Por Thiago Bronzatto
Em depoimento, iraniano propôs um acordo para contar o que sabia sobre o crime
DESEJO DE MATAR - Adélio Bispo disse que
atacou o presidente Jair Bolsonaro, entre outras coisas, por
“divergências ideológicas”
[estranhamente o quase assassino do presidente Bolsonaro pediu a substituição de seus advogados pela defensoria pública;
os atuais advogados pertencem ao escritório Zanone e até hoje não foi possível identificar quem bancou os advogados de renome para defender um bandido desqualificado e vagabundo.]
No início de outubro, o presidente Jair Bolsonaro disse, em entrevista ao jornal Estadão,
que recebeu uma carta de um vizinho de cela do ex-servente de pedreiro
Adélio Bispo de Oliveira, responsável pelo atentado em Juiz de
Fora, Minas Gerais. A correspondência relata que o esfaqueador não
desistiu de matar Bolsonaro e que outras pessoas teriam ajudado a
concretizar o ataque durante as eleições do ano passado.
Para esclarecer os fatos, na manhã desta quinta-feira, 31, a
Polícia Federal realizou novos depoimentos na penitenciária federal de
segurança máxima de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, onde Adélio está
preso. Foram ouvidos alguns detentos e funcionários que tiveram contato
com o autor do crime. Entre as testemunhas, estava o iraniano Farhad
Marvizi, que admitiu ter enviado cartas para Bolsonaro e outras
autoridades, contando ter pistas sobre quem seriam os mandantes da
facada.
Condenado a 20 anos de prisão por ordenar o atentado contra um
auditor fiscal da Receita, Marvizi disse que teve contato com Adélio
durante um tratamento de problema de saúde na penitenciária. Nesse
período, o iraniano afirmou ter ouvido que o esfaqueador contou com a
ajuda de uma facção criminosa e de políticos interessados na morte de
Bolsonaro. Mas, para revelar todos os detalhes do que sabia, a
testemunha exige um perdão judicial, porque teme continuar na prisão e
ser morto.
A tentativa de colaboração de Marvizi é tratada com ressalva pelos
investigadores, porque ele é considerado uma fonte de informação de
“baixíssima credibilidade”. Segundo agentes do presídio federal de Campo
Grande, o iraniano envia toda semana cartas para autoridades e
celebridades como o apresentador Silvio Santos e o presidente americano
Donald Trump. As correspondências apresentam conteúdos desconexos e
teorias conspiratórias. Ainda segundo funcionários da penitenciária,
“Marvizi está tentando de tudo para sair da cadeia”.
Outra testemunha interrogada foi Filipe Ramos Morais, piloto de
helicóptero de uma facção criminosa. O delator, que testemunhou a
execução de líderes da organização criminosa de São Paulo, também teve
contato com Adélio na prisão. No entanto, afirma que não conseguiu obter
informações do esfaqueador, que teria se recusado a contar detalhes do
crime.
O delegado Rodrigo Morais Fernandes, responsável por conduzir a
investigação, também ouviu mais uma vez Adélio. Ao ser confrontado com o
depoimento de Marvizi, o esfaqueador negou que tenha qualquer relação
com facção criminosa ou com políticos –
e reafirmou que agiu sozinho no
atentado a Bolsonaro. Agentes penitenciários também disseram que Adélio nunca contou
detalhes sobre o crime. Um servidor diz que o autor da facada costuma
reclamar da
“arquitetura maçônica” da penitenciária e afirma que tem
receio de tomar medicamentos, porque acha que pode ser envenenado a
qualquer momento. Por essa razão, ele solicitou a sua transferência para
o presídio em Montes Claros, Minas Gerais, para ficar mais próximo de
seus familiares.
Em junho, Adélio foi absolvido pelo juiz Bruno Savino, da 3ª Vara
Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais. Em sua decisão, o magistrado
afirmou que o ex-servente de pedreiro assumiu a autoria do crime e que,
ao ser diagnosticado com transtorno mental, é considerado inimputável,
ou seja, que não pode responder por seus atos.
Adélio continua no preso
na penitenciária de segurança máxima de Campo Grande, onde recebe
tratamentos psiquiátricos.
Até o momento, a Polícia Federal não encontrou evidências de que
Adélio teria contado com a ajuda de outras pessoas. Foram analisados
mais de 40 000 mensagens em redes sociais e mais de 150 horas de imagens
de câmeras de segurança e de celulares de manifestantes presentes no
local do atentado. Todo esse volume de informações foi cruzado com mais
de dez pedidos de quebras de sigilos financeiro e telefônico e com o
depoimento de mais de 100 pessoas. O pente-fino abrangeu os últimos sete
anos da vida do esfaqueador
– e reconstituiu todos os passos que
antecederam o crime. As principais hipóteses foram esgotadas. Ao que
tudo indica, Adélio tinha uma mente perturbada.
VEJA - POLÍTICA - Thiago Bronzatto