em produtoras para o mercado doméstico. O irônico é que muitas delas brigam pela manutenção da “fechadura brasilis”.  O nefasto resultado desta retrógrada e enviesada situação, é o de que a indústria nacional manufatura produtos de baixa agregação tecnológica, não inovadores - não há influxos tecnológicos - e de custos e preços mais altos - não há ganhos em escala.

Claro que não é ruim ter um agronegócio forte; o problema é ter uma indústria desvalida e que definha sistematicamente, com reflexos negativos para a produção, para a inovação, para a produtividade e o emprego e a renda. Sem dúvida, o agronegócio tem sido a ilha verde-amarela da produtividade e da prosperidade nacional. Neste sentido, aproximamo-nos do momentoso arquipélago de Cuba. Alega-se que Cuba, cuja produção se baseia na cana-de-açúcar, no tabaco e no níquel, não consegue se industrializar em razão do bloqueio econômico imposto ao país. Interessante um país socialista precisar dos “capitalistas malvados” para tanto, mas enfim, as relações internacionais são fruto de uma escolha política cubana.

Por sua vez, por aqui, a decisão de procrastinar no caminho da abertura, da industrialização, do crescimento e do desenvolvimento econômico e social, é sempre velada, verbalizada de modo ambíguo e contraditório, mas o fato é que a carroça nacional transita sempre devagar e pela contramão, sendo frequentemente ultrapassada pelos países asiáticos e até mesmo por outras nações latino-americanas, que outrora nos orgulhávamos em afirmar que éramos mais “desenvolvidos”.

Nossa teimosia protecionista tem um enorme custo social e econômico no presente e no futuro. O efeito da corrida da Rainha Vermelha vai pegar sempre e, verdadeiramente, os parasitas pau brasil sempre encontram novas formas de se reproduzirem e se desenvolverem. Pois é, tanto se fala em economia 4.0, em inovações na indústria, em especial naquela puxadora, a automobilística, mas os elétricos… ah, os elétricos… esperemos… Pelo que tristemente prevejo, seremos eternamente o país das “modernas carroças” e, inteligentemente, de um cada vez mais pujante e inovador setor agropecuário.

Que pena, que lástima, Brasil, para todos nós!

Alex Pipkin, PhD - Transcrito do site Percival Puggina