O parteiro do Brasil
Maravilha, o Pai dos Pobres e Mãe dos Ricos, o enviado
pela Divina Providência para acabar com a fome, presentear
a imensidão de desvalidos com três refeições por dia e multiplicar a fortuna
dos milionários, o metalúrgico
que aprendeu a falar com tanto brilho que basta
abrir a boca para iluminar o mundo de Marilena Chauí, o filho de mãe nascida analfabeta que nem precisou estudar para ficar tão sabido que já falta parede
para tanto diploma de doutor honoris causa, o
Exterminador do Plural que inaugurou mais universidades que todos os antecessores
juntos e misturados, o migrante
pernambucano que se nomeou Redentor dos Miseráveis, o gênio da raça que proclamou a Segunda Independência ao reinventar a
Petrobras e descobrir o pré-sal, o
maior dos governantes desde Tomé de Souza, quem diria?, agora recorre a truques de rábula para
escapar de perguntas sem resposta sobre o triplex no Guarujá.
O campeão de popularidade que
andou beirando os 100% de aprovação, o senhor das urnas
capaz de eleger qualquer poste para qualquer cargo, a
sumidade que em cinco anos ressuscitou a nação assassinada pela herança
maldita, o pacificador do Oriente Médio, o
estadista que dava pitos até em presidente americano e também por isso
foi contemplado por Barack Obama com o título de Cara, o
colosso que rebaixou a marolinha uma crise econômica planetária, o gigante predestinado a conquistar o Nobel da Paz e eleger-se por
aclamação secretário-geral da ONU, o estadista que deixou o mundo boquiaberto com tanta
clarividência, quem diria?, fugiu do
tribunal nesta quarta-feira por falta de explicações que parecessem
convincentes pelo menos aos ouvidos de um bebê de colo.
O Super Macunaíma que escapou do
Mensalão ainda não entendeu que, depois de tropeçar no
Petrolão, despencou do elevador privativo do apartamento na praia das Astúrias
e atolou num sítio em Atibaia. Alguém precisa dizer ao fundador de um Brasil imaginário que o país real se cansou de
tanta ladroagem e está ao lado dos juízes sem medo e dos promotores
altivos.
Usando como laranja um
deputado federal, a tropa de advogados acampada no Instituto Lula raspou o
fundo do tacho das chicanas e conseguiu adiar o encontro, em companhia
de Marisa Letícia, com um representante do Ministério Público paulista. O investigado talvez até consiga livrar-se
do promotor Cássio Conserino. Mas são muitos os homens decididos a aplicar
a lei na terra arrasada pela corrupção, pela incompetência, pelo sectarismo
ideológico e pela idiotia política.
O reizinho que se achava
inimputável logo saberá que a condenação à perpétua impunidade foi
revogada pela descoberta de safadezas pessoais e intransferíveis. Não há como terceirizar as bandalheiras que
infestam o patrimônio imobiliário do Lincoln de galinheiro, fora o resto. O mito morreu. Há dois dias, Lula proibiu o
Conselho Político do PT de tratar das maracutaias que o mantêm pendurado no
noticiário político-policial. “Não aguento mais
falar disso”, explodiu. “O Luiz Marinho vai
lá em casa e só quer falar disso. Chego no Instituto para trabalhar e só falam
disso. Não aguento mais”.
O Brasil decente é que não
suporta mais tanto cinismo e tamanha cafajestagem. Aguente ou não, o palanque ambulante convertido em camelô
de empreiteiro será obrigado a falar sobre isso e muito mais. O interrogatório foi adiado por
alguns dias. Mas a hora da verdade
chegou.
Fonte: Coluna do Augusto Nunes