Declarações sobre política externa criaram embaraços diplomáticos desnecessários
Presidente eleito, Jair Bolsonaro delegou a condução da política econômica do seu governo a Paulo Guedes. Recebeu aplausos ao admitir que não domina a seara e a confiá-la a alguém com perfil e currículo desejados. Igualmente Bolsonaro foi elogiado quando, na semana passada, convidou o juiz federal Sergio Moro para comandar a Justiça e a Segurança Pública a partir de janeiro. Bolsonaro afirmou ter concordado “100%” com os pedidos de Moro. Agora o capitão reformado do Exército precisa nomear um superministro para o Itamaraty a fim de reduzir os danos por declarações desnecessárias prestadas por ele e por assessores a dois meses do início do governo.O primeiro episódio ocorreu no domingo (28), no mesmo dia da eleição. Irritado com perguntas de uma repórter argentina sobre o posicionamento do futuro governo em relação ao Mercosul, Guedes disse que o bloco econômico “não seria prioridade”. Guedes poderia apenas dizer de forma protocolar que o governo estudaria melhor o assunto ou que também daria atenção a outros blocos econômicos, sem diminuir a relação com os parceiros do Mercosul. A declaração gerou incertezas e Bolsonaro não veio a público explicar o que exatamente significa “não priorizar” o Mercosul.
Na tentativa de se aproximar de Israel, Bolsonaro confirmou promessa de campanha de que a embaixada brasileira naquele país será transferida de Tel-Aviv para Jerusalém. O assunto é tão polêmico que, até hoje, apenas dois entre dezenas de países tomaram a mesma decisão: Estados Unidos e Guatemala. A efetivação da transferência representaria o endosso do Brasil de que a capital de Israel é Jerusalém, cidade reivindicada por palestinos como a futura sede de um governo da Palestina. Nem mesmo o governo israelense esperava uma declaração tão incisiva e precoce de Bolsonaro. As reações não demoraram a surgir. A mais eloquente partiu do governo do Catar, que pediu para Bolsonaro rever sua posição em respeito ao povo palestino. Empresários brasileiros alertaram para o potencial prejuízo econômico que a declaração poderá trazer em termos de exportações para países árabes. [se Bolsonaro transferir a embaixada brasileira para Jerusalém, está dando um 'tiro no pé';
nada, absolutamente nada, justifica tal transferência, que significará uma tomada de posição do capitão contra os palestinos e favorecento estado hebreu.
O volume de comércio do Brasil com Israel não é de porte a justificar que o Brasil fique a favor de um país que usa aviões caça ultra modernos para abater civis palestinos na Faixa de Gaza.
O que Bolsonaro deve fazer, para não se indispor com países arábes é manter uma posição de neutralidade, mantendo o reconhecimento de que a Palestina é um Estado.]
Até mesmo o imbróglio envolvendo a fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente aumenta o grau de incerteza quanto à preocupação do Brasil com a preservação ambiental. O esforço da diplomacia brasileira tem sido o de garantir que o avanço do agronegócio ocorra de forma sustentável. A sinalização de que o Ministério do Meio Ambiente será incorporado à Agricultura para “vigiar” o agronegócio afeta a imagem brasileira mundo afora.
O possível fechamento da embaixada brasileira em Cuba e a antipatia de Bolsonaro em relação aos governos da Venezuela e da Bolívia também estão no rol das polêmicas. [assunto que ao ver das pessoas sensatas não cabe nenhum tipo de polêmica - manter realções comerciais com Cuba é inútil e só traz prejuízos ao Brasil, situação que impõe o imediato fechamento da embaixada brasileira naquele país e, por óbvio, também fechar a embaixa cubana em Brasília, por inútil.
Relações diplomaticas com Venezuela e Bolívia em nada favorecem os interesses brasileiros.
Parece que a Bolívia fornece gás para o Brasil e se as condições forem vantajosas tal fornecimento deve ser preservado, mas, com relações restritas ao necessário.] Até compreensíveis as críticas de que esses países adotaram políticas “bolivarianas” retrógradas. Mas o que fazer exatamente a partir disso? Romper os laços diplomáticos ou concorrer para que as oposições derrubem Nicolás Maduro (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia) do poder? O empoderamento da futura ou futuro chanceler significará que Bolsonaro não trata a política exterior brasileira como um assunto menor.
Epóca
Bolsonaro recebe embaixador italiano e discute situação de Battisti
Presidente eleito já declarou pretender autorizar a extradição do italiano, condenado por terrorismo e homicídios em seu país natal
Bernardini deixou o condomínio onde Bolsonaro mora, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, demonstrando satisfação pelo encontro. “O caso Battisti é muito claro. A Itália está pedindo a extradição do Battisti, o caso agora está sendo discutindo no Supremo Tribunal Federal e esperamos que o Supremo tome uma decisão no tempo mais curto possível”, disse
O embaixador não quis antecipar se Bolsonaro fez alguma promessa sobre o caso, mas destacou que o presidente eleito “tem ideias muito claras sobre Battisti”. Bolsonaro já declarou que pretende autorizar a extradição do italiano.
Segundo Antonio Bernardini, o encontro também serviu para reafirmar as boas relações entre os dois países. “Temos uma presença no Brasil que é histórica. É claro que estamos olhando para o futuro para aumentar a presença italiana no Brasil”, afirmou o embaixador.
Na reunião, o embaixador também entregou uma carta enviada pelo presidente da Itália, Sergio Mattarella. O diplomata lembrou que Bolsonaro é de origem italiana e que ambos tiveram uma conversa “muito simpática”.
Antes dele, uma comitiva chinesa – composta pelo embaixador Li Jinzhang, pelo ministro Song Yang, pelo ministro conselheiro Qu Yuhui e pela tradutora Liu Xiyuan –, também visitou Bolsonaro. O grupo saiu sem dar declarações.
O caso
Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália por terrorismo e quatro homicídios na década de 70, dos quais se declara inocente. Passou 30 anos como fugitivo entre o México e a França e em 2004 fugiu para o Brasil, onde permaneceu escondido por três anos até ser detido em 2007.
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu em 2010 pela sua extradição. Contudo, depois de três dias de sessão, os juízes entenderam que o presidente da República deveria aprovar ou não o envio de Battisti para o seu país. Lula, então, optou pela não extradição. Battisti era membro do grupo armado PAC, Proletários Armados pelo Comunismo, e contou com apoio e amizade de petistas no Brasil.
Desde então, o governo italiano vem pedindo a colaboração das autoridades brasileiras para que o terrorista seja enviado de volta ao seu país. Em comunicado divulgado neste domingo, Battisti reafirmou que confia nas instituições democráticas do Brasil e negou que tenha intenção de fugir de São Paulo, onde vive. Alguns meios de comunicação da Itália chegaram a informar que Battisti teria fugido do Brasil para evitar sua extradição, prometida por Bolsonaro para quando assumir Presidência, no dia 1º de janeiro.
“Reafirmo minha confiança nas instituições democráticas brasileiras, que desde que me encontro aqui garantiram o pleno funcionamento do Estado de Direito. Estado de Direito este que no presente momento faltou em minha ex-pátria, a Itália”, ressaltou. [Estado de Direito é incompatível de existir em um país que abriga terroristas com a peversidade de Battisti ou de Achiles Lollo.]
Com Estadão Conteúdo