Alex Pipkin, PhD
Desde meus áureos tempos nos bancos escolares do primário, li e aprendi que o Brasil era o grande celeiro do mundo.
Adam Smith e David Ricardo, entre outros, explicam pertinentemente nossas vantagens comparativas em uma série de commodities agrícolas - soja - e industriais - minério de ferro - que nos foram herdadas; uma dádiva d’Ele. Como fomos beneficiados pela extensão, pela abundância, pela qualidade e pelo clima de terras agricultáveis para certas culturas. Será mesmo que como alude o folclore tupiniquim, Deus é brasileiro? Tenho minhas abissais dúvidas…
Bem, como nos meus tempos universitários agarrei-me a trilogia Porteriana, sei que as vantagens que realmente contam são as competitivas, aquelas que são criadas pela engenhosidade, pelo esforço e pelo investimento humano. Nossa vocação continua sendo de produtores e de exportadores do setor do agrobusiness, no entanto, com uma diferença abissal: o setor investiu pesadamente em pesquisa e desenvolvimento, em tecnologias, e inovou pragmaticamente, gerando maior produtividade, empregos, renda e riqueza. O agronegócio nacional transformou-se em uma indústria intensiva em capital e tecnologia no que diz respeito à sua produção; sensacional.
Não é necessário muito esforço para comprovar o protagonismo do setor, que em 2020 representou 26,6% do PIB brasileiro. Evidente que a demanda mundial e o aumento dos preços das commodities impactaram no crescimento, porém, inegavelmente ocorreu uma transformação de postura e tecnológica no setor. Por outro lado, o que dizer do franco processo desindustrializador que o país vem sofrendo? Em 2020, a indústria representou apenas 11,3% do PIB nacional e, sabidamente, o setor é o grande responsável pela geração de transformações, inovações, empregos, renda e riqueza.
Nesse país de legítimas e provadas elites de baixa qualidade, que insiste em focar o próprio umbigo - e de apenas alguns escolhidos - isolacionista e protecionista, repleto de relações de compadrio, de proteções, de incentivos fiscais, de subsídios, de tributação alta e burocrática, com raras exceções, continuamos mesmo produzindo espécies de carroças. O acesso a tecnologias de ponta, insumos, componentes, sistemas, bens de capital, enfim, segue significando um esforço hercúleo, que impede e/ou dificulta a agregação de valor, o aumento da competitividade brasileira e a nossa participação nas cadeias globais de valor.
Esse país é tão esotérico que até mesmo as transnacionais por aqui atuam distintamente do resto do mundo, constituindo-se, basicamente, em produtoras para o mercado doméstico. O irônico é que muitas delas brigam pela manutenção da “fechadura brasilis”. O nefasto resultado desta retrógrada e enviesada situação, é o de que a indústria nacional manufatura produtos de baixa agregação tecnológica, não inovadores - não há influxos tecnológicos - e de custos e preços mais altos - não há ganhos em escala.
Claro que não é ruim ter um agronegócio forte; o problema é ter uma indústria desvalida e que definha sistematicamente, com reflexos negativos para a produção, para a inovação, para a produtividade e o emprego e a renda. Sem dúvida, o agronegócio tem sido a ilha verde-amarela da produtividade e da prosperidade nacional. Neste sentido, aproximamo-nos do momentoso arquipélago de Cuba. Alega-se que Cuba, cuja produção se baseia na cana-de-açúcar, no tabaco e no níquel, não consegue se industrializar em razão do bloqueio econômico imposto ao país. Interessante um país socialista precisar dos “capitalistas malvados” para tanto, mas enfim, as relações internacionais são fruto de uma escolha política cubana.
Por sua vez, por aqui, a decisão de procrastinar no caminho da abertura, da industrialização, do crescimento e do desenvolvimento econômico e social, é sempre velada, verbalizada de modo ambíguo e contraditório, mas o fato é que a carroça nacional transita sempre devagar e pela contramão, sendo frequentemente ultrapassada pelos países asiáticos e até mesmo por outras nações latino-americanas, que outrora nos orgulhávamos em afirmar que éramos mais “desenvolvidos”.
Nossa teimosia protecionista tem um enorme custo social e econômico no presente e no futuro. O efeito da corrida da Rainha Vermelha vai pegar sempre e, verdadeiramente, os parasitas pau brasil sempre encontram novas formas de se reproduzirem e se desenvolverem. Pois é, tanto se fala em economia 4.0, em inovações na indústria, em especial naquela puxadora, a automobilística, mas os elétricos… ah, os elétricos… esperemos… Pelo que tristemente prevejo, seremos eternamente o país das “modernas carroças” e, inteligentemente, de um cada vez mais pujante e inovador setor agropecuário.
Que pena, que lástima, Brasil, para todos nós!
Alex Pipkin, PhD - Transcrito do site Percival Puggina